Ato 2 - Relaxe e Desafie

O sol da manhã iluminava as ruas enquanto Articos e seus amigos caminhavam em direção ao colégio.

O clima estava fresco, com uma brisa suave que tornava o trajeto mais agradável.

— Tô morrendo de fome, cara… — resmungou Christopher, colocando a mão no estômago. — Não sei por que eu não como antes de sair de casa.

— Porque você é burro. — respondeu Nolan, rindo.

— Cala a boca.

Eles passaram por um pequeno mercadinho de esquina, um lugar simples, mas que sempre salvava os estudantes nas manhãs mais preguiçosas.

— Vamos pegar alguma coisa pra comer? — sugeriu Richard, apontando para a entrada.

— Eu só vou comprar um salgadinho. — disse Articos, já entrando no local.

Lá dentro, o cheiro de pão fresco e café tomava conta do ambiente. Os garotos se espalharam, pegando besteiras para comer antes da aula.

Christopher pegou um sanduíche pronto, Nolan escolheu um refrigerante, e Richard pegou um pacote de biscoitos.

Articos foi direto até a prateleira de salgadinhos, pegando um pacote qualquer.

Ele não estava com fome de verdade, só queria algo para mastigar no caminho.

— Você come qualquer coisa, né? — comentou Nolan, olhando para a escolha aleatória de Articos.

— Só preciso encher o estômago um pouco.

Depois de pagarem e saírem do mercadinho, continuaram andando, conversando sobre coisas aleatórias.

O assunto logo voltou para jogos de tiro e uma discussão séria começou sobre qual era o melhor.

— Não tem como, Bullet Strike ainda é o melhor. — disse Richard, convicto.

— Tá maluco? Steel Warfare tem muito mais mecânicas realistas. — rebateu Nolan.

— E daí? Eu quero me divertir, não ficar jogando simulador militar.

Articos apenas ria, sem entrar na discussão. Ele só queria comer seu salgadinho em paz.

Quando chegaram ao colégio, notaram uma figura encostada no muro perto do portão.

Stella.

Ela estava de braços cruzados, olhando para eles com um sorriso de canto.

— Opa… — murmurou Nolan, cutucando Christopher.

— Ihhh, Articos tá feito.

Os três amigos trocaram olhares maliciosos e deram uns tapinhas nas costas de Articos antes de se afastarem.

— Vai lá, campeão.

Articos suspirou, já acostumado com esse tipo de provocação. Ele se aproximou de Stella, que descruzou os braços e inclinou levemente a cabeça.

— Por que você não mandou mensagem ontem? — perguntou ela, direto ao ponto.

Articos coçou a nuca.

— Saí muito tarde do trabalho. Quando cheguei em casa, só queria dormir.

Stella pareceu surpresa.

— Você realmente leva essa rotina a sério, hein?

— Preciso, né?

Ela sorriu de leve e balançou a cabeça.

— Bom… a gente se vê depois.

Antes de ir embora, ela deu um leve soco no braço dele, um gesto simples, mas que fez Articos arquear uma sobrancelha.

Ele a observou se afastar, sem entender muito bem qual era a dela.

Logo em seguida, seus amigos voltaram correndo.

— E aí, o que ela queria?! — perguntou Christopher, animado.

— Nada demais.

— Ah, não enrola!

— Falou sobre ontem e foi isso.

Os três ficaram olhando para ele, esperando mais alguma coisa, mas Articos apenas deu de ombros e começou a andar em direção à quadra.

— Vocês vêm ou não?

A quadra estava vazia quando chegaram.

Perfeito para uma partida rápida.

— 2 contra 2? — sugeriu Richard.

— Que tal vocês três contra mim? — disse Articos, sorrindo.

Os amigos se entreolharam e aceitaram na hora.

— Beleza, senhor convencido. Vamos ver se aguenta.

O jogo começou.

Christopher e Nolan tentaram cercar Articos enquanto Richard ficava mais na defesa. Mas não adiantava.

Articos era rápido, desviava com facilidade e acertava os arremessos sem esforço.

— Como diabos ele sempre acerta?! — reclamou Nolan, após mais uma cesta.

— Isso é frustrante… — murmurou Christopher.

De longe, Stella observava a partida.

Ela apoiou-se na grade da quadra, os olhos acompanhando cada movimento de Articos.

Ele era bom. Não só no vôlei, mas aparentemente em qualquer esporte que colocasse as mãos.

Isso só deixava Stella mais curiosa sobre ele.

