Na sala de aula, Kawe se inclina sobre a mesa e olha para Seike, que parece pensativo.
— Ei, Seike, o que vamos fazer agora? — pergunta Kawe, cruzando os braços atrás da cabeça.
Seike suspira, ainda refletindo.
— Bem, não sei... Se o problema da Hina foi resolvido, precisamos continuar investigando o seu poder.
Kawe assente, concentrado.
— É verdade. Pelo que sabemos até agora, meu poder parece detectar algo que atormenta as pessoas, certo?
— Isso mesmo — confirma Seike. — A Hina estava presa a mim por causa daquelas correntes, e quando resolvemos a nossa situação, elas desapareceram...
Kawe franze a testa, pensativo.
— Então, no fim das contas, meu poder vê aquilo que está atormentando as pessoas... Ei, falando nisso, como funciona exatamente o seu poder?
Seike dá de ombros.
— Não tem muito segredo. Eu consigo ver uma espécie de membrana ao redor das pessoas, e quando elas sentem alguma emoção, essa membrana muda.
— E ela age de forma diferente para cada emoção?
— Exatamente.
Kawe sorri de lado, curioso.
— Então me diz... Qual é a emoção que estou sentindo agora?
Seike encara Kawe por alguns instantes, seus olhos analisando-o com seriedade.
— Você... não está sentindo nenhuma emoção.
Kawe se surpreende.
— Hã? Como assim?
Seike continua o observando, com um olhar intenso.
— Na verdade, Kawe... já faz tempo que eu queria te perguntar isso. O que é você?
Kawe solta uma risada despreocupada.
— Ora, que tipo de pergunta é essa? É óbvio que sou um ser hum...
— Mentiroso — corta Seike, sem hesitação. — Desde o dia em que te conheci, nunca vi uma única emoção em você. Sua alma está sempre parada... como uma lagoa sem vento.
Kawe franze o cenho, desconfiado.
— Se você não vê minhas emoções, então por que naquele dia disse que eu estava mentindo?
Seike sorri de canto.
— Algumas mentiras são tão óbvias que não precisamos de um poder para percebê-las.
O clima entre os dois fica tenso. No entanto, antes que a conversa pudesse ir além, Hina se aproxima, interrompendo o momento.
— Ei, Seike, preciso conversar com você depois... Mas a sós.
Kawe não perde a chance de provocar.
— Ah, que triste! Eu queria saber da fofoquinha dos dois pombinhos.
Hina revira os olhos.
— É uma fofoca que não é da sua conta.
— Nossa, que rude.
— Hum... Depois falamos, Seike — diz Hina antes de virar as costas e sair.
Kawe a observa se afastar e então solta um suspiro exagerado.
— Ei, Seike, eu não tinha reparado antes, mas ela é bem metida, hein?
Seike balança a cabeça.
— Sim, talvez por ser filha de uma família rica, ela se ache superior aos outros.
— Foi mal, eu sei que ela é sua namoradinha e tudo, mas eu não suporto gente metida.
— Eu também não gosto.
Kawe o encara, surpreso.
— Ué, então por que você gosta dela?
Seike fica em silêncio por um momento antes de responder.
— Dizem que só encontramos o amor verdadeiro quando achamos alguém que nos completa. E acho que algo nela me completa... Só não sei exatamente o quê.
Kawe cruza os braços.
— E você acha que pode mudá-la?
— Talvez. Mas isso não depende só de mim.
— É verdade. Se ela não quiser mudar, seus esforços não vão adiantar nada.
O sinal toca, indicando o fim do intervalo. Seike se despede de Kawe e vai ao encontro de Hina, em um local afastado.
Seike encosta-se a uma árvore no pátio da escola, observando Hina com atenção. O céu acinzentado acima deles traz um ar melancólico à conversa que está prestes a acontecer.
Hina hesita por um instante, mordendo o lábio inferior antes de finalmente erguer os olhos para ele.
— É sobre o que você disse ontem... — Sua voz sai baixa, quase um sussurro.
Seike mantém o olhar fixo nela, esperando.
— Olha, eu realmente gosto de você. — Ela inspira fundo, criando coragem. — Mas se você sente o mesmo por mim… então por que ainda não demos um passo à frente?
