Os dias passaram, e a gripe de Articos já era coisa do passado.
Ele voltou à sua rotina normal, sem grandes preocupações.
Então, bang.
Nolan olhou para o calendário do celular e arregalou os olhos.
— Ei... hoje é especial dos Namorados.
Evento que o diretor decidiu colocar na escola no fim do ano, para os casais terem mais um dia de paz.
Christopher cruzou os braços e sorriu.
— Será que vou ser presenteado?
Ele fez uma pausa dramática e completou.
— Bom, mesmo que ninguém me dê nada, eu vou dar algo pra alguém. Tem que manter a tradição, né?
Richard, com a cara mais neutra do mundo, deu de ombros.
— Se eu receber algo, eu compro um presente ainda melhor pra retribuir. Fim da história.
Articos, por outro lado, parecia pouco interessado.
— Tanto faz. Se receber, beleza. Se não, também não ligo.
O tempo passou e logo o intervalo chegou.
Ao abrir seus armários, se depararam com algo inesperado.
Cada um deles havia recebido presentes. Alguns chocolates, bilhetes anônimos, coisas típicas da data.
Mas Articos... além dos chocolates, encontrou uma pequena pelúcia de um gato roxo.
Ele pegou a pelúcia e observou por um instante.
Já sabia de quem era.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, os três idiotas começaram a zoar.
— Oooh, Art! Quem diria! Um presente especial, hein? — Disse Nolan, rindo.
— Isso tem cara de algo romântico. — provocou Christopher.
— Gato roxo, hein? — murmurou Richard, segurando o riso.
Articos apenas suspirou, sem dar muita atenção.
Mas, por dentro, ele sabia exatamente de quem era aquele presente.
O garoto segurou a pelúcia por alguns segundos, analisando os detalhes.
Era pequena, macia e bem feita.
Ele olhou para os três, que continuavam rindo.
— Qual é, parem com isso.
— Ooooh, ele ficou tímido!. — Zombou Nolan, cutucando o ombro dele.
Christopher segurou o queixo, fingindo refletir.
— Agora, a questão é... quando você vai retribuir, hein?
Richard assentiu.
— Parece justo. Você recebeu, agora tem que dar algo de volta.
Articos suspirou.
— Vocês são irritantes.
Mesmo dizendo isso, ele guardou a pelúcia na mochila com cuidado.
Seus amigos riram mais um pouco antes de começarem a abrir seus próprios presentes, discutindo quem poderia ter mandado o quê.
Mas Articos já tinha certeza de quem era o responsável pelo dele.
E não demorou muito para confirmar.
Do outro lado do pátio, Stella estava sentada com algumas amigas.
Ela não olhava diretamente para ele, mas mexia no cabelo de leve, como se estivesse esperando alguma reação.
Articos encarou por um momento e depois desviou o olhar, pegando um dos chocolates.
Ele não ia admitir, mas aquilo tinha mexido com ele um pouco mais do que esperava.
Articos tentava disfarçar a leveza no peito, mas não conseguia. O sorriso de Stella, mesmo de longe, parecia se imprimir na sua mente.
Ele mordeu o pedaço de chocolate, tentando manter a compostura enquanto seus amigos continuavam falando sobre os presentes.
— E então, Art? Vai fazer alguma coisa por ela? – Nolan perguntou, com aquele tom que sempre indicava que sabia de algo.
— Eu já fiz demais por ela... – Articos respondeu de maneira brusca, mas não conseguiu esconder a leveza que se formou no fundo da sua voz.
Christopher olhou para ele com um sorriso malicioso.
— Aham, claro... Já fez demais...
— Se não quer falar, tudo bem. A gente entende. – Richard disse com sarcasmo, dando uma piscadinha para Articos.
Ele revirou os olhos, decidindo ignorar os comentários. No fundo, ele sabia que seus amigos estavam apenas tentando arrancar uma reação dele.
Mas, no fundo, algo tinha mudado. Era como se a tensão em torno de Stella tivesse se dissolvido em algo mais leve, algo que ele ainda não sabia como lidar.
Articos se levantou da mesa, sentindo a necessidade de fazer algo.
— Vou lá no meu armário pegar uns cadernos. Já volto. – ele disse rapidamente, sem esperar respostas.
No caminho até o armário, seus olhos inevitavelmente se dirigiram para onde Stella estava.
Ela ainda estava com suas amigas, rindo e trocando palavras, mas parecia lançar olhares rápidos para ele de vez em quando.
