6 Teimoso como sempre

~Hospital~

O quarto do hospital estava tenso, o ar carregado de emoções não ditas. Elder Allen, um homem que raramente demonstrava vulnerabilidade, estava em pé aos pés da cama de Davis, suas mãos tremendo levemente enquanto as juntava. Sua voz, cheia de arrependimento, quebrou o silêncio.

"Davis, eu falhei em proteger você," Elder Allen começou, seu olhar fixo em seu neto. "Eu deveria ter feito mais... para proteger você de tudo isso."

Davis, apoiado nos travesseiros, não lançou um olhar sequer para seu avô. Sua mandíbula estava tensa, seus olhos frios e distantes enquanto encarava a parede sem expressão. Este pedido de desculpas deveria oferecer consolo e conforto, mas a realidade diante dele o fazia arder de raiva e irritação.

Vendo-o sem resposta, Elder Allen deu um passo hesitante à frente. "Você passou por tanta coisa. Eu—"

"Chega," Davis o interrompeu bruscamente, sua voz baixa enquanto virava a cabeça para finalmente encontrar o olhar de seu avô, seu rosto contorcido de raiva com traços de exaustão em sua testa. "Não adianta chorar pelo leite derramado, então não perca seu fôlego, Avô. Palavras não vão consertar isso e você sabe tanto quanto eu."

Elder Allen estremeceu com a amargura no tom de Davis, mas não disse nada. Antes que pudesse organizar seus pensamentos, a voz de Davis soou novamente, mais alta desta vez.

"Me dê alta."

A ordem foi abrupta, pegando todos de surpresa. Ethan, que estava em pé silenciosamente no canto, deu um passo à frente em choque. "Senhor, isso não é possível, você ainda está ferido," ele protestou, sua voz carregada de preocupação. "Suas pernas... elas não estão em bom estado. Você precisa de tempo para se recuperar—"

"Você está dizendo que ficar deitado nesta cama de hospital vai me curar milagrosamente?" Davis disparou, seu tom tão afiado que Ethan se encolheu. Mas ele continuou "Me diga, Ethan. Você acha que viver no hospital vai curar minhas pernas?"

Ethan hesitou, está muito claro que deixá-lo viver no hospital não mudaria o status quo do momento, mas ele está preocupado com sua condição, está preocupado que ele piore ainda mais, está preocupado que ele possa não ter aceitado a realidade e tente tirar sua própria vida.

Ele não queria imaginar a dor que o orgulhoso filho do céu acabaria em uma cadeira de rodas sem poder usar suas pernas. É devastador, para dizer o mínimo. "Senhor, não é só sobre suas pernas. Sua saúde geral—"

"Eu. Não. Me. Importo!" Davis latiu, sua frustração finalmente transbordando. "Não vou desperdiçar mais um segundo apodrecendo neste lugar. Ou você me tira daqui, ou eu mesmo farei isso."

Elder Allen suspirou pesadamente, seus ombros caindo com a explosão de Davis. Olhando para Ethan, ele fez um pequeno aceno, silenciosamente concordando com a exigência de Davis.

Ethan franziu a testa com a decisão, mas sabia que não era necessário discutir com ele. "Muito bem, resolverei isso em alguns minutos," ele disse antes de virar nos calcanhares e sair pela porta.

Quando Ethan saiu do quarto, Elder Allen ocupou-se em reunir os poucos pertences de Davis.

A viagem do hospital de volta à mansão de Davis foi deprimente e silenciosa, um silêncio que fala mais alto que palavras. Elder Allen sentou-se rigidamente no assento, ocasionalmente lançando olhares para seu neto, cuja expressão permanecia fria e ilegível. Ele permaneceu em silêncio não importa o que seu avô dissesse. Mas uma coisa é certa—ele não retornaria à mansão da família Allen nem agora nem depois.

Quando o carro entrou na mansão particular de Davis, uma estrutura grandiosa que se erguia alta e solitária. O complexo estava quieto, exceto pela presença das empregadas domésticas e do mordomo que tinham saído para dar-lhe as boas-vindas. Suas expressões eram uma mistura de preocupação e compaixão, enquanto as empregadas domésticas estavam com medo do que poderia ser seu destino, mas ninguém foi capaz de expressar seus pensamentos.

Quando o carro parou, Ethan saiu do banco do passageiro e rapidamente pegou a cadeira de rodas do porta-malas. Colocando-a no lugar, ele abriu a porta e virou-se para ajudar Davis.

"Senhor, deixe-me—" Ethan começou, seu tom carregado de preocupação.

"Eu posso me virar," Davis respondeu bruscamente, mas seu corpo respondeu ao contrário; Ethan o ajudou a sentar na cadeira.

Henry deu um passo à frente, curvando-se levemente. "Bem-vindo à casa, Sr. Allen."

Davis não respondeu. Seus olhos percorreram a mansão, sua expressão complicada enquanto recordava memórias de sua vida antes do acidente. Ele havia deixado esta casa como um homem com pernas e ao retornar se encontrou em uma cadeira de rodas—uma sombra de si mesmo.

