Articos sempre observava Stella de longe. Ele notava os detalhes que passavam despercebidos pelos outros.
Nos últimos dias, ela parecia diferente.
Pra baixo, distraída.
Por isso, sempre comprava um chocolate pra ela, que por sua vez, sorria ao receber, mas ele sabia.
Algo estava errado.
Mesmo assim, tentou ignorar. Disse pra si mesmo que era coisa da cabeça dele.
Mas então, um dia, ao subir as escadas do colégio, ouviu um choro abafado.
Parou.
O som vinha do andar de cima, não precisava ver para saber quem era.
Stella.
Seu primeiro instinto foi ignorar. Se ela precisasse de ajuda, falaria com alguém, certo?
Era o que ele queria acreditar.
Mas, antes que pudesse decidir o que fazer, viu as mesmas garotas de sempre subindo as escadas.
Elas não perceberam sua presença.
Algo dentro dele gritou.
Seus instintos despertaram.
Ele sabia que algo estava acontecendo, então, sem pensar muito, seguiu-as como uma sombra.
No terraço, a cena se desenrolava diante de seus olhos.
As garotas cercavam Stella, zombando dela, algumas até a empurravam levemente, testando limites.
E o que o incomodou mais foi o sorriso no rosto dela.
Um sorriso falso.
Um sorriso que dizia que ela já tinha desistido.
Articos fechou as mãos em punhos.
Seu celular estava descarregado.
Não tinha como gravar provas.
As garotas saíram rindo, satisfeitas com o que tinham feito.
Ele se escondeu rapidamente.
Esperou.
Assim que o terraço ficou silencioso, olhou para Stella.
Ela estava parada na beira do edifício.
O coração dele disparou.
E então, ela se jogou.
O corpo de Articos se moveu antes que ele pudesse pensar.
Pulou atrás dela.
No ar, a alcançou.
Segurou firme.
O vento batia forte, mas ele não hesitou.
Agarrou-se ao vão da janela com toda a força que tinha e, sem perder tempo, jogou Stella lá pra dentro.
O problema foi que, ao tentar subir, seus dedos escorregaram.
E ele caiu.
— Oh caralho...
O impacto foi forte.
Não foi uma queda mortal, mas a dor era real.
Ele ficou ali por alguns segundos, sentindo o mundo girar.
— Olha nas coisas que eu me meto... Puta que pariu... — Agonizando de dor.
Stella apareceu na beira da janela, os olhos arregalados de choque.
— Art?!
Ele tentou se mover, mas a dor se espalhou pelo corpo.
— Você tá bem?! — a voz dela tremia.
Articos soltou um suspiro e forçou um sorriso.
— Já tive dias melhores.
Stella desapareceu da janela e, em segundos, apareceu na porta de emergência, correndo em sua direção.
Se ajoelhando ao lado dele, as mãos tremendo.
— Por que você fez isso?!
Ele olhou para ela, os olhos afiados.
— Por que você fez isso primeiro?
Ela congelou.
Os olhos encheram de lágrimas, mas nenhuma caiu.
— Eu…
A voz falhou.
Articos soltou um suspiro, olhando para o céu.
— Eu te observava há um tempo, sabia que algo tava errado. Mas nunca imaginei que fosse chegar a esse ponto.
Stella desviou o olhar, mordendo o lábio.
— Eu só… achei que ninguém ia se importar.
Articos virou a cabeça para encará-la.
— Idiota.
Ela arregalou os olhos.
— O quê?
Ele tentou se sentar, rangendo os dentes pela dor.
— Mulher... Eu literalmente pulei do topo do colégio pra te salvar, acha realmente que não é importante?
Ela abriu a boca, mas não soube o que dizer.
Articos apoiou um braço no joelho e continuou.
— Se acha que ninguém liga, pelo menos eu ligo. Então, na próxima vez que tiver esse tipo de pensamento… me chama primeiro, belê?
Stella abaixou a cabeça, os ombros tremendo.
— E-Entendi.
O silêncio reinou por um tempo.
Então, Articos soltou uma risada curta.
— Mas sério, eu acho que torci alguma coisa. Você pode me ajudar a levantar antes que alguém apareça e ache que eu morri?
Stella limpou o rosto e sorriu de leve.
— Tá… vem cá.
Ela segurou seu braço e o ajudou a levantar, apoiando-o em seu ombro.
Articos agonizou de dor.
— Ah… definitivamente torci alguma coisa.
Stella riu baixinho.
— Você é muito impulsivo.
Ele sorriu.
— E você é muito teimosa.
Os dois ficaram ali por um momento, até que Stella suspirou.
— Obrigada, Articos.
Ele apenas assentiu.
— Sempre.
Articos sentia a perna latejando, mas ignorou a dor.
Stella ainda segurava seu braço, ajudando-o a se levantar no meio dos arbustos onde haviam caído.
O impacto não foi pequeno, mas, por sorte, os galhos amorteceram a queda.
Ele soltou um suspiro.
— E então? Tá tudo bem contigo?
Stella o olhou, surpresa.
— Você deveria perguntar isso pra si mesmo!
Ele riu, mesmo sentindo um incômodo.
— Eu perguntei primeiro.
Ela desviou o olhar.
— Eu… sim, tô bem.
O tom de voz não era tão firme, mas Articos não forçou.
Ele tentou se mover, mas uma fisgada na perna fez seu rosto se contorcer por um segundo.
Stella percebeu.
— Você?
— Não é nada sério.
Ela bufou.
— Não seja teimoso. Vamos pra enfermaria.
Articos aceitou a ajuda, mas não deixou de provocar para aliviar o clima.
— Olha só, então você é forte.
Stella revirou os olhos.
— Só anda.
Os dois seguiram para dentro do colégio, sem notar os olhares curiosos dos alunos ao redor.
Algo havia mudado.
E aquilo era só o começo.
A enfermaria estava silenciosa quando os dois entraram.
A enfermeira, uma mulher de meia-idade com óculos na ponta do nariz, ergueu as sobrancelhas ao ver a dupla.
— O que aconteceu?
Stella abriu a boca para responder, mas Articos se adiantou.
— Tropecei na escada.
A mulher olhou para ele por um instante, claramente duvidando, mas não insistiu.
— Sente-se ali. Vou buscar gelo.
Articos obedeceu, sentando na maca enquanto Stella cruzava os braços, ainda séria.
— Tropeçou na escada? repetiu, arqueando a sobrancelha.
— Foi o que aconteceu, não? Ele sorriu, casual.
Ela suspirou, se sentando ao lado dele.
— Por que você fez aquilo?
Ele virou o rosto para encará-la.
— Aquilo o quê?
Stella apertou as mãos no colo.
— Pular… me salvar… Você podia ter se machucado de verdade.
O olhar de Articos ficou mais sério.
— E você?
Ela piscou, confusa.
— O quê?
— Você também podia ter se machucado ou pior.
Stella abaixou a cabeça.
O silêncio pairou entre os dois.
