Ato 5 - Temperatura Alta

Era uma plena sexta feira, Articos estava completamente focado na tela do celular, os dedos deslizando rapidamente enquanto jogava uma partida de FPS.

Seus fones abafavam o som ao redor, mas ele ainda conseguia ouvir Nolan resmungando ao lado.

— Cara, perspectiva é um inferno... — Nolan comentou, segurando o lápis e tentando ajustar um desenho no caderno.

— Acho que o inferno mesmo é jogar contra mim. — Christopher zombou, também focado no jogo.

— Se eu caísse contra você, ia ser humilhado.

Richard, por sua vez, estava na dele, mastigando um doce tranquilamente.

A tarde estava tranquila. As provas da manhã tinham drenado a energia de todo mundo, então aquele momento de descanso era mais que merecido.

Até que Stella passou pelo grupo, conversando com suas amigas.

Nolan, distraído, olhou para a mochila dela e notou uma pelúcia de coruja negra pendurada.

— Ei, olha só isso. — Ele apontou. — Parece o Articos.

Articos, sem tirar os olhos do jogo, respondeu de imediato:

— Não sei o que raios você usou, mas pare imediatamente.

— Cê tá falando do cabelo, né? — Christopher riu, apontando para ele. — Aliás, há quanto tempo você não corta isso?

Art desviou a atenção do jogo por um segundo e deu de ombros.

— Faz alguns meses.

— E como você enxerga? — Richard questionou, franzindo a testa.

— Normal, igual vocês.

Os três se entreolharam. Um plano começou a se formar em suas mentes ao mesmo tempo.

— Tá decidido. — Nolan bateu a palma da mão no caderno. — Vamos fazer esse cara cortar o cabelo hoje.

— Nem fudendo. — Articos respondeu de imediato.

— Ah, vai sim. — Christopher insistiu.

— É uma questão de dignidade, mano. — Richard reforçou.

Articos bufou, tentando ignorá-los.

Mas os três começaram a aumentar o tom de voz, exagerando na conversa de propósito.

— Pô, Art, só um cortezinho, cara!

— Imagina que louco tu de cabelo curto!

— Duvido que Stella ia te notar mais assim!

Articos deu um olhar mortal para eles.

Mas já era tarde demais.

Stella, que ainda estava por perto, parou e olhou na direção deles.

Ela deu um pequeno sorriso, segurando a vontade de rir.

Articos percebeu o sorriso dela e sentiu um pequeno arrepio.

Os três palermas ao seu redor notaram a reação e dobraram a intensidade da zoação.

— Tá vendo? Até ela acha que você devia cortar o cabelo! — Nolan cutucou o braço dele.

— Não é porque eu quero, mas já que todo mundo concorda… — Christopher falou, fingindo um tom pensativo.

— A Stella tá rindo, mano. Tu perdeu, aceita. — Richard disse, dando um gole na água da garrafa.

Articos suspirou, ajeitando os fones no pescoço.

— Vocês são insuportáveis e eu quero matar vocês.

— E você tá fugindo do assunto. — Nolan rebateu.

Stella então se aproximou um pouco, ainda segurando o pequeno sorriso.

— O que vocês estão aprontando agora?

— Nada demais. — Richard respondeu de forma casual.

— Só convencendo um certo alguém a cortar esse matagal na cabeça. — Christopher completou.

Stella cruzou os braços e olhou diretamente para Articos.

Ele manteve a expressão calma, mas por dentro já sabia que estava encurralado.

— É verdade? — Ela perguntou, arqueando uma sobrancelha.

Articos deu de ombros.

— Eles que tão enchendo o saco.

— E eles têm razão?

Ele ficou em silêncio por um momento.

Nolan, Christopher e Richard estavam só esperando para ver o que ele diria.

Finalmente, Articos bufou e passou a mão no cabelo.

— Tá bom, tá bom. Eu corto.

Os três comemoraram como se tivessem ganhado uma aposta.

Stella apenas sorriu e voltou a caminhar, mas antes de sair de perto, olhou de relance para Articos mais uma vez.

— Acho que vai ficar bom em você.

E então seguiu seu caminho.