Algo naquele comportamento a deixava mais... acessível? Articos não sabia, mas, de alguma forma, sentia que algo mais estava acontecendo ali, algo que ele ainda não queria entender completamente.
Ele bufou para si mesmo, tentando se concentrar em sua tarefa.
Depois de um momento, voltou para a mesa e seus amigos estavam falando sobre outras coisas.
— Vocês acham que ela... gostou do presente? – Richard perguntou, sem olhar diretamente para Articos.
Ele pensou por um momento e deu de ombros.
— Quem sabe? Não sou bom com essas coisas.
Nolan deu uma risadinha.
— Acho que você nem se importa, né?
Articos não respondeu, apenas se acomodou no banco, com a mente ainda um pouco distante.
Ele se perguntava se Stella estava esperando algo mais dele, mas, ao mesmo tempo, sabia que não podia se precipitar.
Ela era... diferente. E ele, de certa forma, também era.
Por fim, o intervalo acabou, e todos voltaram para suas atividades.
Mas, mesmo assim, o peso de um pequeno presente e os olhares furtivos de Stella ficaram com Articos por toda a tarde.
Ele não sabia exatamente o que fazer com aquilo, mas, por agora, estava decidido a seguir em frente, esperando que o tempo o guiasse para uma resposta mais clara.
O fim da tarde chegou, e Articos estava em uma pressa incomum.
Ele correu para tomar banho, mais rápido do que o normal, e caprichou em cada detalhe do seu visual.
Não era apenas a roupa, mas o cuidado nos pequenos gestos, como ajeitar o cabelo e dar um toque final na camisa.
Algo nele estava diferente, e ele sabia que isso tinha a ver com Stella.
Com pressa, ele se dirigiu para o trabalho.
Ao chegar, vestiu seu uniforme e foi logo começar suas tarefas.
O gerente o olhou com uma sobrancelha levantada.
— Hoje está apressado, Crisol? – perguntou ele, com um sorriso curioso.
Articos se virou rapidamente e respondeu com um sorriso discreto.
— Vou tentar algo novo, um café especial... pra alguém.
O gerente apenas riu, sabendo bem que, para Articos, "alguém" podia significar qualquer coisa, mas sem questionar mais, ele seguiu com seu trabalho.
Articos então se dedicou às suas misturas.
Ele fez várias tentativas, testando receitas e criando combinações inusitadas.
Queria algo perfeito, algo que realmente impressionasse.
Quando finalmente encontrou a mistura ideal, pegou seu celular e enviou uma mensagem para Stella.
[ Oi, Stella, quero bater um papo. Vem até a cafeteria? ]
Ela leu a mensagem, achando que seria mais uma conversa casual, como as que já haviam tido antes.
Pensou que talvez fosse apenas um convite para uma bebida.
Não imaginava que ele estava se preparando para algo mais.
Ela se arrumou como sempre, simples, sem esperar nada de mais.
Pegou sua bolsa e, com a mesma naturalidade de sempre, se dirigiu até a cafeteria.
Ao entrar, o gerente a cumprimentou com um sorriso largo.
— Sente-se, por favor. Articos já preparou algo especial para você.
Stella assentiu, sem entender muito bem o que estava acontecendo, e se acomodou em uma das mesas.
Não demorou muito para Articos aparecer, com o cabelo arrumado e um sorriso tímido.
Ele carregava três cafés, cada um com um desenho feito na espuma.
Um tinha corações delicados, o segundo trazia pétalas de flores, e o último tinha a figura de um gato fofo.
Stella olhou para os cafés, surpresa.
— O que é isso? – perguntou, levemente confusa, mas também intrigada.
— Cada um tem um sabor diferente. — disse Articos, colocando os cafés na mesa. — Esse aqui é doce, o segundo é amargo e o último é... uma mistura dos dois.
Ela olhou para os três, ainda sem saber o que dizer.
Articos então explicou.
— Queria testar algo novo, então pensei que... talvez você gostasse de um café diferente.
Stella sorriu, tocada pela gentileza. Ela pegou o café com o desenho de corações e deu um gole.
— Você não engana... — ela disse com um sorriso suave. — Mas, obrigado, tá ótimo.
Articos olhou para ela, sentindo um calor crescer no peito.
Ele havia feito tudo aquilo, sem esperar nada em troca, mas agora, ao vê-la apreciando o gesto, ele percebeu que isso, de alguma forma, era tudo o que ele queria.
Eles ficaram ali, conversando de maneira leve e tranquila, o café sendo apenas o pretexto para um momento de intimidade inesperada.