A partida continuava intensa, mas para Articos, era apenas um aquecimento.

Ele driblava com facilidade, escapava da marcação e arremessava de qualquer ângulo, acertando quase todas as cestas.

Seus amigos, por outro lado, estavam começando a suar e ficar sem fôlego.

— Tá de sacanagem… — resmungou Christopher, tentando recuperar o fôlego.

— Ele nem parece cansado! — reclamou Nolan, apoiando as mãos nos joelhos.

Richard suspirou, já aceitando a derrota.

— Eu falei que era uma ideia ruim jogar contra ele.

Articos apenas ria.

— Vocês precisam treinar mais.

— Cala a boca, mano… — murmurou Christopher, jogando a bola para longe de propósito. — Eu desisto.

— Eu também. — concordou Nolan, sentando no chão.

— Por mim chega. — Richard jogou a toalha, literalmente.

Com isso, a partida chegou ao fim. Articos saiu vitorioso, como esperado.

Ele pegou a bola e a girou nos dedos, satisfeito.

— Mais uma vitória tranquila.

— Convencido do caralho… — Christopher bufou.

Depois que os três desistiram, Articos pegou a bola e deu alguns dribles sozinho, aproveitando o momento.

Ele então percebeu Stella ainda parada na grade, observando tudo.

Os olhares se encontraram por um instante.

Stella sorriu levemente antes de se afastar.

— Ihhh, Art, tão te analisando, hein? — provocou Nolan, cutucando seu ombro.

— Será que ela gostou do que viu? — Christopher riu.

— Relaxa, rapaziada, não tô interessado nessas coisas. — Articos respondeu, girando a bola nos dedos.

— Até parece, mano. Ela foi falar contigo logo cedo e agora ficou te observando? Tem alguma coisa aí. — Richard cruzou os braços, encarando Articos.

Ele apenas deu de ombros.

— Seja o que for, eu só quero ir pra aula e comer meu salgadinho.

— Esse cara é um robô, só pode.

Rindo, eles guardaram a bola e foram para a sala. A manhã ainda estava só começando.

As aulas começaram e, como de costume, Articos não teve dificuldades.

Ele já conhecia a matéria, então passava boa parte do tempo olhando pela janela ou rabiscando no caderno.

Seus amigos, por outro lado, lutavam para prestar atenção.

— Mano, eu não entendo nada dessa merda. — sussurrou Christopher, inclinando-se para Articos.

— Nem tenta, só copia e pergunta pra ele depois. — respondeu Nolan, apontando para Articos com a cabeça.

Richard, que estava do outro lado, riu.

— A gente deveria pagar esse cara pra dar aula particular.

— Eu já faço isso de graça.

— E mesmo assim tu não deixa a gente colar.

— Eu tenho padrões.

Os três bufaram em sincronia.

O intervalo chegou, e Articos estava apenas sentado, observando o vento passar pela janela.

Seus amigos estavam ocupados na cantina pegando comida, mas ele não tinha fome. Já tinha comido o salgadinho antes das aulas começarem, então só esperava o tempo passar.

Foi então que uma voz familiar soou ao seu lado.

— Você realmente não mandou mensagem.

Ele virou a cabeça lentamente.

Stella estava ali, encostada na mesa ao lado, com os braços cruzados.

Articos piscou algumas vezes.

— De novo isso? Eu já não falei que tinha saído tarde do trabalho.

Ela suspirou.

— Já imaginava que daria essa resposta novamente.

Ele assentiu.

— Mas e aí, o que manda?

Stella cruzou os braços.

— Só queria saber por que você sumiu.

Articos soltou um leve riso pelo nariz.

— Eu não sou um fantasma, eu acho.

Ela sorriu de canto.

— Então me diga.

— O quê?

— Precisa de alguma coisa? Considere isso um favor pelo jogo de ontem.

Articos pensou por um momento.

— Me arruma um pouco de água.

Stella piscou algumas vezes, como se não tivesse ouvido direito.

— Água?

— Sim.

Ela riu.

— Você tem certeza que é só isso?

— É.

Stella balançou a cabeça, ainda sorrindo.

— Beleza, então. Me espera aqui.

Ela saiu em direção à cantina.

Nesse momento, Nolan, Christopher e Richard chegaram e pararam assim que viram Stella se afastando.

Nolan abriu um sorriso malicioso.

— Ah, então era por isso que o Art sumiu do radar.

Christopher riu.

— Acho que ele arranjou companhia melhor.

Richard se inclinou.