A enfermeira voltou, entregando um saco de gelo para Articos. Ele agradeceu, pressionando contra a perna dolorida.
Quando a mulher se afastou, Stella respirou fundo.
— Você viu, né? O que elas fazem comigo.
Ele assentiu.
Ela riu sem humor.
— Acha que sou patética?
Articos virou o rosto para ela, observando-a por alguns segundos.
Então, balançou a cabeça.
— Acho que você é forte, mas é teimosa.
Stella piscou, surpresa.
Ele sorriu.
— Mas até os fortes precisam de ajuda.
Ela ficou em silêncio, encarando o chão.
Por um instante, Articos achou que ela não responderia, mas então, bem baixinho, ouviu.
— Obrigada... De verdade...
Ele apenas sorriu.
O sinal do colégio tocou, anunciando o fim das aulas.
Stella se levantou da maca devagar, ainda parecendo abalada.
Articos, mesmo com a perna doendo, levantou-se ao mesmo tempo que ela.
— Preciso buscar minhas coisas. — disse Stella, ajeitando a saia do uniforme.
— Eu te acompanho.
Ela o olhou de canto, mas não recusou.
Os corredores já estavam mais vazios, apenas alguns alunos terminando de guardar materiais ou conversando perto dos armários.
Stella andava um pouco mais devagar que o normal, olhando para frente com um olhar distante.
Articos não forçou conversa, apenas seguiu ao lado dela.
Quando chegaram à sala, ela pegou a mochila e se virou para ele.
— Não precisa me seguir até em casa, se era isso que tava pensando.
Ele riu de leve.
— E quem disse que eu tava pensando nisso?
Stella cruzou os braços.
— Sei lá, parece algo que você faria.
— Ah, então agora você me conhece tão bem assim?
Ela bufou, mas ele percebeu um pequeno sorriso se formando em seu rosto.
— Só vai descansar essa perna, Crisol maluco.
Ele deu de ombros.
— Posso descansar te acompanhando até um ponto seguro.
Stella revirou os olhos, mas começou a andar.
Ele seguiu ao lado dela, ignorando a dor na perna.
Nenhum dos dois percebeu que, de longe, um grupo de garotas observava a cena com olhares nada amigáveis.
O caminho até a saída do colégio foi silencioso.
Stella ainda parecia distante, enquanto Articos, mesmo sentindo a dor na perna, mantinha um ritmo tranquilo ao lado dela.
Quando passaram pelo portão, ela finalmente parou e olhou para ele.
— Agora já pode ir descansar.
— E se eu disser que meu caminho é o mesmo que o seu?
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Mentiroso.
Ele riu.
— Ok, me pegou. Mas não custa nada te acompanhar mais um pouco.
Ela suspirou, mas não contestou.
Andaram lado a lado pelas ruas do bairro. O sol começava a se pôr, pintando o céu com tons alaranjados.
— Você não vai perguntar? — Stella disse de repente.
— Perguntar o quê?
— Sobre… antes.
Articos enfiou as mãos nos bolsos e olhou para frente.
— Se quiser falar, eu ouço. Se não quiser, tá tudo bem.
Ela mordeu o lábio, parecendo pensar.
Ficaram em silêncio por alguns instantes, apenas o som dos passos ecoando na calçada.
— Eu só… achei que não tinha mais saída.
Ele olhou para ela, mas Stella mantinha os olhos fixos no chão.
— Aquelas garotas… — sua voz falhou um pouco. — Sempre foram assim. Mas ultimamente… tem piorado.
Articos sentiu os punhos se fecharem dentro do bolso.
— Você contou pra alguém?
Ela soltou uma risada sem humor.
— E quem acreditaria? Elas são queridinhas dos professores, sabem exatamente como agir na frente dos outros. E eu…
Ela hesitou.
— Eu só queria que tudo parasse.
Articos parou de andar.
Stella percebeu e olhou para trás.
Ele a encarava com um olhar sério.
— Nunca mais tente resolver isso desse jeito.
Ela engoliu em seco.
— Eu…
— Não importa o que aconteça, não importa o que elas façam. Se precisar de alguém, me chama, eu existo pra isso.
Os olhos de Stella se arregalaram levemente.
Articos voltou a andar, passando por ela.
— Agora vamos, já tá escurecendo.
Ela ficou parada por um segundo antes de segui-lo, sem dizer mais nada.
Mas, no fundo, sentiu algo diferente.
Talvez, pela primeira vez em muito tempo, não estivesse sozinha.
No dia seguinte, a perna de Articos ainda estava dolorida. Seus amigos, sempre curiosos, logo começaram a questioná-lo sobre o que tinha acontecido.
Nolan foi o primeiro a perguntar, com um olhar desconfiado.
— E aí, Art? O que rolou com a sua perna?
Christopher, sempre mais direto, foi mais incisivo.
— Caiu da escada ou tá escondendo algo?
Richard, com sua típica cara de quem sabia de tudo, deu um sorriso sutil.
— Você não parece o tipo que se machuca assim, mano.
Articos apenas deu de ombros, tentando desviar a atenção.
— Foi só tropeço na escada, nada demais.
A manhã seguiu tranquila, como qualquer outra. Mas, ao chegar no almoço, algo incomum aconteceu.
Sentados à mesa, os quatro amigos começaram a ouvir um zumbido vindo de trás.
Articos não precisou virar para saber: eram as garotas. Elas estavam falando sobre ele.
Nolan, Christopher e Richard começaram a se tensar. Era claro que as provocações estavam ficando mais pesadas.
Articos respirou fundo.
— Ignora, galera. Vamos deixar isso passar, mesmo que estejamos certos, a chance de vitória é mínima.
Os outros concordaram com relutância, mas a raiva ainda queimava nos olhos deles.
No fim das aulas, enquanto Nolan ajudava Articos com algumas anotações, Christopher e Richard estavam perto, prontos para ir embora.
Foi então que, do nada, apareceu o mesmo grupo de garotas. Mas havia algo diferente.
Stella surgiu do meio delas, com uma expressão determinada.
Sem hesitar, ela foi direto até uma das garotas e deu um tapa na cara dela.
Os quatro amigos ficaram paralisados, sem entender o que estava acontecendo.
Stella não perdeu tempo e continuou a agir.
— Podem fazer o que quiserem comigo, podem me xingar, me ameaçar, fazer chantagem. Mas uma coisa eu deixo claro, nunca, NUNCA falem mal do MEU Articos, entenderam?
Aquelas palavras caíram como uma bomba no ar.
Articos congelou, seus olhos arregalados. Ele não conseguia acreditar no que acabara de ouvir.
— Meu Articos?
A expressão de Stella estava séria, mas ela não parecia se importar com a surpresa deles.
Ela ficou ali, aguardando uma reação das garotas.
Elas ficaram sem palavras, e o silêncio tomou conta do lugar.
Articos não sabia o que pensar, suas emoções estavam a mil.
O silêncio que seguiu foi quase cômico.
Os três amigos de Articos se entreolharam, contendo risadas.