Articos não sabia bem o que o futuro reservava, mas, naquele momento, estava certo de uma coisa: ele gostava de ter Stella por perto.
No dia seguinte, Articos acordou com a sensação de que o dia seria diferente.
A noite anterior, com seus cafés e conversa descontraída com Stella, ainda estava na sua mente.
Ele não sabia exatamente o que aquilo significava, mas algo estava mudando.
Se levantou cedo, ainda com uma leve sensação de excitação no peito.
O que ele faria hoje? Será que Stella pensaria sobre o que aconteceu?
Durante o dia, ele seguiu sua rotina normalmente, mas não conseguiu deixar de observar o celular, esperando uma mensagem ou, ao menos, algum sinal de que ela também estava pensando naquilo.
Quando o intervalo chegou, ele se viu caminhando até o armário, perdido em seus próprios pensamentos.
Então, o celular vibrou.
Ele olhou rapidamente, e viu que era uma mensagem de Stella.
Ele abriu o texto com um misto de curiosidade e expectativa.
[ Oi, Articos, eu gostei dos cafés. Você realmente sabe fazer um bom trabalho. Talvez a gente possa tentar algo diferente na próxima vez, hein? ]
Articos sorriu sozinho, deixando a ansiedade dar lugar a uma sensação de leve alívio.
Ela tinha gostado, e isso significava que ela estava disposta a continuar aquela troca.
Talvez fosse o começo de algo novo, ou talvez fosse apenas uma lembrança boa.
Não sabia, mas de qualquer forma, estava feliz.
Ele respondeu rapidamente.
[ Que bom que gostou! E com certeza, vamos tentar algo novo, eu espero. ]
A resposta foi rápida, e quando ele finalmente guardou o celular, não pôde deixar de sorrir.
Algo parecia mais leve, mais interessante, como se a partir daquele momento as possibilidades fossem mais amplas.
O restante do dia passou com mais naturalidade, mas ainda com a mente de Articos voltando a pensar na conversa com Stella.
Ele se perguntou se isso poderia levar a algo mais sério, ou se eles continuariam sendo amigos, como sempre.
Só o tempo diria...
Ao fim do expediente, quando ele estava prestes a sair, o gerente o chamou.
— Articos, você não está com pressa hoje? — perguntou ele, com um sorriso suave.
Articos ainda perdido em seus próprios pensamentos.
— Não, por quê?
— Porque alguém deixou um recado para você, embaixo do balcão. Acho que você vai gostar.
O garoto ficou surpreso, mas, sem dizer mais nada, foi até o balcão.
Ali, em uma pequena folha de papel, havia uma mensagem de Stella.
"Eu gostei muito ontem. Se você quiser, a gente poderia repetir a dose. Eu, você, e um café, talvez dois. Que tal? ;)"
— Ela realmente vive repetindo o que fala... — Murmurou para si mesmo.
Ele sorriu novamente. O convite estava ali, claro e direto.
Mas, de alguma forma, parecia que, ao invés de um simples convite para mais café, era algo maior.
Algo que ele não sabia ao certo como interpretar, mas que estava ansioso para descobrir.
Ele guardou o papel no bolso, virou-se para o gerente e disse com um sorriso:
— Acho que vou ter que cancelar os planos de hoje... Tenho algo mais importante para fazer.
E, com a mensagem de Stella no bolso, ele deixou a cafeteria com a sensação de que talvez, só talvez, esse fosse o começo de algo bem interessante.
No dia seguinte, Articos chegou ao colégio como sempre, com seus amigos ao redor e o sorriso de quem já estava acostumado com a rotina.
Nolan e Christopher estavam falando sobre algo que envolvia videogames, enquanto Richard estava atrás, tentando convencer os outros a fazer algo diferente durante o intervalo.
Nada de novo, exceto que Articos estava um pouco mais atento ao que estava acontecendo ao seu redor, um pouco mais desconcentrado com seus próprios pensamentos.
Quando ele chegou na porta da sala, Stella apareceu ao lado dele, sorrindo com aquele jeito um pouco travesso.
Sem avisar, ela puxou-o para o lado, longe dos amigos.
— Ei, Articos. Vamos dar uma volta? — ela disse, com aquele tom animado que ele sabia ser difícil de resistir.
O garoto, surpreso, olhou para os amigos, que ainda estavam distraídos. Eles nem perceberam a movimentação.
Então, olhou para Stella, pensando no convite repentino.
— Uma volta? Onde? — ele perguntou, desconfiado, mas também curioso.
Stella deu um sorriso enigmático e puxou ele levemente pelo braço.