Ethan silenciosamente o empurrou para dentro da casa, as empregadas domésticas observavam com expressões cautelosas, inseguras se deveriam oferecer ajuda ou permanecer fora de vista.

Dentro, Davis olhou ao redor da mansão com ceticismo. Ele se sentiu mais frio por dentro. Sua vida tomou um rumo diferente e esta casa agora é uma lembrança de seu antigo eu e tudo que havia perdido. Davis fez um gesto para Ethan parar enquanto dava suas instruções a Henry—o mordomo.

"Henry," Davis disse, sua voz baixa mas firme, "Não quero ninguém me rondando. Você e o resto da equipe ficarão fora do meu caminho a menos que eu chame. Entendido?"

Henry assentiu, "Sim, Senhor".

As reformas que Elder Allen havia ordenado garantiram que todo o andar fosse acessível para cadeira de rodas, tornando mais fácil "Me leve ao escritório", ele ordenou e Ethan prontamente seguiu as instruções.

Davis pode ter retornado à sua mansão, mas estava claro que havia deixado para trás o homem que costumava ser.

Depois de levar Davis ao escritório, Ethan hesitou por um momento, suas mãos ainda nas alças da cadeira de rodas. Davis virou-se levemente, seu olhar frio encontrando o de Ethan.

"Eu posso me virar," Davis disse secamente, seu tom não deixando espaço para discussão.

Ethan assentiu, dando um passo para trás. "Se precisar de algo, é só chamar. Estarei por perto."

O escritório estava como Davis o havia deixado meses atrás, as estantes alinhadas nas paredes, uma grande escrivaninha de mogno onde ele costumava trabalhar, o sofá, e alguns outros móveis e acessórios menores que adornavam a sala, mas agora tudo parecia diferente e é como se ele tivesse se tornado um estranho para eles.

Ethan esperou levemente à porta, inseguro se deveria sair, mas a voz afiada de Davis cortou sua hesitação. "Pode ir, preciso pensar."

Relutantemente, Ethan obedeceu, fechando a porta atrás de si. Ele suspirou ao entrar no corredor, pegando seu telefone para atender alguns assuntos que estavam pendentes enquanto se dirigia ao quarto de hóspedes que ele havia previamente instruído o mordomo a preparar para ele, sabendo que ficaria indefinidamente. A condição de Davis requeria atenção constante, mesmo que seu chefe fosse orgulhoso demais para admitir.

Ethan não precisava ficar. Ele poderia ter ido embora, deixado que outra pessoa assumisse o fardo de cuidar de um homem que se tornara uma sombra de seu antigo eu. Mas seu relacionamento havia crescido ao longo dos anos. Não era mais apenas uma relação profissional de chefe e assistente. Eles eram amigos—embora Davis provavelmente nunca admitisse isso, mas antes do acidente ele havia inconscientemente se preocupado com o bem-estar de Ethan como um irmão.

"Teimoso como sempre," Ethan murmurou enquanto se dirigia ao seu quarto.

De volta ao escritório, Davis permaneceu imóvel, encarando a escrivaninha à sua frente em total silêncio, perdido em seus pensamentos. Com grande esforço, ele se aproximou da escrivaninha com a cadeira de rodas, seu olhar fixo em uma fotografia emoldurada no canto da mesa—uma fotografia dele com Vera, tirada durante seus momentos felizes.

Sua mandíbula se apertou enquanto ele alcançava a moldura. Seus dedos tremeram levemente ao levantá-la, seu reflexo no vidro o encarando como uma provocação. Sem hesitação, ele bateu com a moldura virada para baixo na escrivaninha, o som reverberando pelo escritório vazio.

Davis encarou a tela em branco de um novo laptop que Ethan havia adquirido para ele, sua mente em turbilhão. Ele sabia que não podia ficar ocioso, mas não conseguia encontrar o ânimo para fazer nada, apenas sede por vingança.

Embora Davis tivesse sede de vingança, esse desejo parecia cada vez mais distante, quase inalcançável. Cada caminho que ele considerava seguir estava bloqueado por uma verdade dolorosa; ele é um homem do passado. Todos seus amigos, aliados e parceiros de negócios haviam escolhido seus lados. Desmond e Aaron, as próprias pessoas que ele desprezava por sua atitude, agora detinham o poder, enquanto aqueles que ele uma vez considerou leais agora trabalhavam com eles, abandonando-o sem pensar duas vezes.

Aos olhos da elite do país, Davis havia se tornado nada mais que uma sombra de seu antigo eu, objeto de zombaria. Seu nome, antes sinônimo de poder e sucesso, agora provocava desdém e sussurros. Ele agora é uma figura digna de pena—um pária entre as mesmas pessoas que antes pendiam em cada palavra sua. Os homens que uma vez competiram com ele agora o viam como um rei caído, seu trono tomado por aqueles que nunca o mereceram, mas o exerciam sem hesitação.

Era difícil reconhecer, mas era inegável. Esta dura verdade o corroía, afundando mais fundo a cada dia que passava. Ele havia perdido tudo.

A vingança não parecia mais um caminho viável, apenas um desejo fútil. Um suspiro enquanto ele olhava para o escritório novamente.