CAPÍTULO VIII: A QUEDA

Kael, tomado por um medo visceral e paralisante, percebeu a ameaça iminente e se preparou para reagir com a velocidade da desesperança, cada fibra de seu ser gritando por sobrevivência. Mouros, com a guarda baixa e o corpo curvado pela dor lancinante no rosto, agachou-se para agarrar o chicote, expondo sua retaguarda à fúria implacável do jovem guerreiro.

O jovem guerreiro, debilitado até a medula, exausto até o último suspiro e com a visão terrivelmente obscurecida, hesitou por uma fração de segundo que pareceu uma eternidade, confuso pela rapidez vertiginosa dos acontecimentos. Mas ele sabia, no fundo de sua alma, que aquela era sua única e derradeira chance, a oportunidade desesperada de virar o jogo sangrento e vencer a batalha pela sua vida.

"Eu preciso... me mover... agora!" Pensou Kael com determinação renovada e selvagem, a convicção inabalável brilhando em seus olhos vermelhos como duas estrelas cadentes.

"E se eu... será que... Bom, só existe uma maneira de descobrir."

O desespero se fundiu com o instinto primal e avassalador de sobrevivência, e sem ponderar por um único instante, ele avançou com uma velocidade surpreendente que desafiava sua condição deplorável. Um grito selvagem e gutural ecoou pela floresta sombria e implacável quando Kael se lançou para frente, seus pés descalços esmagando a folhagem úmida sob seus pés. O som repentino e agudo fez Mouros girar a cabeça para trás com um sobressalto, mas era tarde demais para qualquer reação defensiva eficaz. Usando as costas largas e desprevenidas do General como um trampolim improvisado e arriscado, Kael saltou com toda a sua força residual, impulsionando-se em direção à líder das bruxas.

A mulher, confiante na proteção ilusória e efêmera de sua magia negra, permaneceu imóvel como uma esfinge, observando-o com um sorriso cruel e superior que lhe crispava os lábios finos e pálidos.

O impacto foi brutal e inesperado, a força do salto aliada ao desespero de Kael. Os dedos ensanguentados do rapaz cerraram-se em torno do colar místico que pendia do pescoço da bruxa, arrancando-o com violência repentina, a corrente rompendo-se e deixando uma marca vermelha na pele pálida da líder das bruxas.

Seu peito arfou com uma mistura sufocante de alívio e triunfo selvagem.

— Te peguei, sua velha bruxa desgraçada! — Ele gritou triunfante, um sorriso torto, seu rosto ensanguentado, a vitória amarga estampada em sua face.

Sem sequer tocar o chão lamacento e frio, ele usou o corpo da mulher como um ponto de apoio improvisado e desesperado, chutando-a no peito com toda a sua força remanescente, arremessando-a para trás com um baque seco e violento que ecoou pela clareira.

A bruxa tombou com estrondo, o som da queda reverberando pela mata silenciosa. O corpo de Kael foi disparado com uma ferocidade renovada e animalesca. Ele lançou-se contra Mouros, que ainda tentava processar a velocidade e a audácia dos acontecimentos, sua mente confusa pela sequência inesperada de eventos.

O choque entre os dois guerreiros foi devastador e imediato, a força do impacto abalando a própria terra sob seus pés. O General, sem tempo para qualquer reação defensiva, foi lançado violentamente contra uma árvore centenária, a madeira estalando sob a força brutal do impacto. O corpo pesado de Mouros desabou inerte ao pé da árvore, a inconsciência roubando-lhe os sentidos e a fúria.

Kael, com o colar místico pulsando em suas mãos trêmulas, encarou Mouros com um ódio gélido e implacável.

A dor de cabeça lancinante de Kael sumiu tão repentinamente quanto surgiu, como se um peso invisível tivesse sido removido de sua mente atormentada.

— Que alívio… Minha cabeça parecia que ia explodir a qualquer momento! — Resmungou Kael, enquanto acariciava a lateral de sua cabeça latejante, sentindo o fim da tortura mental infligida pela influência da Pedra da Lua.

O General sabia que o rapaz era um oponente formidável, mas jamais esperava que ele possuísse tamanha força de vontade e sagacidade em um momento de pura desvantagem e desespero.