A pergunta paira no ar como um trovão distante.
Seike arregala os olhos, surpreso. Ele sabia que esse momento chegaria, mas ainda assim, não estava completamente preparado.
— Você tem razão... — Ele respira fundo. — Depois de tudo que aconteceu, não podemos continuar sendo apenas amigos.
Antes que Hina pudesse dizer algo, Seike dá um passo à frente, encurtando a distância entre eles. O coração dela acelera quando ele segura sua mão com firmeza, os dedos se entrelaçando.
— Eu... — Seike hesita por um instante, sua expressão carregada de sentimentos conflitantes. — Eu não sei colocar isso em palavras. Mas talvez...
Antes que possa terminar, ele se inclina lentamente, como se estivesse esperando que ela recuasse. Mas Hina não recua.
Seus olhos se fecham instintivamente quando os lábios de Seike tocam os dela. O beijo começa hesitante, como se ambos estivessem testando os limites daquele momento, mas logo se aprofunda, carregado de tudo o que nunca foi dito entre os dois.
O tempo parece desacelerar. O vento frio envolve os dois, e a única coisa que Seike consegue sentir é o calor suave dos lábios de Hina.
Quando finalmente se afastam, Hina mantém os olhos fechados por mais alguns segundos, como se quisesse prolongar a sensação. Quando os abre, eles brilham com uma mistura de felicidade e nervosismo.
— Eu te amo... — Ela murmura, com um sorriso tímido.
Seike, ainda segurando sua mão, sorri suavemente.
— Eu também te amo.
Eles permanecem assim, lado a lado, deixando que a chuva fraca que começava a cair selasse aquela promessa silenciosa entre os dois.
Enquanto voltam para a sala de aula, Hina questiona:
— Seike, por que não contamos para os outros que estamos juntos?
Seike hesita antes de responder.
— Por causa da Misaka. Ela é como uma irmã para mim, e se descobrir, pode sofrer muito...
Hina franze o cenho.
— Mas você não pode controlar os sentimentos dela.
— Eu sei. Mas dizem que a única forma de curar um coração partido é com amor. Então, precisamos fazer Misaka me esquecer...
Hina suspira.
— E como pretende fazer isso?
Seike sorri de canto.
— Encontrando outro amor para ela.
— E quem seria essa pessoa?
— Não se preocupe. Eu já tenho alguém em mente.
De volta à sala de aula, Seike vai diretamente até Kawe, que o encara com um olhar sugestivo.
— Então? Como foi o encontro dos dois pombinhos?
Seike ignora a provocação.
— Foi legal. Mas isso não vem ao caso agora. Kawe, preciso da sua ajuda.
Kawe arqueia uma sobrancelha.
— Depende... Se for algo vantajoso para mim, eu ajudo. Se não...
Seike sorri.
— É algo que com certeza vai te interessar.
Kawe estreita os olhos, curioso.
— Ora, ora... O que será?
Seike respira fundo antes de dizer:
— Quero que você conquiste a Misaka.
Kawe arregala os olhos, chocado.
— O QUÊ?!
— Shhh! Silêncio!
Kawe cruza os braços, pensativo.
— Bem, eu concordo totalmente.
Seike pisca, surpreso.
— Você nem hesitou.
Kawe dá um sorriso travesso.
— Claro que não! Eu sou completamente apaixonado pela Misaka! Se até você, que é amigo de infância dela, quer me ajudar, quem sou eu para recusar, né?
Seike suspira aliviado.
— Que bom que você gosta dela. Mas vai precisar se esforçar para conquistá-la.
Kawe estala os dedos.
— Pode deixar! Vou dar tudo de mim nessa missão. Mas, por falar nisso... Por que você está me ajudando?
Seike sorri, meio sem graça.
— É que eu e a Hina estamos namorando.
— O QUÊ?!
— Fala baixo!
Kawe suspira, fingindo irritação.
— Droga, e eu achando que você só queria me ajudar.
Seike ri.
— De um jeito ou de outro, estou ajudando, né?
Kawe sorri de volta, sentindo que, de alguma forma, aquilo era apenas o começo de algo muito maior.