O silêncio ali era opressor, como se o próprio ar estivesse petrificado. Nenhum piar de ave noturna, nenhum estridular de inseto, apenas a respiração sussurrante do vento distante nas copas das árvores... e um lamento arrastado que parecia emergir da própria terra. De repente, a advertência rouca do lenhador ecoou em sua mente, fria como uma lápide: "Não vá além do limite… onde o vento cessa." Uma hesitação gélida agarrou Kael por um instante, a ponta afiada da apreensão perfurando sua espinha. Meus instintos estão gritando para eu não entrar aí. Mas eu lá dou ouvidos a alguém? Com um resmungo teimoso, abafado pela própria determinação de seguir em frente, Kael ignorou o nó de cautela que se apertava em seu estômago. A curiosidade, misturada com uma dose de rebeldia contra qualquer tipo de proibição, falou mais alto. Ele precisava saber o que se escondia naquele lugar onde até o vento parecia se curvar em reverência ou medo.
Ali, sob a luz fria e prateada da lua, erguia-se um círculo perfeito de pedras colossais. Seus contornos irregulares, esculpidos por séculos de ventos implacáveis e chuvas torrenciais, pareciam esculturas brutais de uma era primordial, vestidas por um manto úmido de musgo aveludado e líquens pálidos como a carne de um morto em tons de verde esmeralda, cinza espectral e toques de amarelo doentio. Não eram meramente ruínas; eram vestígios palpáveis de uma era enterrada, talvez anterior ao próprio nome dos deuses sussurrado nas lendas. As sombras alongadas e dançantes projetadas pelo luar conferiam às pedras uma sinistra vitalidade, como se sussurrassem segredos ancestrais na língua inaudível do vento. A grama sob seus coturnos era densa e úmida, salpicada por pequenas flores brancas que brilhavam timidamente na escuridão, como espectros luminosos. O ar carregava um cheiro terroso e úmido, misturado com o aroma pungente e sutil dos pinheiros e a doçura distante e quase intoxicante de flores noturnas que desabrochavam sob o olhar da lua.
— Hmm, curioso… — Murmurou Kael, a voz carregada de uma cautela instintiva e um crescente fascínio que borbulhava em suas veias como um veneno lento. Era como se estivesse à beira de desvendar um mistério ancestral, há muito tempo oculto nas profundezas daquela floresta esquecida.
Que tipo de magia ancestral estaria adormecida dentro desses símbolos esquecidos? Seria este o palco dos caprichos cruéis de deuses entediados... ou de algo ainda mais antigo e faminto? Pensou, o humor ácido que sempre lhe servia de escudo contra o absurdo do mundo se manifestando.
Bom, não importa para que serviram esses velhos pedregulhos... O importante é que eu encontre essa porra toda! Essa clareira isolada... essas runas rabiscadas... devem ser evidências suficientes para o poderoso Fergus Riagan me libertar desta missão inútil por alguns dias. Murmurou para si mesmo, as olheiras profundas sob seus olhos vermelhos denunciavam o peso exaustivo de tantas jornadas forçadas para além dos limites de Isgard, longe até mesmo do conforto espartano de seus aposentos. Noites mal dormidas sob um céu implacável, a comida fria e insossa...
Ou, quem sabe, talvez até ganhe um tapinha nas costas e um "Bom trabalho, garoto!". Sonhar não custa nada, não é? Um sorriso melancólico e amargo curvou seus lábios ao imaginar a improvável aprovação de seu pai frio e distante.
Espera... Aquele símbolo... É familiar! ...Terrivelmente familiar! Uma pontada de reconhecimento atravessou sua mente como um raio em uma noite escura, uma lembrança esquecida lutando para emergir das profundezas da sua memória. Involuntariamente, sua mão deslizou para o colar que sempre carregava, escondido sob a gola alta de sua camisa.
Ao puxá-lo para fora, a pedra leitosa, fria ao toque como o gelo eterno, pareceu brilhar com uma intensidade espectral sob o luar pálido. Era a Pedra da Lua de sua mãe. E ali, gravada em sua superfície suave e opalescente... a mesma runa enigmática que ele acabara de ver cravada nas pedras colossais. Um nó doloroso se formou em sua garganta, seus olhos vermelhos fixos no símbolo ancestral.