As garotas que estavam zombando dele pareciam completamente atordoadas, ainda tentando processar o tapa e as palavras de Stella.
Mas ninguém estava mais chocado do que o próprio Articos.
— Meu… Articos? — Ele piscou algumas vezes, tentando entender se tinha ouvido certo.
Stella, que estava furiosa segundos atrás, de repente percebeu o que tinha acabado de dizer.
O rosto dela ficou vermelho na hora.
— Q-Quer dizer… Eu quis dizer que…
Nolan foi o primeiro a perder a compostura e explodiu em risadas.
— Ah não, agora eu quero ouvir isso!
Christopher cruzou os braços, segurando um sorriso.
— Então é assim? Você nunca mencionou essa parte antes, Art.
Richard apenas bateu palmas lentamente.
— Parabéns, campeão.
Articos passou a mão pelo rosto, sentindo um leve desespero crescer.
— Vocês vão MESMO fazer isso agora?
Stella, claramente arrependida da escolha de palavras, apenas bufou e cruzou os braços.
— O que importa é que elas não deviam falar mal de você.
As garotas do grupo ainda estavam paralisadas, principalmente a que levou o tapa.
A líder delas tentou recuperar a postura.
— E desde quando VOCÊ manda aqui, hein?
Stella encarou ela de cima abaixo, seu olhar carregado de desprezo.
— Desde que eu decidi que vocês não valem nem meu tempo.
Articos observava tudo em silêncio, ainda tentando se recuperar do choque da declaração anterior.
Mas uma coisa era certa.
A Stella de ontem definitivamente não era a mesma de hoje.
O clima ao redor ficou pesado.
As garotas que praticavam bullying deram um passo para trás, sem saber como reagir à expressão de puro ódio no rosto de Stella.
Até os amigos de Articos ficaram um pouco surpresos.
— Caramba… — Nolan sussurrou. — Isso foi assustador.
Christopher apenas assentiu, enquanto Richard observava a cena com um sorriso de canto, claramente achando a situação interessante.
Mas Articos?
Ele não ouviu nada. Não viu nada.
Ainda estava preso naquela única frase ecoando em sua mente.
"Meu Articos."
Seus pensamentos estavam a mil.
Ela realmente disse isso? Ou eu só estou delirando?
Será que foi sem querer?
Ou será que...
Stella percebeu que ele ainda estava olhando fixamente para ela, sem dizer nada.
Seu rosto, que antes estava tomado pela raiva, rapidamente ficou vermelho de novo.
— P-Pare de me olhar assim! — Ela disse, desviando o olhar.
Mas isso só piorou a situação.
Porque agora Nolan, Christopher e Richard estavam olhando para Articos com sorrisos maliciosos.
— O que foi, campeão? Travou? — Richard provocou.
— Ele ainda tá processando. — Christopher riu.
— Cara, aceita logo. Você é O Articos dela. — Nolan cutucou o ombro dele.
Stella arregalou os olhos.
— Vocês também podem parar?!
Mas já era tarde.
O caos estava instaurado.
Articos olhou para os amigos, ainda tentando processar o que acabara de acontecer.
Seus pensamentos estavam a mil por hora, mas ele não sabia como lidar com a situação.
Ele não estava preparado para ouvir aquilo de Stella. E, pior ainda, não sabia como responder.
Nolan, sempre pronto para causar, ainda estava rindo da cena.
— Eu disse, Art. A mulher ali tem um fraco por você.
Christopher, com seu jeito mais tranquilo, fez uma cara pensativa.
— Cara, você tem certeza de que não percebeu nada?
Articos fez uma careta.
— Cara...
Richard deu uma risada.
— O cara é tão cabeça dura que não percebe nem o óbvio.
Articos bufou, tentando mudar de assunto.
— Vamos voltar para casa. Não tô afim de ficar aqui pensando nisso.
Eles começaram a andar juntos, mas Nolan não conseguia deixar a piada passar.
— Não vai falar nada sobre ela, Art? Tipo... sei lá, perguntar se ela tá bem ou... dizer algo mais?
Articos olhou para Nolan, surpreso com a provocação.
— Me pergunto se essa é a hora pra isso.
Richard, que estava na frente, olhou para os dois.
— Você deveria falar com ela, cara. Sério. A gente viu o que rolou ali. Ela realmente gosta de ti e ainda mais, você, como sempre, não disse nada de mais.
Articos respirou fundo, já sabendo que não teria como fugir disso por muito tempo.
— Não é tão simples, não quero falsas esperanças.
Mas Nolan não deixou barato.
— Quem tem medo de sentimentos é o Articos, né? Olha, eu não vou forçar nada, mas você vai acabar se queimando se não agir logo.
Christopher deu um sorriso malicioso.
— Isso se ela não encontrar outro cara, é claro.
Richard balançou a cabeça, ainda rindo.
— Esse negócio de "ficar esperando o momento certo" é furada, cara. Você precisa agir enquanto a chance ainda tá na sua frente.
Articos parou de andar por um momento e olhou para os amigos.
— Talvez eu devesse falar com ela, eu acho.
Nolan, animado, deu um tapinha nas costas de Articos.
— Isso aí! Vai lá e resolve logo. Não deixa essa oportunidade passar.
Articos sorriu de leve.
— Mas por que vocês têm que ser tão insistentes?
Richard deu uma risada alta.
— Porque se não for agora, vai ser tarde demais. E, Art, já deu pra ver que você não quer ver ela com outro cara, não é?
Articos fechou a cara, mas o sorriso em seus lábios entregava o que ele estava pensando.
— Eu vou falar com ela, belê? Mas vamos lá, vamos pra casa.
E assim, os quatro amigos seguiram em frente, mas Articos sabia que algo estava começando a mudar.
Ele só não sabia ainda como.
Os amigos de Articos estavam de volta ao colégio no dia seguinte, e como de costume, estavam na hora do intervalo, sentados juntos na praça.
O clima estava leve, até que, mais uma vez, o grupo de garotas apareceu. Dessa vez, Stella estava com elas, mas parecia mais quieta.
Ela estava olhando para o chão, tentando se esconder da atenção, mas a presença dela ainda chamava os olhares.
Os amigos de Articos logo perceberam.
— Olha só quem resolveu aparecer. — Richard disse, olhando de longe.
Christopher deu uma risadinha.
— Parece que ela tá com medo do que vão falar.
Articos, que até então estava concentrado em sua refeição, não pode deixar de notar o jeito que Stella parecia evitá-lo.
Ele olhou rapidamente para os amigos.
— Eu... vou dar uma passada lá. — Articos murmurou, se levantando.
Nolan o olhou surpreso.
— Mano, você vai Agora?
— Só preciso falar com ela. — Articos respondeu, e não deu tempo para mais perguntas.
Ele se levantou rapidamente e caminhou até onde o grupo de garotas estava.
Ao chegar perto, Stella olhou para ele com um olhar cauteloso, ainda sem dizer uma palavra.
