O local não era tão longe quanto eu esperava.
Embora o método que tenha utilizado para chegar aqui não foi bem convencional.
Estava as utilizando como um tipo de montaria.
Anthalia era aquela quem estava me carregando, em sua forma original seu tamanho chega a ser equivalente ao meu e mais alguns centímetros.
Com a evolução, a maioria delas acabou tomando sua forma bípede mas ainda com as características de uma formiga porém em sua forma base elas voltavam á ser quadrúpedes, o que facilitava na locomoção.
Devo confessar é bem útil tê-las dessa forma, as possibilidades são interessantes no que diz respeito á locomoção.
As formigas realmente se locomovem com uma certa velocidade.
Em meu mundo elas demorariam provavelmente o dia inteiro para cruzar da minha sala até o lado de fora do meu apartamento.
Mas aqui é o completo contrário.
Talvez por conta de sua evolução sua velocidade tenha aumentado significativamente além da sua força.
Levaríamos pelo menos uma hora para chegarmos e não demorou menos do que uns vinte minutos.
O local do qual eles avistaram o suposto intruso nem sequer fazia parte dos arredores da vila.
Era bem desolado para falar á verdade.
Podia ver alguns rastros pelo chão, alguma outra criatura acabou passando por aqui.
Essa floresta é abundante, talvez algum urso, javali ou animal de grande porte tenha passado por aqui em busca de alimento.
Talvez devesse mandar as formigas patrulharem um pouco mais essa área, seria perigoso se alguns dos jovens de nossa aldeia andasse por aqui sem ter alguma noção.
— Já estamos chegando? (Satouma)
— Sim, há alguns passos já estaremos em nosso destino, acha uma boa ideia ir pessoalmente mestra? (Anthalia)
Mais um adjetivo formal...Talvez tenha se tornado uma mania não me chamar pelo nome...vou apenas relevar por conta da situação.
— Não podemos ficar sempre recuados, se presumirmos que todos são inimigos ou potencialmente perigosos não vamos passar de meros antissociais. (Satouma)
Eu simplesmente estou questionando o instinto primitivo dos monstros que estou convivendo.
Afinal a interação interespécie pode ser bem conturbada, como foi há alguns dias atrás.
Esse tipo de abordagem poderia mudar, afinal acabei unindo ás formigas e os orcs.
Enquanto refletia sobre isso acabamos chegando.
Essa parte é um tanto fechada por conta das árvores.
Havia um longo rastro de terra arrastada, como se algo tivesse passado por aqui, ou alguma batalha tivesse acontecido.
Podia ver um pequeno rastro de sangue em volta.
Seja lá quem se meteu em encrenca por aqui acabou levando a pior.
Acabei descendo das costas de Anthalia para dar uma averiguada no local, fora ela haviam outras duas formigas, incluindo aquela quem estava no local.
As dispensei do local mas pedi para ficarem por perto, poderia tranquilamente assumir daqui.
Me esgueirei por trás de algumas árvores e prontamente o vi bem afastado encostado em uma delas, parecia que estava tentando se esconder.
— Então você é o nosso intruso? (Satouma)
— Ora, me desculpe, não sabia que essa parte da floresta já tinha algum dono. (???)
— Pode soar estranho mais sim, não se preocupe não sou uma ameaça...a menos que você seja.
— Heh, honestamente ser visto como uma ameaça seria um elogio para alguém como eu. (???)
Fui me aproximando lentamente, vai saber se ele possuí alguma arma branca para me atacar á distância.
Mas agora pude confirmar.
Realmente se tratava de um anão.
Seu cabelo era um tanto curto e ruivo mas volumoso, assim como sua barba.
Obviamente ele utilizava roupas que acredito serem características desse mundo.
Poderia ter julgado mau sua espécie, mas pela voz grave se tratava de uma adulto.
— O que faz por essa área? (Satouma)
— Nada de mais, sou apenas um humilde andarilho. Mas as coisas não foram tão favoráveis para mim como pode ver. (???)
Ele possuí um ferimento superficial em sua barriga.
— Não se preocupe não e o meu sangue, quer dizer não totalmente. (???)
Poderia ter imaginado, essa quantidade de sangue seria o suficiente para alguém morrer de hemorragia.
Por estar falando tranquilamente realmente não foi nada grave, mas se não for tratado ele pode acabar na pior eventualmente.
— Uma de suas amigas formigas acabou me ajudando com esse problema inconveniente, mais um pouco e eu teria levado á pior. (???)
Ele estava portando apenas uma lâmina curta, uma espada mais precisamente.
Junto dele havia um cantil d'água amarrado em seu cinto que contava com alguns bolsos auxiliares.
Fora isso não parece ter mais nada com ele.
Se fosse uma potencial ameaça ele já teria feito algo, mas ferido e visivelmente exausto eu duvido que ele faça alguma coisa contra nós.