Apesar dos ferimentos lancinantes que lhe vergastavam o corpo em protesto silencioso, Mouros girou sua arma com uma fúria ainda mais intensa e animalesca do que antes, seus olhos fixos em Kael, como se estivessem possuídos por uma força demoníaca indomável. Não era um ataque calculado, mas sim uma explosão visceral de raiva e desespero, um derradeiro esforço para tentar reverter a situação catastrófica e humilhante. Seus movimentos, porém, estavam mais lentos e descoordenados pela dor do golpe anterior.

A luta recomeçou com uma violência ainda maior, cada golpe desferido com uma brutalidade implacável e selvagem, mas ambos os guerreiros moviam-se com a lentidão imposta por seus ferimentos e exaustão. Kael e Mouros se enfrentaram em um duelo frenético, o General negro disparando golpes sequenciais com seu chicote letal, a corrente silvando no ar como uma serpente raivosa, enquanto Kael se esquivava com destreza e velocidade sobrenaturais, desafiando-o com sua agilidade surpreendente e sua fúria recém-descoberta, embora cada movimento lhe custasse um esforço tremendo.

A floresta tornou-se um campo de batalha ensanguentado mais uma vez, o ar saturado com o cheiro acre de sangue e suor, o som dos golpes ecoando pela mata como um trovão distante. O duelo chegou ao seu ápice quando... Com um golpe rápido e inesperado, aproveitando a lentidão de Mouros, Kael acertou em cheio o queixo do General com o colar místico ainda em mãos, fazendo o General cuspir sangue e arrancando seu elmo com o impacto seco e violento, expondo o rosto crispado pela dor e pela fúria.

O guerreiro negro cambaleou para trás como um boneco desarticulado, seu rosto agora desprotegido revelando um homem rústico e brutal, com barbas e sobrancelhas despenteadas e castanhas, e uma face ensanguentada e deformada pela batalha. Seus olhos arregalaram-se em terror puro e incontido quando Kael, com um movimento rápido e preciso como o bote de uma víbora, saltou sobre ele como um predador faminto, seus braços fortes e implacáveis envolvendo o pescoço do General em um mata-leão mortal e sufocante. Kael sentia seus próprios músculos protestarem com o esforço, mas a adrenalina e a necessidade de sobreviver o impulsionavam.

— Quais são suas últimas palavras antes de abraçar a escuridão eterna, verme? — Perguntou Kael, com um sorriso cruel que lhe fendia o rosto ensanguentado, seus olhos brilhando com a fúria triunfante da vitória, mas ainda carregados de exaustão.

— Vá... se... ferrar! — Mouros murmurou com dificuldade extrema, a voz fraca e rouca como um estertor de morte, o fim se aproximando, seus braços debatendo-se fracamente.

— Eu não gastaria meus últimos suspiros com palavras tão banais. Mas... — Respondeu Kael com ironia fria e cortante como o aço, apertando ainda mais o pescoço de seu traidor, sentindo a vida se esvair do corpo do General a cada pulsação fraca e derradeira.

O brutamontes tentou desesperadamente se libertar daquele abraço letal, debatendo-se freneticamente em um último esforço desesperado, mas seus movimentos eram lentos e sem força. Era tarde demais para qualquer resistência eficaz.

Kael, com um último e extenuante esforço de sua vontade indomável, apertou ainda mais seus braços com uma força sobre-humana, e o outrora imponente General finalmente desabou de joelhos na lama, seus pulmões vazios de ar, seus olhos castanhos perdendo o brilho da vida para sempre.

Seu corpo pesado e inerte tombou no chão lamacento com um baque surdo, a armadura negra rangendo em um último suspiro metálico. O General jazia morto, sua traição finalmente punida com a fria e implacável lâmina da morte. Kael permaneceu ali por um momento, ofegante e exausto, sentindo o peso do corpo de Mouros em seus braços antes de soltá-lo.

Kael, com as mãos manchadas pelo sangue quente do traidor, levantou-se cambaleante e encarou o corpo sem vida com desprezo gélido e implacável, um misto nauseante de repulsa e satisfação obscura em seu olhar cansado e ensanguentado. Seus ferimentos latejavam, lembrando-o de sua própria fragilidade.