— Estamos atrapalhando o momento romântico de vocês?

— Me poupe. — respondeu Articos sem hesitar.

Os três riram, mas logo notaram algo.

— Espera... ela foi pra cantina?

— Foi pegar água pra mim.

Houve uma pausa.

Nolan colocou a mão na testa.

— Mano, ela claramente queria te dar algo especial, e tu pede ÁGUA?

Christopher balançou a cabeça, incrédulo.

— Tu tá jogando no modo hard, né?

Richard suspirou.

— Articos Crisol... um verdadeiro mestre na arte de ser sem noção.

Articos continuou observando o vento.

— Vocês falam demais.

Os três continuaram encarando Articos, como se esperassem que ele se explicasse.

Mas ele só ficou ali, tranquilo, observando o nada.

Nolan bufou.

— Cara, eu não entendo como você consegue ser tão indiferente.

Christopher cruzou os braços.

— E eu não entendo como ele faz isso e ainda assim as garotas ficam interessadas.

Richard assentiu.

— Isso me intriga profundamente.

Antes que pudessem continuar, Stella voltou com uma garrafinha de água e jogou para Articos, que pegou no ar sem nem olhar.

— Aqui está sua preciosa água.

Ele abriu a garrafa calmamente.

— Valeu.

Ela suspirou, sorrindo.

— Sabe... eu acho que você poderia ser um pouco mais... expressivo?

Articos tomou um gole e a olhou.

— Eu já sou bem expressivo.

Nolan tossiu alto.

— Expressivo em momentos que.

Christopher concordou.

— Você fala como se estivesse em um comercial de calmantes.

Richard riu.

— O Articos é tipo um monge. Nada abala ele.

Stella cruzou os braços.

— E mesmo assim ele aceita desafios sem pensar duas vezes.

— O problema é que vocês querem que eu seja mais expressivo em um ponto específico... — Respondeu Articos.

Nolan apontou.

— Tá vendo? Isso que é estranho! O cara não reage a nada, mas quando chega um desafio, ele vai direto!

Articos deu de ombros.

— É mais divertido assim.

Stella sorriu, como se confirmasse algo que já suspeitava.

— Então... que tal mais um desafio?

Ele arqueou a sobrancelha.

— Que tipo?

— Um jogo de basquete. Agora.

Os amigos de Articos se entreolharam.

— Pera aí, vai ser só vocês dois? — perguntou Christopher.

— Isso mesmo. — Stella sorriu.

Richard riu.

— Eu gosto disso.

Nolan cutucou Articos.

— Vai recusar?

Ele se levantou, terminando de beber a água.

— Claro que não.

Stella sorriu ainda mais.

— Ótimo. Então vamos.

Os amigos de Articos seguiram logo atrás, ansiosos pelo que estava por vir.

A quadra estava silenciosa quando os dois se posicionaram.

Stella parecia confiante, com um sorriso leve no rosto, pronta para o desafio.

Ele, por outro lado, estava com a expressão calma e focada, como sempre.

— Preparada? — perguntou, driblando a bola com destreza.

Ela sorriu.

— Sempre.

Ele avançou, driblando com facilidade enquanto ela tentava bloqueá-lo. Mas foi rápido demais.

Com um giro, passou por ela e deu um arremesso certeiro. A bola passou pelo aro, afundando sem chance de defesa.

— 1 a 0 — ele disse, sem pressa, como se fosse o movimento mais natural do mundo.

Stella respirou fundo.

— Ok, você foi rápido demais.

Ela pegou a bola e tentou se concentrar. Agora estava mais focada, mas ele não se deixou abalar.

Quando ela fez o primeiro movimento em direção ao cesto, já estava ao lado dela, bloqueando qualquer possibilidade de arremesso.

Tentou driblar, mas ele foi mais preciso.

Com um movimento ágil, interceptou a bola, lançando-a para o outro lado da quadra. Ele estava pronto para marcar mais um ponto.

— Você está querendo ganhar de mim, não é? — ela disse, tentando disfarçar a frustração, mas o espírito competitivo ainda estava lá.

Ele deu um sorriso rápido, mantendo o foco.

— Claro, isso não é uma competição?

Com uma agilidade impressionante, ele fez mais um movimento, indo direto para o cesto e realizando outro arremesso.

A bola passou com facilidade, marcando mais um ponto.

— 2 a 0.

Ela estava visivelmente mais tensa, mas não iria desistir.

Pegou a bola e tentou uma abordagem mais estratégica, fazendo movimentos rápidos e menos previsíveis.