Os amigos de Articos se entreolharam.

— Opa. — Nolan provocou.

— Isso foi um elogio? — Christopher cutucou.

— Talvez tenha valido a pena, hein? — Richard riu.

Articos revirou os olhos, pegando o celular de volta.

— Cala a boca e andem logo, antes que eu desista.

A tarde passou tranquila, e depois do colégio, os quatro foram direto para uma barbearia próxima.

Articos estava sentado na cadeira, encarando o próprio reflexo no espelho enquanto o barbeiro analisava seu cabelo.

— Quer que corte como?

Ele pensou por alguns segundos.

— Nada muito curto. Só o suficiente pra não cair tanto no rosto.

O barbeiro assentiu e começou a trabalhar.

Enquanto isso, Nolan, Christopher e Richard estavam sentados no sofá de espera, claramente se segurando para não rir.

— Tá acontecendo um momento histórico aqui. — Christopher sussurrou.

— A gente devia gravar. — Nolan segurou o celular, mas Articos lançou um olhar de aviso.

— Faz isso e tu vai perder o telefone.

Nolan guardou o celular rapidinho.

Richard então olhou para o chão e notou os fios de cabelo caindo.

— Caramba… Eu nunca tinha visto sua testa antes.

— Parabéns, agora já viu. — Articos respondeu segurando a raiva.

O processo continuou por mais alguns minutos, até que o barbeiro terminou e limpou os fios soltos.

Articos olhou no espelho.

O cabelo ainda era um pouco longo, mas agora dava para ver melhor seus olhos.

Ele passou a mão pelos fios.

— Ficou bom.

O barbeiro sorriu.

— Volta sempre que precisar.

Ele pagou pelo corte e saiu com os amigos.

Quando chegaram perto da praça onde sempre passavam depois do colégio, encontraram Stella e suas amigas sentadas em um banco.

Assim que ela viu Articos, levantou as sobrancelhas.

— Então você cortou mesmo.

Ele encolheu os ombros.

— A pressão social foi forte.

Stella analisou por um instante e depois sorriu.

— Ficou melhor do que eu esperava.

Nolan, Christopher e Richard estavam quase explodindo de vontade de zoar, mas seguraram.

Por enquanto.

Articos apenas assentiu, mantendo a expressão calma.

— Valeu.

Stella deu uma última olhada antes de voltar a conversar com suas amigas.

Os quatro continuaram andando, e quando estavam longe o suficiente, Nolan foi o primeiro a quebrar o silêncio.

— Então…

— Shhh. — Articos cortou antes que ele pudesse começar.

— Mas—

— Fale um A e morra.

Richard riu.

Christopher bateu no ombro de Articos.

— Tá bom, tá bom… Mas a gente não vai esquecer isso.

— Não esperava que esquecessem.

E assim, a tarde seguiu com mais provocações, risadas e uma sensação estranhamente boa no ar.

A noite havia caído, e Articos estava no apartamento, jogando no celular.

Dessa vez, sem os fones. Sua cabeça doía um pouco, e ele não queria aumentar o incômodo.

A partida estava intensa. Ele se movia rápido, calculava cada jogada, os reflexos afiados como sempre.

Até que um batuque soou na porta.

Ele ignorou.

Continuou jogando.

Mas o batuque ficou mais forte.

Mais insistente.

Ele bufou, irritado.

— Porra…

Quitou da partida no impulso e se levantou rapidamente, indo até a porta.

Nem pensou em olhar pelo olho mágico.

Apenas abriu e soltou, sem paciência:

— Quem é o infeliz que tá me fazendo perder—

Antes que pudesse terminar, seus olhos bateram na pessoa à sua frente.

Stella.

Ela deu um pequeno passo para trás, um pouco assustada com o tom dele.

— Ahn… Desculpa?

Ele piscou algumas vezes, sentindo a irritação se dissipar.

— Ah… — pigarreou. — Foi mal. Achei que fosse outra pessoa.

Ela balançou a cabeça.

— Não, eu que tô incomodando… Mas eu queria passar aqui.

Ele arqueou a sobrancelha.

— Passar aqui?