— Um verme a menos nesse mundo imundo! — Ele exclamou, a voz rouca e embargada pela batalha, carregada de ódio e um triunfo amargo.

— Quem se habilita a ser o próximo? — Perguntou em tom ameaçador, sua voz ecoando pela clareira silenciosa e sinistra, antes mesmo de se virar para encarar suas inimigas encapuzadas, que observavam a cena macabra com apreensão palpável e silenciosa. Kael agarrava o colar com força, sentindo seu poder em suas mãos trêmulas.

Nenhuma delas se atreveu a sequer esboçar um movimento em sua direção. O círculo de fogo profano se extinguiu abruptamente, a tempestade infernal se dissipou como uma névoa fantasmagórica sob o vento noturno, dando lugar a um céu estrelado e banhado pela luz prateada e fria de uma lua minguante.

As bruxas, que haviam assistido à batalha brutal em silêncio sepulcral e aterrorizado, agora batiam em retirada apressada e desordenada, seus olhos arregalados de incredulidade e receio. Recuando pelos mesmos caminhos sombrios por onde haviam surgido na noite, desapareceram na densa escuridão da floresta, deixando para trás apenas o corpo inerte de Mouros Atrox e a marca indelével da batalha sangrenta.

Kael partiu sem lançar sequer um olhar para trás, tropeçando exausto e ferido, cambaleando pela floresta escura e implacável, deixando para trás um rastro visível de pegadas ensanguentadas. Ele sabia, com uma certeza gélida que lhe percorreu a espinha, que não podia retornar a Isgard; aquele lugar outrora familiar não era mais um refúgio seguro para ele. Ele precisava descobrir, a qualquer custo, quem havia tramado sua aniquilação e o queria morto. Somente assim saberia quem eram seus verdadeiros inimigos e, talvez, seus raros e preciosos aliados naquele mundo sombrio e traiçoeiro.

A misteriosa líder das bruxas reapareceu das sombras profundas, emergindo da escuridão e aproximando-se lentamente do corpo já sem vida do General negro. Em seu semblante soturno não havia vestígio de tristeza ou remorso, apenas uma satisfação gélida e calculista que lhe iluminava o rosto pálido sob a luz da lua.

Ela ajoelhou-se ao lado do corpo inerte, seus dedos frios como a morte acariciando o rosto ensanguentado de Mouros com uma possessividade perturbadora e sinistra. Um sorriso frio e maquiavélico se formou em seus lábios finos e pálidos.

— Você nos serviu bem, meu leal peão negro. — Disse a líder, a voz carregada de uma malícia sinistra e inconfundível que ecoou pela clareira.

— Mas seu tempo... acabou, Mouros Atrox.

Com um gesto rápido, frio e preciso, a bruxa empunhou sua espada cerimonial adornada com símbolos arcanos e a cravou sem hesitação no coração ainda quente de Mouros.

— Geasa, glacadh cumhachd! (Feitiço, captura poder!) — Disse ela com uma voz enigmática que ecoou pela mata silenciosa, conjurando o feitiço com um poder arcano e ancestral.

O corpo de Mouros se desfez instantaneamente em cinzas escuras e fumegantes, como se jamais tivesse existido naquele plano da realidade. O cabo da espada brilhou intensamente na escuridão da mata, um símbolo sinistro do poder da bruxa e do destino.

As bruxas ajoelharam-se em uníssono diante da líder, reverenciando-a com devoção fanática e silenciosa. A líder sorriu, satisfeita com a lealdade cega de suas seguidoras.

— Preparem-se, irmãs! — Ordenou a líder, a voz firme e autoritária como o aço temperado e mortal. — A guerra pelo Trono de Ossos... está chegando, e Isgard será o epicentro da nossa ascensão!

As bruxas levantaram-se em sincronia, seus rostos ocultos determinados e sinistros, prontas para a batalha iminente que se aproximava sorrateiramente como um predadores famintos na escuridão.

A floresta, palco de tantos combates sangrentos e secretos, seria em breve o cenário de uma guerra ainda maior, uma conflagração épica que decidiria o destino de todos os seres vivos... uma guerra pelo poder supremo de Isgard.

A guerra... apenas estava começando, e Kael Faolan era o catalisador de sua fúria.