Mas, mais uma vez, ele estava à frente, sempre dois passos à frente. Quando teve uma chance para um arremesso, ele saltou rapidamente, bloqueando a bola com leveza.

Stella ficou parada, sem acreditar que, apesar de todos os esforços, ainda não havia feito um ponto sequer.

— Vai ser 3 a 0, então? — ela perguntou, o sorriso agora forçado, mas tentando esconder a frustração.

Ele olhou para ela, com uma leveza que quase não era notada.

— Parece que sim.

Sem dar tempo para reagir, pegou a bola e fez um arremesso final, marcando 3 a 0.

A bola entrou suavemente no aro, sem resistência.

— Vitória — disse, virando-se para ela.

Stella suspirou, colocando as mãos nos quadris.

— Ok, você ganhou... sem me deixar fazer um ponto sequer.

Ele sorriu descontraído.

— Parece que sim.

Ela riu, balançando a cabeça.

— Não posso negar, você é bom.

Com um sorriso enigmático, ele respondeu.

— Sempre fui.

Os amigos observavam de longe, impressionados com a facilidade com que ele dominou o jogo.

Nolan não conseguiu conter um comentário.

— Porra, nunca vi ele jogar tão sério.

Christopher riu.

— A Stella nem teve chance.

Richard balançou a cabeça.

— Esse cara tem um problema com perder.

Stella se aproximou dele após o jogo, ainda sorrindo.

— Agora me impressionou de verdade. Acho que você foi o único que me deixou sem palavras.

Ele deu de ombros.

— Só joguei meu jogo.

Ela riu suavemente, mais relaxada agora.

— Você é impossível.

Stella deu um passo à frente, ainda rindo da situação.

Ela olhou para ele com um olhar mais atento, como se estivesse analisando tudo ao seu redor.

— Agora, me conta... Como é que você consegue ser tão bom em tudo? — ela perguntou, ajeitando os cabelos que estavam um pouco bagunçados após o jogo.

Ele deu uma risadinha baixa, ainda sem sair do modo "focado".

— Nada demais. É só prática, muito treino, sabe?

Ela arqueou uma sobrancelha, claramente não comprando a explicação.

— Prática? Pelo visto você tem um talento natural... Ou é algum segredo que você está guardando pra si?

Ele deu de ombros, sorrindo levemente, sem querer se aprofundar muito no assunto.

Ele não gostava de revelar muito sobre si mesmo, principalmente quando se tratava de algo mais pessoal.

— Se fosse segredo, eu não estaria falando sobre isso.

Stella olhou para ele, percebendo que estava empurrando o assunto demais. Ela riu, um pouco sem graça.

— Tá bom, tá bom. Não vou insistir. Mas me fala uma coisa: você sempre foi assim? Ou foi algo que aconteceu com o tempo?

Ele a olhou por um momento, pensando em como responder. Era difícil explicar suas escolhas, sua obsessão por ser bom em tudo.

E embora tivesse um talento natural para muitas coisas, também era por causa de uma determinação imensa que ele não gostava de admitir.

— Eu diria que sempre fui um pouco assim... Mas, acredite ou não, o meu segredo é persistência. Não gosto de deixar as coisas pela metade.

Stella sorriu, compreendendo o que ele queria dizer.

— Parece que você tem um certo... orgulho disso, né?

Ele sorriu de volta, sem perder a confiança.

— Quem não tem?

Antes que pudesse continuar, seus amigos se aproximaram, interrompendo a conversa.

Nolan estava com um sorriso zombeteiro.

— Você jogou tão sério, cara! Pensou até que tava jogando contra a seleção mundial, né? — ele disse, e os outros começaram a rir.

Stella cruzou os braços, fingindo estar brava, mas o sorriso dela não mentia.

— Ele é assim, pessoal. Gosta de mostrar como é bom.

Articos riu, tentando não se deixar levar pela zoação.

— Não é que eu goste de mostrar, mas às vezes é divertido dar uma lição, né?

Stella deu uma risada.

— Pois é. Só não vale ficar se achando demais, hein?

Ele deu um sorriso torto.

— Pode deixar, não sou de me achar. Só de ganhar.

Ela o olhou com um olhar divertido.

— Aham, sei. Você ganhou até de mim, né? Isso é que não é fácil.

— Eu disse, não sou de perder. — Ele jogou a bola para Nolan, que pegou rapidamente, ainda rindo da situação.

A conversa foi interrompida quando o sinal tocou, avisando que a aula estava prestes a começar.