— Sim. — Ela hesitou por um segundo, mas continuou. — Eu queria ver melhor os seus olhos.

Ele ficou ainda mais confuso.

— Meus olhos?

— Sim. — Ela se inclinou levemente. — Depois do corte de cabelo, ficaram mais visíveis e eu fiquei curiosa.

Articos cruzou os braços.

— Tá. Mas como você achou meu apartamento? Não lembro de ter passado o endereço.

— Seus amigos me disseram.

O rosto dele se fechou na hora.

— Filhos da…

Respirou fundo. Não valia a pena se irritar com isso agora.

Stella o observava com um pequeno sorriso.

— Então? Vai me deixar entrar ou vai continuar me encarando como se eu fosse uma stalker?

Ele suspirou e deu espaço.

Ela por sua vez comentou.

— Eu falei brincando, mas realmente vai me deixar entrar? Tipo... Eu fiz você perder uma partida importante, eu imagino.

Ele deu de ombros.

— Você me fez perder, então tanto faz. Só não começo outra.

Stella sorriu de leve e entrou no apartamento.

Articos fechou a porta atrás dela e coçou a cabeça, ainda um pouco irritado com seus amigos.

— Eles realmente passaram meu endereço assim, do nada…

— Não os culpe. — Stella disse, olhando ao redor. — Eu fui bem convincente.

Ele suspirou.

— Isso não me surpreende.

Ela riu baixinho e se sentou no sofá, cruzando as pernas.

— E então? Vai me deixar ver direito ou não?

Ele piscou algumas vezes, tentando entender.

— Ver o quê mesmo?

— Seus olhos, ora.

Stella se inclinou um pouco para frente, apoiando o queixo na mão.

— O corte de cabelo realmente deixou eles mais visíveis, eu queria ver de perto.

Articos ficou em silêncio por um momento, depois suspirou.

— Tá bom… Mas não é como se tivessem nada demais.

Ele se aproximou e se sentou ao lado dela no sofá.

Stella não hesitou.

Chegou um pouco mais perto e analisou seus olhos com um olhar curioso.

Articos sentiu o olhar dela, mas manteve a calma.

— Então?

— São mais bonitos do que eu imaginava.

Ele desviou o olhar.

— Tsc… Você tem uns comentários esquisitos.

Ela sorriu.

— Eu só falo a verdade.

Ele balançou a cabeça e se levantou.

— Quer alguma coisa? Tenho suco, água… E acho que ainda tem algumas bolachas.

— Suco tá ótimo.

Ele foi até a cozinha e pegou um copo, enchendo de suco antes de voltar e entregar a ela.

Stella pegou e bebeu um gole.

— Seu apartamento é bem arrumado.

— Tento manter o caos sob controle.

Ela riu.

O silêncio se instalou por um momento.

Articos olhou para ela.

— E então? Veio aqui só pra ver meus olhos ou tinha outra coisa?

Stella colocou o copo na mesa de centro.

— Talvez eu só quisesse te ver.

Ele a encarou por um momento.

Depois, bufou e se jogou no sofá.

— Você é um enigma, sabia?

Stella sorriu.

— E você gosta disso, não gosta?

Ele fechou os olhos por um instante.

— Não vou responder essa.

Ela riu de novo.

A noite continuou com conversas aleatórias, até que Stella decidiu que já era hora de ir embora.

Antes de sair, ela olhou para ele mais uma vez.

— Seus olhos são realmente bonitos.

Dessa vez, Articos apenas deu um pequeno sorriso.

— Até mais, Stella.

Ela acenou e foi embora.

Ele fechou a porta, soltando um longo suspiro.

Seus amigos iam ouvir no dia seguinte.

Mas...

N dia seguinte, as coisas não saíram como Articos esperava.

Ele acordou com o corpo pesado, a garganta arranhando e a cabeça latejando.

— Ah… Que merda.

Passou a mão no rosto e percebeu que estava quente.

Gripe.

Não tinha muito o que fazer. Faltar às aulas não era uma opção, então apenas se arrumou do jeito mais prático possível.

Vestiu o corta-vento por cima do uniforme, pegou uma máscara preta e a colocou no rosto antes de sair.

