Capítulo 173: Bordo-negundo (Acer negundo)
O bordo-negundo (Acer negundo), conhecido em inglês como "boxelder" ou "boxelder maple", é uma árvore decídua de crescimento rápido da família Sapindaceae, nativa da América do Norte. Esta espécie é distinta entre os bordos por sua aparência menos convencional, folhas pinadas e tolerância a condições adversas, o que a torna tanto uma árvore ornamental quanto uma invasora em algumas regiões. Apesar de sua madeira fraca e vida curta, o bordo-negundo é valorizado por sua adaptabilidade e papel ecológico em áreas perturbadas. Neste capítulo, exploraremos em profundidade todos os aspectos do bordo-negundo, desde suas características botânicas até seu habitat, usos, ecologia, cultivo e curiosidades, oferecendo uma visão abrangente dessa árvore versátil.
Características Botânicas
O bordo-negundo é uma árvore de porte médio, com traços que o diferenciam de outros bordos:
Tamanho: Cresce de 10 a 25 metros de altura, com um tronco que pode atingir 30-50 cm de diâmetro, frequentemente dividido em múltiplos caules.
Folhas: Compostas e pinadas, com 3-7 folíolos (geralmente 3-5), cada um de 5-10 cm, ovais a lanceolados, com bordas serrilhadas. São verde-claras na primavera, tornando-se amareladas no outono.
Casca: Cinza a marrom-clara, lisa quando jovem, mas desenvolvendo sulcos rasos e escamas com a idade.
Flores: Pequenas, amarelo-esverdeadas, dispostas em cachos pendentes. A árvore é dióica – possui indivíduos machos e fêmeas separados. Florescem no início da primavera, antes das folhas.
Frutos: Sâmaras (frutos alados) em pares, de 3-5 cm, que pendem em cachos longos, amadurecendo do verde ao marrom no outono e persistindo no inverno.
Raiz: Superficial e expansiva, formando uma rede densa que pode ser invasiva em áreas urbanas.
Ciclo de vida: Decídua, perdendo as folhas no outono, com uma vida média de 30-60 anos, raramente ultrapassando 100 anos.
Habitat e Distribuição
O bordo-negundo é uma árvore adaptável, com uma distribuição ampliada por introdução humana:
Origem: Nativo da América do Norte, desde o Canadá até o sul dos Estados Unidos e partes do México, especialmente em planícies aluviais e margens de rios.
Distribuição atual: Introduzido na Europa, Ásia, Austrália e América do Sul, incluindo o Brasil, onde é encontrado em estados do sul e sudeste, como Rio Grande do Sul e São Paulo, em áreas urbanas e rurais.
Habitat preferido: Prospera em solos úmidos a moderadamente secos, em margens de rios, áreas alagadas, terrenos baldios e bordas de florestas. Tolera solos pobres, salinos ou compactados, e suporta poluição urbana.
Invasividade: Em regiões como a Europa e Austrália, é considerada invasora devido à sua rápida disseminação por sementes e competição com espécies nativas.
Comportamento e Ecologia
O bordo-negundo exibe características que o tornam um colonizador eficiente:
Crescimento: Rápido, podendo ganhar até 1 metro por ano em condições ideais, mas com madeira fraca, suscetível a quebras por vento ou neve.
Polinização: Anemófila (pelo vento), com flores que não dependem de insetos, embora algumas abelhas visitem os machos por pólen.
Dispersão: As sâmaras aladas são carregadas pelo vento por longas distâncias, germinando facilmente em solos expostos ou perturbados.
Resistência: Tolera inundações, secas moderadas, frio intenso (-30°C) e calor, mas é sensível a sombras densas e competição prolongada.
Interações: Hospeda o percevejo-do-bordo (Pyrrhocoris apterus) em algumas regiões, que se alimenta de suas sementes, e oferece abrigo para aves e pequenos mamíferos.
Usos
O bordo-negundo tem usos práticos, embora limitados por sua madeira de baixa qualidade:
Madeira: Macia e leve, usada para caixas, móveis baratos, papel ou lenha, mas não é durável nem resistente.
Ornamental: Plantado em parques e ruas por sua folhagem atraente e crescimento rápido, especialmente variedades como ‘Variegatum’ (com folhas variegadas).
Medicina tradicional: Povos indígenas americanos usavam a seiva como adoçante e a casca interna em infusões para dores ou febres, mas seu uso é raro hoje.
Ecologia: Utilizado em projetos de revegetação para estabilizar solos erodidos ou em áreas degradadas.
Cultivo
O bordo-negundo é cultivado por sua rusticidade e estética:
Condições: Prefere solos bem drenados, mas tolera uma ampla gama de pH (5,0 a 8,0) e umidade. Cresce melhor em sol pleno.
Plantio: Propagado por sementes (semeadura na primavera após estratificação a frio) ou estacas no outono. O espaçamento deve considerar sua expansão radicular.
Manutenção: Resistente a pragas e doenças, mas suscetível a fungos como Verticillium. Requer poda para controlar galhos quebradiços.
Controle: Em áreas onde é indesejado, sua remoção exige corte e aplicação de herbicidas nos tocos para evitar rebrotas.
Interações com Humanos
O bordo-negundo tem uma relação mista com as sociedades:
História: Introduzido na Europa no século XVII como ornamental, foi levado a outras regiões por colonos e paisagistas.
Cultura: Chamado "boxelder" nos EUA por sua semelhança com o sabugueiro (Sambucus) e uso em caixas de madeira. No Brasil, é conhecido como "bordo-negundo" ou "ácer-negundo".
Conflitos: Suas raízes invasivas danificam calçadas e tubulações, enquanto o pólen pode causar alergias. É frequentemente removido em áreas urbanas.
Ecologia
O bordo-negundo desempenha um papel ambíguo nos ecossistemas:
Benefícios: Fornece sombra, sementes para aves (como tentilhões) e habitat para insetos. Ajuda na recuperação de solos degradados.
Impactos: Como invasor, pode deslocar árvores nativas e alterar a dinâmica de ecossistemas locais.
Status: Abundante e não ameaçado, seu manejo foca no controle em áreas sensíveis.
Curiosidades
Nome científico: "Acer" vem do latim para "afiado" (referindo-se às folhas de outros bordos); "negundo" deriva de uma palavra sânscrita para uma árvore semelhante na Índia.
Seiva: Produz uma seiva açucarada, mas em menor quantidade que o bordo-açucareiro (Acer saccharum), sendo raramente aproveitada.
Inverno: Suas sâmaras pendentes criam um efeito decorativo contra a neve, atraindo observadores.
Conclusão
O bordo-negundo (Acer negundo) é uma árvore de contrastes – rápida e resistente, mas frágil e invasiva. Sua capacidade de prosperar em condições adversas e seu uso em paisagismo refletem uma adaptabilidade que, embora nem sempre bem-vinda, é inegavelmente impressionante.