Stella olhou para Articos por mais um momento, como se quisesse dizer algo, mas ela se contentou em apenas sorrir.

— Bom, vou indo. A gente se vê depois, Crisol.

Ele sorriu e acenou com a cabeça.

— Claro, até mais.

Os amigos se dispersaram rapidamente para a aula, mas Articos ficou lá por um momento, observando Stella ir embora.

Ele não sabia se aquele jogo tinha sido só uma diversão para ela ou se ela realmente estava impressionada.

Mas algo em seu jeito dizia que, talvez, ele tivesse ganhado mais do que uma simples partida de basquete.

Ele deu uma última olhada para a quadra vazia, pegou sua mochila e seguiu para a sala de aula.

A tarde já estava cheia de surpresas, e ele tinha a sensação de que essa história com Stella ainda estava longe de acabar.

O dia passou rápido, e, antes que soubesse, Articos estava de volta à sua rotina na cafeteria.

O aroma de café fresco e o som suave da máquina de espresso o acolheram assim que entrou no local.

Ele se ajeitou atrás do balcão, dando um sorriso ao gerente, um homem calmo e sempre disposto a conversar.

— O que temos hoje, Crisol? — perguntou o gerente, enquanto limpava uma xícara.

— Um pouco de tudo, chefe. — Articos respondeu, pegando uma bandeja e começando a organizar os itens.

Ele adorava aquele ambiente.

O trabalho não era estressante e, além disso, ele gostava de servir as pessoas.

Havia algo reconfortante na rotina simples de preparar um bom café.

Enquanto trabalhava, ele não pôde deixar de pensar em Stella.

A maneira como ela o desafiou no jogo, a conversa sobre sua vida, tudo aquilo ainda estava fresco em sua mente.

Não sabia se ela estava apenas sendo amigável ou se havia algo mais ali. Mas, por enquanto, ele se contentava em esperar que as coisas acontecessem naturalmente.

O som da campainha da porta o fez olhar para cima. Quando a porta se abriu, a figura de Stella apareceu, fazendo-o parar por um instante.

Ela entrou com um sorriso no rosto, como se estivesse completamente à vontade, e se dirigiu diretamente ao balcão.

Articos não esperou muito para a cumprimentar.

— Ora... Uma figura decidiu dar as cara, né, Stella. — Ele disse, enquanto ajustava a xícara de café que estava preparando.

Ela sorriu, parecendo relaxada.

— Eu gosto desse lugar, sempre que posso, venho aqui. — Ela deu uma olhada ao redor. — E o ambiente parece combinar com você, tranquilo.

Ele riu baixo, um pouco surpreso com o comentário.

— Eu diria que é o lugar perfeito para pensar, sem pressa. E você, o que traz por aqui?

Ela se inclinou levemente para frente, apoiando as mãos no balcão.

— Eu só queria passar e te ver trabalhando. Acho que já está na hora de retribuir a sua gentileza de ontem, né?

Ele a olhou, tentando descobrir o que ela queria dizer.

Mas, antes que pudesse perguntar, ela continuou.

— Vou querer um cappuccino, e... quem sabe uma conversa enquanto você me serve.

Articos pegou a xícara com um sorriso, começando a preparar o pedido.

— O cappuccino vai sair rapidinho. E, claro, podemos conversar. Mas só se você prometer não me desafiar para mais jogos depois, não hoje, belê?

Stella riu, como se fosse a coisa mais divertida que já tinha ouvido.

— Você não tem medo de ser desafiado, né?

Ele deu de ombros, enquanto preparava a bebida.

O medo não faz parte do meu vocabulário.

Ela inclinou a cabeça com um sorriso travesso.

— Bom, vou ter que manter isso em mente. Não sei se você vai conseguir manter essa confiança quando as coisas ficarem mais interessantes.

Articos entregou a xícara de cappuccino para Stella, agora com uma expressão mais tranquila.

Ele sabia que ainda havia muita coisa por descobrir sobre ela, mas algo lhe dizia que, com o tempo, as respostas viriam.

— Aqui está, o melhor cappuccino da casa. — Ele disse, com um sorriso.

Ela pegou a xícara, ainda sorrindo, e deu um gole.

— Tão... Gostoso. — Ela fez uma pausa, olhando para ele. — Eu estava certa, você é bom em tudo que faz.

Articos sorriu, sem se deixar afetar pelos elogios.

Ele sabia que, de alguma forma, o jogo deles estava apenas começando.