— Não precisa perguntar, só vem! — ela respondeu, com um tom de desafio.
Ele não hesitou, e, sem pensar muito, foi com ela.
Ao caminhar pelos corredores, Articos sentiu a leveza da situação.
Não era como se estivesse sendo arrastado, mas o impulso de estar com ela era mais forte do que qualquer outra coisa.
Eles saíram pelo portão lateral da escola e caminharam até um pequeno parque nas proximidades.
O lugar estava quase vazio, o que fazia o momento parecer ainda mais privado e tranquilo.
Articos olhou para ela, tentando entender o motivo dessa caminhada, mas Stella parecia estar se divertindo com a surpresa.
— Então... qual é a grande surpresa, Stella? — Articos perguntou, com um tom descontraído, enquanto caminhavam lado a lado.
Stella o olhou com um sorriso, mas não respondeu de imediato.
Ela caminhou mais alguns passos antes de parar e olhar para ele.
— Queria conversar um pouco. Sobre o que aconteceu na cafeteria... — ela disse, parecendo um pouco mais séria do que o normal.
Articos sentiu um pequeno frio na barriga.
Ele sabia que a conversa iria para um lado mais sério, e, por algum motivo, ele não se sentia tão preparado.
Mas, ao mesmo tempo, sabia que não poderia evitar.
— Sobre o que? – ele perguntou, tentando manter a calma.
Stella suspirou, olhando para o céu azul. Ela parecia pensativa.
— Eu sei que você não é muito de falar sobre essas coisas... — começou ela, com uma leve risada nervosa. — Mas, eu gostei do que aconteceu. Não é algo que eu faço com qualquer pessoa, você sabe disso, né?
Articos ficou em silêncio por um momento, processando as palavras dela.
Ele sentiu uma onda de curiosidade, mas também algo que ele não sabia exatamente definir.
O que ela estava tentando dizer?
— Eu gostei também. Não sei se isso significa alguma coisa... mas foi bom... — ele respondeu, sincero.
Stella se virou para ele, seus olhos brilhando com uma energia nova.
— Você tem que entender, Articos... Eu não me apego fácil... Mas, com você, eu quero saber mais. Eu quero ver no que isso vai dar, sem pressa, mas... — ela parou, como se estivesse procurando as palavras certas. — Mas eu gosto da ideia de nos conhecermos melhor... Sem pressa, mas com mais... — ela deu um sorriso tímido. — mais vontade.
Articos ficou sem palavras por um momento.
Ele não sabia bem como reagir a isso, mas, ao mesmo tempo, sentia algo que parecia vir de dentro dele, algo como uma aceitação, uma vontade de que aquilo fosse para frente, sem pressa, mas com vontade.
— Eu também gosto da ideia... — foi tudo o que ele conseguiu responder, com um leve sorriso no rosto.
Stella sorriu de volta, e os dois ficaram ali por um tempo, sem pressa de voltar para a escola.
Apenas aproveitando o momento de companhia e o fato de que as coisas estavam começando a tomar um rumo que ambos pareciam querer seguir.
O tempo parecia ter parado por um instante.
Articos e Stella ficaram ali, no parque, desfrutando do silêncio confortável entre eles.
As palavras trocadas não precisavam de muito mais, porque havia algo ali que ambos já entendiam, um reconhecimento silencioso do que estava começando a florescer entre eles.
Stella olhou para Articos, sorrindo suavemente.
— Vamos voltar? – ela perguntou, quebrando o silêncio.
Articos assentiu, mas antes de se virar para caminhar de volta, ele a olhou com uma expressão séria, mas suave.
— Eu não sei onde isso vai dar, Stella... mas... — ele fez uma pausa, sentindo que as palavras eram mais importantes do que pensava. — Eu estou disposto a ver aonde isso nos leva.
Ela sorriu, mais um sorriso verdadeiro e simples, como se fosse tudo o que precisasse ouvir.
— Eu também. — ela respondeu, com sinceridade.
Os dois caminharam de volta para a escola, dessa vez com passos mais leves.
A conversa tinha sido curta, mas carregava um significado maior do que qualquer coisa que poderiam ter dito.
No final das contas, não importava onde aquilo os levaria.
O importante era que estavam começando a caminhar juntos, e isso, para Articos, era o suficiente.
Quando chegaram à escola, se despediram com um aceno, cada um voltando para o seu próprio espaço, mas com a sensação de que algo novo havia começado.
E com isso, o dia seguiu, sem pressa, como o caminho que eles estavam prontos para trilhar.