— Anthalia! (Satouma)
— Sim! (Anthalia)
— Mande ás outras formigas se reagruparem, vamos seguir com sua ideia de patrulha em uma área mais ampla. (Satouma)
— Como desejar. (Anthalia)
Ele parecia um tanto intimidado com elas em minha volta, dispensá-las com a ordem será uma boa.
Pedi para Anthalia ir com elas para seguir com o seu plano, precisamos fazer o reconhecimento total da área para saber se não há ou se haverá mais intrusos futuramente.
— Não achei que veria formigas quimeras por essas bandas, ainda mais uma que possua um nome. (???)
— Elas são...um caso especial... Pode ficar mais calmo, elas não fariam nenhum mal, á menos que você fosse uma ameaça. (Satouma)
— Nessas horas agradeço por ser um anão bem pacífico. (???)
É o que parece.
Mas agora o olhando mais de perto pude perceber que há uma cicatriz enorme em seu olho.
Sua perna direita estava bem trêmula, parece que ele tem problemas para andar.
— Seu olho... (Satouma)
— Ah! Não se preocupe com isso, apenas uma das grandes feridas que adquirimos na vida, mas enquanto tiver um para enxergar poderei seguir desbravando por essas terras. (???)
— Tá legal, vamos cortar o papo furado. Você está em nosso território nesse momento, não me parece ser uma ameaça. Posso lhe dar a ajuda que for necessária se me responder algumas perguntas. (Satouma)
— Sou um livro aberto, sem segredos. Para sua sorte sou do tipo que gosta de conversar e além do mais como um anão ferido como eu pode apresentar alguma ameaça ? (???)
Ele está certo, concordei em não julgar aqueles que apareceriam por aqui e cá estou eu fazendo o mesmo.
Quem sabe seja meu instinto de monstro recém adquirido falando mais alto.
— Então temos um acordo... Com licença... (Satouma)
— He-hey! (???)
Achei que ele seria mais pesado mas estava enganada.
Acredito que um ferimento desses não iria suportar o caminho de volta até a aldeia.
Poderia simplesmente curá-lo de imediato porém preciso ter certeza das suas intenções.
O apoiei em minhas costas e segui o mesmo caminho até a aldeia.
Demoraríamos apenas alguns minutos com as formigas mas temo que ele não iria suportar, mas posso usar o tempo extra para conversarmos um pouco.
— Então... Um anão, o que faz tão isolado nessa parte da floresta? (Satouma)
— Como havia lhe dito, estou apenas de passagem, pode-se dizer que minha espécie é um tanto curiosa, mas poderia dizer o mesmo de você Senhorita Draconato. Achei que sua espécie gostava de ambientes mais altos, como ás montanhas da terra do Norte.(???)
Bem, indiretamente acabei descobrindo algo interessante ao meu respeito.
Dragões realmente gostam de montanhas e lugares altos, espécies semelhantes poderiam gostar do mesmo.
Então talvez por isso todos estranhem a minha presença nesse lugar.
— É uma...história complicada, mas estou apenas me adaptando ao novo lugar. (Satouma)
— Morando nas planícies da Floresta Langri? Isso sim é algo inesperado. (???)
— Vivemos em uma pequena aldeia. (Satouma)
— Então há outros draconatos na área? (???)
— Não, no momento sou a única, estou dividindo um lar com os Orcs. (Satouma)
— Orcs? Nessa parte da floresta? As coisas realmente mudaram desde o desaparecimento do [Abyssal Dragon Syphus]. Mas você é aquela quem manda nas formigas? Duas espécies vivendo juntas? (???)
— Isso é algo tão raro assim? (Satouma)
— Nem tanto, só inesperado que uma espécie predatória como formigas das rochas possam viver junto com caçadores experientes como os Orcs. (???)
Uma série de coisas aconteceu para que essa união fosse feita.
Mas unindo o melhor das duas em um coletivo pode ser o melhor caminho para a prosperidade de ambas.
— Hey, Senhor anão, possuí algum nome por acaso? (Satouma)
— Starko'gus, ao seu dispor, gostaria que minha saudação fosse um pouco mais adequada dada a situação. Me perdoe a ousadia mas a Senhorita também é um monstro nomeado?(Starko'gus)
— De certa forma sim, me chamo Satouma. (Satouma)
E já começamos ás apresentações.
Starko'gus, talvez um dos nomes mais normais que já escutei por aqui.
— Um nome único mas memorável, então Senhorita Satouma, por algum acaso eu serei o banquete? (Satouma)
— Por que pergunta? (Satouma)
— Ah nada de mais, só quero ter ciência se vou ser devorado ou não, mas devo dizer que carne de anão não é tão macia quanto parece. (Starko'gus)
Ele parece usar de ironia em momentos como esse, não sei se faz parte da sua personalidade ou é apenas por conta da tensão que está sentindo.
