O mundo não vai esperar por você

~Mansão Davis~

Já faz algumas semanas desde que Davis retornou à mansão, mas o que antes era um lar pacífico e feliz se transformou em uma casa de medo onde todos precisavam pisar com cautela. Na cozinha, um grupo de empregadas domésticas se amontoava, seus sussurros cheios de inquietação. Seus rostos apreensivos com ansiedade gravada em suas expressões, enquanto falavam em tons baixos sobre o temperamento imprevisível de seu chefe que poderia explodir em violência em um instante.

"Você viu ele hoje? Ele jogou um copo na parede quando o jardineiro perguntou sobre as flores novas", disse uma, sua voz tremendo.

"Ele está assustador", sussurrou outra. "Ouvi dizer que ele gritou com Henry novamente esta manhã."

"Ele não era assim antes do acidente", disse a cozinheira suavemente, olhando em direção ao escritório. "Ele está sofrendo."

"Isso não significa que nós não estamos", murmurou a primeira empregada.

"Ele deveria ao menos considerar que sua situação não é culpa nossa", outra acrescentou.

Ethan, parado na porta, estava furioso. "Vocês estão prontas para sair?", ele perguntou com um tom gélido. As empregadas se assustaram e silenciosamente baixaram suas cabeças em submissão. "Desculpe-nos, senhor", elas ecoaram.

Ethan lançou um olhar severo antes de se virar em direção ao escritório - o santuário de Davis desde seu retorno.

Já faz semanas desde que Davis retornou a esta casa, mas ele se tornou um homem irreconhecível do que era antes. Ele se transformou em alguém irritável e amargo. Suas frustrações ferviam e explodiam de forma imprevisível, criando uma atmosfera tensa que se infiltrava em cada canto da casa.

Apesar da mobília requintada e do ambiente sereno, a casa agora parece mais deprimente do que nunca. Cada membro da casa evita Davis como uma praga enquanto se certificam de trabalhar com pouco ou nenhum barulho para não atrair sua atenção e evitar sua fúria, e ocasionalmente se reúnem na cozinha para falar sobre o dia.

Até mesmo Henry, seu mordomo, aprendeu a evitar situações que o implicariam ainda mais e sempre recorre a Ethan, que é mais como um salvador deles, para transmitir informações ou solicitar instruções.

Davis estava sentado em seu escritório, um copo vazio na mesa à sua frente enquanto ele olhava fixamente para o vazio, alheio ao seu redor.

Ethan entrou sem bater, uma pasta na mão. "Você perdeu uma ligação do Elder Allen. Ele quer uma atualização sobre—"

"Não me importo com o que ele quer!" Davis disparou, sua voz tão afiada que Henry, que estava parado na porta, se encolheu.

Ethan suspirou, colocando a pasta na mesa. "Você não pode continuar ignorando ele, Davis. Você ainda precisa reconhecê-lo e fazer uso de sua influência"

O maxilar de Davis se contraiu, seus olhos se estreitando enquanto ele encarava Ethan. "Influência?" ele repetiu, sua voz pingando sarcasmo. "Que influência? Olhe ao redor, Ethan. Sou um aleijado sentado em uma casa que parece mais um túmulo do que um lar, descartado por minha família como lixo de ontem, e você está me dizendo para usar a influência deles?"

Henry, que tinha vindo servir sua refeição, limpou a garganta da porta. "Senhor, gostaria que eu—"

"Saia!" Davis latiu, batendo sua mão na mesa. "Todos vocês, me deixem em paz!" Sua voz trovejou.

Henry hesitou por um momento, olhando para Ethan, que assentiu sutilmente. O mordomo recuou e desapareceu pelo corredor, seus passos sumindo no silêncio.

Ethan cruzou os braços sobre o peito enquanto se encostava na parede. "Você não me assusta, sabia? Pode gritar, jogar coisas e se trancar nesta mansão, mas não se incomode em me fazer ir embora."

"Por quê?" Davis perguntou, sua voz quase um sussurro. Sua expressão suavizou brevemente, revelando o cansaço por trás de sua raiva. "Por que você ainda está aqui, Ethan? Todos os outros foram embora."

Ethan suspirou levemente, seu olhar inabalável. "Porque você é meu amigo. E diferente dos outros, eu não viro as costas para as pessoas quando elas estão no seu pior momento, isso não significa que eu não possa ir embora, mas até lá."

Davis soltou uma risada amarga, balançando a cabeça. "Amigo? Isso é generoso. Sou um homem quebrado que precisa de um milagre, Ethan."

Ethan olhou para ele e deu de ombros com indiferença. "Então talvez seja hora de você parar de se lamentar e começar a lutar por um."

Os olhos de Davis escureceram. "Lutar pelo quê? Quando não há mais nada que valha a pena lutar."

Ethan fixou seu olhar nele e com uma voz firme disse: "Então encontre algo. Porque isso," ele gesticulou ao redor da sala, "isso não é viver, Davis, e você sabe disso."

Os dois homens se encararam por um longo momento, a tensão espessa. Davis finalmente desviou o olhar, sua expressão uma mistura de frustração e desamparo.

