Duelo na Academia Militar

Na manhã seguinte, na academia militar, uma jovem caminha despreocupada pelos corredores da instalação, distraída com seus pensamentos. Seu coração transborda de alegria ao lembrar da mais nova aquisição para sua coleção: uma pelúcia edição limitada do pacote Lendas de Outrora. A simples ideia de chegar em casa e abraçar aquele boneco tão desejado a enchia de entusiasmo—afinal, era a pelúcia do lendário cavaleiro da Távola Redonda, Lancelot.

Enquanto seguia em sua divagação, algo chama sua atenção ao longe. Alyxzandre. Mas... com quem ele está?! Ela estreita os olhos. Eles estão... rindo?

"Mas como assim?"—pensou, franzindo o cenho.

Alyxzandre sempre foi sério, focado no trabalho, um verdadeiro exemplo de disciplina. E agora, estava ali, sorrindo, descontraído, quase como um colegial despreocupado.

"E que intimidade toda é essa?"—seus pensamentos começavam a viajar para um território perigoso.

"Não me diga que...!"

Seu semblante perde a cor. Como uma personagem de novela ultra-dramática, algo até então impensável desenrola em sua mente.

"Ele se interessa por rapazes?! Não!!! Meu querido Alyxzandre, por queeeee?! Por queeeee?!"

Antes que sua mente pudesse cair ainda mais no abismo das teorias conspiratórias e suposições dramáticas, uma voz familiar a traz de volta à realidade:

— Victória!

Ela pisca algumas vezes, tentando se recompor antes de responder:

— Alyxzandre... Oi! Que surpresa te ver por aqui hoje.

Ele mantém a expressão neutra e responde:

— Estava te procurando. Quero lhe apresentar o mais novo recruta do Corpo de Cavaleiros Reais.

"Ué? Cadê aquele Alyxzandre sorridente de agora há pouco?"—pensou Victória, sentindo o súbito retorno da seriedade habitual de seu capitão.

Alyxzandre continua:

— Este é Lancelot. Um refugiado de Vespúsio.

O jovem, que para ela apresentava ter uns vinte e poucos anos e postura impecável se inclina levemente para frente, fazendo uma reverência cortês.

"Olha só... que educado!"—pensou Victória.

O nome dele despertou sua curiosidade. Lancelot. O lendário cavaleiro. Seria possível que seus pais soubessem das antigas lendas do "Tempo Antes do Tempo"?

"Mas espera... Se ele é de Vespúsio, como isso seria possível? Isso não faz sentido..."

Antes que pudesse aprofundar sua análise, Lancelot ergue o peito e fala com orgulho:

— Sim, minha jovem donzela! Eu sou Lancelot! O mais belo e fiel dos doze cavaleiros! Aquele que jurou lutar ao lado do meu senhor Art—

PÁ!

Um tapa firme na nuca de Lancelot interrompe sua declaração heroica. Alyxzandre, agora ao seu lado, solta um suspiro exasperado.

— ...do meu senhor Alyxzandre! Pelo qual darei minha vida, se for preciso!

Silêncio.

Victória arregala os olhos.

— É o quê?!

Ela sente uma onda de riso crescer dentro de si.

"No que eu estava pensando? Hahahaha! Esse daí é completamente lelé da cuca!"

Ela mal consegue conter a gargalhada interna.

"E ele ainda nem sabe o enredo da história que tá fazendo 'roleplay'... hahahaha!"

Victória se esforça para manter a compostura, mas sua mente segue em desespero cômico:

"A Távola Redonda representava a igualdade entre os cavaleiros, e ele vem com essa de 'o mais belo e fiel'... hahahahaha!"

Alyxzandre, imperturbável, apenas comenta:

— Não ligue para as coisas sem sentido que ele fala. Lancelot é um sujeito... peculiar.

Após um breve momento para estabilizar o clima, ele continua:

— Lancelot, Victória foi minha colega de classe na academia e agora é instrutora dos novos cadetes. Ela será sua superior, portanto, trate-a com o devido respeito.

Lancelot imediatamente se coloca em posição de sentido.

— Sim, senhor!

Alyxzandre prossegue:

— Victória, testemunhei o potencial de Lancelot. Tenho grandes expectativas sobre ele. Treine-o com o mais alto rigor dos Cavaleiros Reais.

Ela, também assumindo uma postura firme, responde:

— Sim, senhor!

Então, Alyxzandre propõe um combate corpo a corpo entre os dois.

Victória hesita por um instante, mas, convencida pelo capitão de que o novato tem potencial, aceita o desafio.

Após trocarem suas vestes por trajes mais apropriados, os dois seguem para a sala de treinamento, onde Alyxzandre os aguarda. Ele explica as regras:

— Aquele que for derrubado, imobilizado ou sair da área designada duas vezes perde. A luta será com espadas de treino, para que possam dar o melhor de si sem se ferirem seriamente.

Já apostos, os combatentes se encaram, avaliando um ao outro.

Victória, à esquerda, assume uma postura agressiva. Usa um estilo de lâminas duplas, segurando ambas em empunhadura reversa, com as pontas voltadas para baixo e os fios virados para o alvo. Seus olhos analisam Lancelot.

Ele, por sua vez, assume uma postura mais tradicional, com pés firmes, joelhos levemente dobrados e uma espada longa empunhada com ambas as mãos. Era uma pose clássica de guerreiro.

Victória começa a acreditar que talvez Lancelot realmente saiba o que está fazendo.

Lancelot a observa atentamente. As armas e a postura dela são diferentes de tudo que ele já viu. Isso o deixa intrigado… e animado para o que está por vir.

Alyxzandre, posicionado ao lado da quadra, dá o sinal de início:

— Comecem!

Victória não perde tempo e parte para a ofensiva com ferocidade. Num piscar de olhos, já está desferindo uma série de golpes rápidos e precisos contra Lancelot. Surpreendido, ele mal consegue reagir e apenas se defende enquanto recua.

Ela percebe uma abertura na guarda do adversário e não hesita. Com um golpe certeiro, acerta em cheio a lateral do torso de Lancelot. Ele titubeia por um instante, mas logo recupera a postura.

Victória se afasta um pouco, sorri maliciosamente e provoca:

— Nada mal, hein, novato? Parece que você vai ser um bom saco de pancadas.

Lancelot, agora com um olhar mais sério, responde:

— Tome cuidado, querida. Este aqui revida!

A luta recomeça. Victória continua pressionando, atacando com velocidade e precisão. No entanto, Lancelot parece estar se adaptando, tornando-se cada vez mais eficiente na defesa.

Percebendo isso, ela intensifica os ataques, aumentando a agressividade. Ele continua recuando até se aproximar da linha limite da arena.

Então, firmando sua postura, Lancelot deflete um dos golpes de Victória, desequilibrando-a. Sem perder tempo, contrai os músculos, avança um passo à frente e dispara um corte horizontal com sua espada longa.

A lâmina rasga o ar com uma velocidade impressionante… mas não atinge nada.

Com reflexos sobre-humanos, Victória se esquiva no último instante sem sequer sair do lugar. Apenas curva o corpo para trás em um arco perfeito, formando um ∩, deixando a lâmina passar rente ao topo de sua barriga.

Era um movimento que apenas alguém com um nível de proficiência atlética excepcional poderia realizar naquela situação.

Antes que Lancelot possa reagir, ela se recupera instantaneamente e, aproveitando sua abertura, desfere um poderoso chute no peito dele.

O impacto é devastador.

Lancelot é arremessado para fora da linha delimitadora.

O primeiro assalto termina.