Articos ficou em silêncio por um instante, antes de falar com um tom mais suave.
— Você tá bem?
Stella olhou para ele, surpresa com a pergunta, mas não respondeu imediatamente.
Ela deu um passo atrás, claramente desconfortável com a atenção que ele estava lhe dando.
— Eu... — Ela suspirou. — Eu só não gosto quando as coisas ficam complicadas. Não é fácil, Art.
Articos sentiu uma pontada no peito ao ver o quão vulnerável ela estava. Ele tentou manter a calma.
— Você não precisa enfrentar isso sozinha, sabe?
Stella, novamente, não soube o que responder. Ela olhou para os amigos que estavam mais distantes, observando-os de longe. Parecia que ela queria algo mais, mas não sabia como pedir.
— Eu sei... — ela finalmente respondeu, de forma quase inaudível.
Articos deu um pequeno sorriso, sem saber bem como continuar, mas algo na sua expressão demonstrava que ele realmente se importava.
— Se precisar de alguma coisa, estou por aqui. — Ele disse de forma simples, mas sincera.
Stella, mais uma vez, não olhou diretamente para ele, mas seu rosto suavizou um pouco.
— Tá. — Ela respondeu, e então virou-se, se afastando para se juntar ao grupo das garotas novamente.
Articos ficou ali, parado por um momento, observando Stella ir embora.
Nolan, Christopher e Richard chegaram perto, agora com olhares curiosos.
— E aí, chefe? Conseguiu alguma coisa? — Nolan perguntou, dando uma risada.
— Só estou tentando entender as coisas... — Articos respondeu, um pouco pensativo.
Richard, sempre provocador, não deixou passar.
— Olha só, mano, não disfarça.
Articos olhou para ele, com um olhar pensativo. Talvez fosse verdade, mas ele não estava pronto para admitir.
— Sei lá, cara. Não é tão simples assim. — Ele deu de ombros.
Nolan riu.
— Eu aposto que está a fim dela. Mas tá difícil de esconder.
Eles continuaram a provocá-lo, mas Articos não se importou. Ele estava mais focado no que havia acontecido com Stella, ainda com a sensação de que havia algo mais por trás de toda a situação.
Articos caminhava de volta para o seu lugar, mas sua mente ainda estava longe. Ele tentava entender o que estava acontecendo com Stella.
O jeito que ela se afastava, a vergonha que sentia... tudo parecia tão complicado.
Não era a primeira vez que ela agia daquele jeito, mas ele nunca havia parado para pensar em como realmente a afetava.
Nolan, que o observava em silêncio, deu uma risadinha ao perceber que Articos estava perdido em seus próprios pensamentos.
— Tá com a cabeça nas nuvens, né, chefe? — Nolan provocou.
Articos não respondeu de imediato. Ele só se limitou a puxar a mochila e a se sentar novamente.
— Só tô pensando em umas coisas. — Ele disse, distraído.
Richard, sem deixar passar uma oportunidade, se inclinou para frente.
— Ah, então o chefe tá apaixonado, é? Agora é oficial! — Ele riu, já imaginando o desconforto de Articos.
Articos suspirou e bateu com a mão na testa, frustrado consigo mesmo.
— Não é isso, Richard. Eu só... não entendo a Stella.
Christopher, que normalmente zoava demais, falou algo que atingiu direto no peito.
— Não precisa entender tudo, cara. Às vezes, as pessoas não mostram o que estão sentindo porque não sabem como. Pode ser que ela só precise de alguém para confiar.
Articos olhou para ele, absorvendo suas palavras. Christopher sempre tinha um jeito mais maduro de ver as coisas, e, naquele momento, suas palavras soaram como um alívio. Talvez ele estivesse certo. Talvez fosse isso.
— Mas por que ela não se abre com ninguém? — Articos murmurou, mais para si mesmo do que para os amigos.
— O que importa é que ela já deu um passo, né? Se ela tivesse realmente se importado com os outros, não teria feito tudo aquilo ontem. — Nolan comentou, com um sorriso de canto.
Articos não estava convencido, mas ainda assim, concordou com um aceno de cabeça.
— Pode ser.
A conversa seguiu em silêncio por alguns momentos, até que Richard, com sua típica irreverência, quebrou o gelo.
— Então, Articos, o que você vai fazer agora? Vai se declarar para ela? — Ele fez um gesto de coração com as mãos, imitando o gesto de alguém apaixonado.
Articos, desconcertado, olhou para os amigos, sem saber como reagir.
— Eu não vou fazer nada, só... acho que preciso dar espaço para ela. Ela deve estar passando por muita coisa.
Os amigos, em silêncio, trocaram olhares entre si, mas ninguém fez mais provocações. Articos estava falando sério.
Enquanto isso, no outro lado do colégio, Stella ainda estava com o grupo de garotas, mas ela não conseguia parar de pensar no que havia acontecido mais cedo.
Quando Articos se aproximou dela, seu coração bateu mais rápido, algo dentro dela se aqueceu.
Mas, ao mesmo tempo, ela estava confusa e insegura.
O que aquilo tudo significava?
Ela não entendia o que estava acontecendo consigo mesma. Não podia ser tão simples assim.
Sabia que Articos estava lá para ela, mas não sabia como lidar com isso. Ela nunca havia se permitido confiar em alguém daquela forma.
As garotas ao seu redor começaram a conversar, mas Stella não estava ouvindo.
Ela estava absorta em seus próprios pensamentos, com os olhos distantes.
— Ei, Stella, você está bem? — Uma das garotas perguntou, com um tom preocupante.
Stella balançou a cabeça, tentando voltar à realidade.
— Sim, estou. — Ela respondeu rapidamente, sem muita convicção.
Mas as palavras não convenceram nem a ela mesma. Ela queria que tudo fosse mais simples, mas sabia que as coisas nunca eram tão fáceis assim.
De volta ao grupo de amigos, o dia seguiu como sempre. Articos tentou se concentrar nas aulas, mas sua mente voltava, sem querer, para Stella.
Algo dizia que ele precisava agir de alguma forma, mas ele não sabia exatamente como.
Ele não queria pressioná-la, mas, por outro lado, também não queria deixá-la sozinha com seus próprios demônios.
O que ele faria?
A tarde passou lentamente para Articos. Cada vez que ele tentava focar, sua mente se desviava para Stella.
A ideia de que ela estava enfrentando algo sozinha o incomodava profundamente. Mas ao mesmo tempo, ele não queria ser invasivo.
Como agir sem ser invasor? Como ajudá-la sem pressioná-la ainda mais?
No final das aulas, Articos saiu da sala mais rápido do que o normal.
Ele estava decidido a encontrar uma maneira de entender o que estava acontecendo com Stella.
Havia se mostrado tão vulnerável ontem, e ele não conseguia deixar isso de lado.
Enquanto caminhava pelos corredores, seus amigos o acompanharam. Nolan, sempre observador, percebeu a tensão em seu amigo.
— Vai atrás dela? — perguntou, com um sorriso travesso.