Ao chegar na escola, foi direto para a sala, ignorando qualquer tentativa de conversa.

Seus amigos, claro, notaram na hora.

— Mano, cê tá doente? — Nolan perguntou, franzindo a testa.

— Não, tô ótimo. — Articos respondeu, com sarcasmo evidente na voz rouca.

— Cê tá com cara de quem morreu e voltou só pra assistir aula. — Christopher comentou.

— Exatamente o que aconteceu. — Ele se jogou na cadeira.

Richard, que mastigava um pão de mel, apontou para ele.

— Quer um?

Articos apenas suspirou.

A manhã mal tinha começado, e ele já queria que o dia acabasse.

O dia foi simplesmente horrível para Articos.

A cabeça latejava, o corpo pesava e ele mal tinha energia para responder qualquer coisa.

Nem tentou conversar com os amigos, apenas passou o dia inteiro agonizando em silêncio.

Quando finalmente conseguiu sair da escola, pegou o celular e ligou para o chefe da cafeteria.

— Oh, patrão… Não vai dar pra eu ir hoje não, peguei uma gripe e o senhor sabe como funciona a gripe nos homens.

Do outro lado da linha, a resposta veio tranquila.

— Tudo bem. Se quiser um café especial, pode pedir.

Articos soltou um riso nasalado.

— Quero sim… Mas quem vai trazer?

— Já sei exatamente quem vai levar.

Ele franziu a testa, mas não questionou. Apenas desligou e seguiu para casa.

Assim que chegou ao apartamento, fechou a porta e soltou um suspiro pesado.

Finalmente… Paz.

Mas a tranquilidade durou exatos três segundos antes de um batuque soar na porta.

Ele bufou.

Abriu lentamente, já se preparando para xingar, mas congelou ao ver Stella parada ali, segurando um copo de café especial.

Sem dizer nada, pegou o café de sua mão e começou a fechar a porta.

— Espera. — Ela disse, segurando a porta. — Não vim só trazer o café.

Ele a encarou, esperando.

— Eu vim cuidar de você.

— O quê?

— Seus amigos me contaram sobre a gripe.

Ele piscou, processando a informação. Normalmente, ficaria irritado por ela ter aparecido assim, mas naquele momento… Ele não tinha energia pra isso.

Apenas suspirou e se jogou no sofá.

Stella entrou, colocou o café na pequena mesa da sala e olhou para ele.

— Levanta um pouco.

— Pra quê?

— Só faz.

Sem entender direito, ele obedeceu.

Assim que se moveu, Stella sentou-se ao lado dele e, sem aviso, puxou sua cabeça para o colo dela.

— Ei! — Ele tentou protestar.

— Fica quieto.

Ela pegou um comprimido e entregou para ele, junto com um do café.

— Toma isso e eu só saio daqui quando você dormir.

Articos olhou para ela, exausto demais para argumentar.

No final, apenas obedeceu.

O remédio desceu rasgando sua garganta seca.

— Seus pais não vão achar ruim? Você sair a essa hora?

— Você sabe que eu sou de maior, né? Tenho apenas dezoitinhos. — Disse ela com uma voz brincalhona.

Articos respirou fundo, sentindo o calor do resto do café na mesa.

O cheiro doce se misturava com o perfume de Stella, que continuava ali, com as mãos repousando suavemente sobre seus cabelos.

— Isso é injusto. — Ele murmurou, a voz arrastada pelo cansaço.

— O que é injusto?

Ele abriu os olhos lentamente.

— Você aproveitando que estou fraco para fazer o que quiser.

Stella riu baixinho.

— Se estivesse bem, acha que me impediria?

— Óbvio.

— Hmm… — Ela inclinou a cabeça. — Não sei, não. Acho que você gosta disso.

Ele fechou os olhos de novo, tentando ignorar a sensação confortável demais.

A verdade é que ele nunca tinha ficado tão relaxado antes.

Mesmo sentindo a febre queimando por dentro, havia algo reconfortante no toque dela, nos dedos deslizando de leve pelos fios de seu cabelo.

Os minutos passaram.

Stella continuava ali, sem pressa.

— Eu sabia.