Ele não tem nada em que se apoiar. A única coisa que poderia ter lhe dado uma chance de lutar era sua noiva, mas então é impossível. Ela escolheu seu caminho e seu para sempre.

"Você vai simplesmente deixá-los vencer, então?" Ethan quebrou o silêncio, sua voz afiada com frustração. "Desmond, Aaron... todos eles. Você está entregando tudo sem nem mesmo dar uma pequena luta? Você é tão fraco assim?"

O olhar de Davis não vacilou da distância para a qual estava olhando. "Não é entregar quando tudo já se foi," ele murmurou, seu tom desprovido de emoção. "O que me resta para lutar?"

"Sua dignidade, para começar!" Ethan retrucou, sua frustração evidente. Ele tinha tentado conversar com Davis várias vezes, mas no final do dia, ele ignoraria. Várias vezes ele tinha tentado fazê-lo ver razões, mas ele está preso no passado. "Você era Davis Allen, o homem que as pessoas temiam e respeitavam. Agora você está—" Ele hesitou, contendo as palavras, para organizar uma boa escolha de palavras que não fosse ofensiva e dolorosa.

Davis soltou uma risada amarga. "Vá em frente. Diga. Eu não sou nada. Um aleijado. Uma sombra do homem que eu era."

"Você não é nada!" Ethan disparou, sua raiva brilhando. "Você está agindo como nada porque você se convenceu de que perdeu. Mas você não perdeu. Desmond pode pensar que venceu, mas ele ainda não te enterrou — ou já enterrou?"

Davis finalmente se virou para olhá-lo, seus olhos sem brilho e sem vida. "Você não entende, Ethan. Você sabe como é humilhante ser apagado da sua própria história?"

Ethan balançou a cabeça, seu maxilar se contraindo. "Não, não sei. Mas sei que ficar aqui se afogando em autopiedade não vai reescrever essa história. Você está dando exatamente o que eles querem."

"E o que você espera que eu faça? Apareça na empresa nesta cadeira e exija minha posição de volta? Eu seria motivo de piada. Já sou."

Ethan se inclinou sobre a mesa, seus olhos ardendo de raiva, ele não podia deixar de se perguntar se o circuito cerebral de Davis tinha sido adulterado. "E daí se eles rirem? Deixe que riam ou — você é o primeiro homem a ser aleijado? Mas pelo menos você estaria fazendo algo em vez de sentar nesta casa, se afogando em bebida, afastando todos — este não é você."

A expressão de Davis endureceu. "Ethan, eu nem sei quem eu sou."

Ethan suspirou enquanto seu tom suavizava, mas a determinação em sua voz não vacilou. "Eu sei exatamente quem você é. Você é Davis Allen, o homem que trabalhou duro para fazer seu próprio nome. O homem que inspirou lealdade em pessoas como eu porque você se recusou a recuar diante de um desafio. Esse homem ainda está aí em algum lugar, e eu não vou embora até vê-lo novamente."

Davis virou a cabeça, seu maxilar se contraindo. "Esse homem morreu no dia do acidente. Tudo que resta é esta... esta versão quebrada dele. E nenhuma quantidade de discursos motivacionais seus vai mudar isso."

Ethan se levantou, passando a mão pelo cabelo em frustração. "Você é impossível, sabia? Estou tentando te ajudar, mas você está tão focado no que perdeu que não consegue ver o que ainda tem."

"E o que é isso?" Davis disparou, sua voz se elevando. "O que eu tenho, Ethan? Me diga. Porque de onde estou sentado — literalmente — não tenho nada."

"Sério? Mas ainda assim você tem a mim!" Ethan retrucou, sua voz trovejando. "Você tem alguém que ainda acredita em você quando você desistiu de si mesmo."

Davis o encarou em silêncio enquanto Ethan esperava que talvez finalmente ele percebesse a verdade de sua existência, mas no momento seguinte seu corpo ficou frio com a voz de Davis. "Você está perdendo seu tempo, Ethan. Eu não valho a pena."

A expressão de Ethan suavizou, embora sua frustração persistisse. "Você vale a pena, quer você veja isso ou não. E até que você veja, estarei aqui. Alguém tem que te lembrar do homem que você costumava ser e para não esquecer — estou te inscrevendo em aconselhamento psicológico."

Davis desviou o olhar, suas emoções por toda parte enquanto seus olhos se nublavam com lágrimas não derramadas que ele se recusava a deixar cair. O peso de seu próprio desespero era esmagador, e não importava o quanto Ethan tentasse, ele não conseguia ver uma saída da escuridão.

Ethan suspirou, dando um passo para trás. "Tudo bem. Continue se lamentando. Mas saiba disso: o mundo não vai esperar você se levantar. Se você não lutar por si mesmo, ninguém mais vai."

Ele se virou e caminhou em direção à porta, parando justo antes de sair. "Você não precisa vencer hoje, Davis. Mas pelo menos pense no que significa perder para sempre."

A porta se fechou atrás dele com um clique, deixando Davis sozinho no silêncio sufocante do escritório. Parece que Ethan nunca tinha falado tanto.