Articos apenas olhou para ele e balançou a cabeça.
— Não sei ainda. Preciso de um tempo para pensar.
Christopher, que estava ouvindo a conversa, fez uma pausa e olhou para Articos, mais sério.
— Se você quer ajudar, não é só esperar ela vir até você. Às vezes, as pessoas precisam saber que podem contar com você, sem precisar pedir.
Articos parou por um momento, processando as palavras de Christopher.
— Mas e se eu acabar pressionando ela? — ele questionou.
— Se você não tentar, vai se arrepender. — Richard se intrometeu, como sempre, com seu jeito irreverente. — Ninguém está dizendo para ser impulsivo. Só não deixe ela achar que você não se importa.
Articos olhou para seus amigos, grato pelas palavras, mas ainda sentia um peso no peito. Ele sabia que precisava fazer algo, mas o quê?
Enquanto isso, Stella estava em sua própria batalha interna.
Ela estava sentada na escada do pátio, olhando para o chão, sem conseguir parar de pensar nas palavras de Articos.
"Valeu." Um simples "valeu". Mas, para ela, aquilo tinha sido mais do que o suficiente.
Era como se uma carga tivesse sido retirada de seus ombros, mas ao mesmo tempo, ela ainda não sabia o que fazer com os sentimentos que estavam surgindo.
As garotas com quem ela estava tentaram puxar conversa, mas ela mal ouviu.
Suas palavras pareciam distantes, como se o mundo ao redor dela não tivesse a mesma importância que o peso do que estava em sua mente.
Até que uma das meninas, percebendo a distração de Stella, perguntou, sem paciência:
— Stella, você não vai dar um sorriso hoje? Tá parecendo uma múmia.
Stella levantou o olhar, mas não respondeu de imediato.
Ela ainda estava processando o que aconteceu, o que ela sentia e o que Articos significava para ela agora.
— Eu só... não estou com cabeça para isso hoje. — ela respondeu finalmente, com um suspiro profundo.
Por mais que as garotas tivessem tentado, ela não conseguia mais esconder o que sentia.
O olhar atento de uma delas não passou despercebido.
— Ei, você está realmente bem? — uma das meninas perguntou com sinceridade.
Stella hesitou, mas, no fundo, sabia que as palavras dela não eram tão vazias quanto pareciam.
— Eu... não sei... Só, me deixa. — Stella admitiu, sua voz suave.
O silêncio pairou por um momento, até que uma das garotas insistiu.
— Se você quiser conversar, estamos aqui, sabe? Não precisa carregar isso sozinha.
Stella, sem saber como responder, apenas deu um leve sorriso, mas seu coração estava em um turbilhão.
Ela sabia que Articos provavelmente estava tentando entender tudo o que estava acontecendo, mas ela não sabia como pedir ajuda.
E, para ser honesta, o medo de se abrir com ele ainda a consumia. Como ela poderia ser tão vulnerável?
Enquanto isso, Articos estava parado no corredor, observando a porta da escola. Ele não tinha certeza de onde Stella estava, mas sentia que ela não estava longe.
O que ele deveria fazer? Tentar uma abordagem mais direta? Ou seria melhor esperar que ela se abrisse quando estivesse pronta?
Ele respirou fundo e tomou uma decisão.
— Vou atrás dela. — Articos murmurou para si mesmo.
Com isso, ele começou a caminhar em direção ao pátio, sem hesitar. Seus amigos ficaram para trás, mas Nolan o chamou, ainda com seu sorriso zombeteiro.
— Você vai fazer isso agora? Ah, mano, você não perde tempo, hein!
Articos não se virou, mas deu um pequeno sorriso.
— Eu preciso saber o que está acontecendo com ela.
Ao chegar no pátio, ele olhou ao redor e viu Stella, sozinha. Ela estava mais afastada, em um canto, parecendo completamente perdida em seus próprios pensamentos.
Ele se aproximou lentamente, sem fazer barulho, até que, quando ela percebeu sua presença, levantou o olhar.
Eles se encararam por um breve momento, antes que Articos desse o primeiro passo.
— Stella... — Ele começou, hesitante, mas sem desviar o olhar.
Ela não disse nada, apenas o observou em silêncio.
— Eu sei que algo está te incomodando. Eu não sei o que é, mas... se você quiser falar, eu estou aqui. — A voz de Articos foi suave, mas firme.
Stella ficou em silêncio por um longo momento. O mundo parecia ter parado por um instante. Ela queria se abrir, mas algo dentro dela a impedia. Mas, ao ver o olhar sincero de Articos, algo dentro dela se quebrou.
— Eu... não sei como... — Stella começou, sua voz trêmula.
Mas Articos não a interrompeu. Ele apenas ficou ali, esperando que ela tivesse coragem de continuar.
E, talvez pela primeira vez, ela sentiu que não estava sozinha.
Stella deu um suspiro profundo, tentando reunir coragem para falar, mas as palavras pareciam presas na garganta.
Ela olhou para os pés, com as mãos apertando o uniforme, até que finalmente, com a voz quase imperceptível, ela começou.
— Eu... não sei o que aconteceu comigo. — ela disse, sua voz falhando um pouco. — Eu fico tão confusa... eu só... não sei se eu devia ter falado daquele jeito, ou se eu estava sendo idiota.
Articos deu um passo mais perto, sentindo que ela estava começando a se abrir. Ele não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas sabia que precisava escutá-la.
— Stella, você não está sendo idiota. — Articos falou, sua voz tranquila, mas cheia de uma sinceridade que tocou o coração de Stella.
Ela o olhou de relance, seus olhos ainda cheios de incertezas. Havia algo naquele olhar que fazia Articos sentir uma necessidade urgente de dizer mais.
— Eu só quero que você saiba que, se precisar de alguém para conversar, ou se precisar de ajuda... você pode contar comigo. Não precisa esconder nada de mim. — Ele falou com uma calma impressionante, suas palavras cuidadosamente escolhidas.
Stella engoliu em seco, tentando processar tudo o que ele havia dito.
Ela se afastou um pouco, passando uma mão pelo cabelo, como se estivesse tentando organizar seus pensamentos.
Mas, ainda assim, sua voz parecia distante.
— E se eu acabar afastando você? — Stella perguntou baixinho, quase como se fosse uma preocupação silenciosa que ela vinha carregando. — Eu não sei o que estou fazendo, Articos... Eu só... não sei se posso te envolver nisso.
Articos sentiu um peso nas palavras dela, como se algo muito maior estivesse acontecendo.
Ele deu mais um passo à frente, agora a menos de um metro de distância.
— Eu não vou me afastar de você, Stella. E você não vai me envolver em algo que eu não queira. Eu estou aqui porque... eu me importo com você. — Articos disse, sua voz mais firme, mais determinada.
Stella olhou para ele, seus olhos agora marejados, mas ela ainda estava hesitante.
A ideia de se abrir completamente a ele a deixava vulnerável de uma maneira que ela não sabia como lidar.