Mas que seja, estou dentro.
— Não se preocupe, já comi pela manhã. (Satouma)
— Sendo honesto não sei se ouvir isso me tranquiliza. (Starko'gus)
— Não se preocupe foi apenas uma piada, nada acontecerá á você. (Satouma)
— Um senso de humor bem duvidoso se me permite dizer. (Starko'gus)
Olha quem fala...
[...]
A conversa foi um tanto descontraída mas havíamos chegado lá sem nem nos darmos conta.
Acabou que ele foi ficando exausto com o tempo por conta do ferimento e da exaustão, como havia imaginado.
Solicitei para que uma das orcs cuidasse dele em uma das residências improvisadas.
Ainda havia muitas perguntas para serem feitas, mas pude reunir algumas informações á mais em nossa conversa, fora claro, ás piadas e nossa introdução.
Starko'gus segundo ele mesmo é um tipo de andarilho, faz o reconhecimento dos lugares.
Sua área de atuação é toda á grande Floresta Langri, ele até mesmo já visitou um reino de humanos em uma de suas explorações.
Ele ainda não me falou á respeito de seu local de origem, muito menos de seu real objetivo.
Mas tenho a certeza que ele não é uma total ameaça.
Havia me reunido com o Gashdo e Anthalia os dois representantes maiores de sua raça para poder compreender á respeito.
— Realmente é estranho, um anão por essas bandas da floresta. (Gashdo)
— São seres tão raros assim? (Satouma)
— Não, mas são bem incomuns, geralmente ficam alocados no reino de Dwarfgorn ao Sul da floresta, ou em territórios de domínio humano. (Gashdo)
— Entendo, Anthalia, já viu algum anão enquanto viajava com seu formigueiro e sua antiga rainha? (Satouma)
Pode ser uma pergunta peculiar.
Afinal elas já podem ter devorado algum desses no caminho, mas não falaria dessa maneira.
— Não muitos sinto dizer, são uma espécie um tanto isoladas, tendem á viver mais em sociedade. (Anthalia)
— Ela está certa, eles cumprem funções braçais e artesanais das quais humanos não estão habituados. (Gashdo)
— Mas já nos encontramos com Yonders em algumas minas de cristal reluzente nas montanhas. (Anthalia)
— Yonders? (Satouma)
— Uma espécie com certo parentesco com os anões, diferente de suas características um pouco humanizadas, Yonders tendem á ter uma aparência mais selvagem e são em sua maioria exploradores. (Gashdo)
Anões e Yonders.
Tenho uma certa noção agora á respeito de sua espécie.
É bem diferente do conhecimento que possuo á respeito dos anões baseado em histórias fantasiosas.
Nos livros eles são seres extraordinários, guerreiros corajosos, ferreiros habilidosos e construtores de renome, a lista só aumenta nesse quesito.
Mas por aqui parecem ser uma espécie comum assim como ás outras.
Dado sua similaridade com os humanos acredito que suas características não sejam tão extravagantes quanto eu esperava.
— Algum de vocês já foram para esse reino de anões? (Satouma)
— Seria impossível para nós, ele é completamente fortificado assim como o reino dos humanos eles não permitem a entrada de qualquer monstro. (Anthalia)
— Ela está certa novamente, mas alguns de nós já tivemos o privilégio de entrar nesse reino, mas apenas como rota de passagem, se quer saber mais deveria perguntar para o jovem Dait. (Gashdo)
— Melhor deixá-lo de fora por enquanto, mas estou surpresa que ele já tenha ido para esse reino. (Satouma)
— Antes de se unir á nós, seus pais eram nômades de outra aldeia assim como uma boa parte de nós, mas desde antes de conhecermos Satouma-Sama evitávamos a interação com outras espécies. (Gashdo)
No final das contas tudo se resumia ao "cada espécie por si".
Isso de certa forma dificulta um pouco meu conhecimento sobre o nosso pequeno convidado, acredito que usar esse termo possa soar um tanto ofensivo para ele.
Eu deveria tomar um tempo e conversar com cada orc dessa aldeia, todos são pertencentes á uma única tribo atualmente mas alguns tinham vidas anteriores em outros lugares.
Mas isso poderia demorar bastante, por enquanto vou tomar mente apenas ás informações que tenho até agora.
Ás coisas por aqui por enquanto estão indo como o planejado.
Os orcs estão reconstruindo suas casas, se é que posso chamar isso de reconstrução, casas improvisadas como essa provavelmente não iriam durar em uma forte tempestade ou clima hostil.
No que diz respeito aos nossos recursos por enquanto temos em abundância mas isso precisará ser revisto em breve.
As formigas estão fazendo a vigília da área então em caso de alguma ameaça ou novidade como á de agora pouco Anthalia irá me reportar diretamente.
Como não há mais nada para resolver é hora de ver novamente nosso convidado.