— Elora... — O nome de sua mãe escapou de seus lábios em um sussurro carregado de uma saudade antiga e quase esquecida, uma dor lancinante por um calor que ele nunca tivera a chance de conhecer plenamente. Sua mãe... que possuía os mesmos olhos vermelhos que ele e que pagara o preço daquela maldita profecia com a própria vida. Executada. Por ordens frias e calculistas de Fergus. Para manter a frágil paz e a ordem em Isgard. Uma onda de revolta o atingiu com a força de uma maré furiosa, a injustiça latejando em suas veias como um veneno quente. As pupilas de Kael se dilataram, seus olhos vermelhos faiscando com uma raiva incandescente ao se lembrar da fria execução de Elora Faolan. A fera adormecida dentro dele se agitou, um rugido silencioso ecoando em seu interior, ansiando por uma liberdade bestial. Mas então...
De repente, um arrepio gélido, mais intenso e cortante do que o próprio frio da noite, percorreu a espinha de Kael como uma descarga elétrica, interrompendo a breve e dolorosa paz de suas lembranças.
— Outro Inermis? Se for... Juro pelos deuses que o agarro pelas presas! ...Não, isso é... isso é diferente! Um inimigo? — A exclamação escapou de seus lábios em um sussurro carregado de surpresa e crescente apreensão, seus olhos vermelhos varrendo as sombras da clareira.
A sensação opressora de estar sendo observado por olhos invisíveis tornou-se física, como se múltiplos pares de olhos famintos o devorassem das sombras profundas que espreitavam ao redor, invisíveis e terrivelmente ameaçadoras. Um pressentimento sombrio e sinistro o invadiu, gelando seu sangue nas veias e eriçando os pelos de sua nuca.
Kael se sentiu exposto e vulnerável no centro daquele círculo ancestral, como uma oferenda involuntária, um cordeiro indefeso diante de um altar profano. E essa sensação de impotência o enfurecia.
Foi então que eles emergiram das sombras.
Silhuetas escuras ganharam forma hesitante entre as árvores retorcidas da periferia da clareira. Figuras encapuzadas, envoltas em mantos negros que pareciam absorver a própria luz das tochas trêmulas que carregavam. Moviam-se como espectros silenciosos — sem pressa, como se o tempo obedecesse apenas à sua vontade ancestral.
Os profundos capuzes ocultavam seus rostos, mergulhando-os em uma escuridão impenetrável, mas a luz vacilante das tochas revelou vislumbres fugazes de dentes brancos e afiados. Sorrisos cruéis e famintos que não alcançavam olhos ocultos.
Kael apertou os punhos com força, o olhar vermelho analisando cada movimento com a precisão fria e calculista de um predador experiente. Eles se espalhavam em um círculo sinistro, fechando o cerco como caçadores ancestrais diante de uma presa isolada.
Facas de pedra lascada, com lâminas serrilhadas e símbolos tribais arcaicos entalhados nos cabos de madeira. Bordões rústicos marcados com runas pagãs que brilhavam fracamente na escuridão. Doze deles. Nenhum som de passos, nenhum sussurro de palavras. Apenas a promessa silenciosa de uma violência iminente nos contornos de suas formas sombrias.
A energia que emanava de seus corpos envoltos em mistério era espessa e fria, quase tangível, como estar imerso em uma névoa de morte ancestral. Era a mesma sensação perturbadora dos pesadelos que sua mãe costumava mencionar em suas histórias sussurradas à beira de fogueiras crepitantes, advertindo sobre forças antigas que espreitavam nas sombras.
Naquele instante, Kael soube, com uma certeza visceral que gelava seus ossos.
Aquele não era um mero encontro com fanáticos isolados. Era o prenúncio sombrio de algo muito maior, algo ancestral, poderoso e faminto que despertava nas profundezas da floresta.
E ele, Kael Faolan, o príncipe bastardo de olhos vermelhos, estava inexplicavelmente no centro daquele ritual profano.