— Eu só... eu não quero que você ache que eu sou uma... uma carga. — Ela murmurou, sentindo a vergonha tomar conta de si. — Eu me sinto tão fraca quando penso nisso, e eu não sei o que fazer com esses sentimentos.
Articos não hesitou. Ele colocou uma mão no ombro dela, de maneira reconfortante, mas sem pressionar.
— Não é fraqueza, Stella. Todo mundo passa por momentos difíceis. Não tem nada de errado em precisar de alguém, e eu... eu estou aqui, por você. — Ele falou, com uma sinceridade que transbordava.
Por um momento, o silêncio se estendeu, mas não era um silêncio desconfortável. Era como se o peso da situação estivesse sendo suavizado, lentamente.
Stella fechou os olhos, sentindo um alívio que ela não sabia que precisava, mas que agora se sentia imensamente grata.
Ela então respirou fundo e, com um pequeno sorriso, falou.
— Você... você não vai fugir disso, vai? — Ela brincou, tentando aliviar a tensão com um toque de humor.
Articos sorriu, um sorriso sincero, mas cheio de compreensão.
— Mulher, eu pulei de metros de altura. Eu não vou fugir. E você também não vai. — Ele disse, com convicção.
Stella, pela primeira vez naquele dia, relaxou um pouco. O medo que estava em seu peito parecia diminuir, embora ela ainda estivesse cheia de dúvidas sobre o futuro.
Mas uma coisa ela sabia: Articos não a abandonaria, e isso, de alguma forma, já fazia tudo parecer um pouco mais fácil de suportar.
Ela deu uma última olhada para ele e, com um leve sorriso, se inclinou para frente e, quase sem querer, murmurou:
— Obrigada, Articos. Sério. Por estar aqui.
Articos a olhou, com um sorriso genuíno no rosto.
— Você não precisa me agradecer, Stella. Isso é o que amigos fazem.
Antes que ela pudesse responder, ele virou-se, começando a andar em direção à saída do pátio.
Stella o seguiu com os olhos, sentindo uma sensação de alívio, mas também de incerteza.
Havia muito mais por trás de tudo o que ela sentia, mas uma coisa estava clara: ela não estava mais sozinha nesse peso.
Articos estava lá, e ela sabia que, no momento certo, ela seria capaz de lidar com tudo o que estava acontecendo.
Antes de se separarem, um sorriso travesso surgiu nos lábios do garoto. Stella, que já começava a se afastar, percebeu a mudança de expressão e parou por um momento.
Articos virou-se lentamente para ela, seus olhos brilhando com um toque de travessura.
— E aí, Stella... — Ele disse, com um sorriso malicioso. — Quer namorar comigo?
Stella travou instantaneamente. A pergunta parecia tão repentina, tão direta, que ela não sabia o que fazer.
Seu rosto corou na hora, e ela ficou sem palavras, tentando processar o que acabara de ouvir.
Ela abriu a boca para responder, mas a única coisa que conseguiu fazer foi gaguejar.
— Eu... eu... — Ela tentou, mas as palavras saíram emboladas.
No instante seguinte, Articos, com um brilho travesso nos olhos, se afastou rapidamente.
Ele deu um pulo longo e ágil, afastando-se de Stella com uma velocidade impressionante.
— Isso é o que você recebe por me deixar assim, perdido em pensamentos! — Articos gritou, ainda saltando e rindo da situação. — Não esperava que eu fosse deixar passar, né?
Stella ficou parada, totalmente atordoada com a reação dele. Ela olhou para o espaço onde ele estava, completamente sem palavras.
Um riso nervoso escapou de sua boca, enquanto ela balançava a cabeça, tentando entender o que acabara de acontecer.
— Articos! — Ela gritou, ainda vermelha de vergonha. — Você não tem vergonha mesmo!
Mas ele não parou. Ele continuou correndo, pulando pelos corredores com uma agilidade que fazia Stella duvidar de como ele era tão rápido.
Ela o observou por um momento, sentindo seu coração bater mais rápido, antes de suspirar.
— Eu vou te pegar, seu idiota... — Stella murmurou para si mesma, com um sorriso escondido no rosto.
Enquanto ela o observava se afastar, o que mais a surpreendia não era a provocação de Articos, mas a sensação de algo novo crescendo dentro dela.
Algo que ela ainda não sabia bem como chamar.
Stella ficou parada por um momento, seus pensamentos embaralhados pela brincadeira de Articos.
Aquele sorriso travesso dele, a forma como ele a deixou sem resposta, tudo isso fazia seu coração bater mais rápido do que ela gostaria de admitir.
Ela tentou se concentrar, mas não conseguia parar de sorrir.
Ele sabia como desconcertar-lá.
Ela ainda o via à distância, correndo com uma facilidade impressionante, pulando de um lado para o outro.
Articos realmente era insuportável. E, ainda assim, o sorriso dele, a provocação, a forma como ele a deixava confusa... Tudo isso só fazia ela querer mais.
Ela deu um passo hesitante, pensando em continuar andando para casa, mas então um pensamento a atingiu com força.
— Ele perguntou se eu queria namorar...
Stella fechou os olhos por um momento, tentando se acalmar. Era uma simples brincadeira, ela sabia disso.
Articos não parecia ser o tipo de pessoa que levava essas coisas a sério.
Mas, mesmo assim, algo dentro dela ficou inquieto, como se aquela pergunta tivesse causado mais impacto do que ela queria admitir.
— Idiota... — Ela murmurou, ainda se perguntando como ele conseguiria fazer com que ela se sentisse tão bagunçada por causa de uma simples piada.
Ainda pensativa, ela virou-se para seguir seu caminho, mas algo a fez parar.
Ela olhou para trás, para o ponto onde Articos tinha desaparecido.
Não sabia o que aquilo significava, mas algo em seu peito dizia que ela ainda não tinha terminado com ele.
Que aquela conversa, aquela brincadeira, ainda não tinha chegado ao fim.
Decidiu, por fim, que não importava o quanto fosse confuso. Ela iria atrás dele. Não agora, não naquele momento exato, mas em algum ponto.
Ela sabia que o que ela sentia por ele não era só amizade. Não podia ser. Ela só precisava entender até onde isso a levaria.
Com um suspiro profundo, Stella seguiu seu caminho para casa, mas a mente ainda fervilhava com a pergunta de Articos.
E uma coisa era certa: ela não ia deixar aquilo ir embora tão facilmente.
Articos, por outro lado, estava se divertindo demais. Ele ainda sentia o peso daquela pergunta flutuando na sua mente.
A verdade era que ele também não sabia o que estava fazendo, mas se sentia bem com a situação.
Havia algo sobre provocá-la, ver aquele lado inseguro e, ao mesmo tempo, corajoso de Stella, que o deixava interessado.
Ele não ia deixar o assunto morrer tão facilmente também.
E talvez, só talvez, ele estivesse começando a perceber que a brincadeira estava ficando mais séria do que ele imaginava.