— Sabia o quê? — Ele perguntou, a voz quase falhando.

— Que seus olhos são bonitos.

Ele franziu a testa levemente, mas não abriu os olhos.

— por que você vive repetindo o que fala?

— Porque eu sempre quis ver direito.

Ele não respondeu.

Seus pensamentos estavam lentos.

O calor do corpo dela, o toque nos cabelos, a febre misturada ao cansaço…

A luta para se manter acordado durou pouco.

Logo, sua respiração ficou mais ritmada, e Stella percebeu que ele finalmente tinha dormido.

Ela suspirou, sorrindo de leve.

— Bobo.

Com cuidado, pegou o cobertor que estava jogado no sofá e cobriu ele.

Depois, encostou a cabeça no encosto do sofá e fechou os olhos também.

Mesmo sem perceber, acabou adormecendo ali, ao lado dele.

A noite passou tranquila.

O apartamento permaneceu em silêncio, apenas com o som distante da cidade ao fundo.

Quando Articos abriu os olhos, o primeiro detalhe que percebeu foi o calor ao seu lado.

Virou o rosto devagar.

Stella estava ali, dormindo encostada no sofá, com o rosto sereno e a respiração calma.

Ele piscou algumas vezes, sentindo o corpo um pouco melhor do que antes. Ainda estava fraco, mas a febre tinha diminuído.

Olhou para o cobertor sobre ele e percebeu que não lembrava de tê-lo colocado.

Suspirou.

— Então você realmente ficou aqui a noite toda...

Murmurou para si mesmo, passando a mão no rosto.

Ele não queria admitir, mas tinha sido bom ter alguém cuidando dele pela primeira vez em muito tempo.

Com cuidado, se levantou, tentando não acordá-la.

Foi até a cozinha, pegou um copo de água e bebeu devagar. Seu corpo ainda doía um pouco, mas estava muito melhor do que antes.

Quando voltou para a sala, Stella se mexia levemente, começando a despertar.

Ela abriu os olhos devagar, piscando algumas vezes antes de focar nele.

— Hm... Você já tá de pé?

— Acho que sim. — Ele respondeu, sentando-se no sofá ao lado dela.

Stella olhou ao redor, percebendo que ainda estava ali.

— Parece que dormi mais do que planejava.

— Pois é.

Ela se espreguiçou levemente e olhou para ele com um pequeno sorriso.

— E aí? Como tá se sentindo?

Articos suspirou.

— Melhor. Acho que da pra sobreviver mais dois dias.

— Que bom.

Um silêncio breve se formou.

Até que Stella o encarou de novo, inclinando um pouco a cabeça.

— Por que tá me olhando assim? — Ele perguntou.

— Nada. — Ela riu de leve. — Só acho engraçado.

— O quê?

— Ver você gripado te deixou mais... humano.

Ele estreitou os olhos.

— E eu sou o quê normalmente?

— Um monstro, ué.

Ela deu uma risadinha antes de se levantar, se alongando.

— Mas um monstro que agora tá melhor.

Articos revirou os olhos.

— Vai embora agora ou quer café da manhã também?

Stella cruzou os braços, fingindo pensar.

— Hm... Aceito um café.

Ele suspirou, mas se levantou para preparar.

No fundo, não achou tão ruim assim.

Enquanto Articos preparava o café, Stella caminhou até a janela, observando a vista da cidade ainda despertando.

O silêncio entre os dois era confortável.

Ele colocou duas xícaras na mesa e sentou-se no sofá, olhando para ela.

— Vai ficar aí admirando a paisagem ou vai vir beber?

Stella sorriu e se sentou ao lado dele. Pegou a xícara e soprou levemente antes de tomar um gole.

— Sabe... Você devia adoecer mais vezes.

Articos arqueou uma sobrancelha.

— E por quê?

— Porque foi a única vez que você não foi teimoso e me ouviu.

Ele riu de leve.

— Não se acostuma, isso foi um caso raro.

Ela apenas sorriu, bebendo mais um gole do café.

O sol começava a iluminar o apartamento, marcando o fim daquela manhã inesperada.

E, talvez, o início de algo que nenhum dos dois imaginava ainda.