Articos correu mais alguns metros, pulando com agilidade pelas ruas, tentando se distanciar um pouco da confusão que ele mesmo havia criado.
Mas sua mente não parava de voltar para Stella.
O sorriso dela, o jeito como ela ficou quieta, tentando processar o que ele disse... Aquilo não era apenas mais uma piada.
Ele sabia disso, mas não queria admitir ainda.
Ele desacelerou aos poucos até parar em frente à praça.
O sol estava começando a se pôr, as cores do céu já começando a mudar, tingindo o horizonte de laranja e rosa.
Articos sentou em um banco, passando a mão pelos cabelos bagunçados e deixando o ar fresco da noite lhe dar uma sensação de calma.
Mas dentro dele, algo estava se formando.
— O que será que ela pensa sobre isso? — Ele riu para si mesmo, forçando um sorriso. — Vacilou demais...
Mas a verdade era que ele se preocupava. E isso o deixava ainda mais confuso.
Enquanto isso, Stella estava na sua casa, sentada na cama, de cabeça baixa.
Ela tinha o celular em suas mãos, mas não conseguia se concentrar em nada. A conversa com Articos ainda estava viva na sua mente, a forma como ele tinha dito as palavras, aquele sorriso de escárnio...
Ela não queria admitir, mas ele tinha a deixado mexida.
E a forma como ele a desafiou com aquele "será que quer namorar comigo" era algo que ela não conseguia tirar da cabeça.
Stella se levantou, caminhando pela sala, indo até a janela e olhando para a rua abaixo.
Não havia ninguém ali, só as luzes que começavam a brilhar, refletindo a quietude da noite.
Ela suspirou, sentindo algo estranho borbulhando em seu peito. Não era raiva, não era tristeza...
Era uma mistura de confusão e algo mais, algo que ela não sabia nomear.
— Talvez eu só tenha que deixar isso passar...
Ela sabia que Articos era imprevisível, sempre se metendo em encrenca com suas piadas e provocações.
Mas, no fundo, ele era alguém que ela não conseguia ignorar. Ela não queria nem admitir, mas estava começando a gostar de cada vez mais.
Cada interação, cada olhar furtivo entre eles, fazia o coração dela bater mais rápido.
E, agora, com aquele sorriso travesso e aquela pergunta inesperada, parecia que o jogo entre os dois estava prestes a mudar.
Mas como ela deveria reagir a isso? E mais importante ainda: como Articos realmente se sentia?
No dia seguinte, Articos não demorou muito para começar a perceber que a sua brincadeira de ontem havia deixado uma marca.
Enquanto caminhava pelo corredor da escola, viu Stella conversando com algumas amigas, mas ela parecia distante, distraída.
Ela mal o olhou quando passou por ele, algo que nunca acontecia.
— Eu realmente fui longe demais?
Ele hesitou por um momento, pensando em se aproximar, mas, então, seu celular vibrou no bolso. Era uma mensagem de Nolan:
[ Mano, você realmente falou sério? Ou foi só mais uma piada? ]
Articos leu rapidamente, uma onda de dúvida surgindo dentro dele.
Ele não sabia exatamente o que queria de Stella, mas sentia que não estava preparado para ser ignorado por ela.
Ele passou a mão pela testa, pensativo.
Mas antes que ele pudesse responder à mensagem, viu Stella de novo.
Ela estava parada na porta da sala, como se estivesse esperando alguma coisa.
Ou talvez estivesse apenas tentando se recompor, ele não sabia. O olhar dela o fez congelar por um instante, como se algo entre os dois tivesse mudado de forma invisível, mas palpável.
Sem pensar muito, Articos se aproximou e, antes que ela pudesse dizer algo, ele falou:
— Stella.
Ela olhou para ele, surpresa. O silêncio entre eles se estendeu por alguns segundos, enquanto Articos procurava as palavras certas.
— Desculpa, se eu fui... — ele começou, mas parou, repensando. — Eu só queria provocar um pouco, mas não queria te deixar assim.
Stella olhou para ele, ainda um pouco hesitante, mas seu rosto suavizou.
— Não precisa pedir desculpas, Articos. — Ela disse, sua voz mais calma do que ele esperava. — Era só uma brincadeira, certo?
Articos sentiu um nó no estômago, e pela primeira vez, percebeu a verdade no que ela disse.
Ele não era previsível.
Ele não dava a mínima para regras, nem para sentimentos. Mas, ao olhar para Stella, algo mudou dentro dele. Algo que ele não sabia como explicar.
Ele deu um sorriso tímido, quase um meio sorriso, como se estivesse tentando suavizar a tensão.
— Eu não queria te deixar mal, Stella. Eu... — Ele hesitou. — Eu não sou bom com isso, mas, de alguma forma, você... me faz querer ser melhor.
Stella não disse nada, mas o olhar dela passou de uma expressão de dúvida para uma leve curiosidade.
Eles ficaram ali, apenas se olhando por um momento.
No final, Articos deu um passo para trás e olhou para ela com um sorriso genuíno, sem provocações.
Ela riu suavemente, olhando para ele com mais sinceridade do que antes.
— Vamos ver onde isso vai dar, maldita coruja.
E, pela primeira vez, Articos sentiu que, talvez, as coisas estavam começando a fazer mais sentido entre os dois.
Articos ficou parado por um momento, sentindo o peso das palavras de Stella.
A maneira como ela respondeu, com mais calma e até uma leve aprovação, fez o coração dele bater mais rápido do que ele gostaria de admitir.
Ele não sabia o que exatamente ela estava esperando, mas uma coisa estava clara: ela não o rejeitou.
Enquanto caminhavam juntos pelo corredor, o silêncio que havia entre eles parecia mais confortável.
Articos olhou para o lado e viu Stella jogando os cabelos para trás, como se tentasse esconder o sorriso que se formava em seu rosto.
Ele não pôde evitar a sensação de que havia algo mais acontecendo ali do que apenas uma amizade tumultuada.
E talvez, apenas talvez, ele estava começando a entender o que estava em jogo.
A aula começou, mas a mente de Articos ainda estava longe dali.
Ele tentava focar, mas a imagem de Stella, o sorriso dela, o jeito como ela o fazia sentir... tudo isso o deixava distraído.
No intervalo, enquanto os outros estavam ocupados com suas conversas, Articos se aproximou de Stella na área externa da escola.
Ele não sabia exatamente o que queria dizer, mas precisava de mais uma oportunidade para tentar entender o que estava acontecendo entre eles.
— Ei, Stella. — Ele disse, hesitante, parando ao seu lado. Ela olhou para ele, ainda com uma expressão pensativa. — Eu só queria... perguntar de novo. Você... quer tentar, sabe, de verdade? Sem mais piadas? Quero dizer, se você achar que faz sentido.
Stella o observou por alguns segundos.
Seus olhos brilhavam com uma mistura de surpresa e algo mais, talvez nervosismo, talvez expectativa.
Ela deu um passo mais perto dele, o que fez Articos ficar mais nervoso ainda.
— Eu não sei. — Ela disse, seu tom mais suave agora. — Eu não tenho todas as respostas, Articos. E, sinceramente, você me confunde pra caramba. Mas... também não acho que seja algo ruim. Acho que você... tem algo de bom. Um lado que só você mostra de vez em quando.
O garoto sentiu algo leve em seu peito, uma sensação boa, mas ainda confusa.
Ele não sabia o que ela queria dizer com aquilo, mas também não estava disposto a desistir tão fácil.
— Então... podemos continuar descobrindo isso, juntos? — Ele perguntou, mais sério agora, suas palavras um pouco mais cuidadosas.
Stella sorriu levemente, dessa vez sem tentar esconder o que sentia.
Ela não deu uma resposta imediata, mas o sorriso dela foi suficiente para Articos perceber que ela não estava completamente contra a ideia.
Ele, sentindo um alívio, mas também uma nova ansiedade.
Eles não tinham todas as respostas ainda, e talvez isso fosse o melhor.
Porque, no fundo, ele sabia que o mais importante era que agora havia uma chance de algo novo, algo diferente, algo que ele mal podia esperar para explorar.
Eles voltaram para dentro, se misturando com os outros alunos, mas dessa vez, sem as palavras não ditas e as perguntas mal resolvidas.
Havia um novo entendimento entre eles, e isso, por agora, era suficiente.
No fim do dia, enquanto os outros alunos se dispersavam para suas casas, Stella percebeu que Articos estava se afastando.
Ela olhou para ele por um momento, observando sua postura, como se estivesse se afastando sem realmente ir embora.
Ela sabia que ele se locomovia de maneira peculiar, quase como se estivesse pulando de um lado para o outro.
E ali estava ele novamente, indo embora como na última vez.
Stella, sem saber o que exatamente a motivava, olhou para ele enquanto se aproximava do portão da escola.
Ele estava prestes a sair, quando algo inexplicável passou por sua cabeça.
Ela não sabia o que estava acontecendo com ela, mas algo dentro dela a fez agir sem pensar.
Ela gritou, de repente, mais alto do que pretendia.
— Articos!
Ele parou instantaneamente, seus olhos voltando-se para ela, confuso.
Stella respirou fundo, sentindo a tensão crescer dentro dela. Aquilo parecia insano, mas ela não conseguia ignorar a sensação de urgência.
— Eu... eu aceito! — Ela gritou novamente, e, sem saber por que, gritou mais uma vez. — Sim, eu aceito!
Articos congelou, seu coração pulando uma batida, surpreso.
Ele ficou ali, no meio do portão, sem conseguir processar completamente o que Stella estava tentando dizer.
— Hã? O que você... — Ele começou, ainda sem entender.
Stella, sem conseguir controlar, foi se aproximando mais dele, nervosa, mas determinada.
— Eu quero tentar, Articos! Eu quero tentar... com você! — Ela falou, e sua voz ficou mais firme dessa vez, como se realmente tivesse se decidido. — Será que eu encontraria outra pessoa como você? Alguém que arriscaria sua vida pela minha? Então... CUIDE DE MIM!
Articos ficou parado, a confusão tomando conta dele, enquanto tentava entender a intensidade das palavras dela.
Ele não sabia exatamente o que ela queria, mas sabia que ela estava tentando dizer algo importante.
Algo que ele, de certa forma, já sentia, mas não sabia como expressar.
Stella, vendo que ele não reagia imediatamente, começou a se sentir um pouco insegura, mas foi interrompida por Articos, que lentamente se virou para ela com um sorriso travesso, aquele sorriso que ela já conhecia bem.
Ele deu alguns passos para trás e, com o olhar mais brincalhão, disse:
— Se você realmente falou sério... — Ele fez uma pausa, quase como se estivesse se divertindo com a situação. — Então, é melhor me encontrar amanhã, sábado na cafeteria. Eu vou te esperar lá.
Stella ficou parada, seus olhos fixos nele, ainda um pouco surpresos com a mudança repentina, mas ao mesmo tempo, uma sensação de alívio tomou conta dela.
Ela finalmente tinha dito o que precisava dizer, e agora ele estava disposto a dar o próximo passo também.
A tensão entre os dois parecia diminuir, mas havia uma nova expectativa no ar.
Articos, com um sorriso ainda no rosto, fez um aceno rápido com a cabeça, antes de se virar e sair pela porta do portão.
Ele não olhou para trás, mas o jeito como ele caminhava mostrava que ele estava tão nervoso quanto ela.
Stella ficou ali, olhando para ele por um momento, sentindo o peso de suas palavras e da decisão que acabara de tomar.
Ela sabia que a partir daquele momento, nada seria mais o mesmo, e, de certa forma, estava feliz por isso.
Ela sorriu, se sentindo mais leve, e deu meia-volta, indo para casa com o coração batendo acelerado.
Amanhã seria um novo começo, e ela estava mais do que pronta para o que estava por vir.
Na manhã seguinte, o sol brilhou mais intensamente do que o habitual, como se também soubesse da mudança que estava prestes a acontecer.
Stella não conseguia parar de pensar em Articos, nas palavras que havia gritado ontem, e no encontro que aconteceria na cafeteria.
O nervosismo estava lá, mas algo mais forte a impulsionava: uma sensação de expectativa, de que algo bom estava prestes a surgir, algo que ela não sabia que precisava até agora.
Quando ela entrou na cafeteria, o aroma do café e o barulho suave das conversas ao fundo pareciam ter uma nova energia.
Seus olhos logo se fixaram na figura de Articos, sentado perto da janela, com o semblante tranquilo, mas com aquele sorriso travesso no rosto que ela já conhecia tão bem.
Ele parecia relaxado, mas havia uma leve tensão no jeito como ele olhava para ela quando ela se aproximou.
— Você veio. — Ele disse, como se fosse uma surpresa, mas sem disfarçar a satisfação em sua voz.
Stella deu um pequeno sorriso, ainda com os nervos à flor da pele, mas disfarçando com a melhor expressão descontraída que conseguia reunir.
— Claro que vim. Eu disse que sim, não disse? — Ela respondeu, se sentando à sua frente.
Articos não conseguiu segurar o sorriso, finalmente deixando a tensão desaparecer.
Era como se, depois de tanto tempo, os dois finalmente tivessem se encontrado em um ponto de compreensão mútua.
Não havia mais incertezas, apenas a promessa de algo novo.
Eles conversaram por um tempo, sobre coisas pequenas e, ao mesmo tempo, sobre coisas grandes.
Eles não precisavam de muitas palavras para entender o que o outro sentia.
Cada olhar, cada sorriso trocado, falava mais do que qualquer frase poderia expressar.
E naquele momento, no meio da cafeteria, com o mundo ao redor se movendo em sua rotina habitual, Stella e Articos sabiam que algo havia mudado entre eles.
Não precisavam dizer mais nada.
O futuro, agora, parecia ser deles. E estava apenas começando.