Ventos Que Levam O Coração

Capítulo 7 — Ventos Que Levam o Coração

Os dias em Lorien começaram a ganhar outro ritmo. As folhas dançavam ao vento de um jeito mais suave, e o céu parecia um pouco mais claro, como se também quisesse respirar aliviado. Mas dentro de Elise, as coisas estavam longe de estar em paz.

Ela e Adrian passaram a se encontrar todos os dias. Não combinavam, apenas acontecia. No café da praça, na beira do lago, na trilha atrás dos vinhedos. Era como se o destino fizesse questão de colocá-los frente a frente, até quando nenhum dos dois sabia o que dizer.

Naquela manhã, Elise chegou ao café e encontrou Adrian já sentado, distraído, desenhando no caderno. Era uma aquarela simples, mas carregada de sentimento: uma figura caminhando sozinha pela trilha que levava até o topo da colina.

Ela sorriu.

— É você? — perguntou, apontando para o desenho.

Adrian olhou para ela e balançou a cabeça.

— É a gente. Cada um no seu tempo, tentando se encontrar.

Elise sentou-se ao lado dele, mais perto do que de costume. Por alguns segundos, só ouviram o barulho das xícaras sendo lavadas e o leve som de música antiga tocando no rádio.

— Adrian… — ela começou, com a voz baixa. — Você já teve medo de gostar tanto de alguém que chega a doer?

Ele a olhou de lado, um sorriso pequeno no canto da boca.

— Acho que estou descobrindo isso agora.

O coração de Elise apertou no peito. Por um instante, quis dizer tudo — o quanto ele mudava o jeito dela de ver as coisas, o quanto os silêncios entre eles falavam mais do que qualquer palavra. Mas ela não disse. Porque nos doramas, a gente sabe que as melhores declarações acontecem no tempo certo.

— Eu só… — ela desviou o olhar para a janela. — Tenho medo de me acostumar. De gostar tanto dessa calma, e depois… me perder de novo.

Adrian fechou o caderno e colocou a mão sobre a dela.

— Então se perde comigo.

Ela soltou um riso abafado, e naquele instante, tudo pareceu mais leve.

O resto do dia foi simples. Caminharam pelo mercado, dividiram um pedaço de bolo de limão, riram de coisas bobas. Como se o mundo lá fora não existisse.

À noite, Adrian deixou Elise na porta de casa. E antes de ir embora, ficou ali, parado, como se quisesse dizer algo.

— Elise… — ele chamou, baixinho.

Ela se virou.

— Promete que não vai desaparecer de novo? — ele pediu, com os olhos cheios de um sentimento que nem ele sabia nomear.

Ela hesitou, com medo de prometer algo que o destino pudesse quebrar. Mas então sorriu.

— Prometo tentar.

E naquele sorriso, havia tudo o que ela ainda não tinha coragem de dizer.

Adrian sorriu também, deu meia-volta e seguiu pela rua iluminada pelo brilho amarelado dos postes. Elise ficou ali, assistindo, com o coração batendo forte.

Naquela noite, não houve mistério, nem bilhetes escondidos. Só a certeza silenciosa de que, às vezes, as coisas mais simples são as que mais mudam a gente.

Lorien seguia com seus dias calmos, mas para Elise, tudo parecia diferente. As cores, o vento, o cheiro do café… como se cada pequeno detalhe carregasse o nome de Adrian, mesmo quando ele não estava por perto.

Naquela manhã, ela decidiu fazer algo diferente: visitou a pequena estufa da cidade. Lá, entre as flores e o cheiro doce de terra molhada, era o único lugar onde conseguia organizar um pouco do que sentia. Elise sempre acreditou que algumas coisas a gente só entende perto das flores.

Enquanto tocava as pétalas de uma flor azul, ouviu a voz de Adrian às suas costas.

— Essa é sua preferida?

Ela se virou, surpresa.

— Como você…?

— Eu sempre venho aqui quando não sei o que fazer. Acho que a gente tem mais coisas em comum do que imagina — ele disse, sorrindo de um jeito meio tímido, meio encantado.

Ficaram em silêncio por um instante, cercados pelo perfume suave das flores.

Adrian se aproximou e pegou uma das pequenas flores brancas.

— Sabia que, no idioma das flores, essa aqui significa “esperança silenciosa”?

Ela sorriu.

— É bonito. Meio triste… mas bonito.

— É tipo a gente — ele murmurou, sem perceber que tinha falado em voz alta.

Os dois se entreolharam, e Elise sentiu aquele frio na barriga tão típico das cenas de dorama. Aquele momento em que os olhares demoram segundos a mais, e o tempo parece desacelerar só para os dois.

Antes que qualquer um dissesse algo, começou a chover — uma daquelas chuvas finas e calmas que parecem abraçar a cidade.

Adrian estendeu a mão.

— Vem, vou te levar até o coreto.

Eles correram pela praça rindo, como se fossem crianças, e se abrigaram no coreto antigo, onde a madeira rangia com o vento.

Lá, ofegantes e com o cabelo um pouco molhado, ficaram um de frente para o outro.

— Acho que agora posso dizer — Adrian disse, com a voz baixa. — Eu gosto de você, Elise.

Ela sentiu o peito apertar. Não porque fosse uma surpresa, mas porque ouvir aquilo em voz alta fazia tudo ganhar mais peso.

— Eu também gosto de você, Adrian — ela respondeu, com um sorriso leve e os olhos brilhando.

Ficaram assim, só olhando um para o outro, sem pressa, como se aquele instante fosse precioso demais para ser quebrado.

Quando a chuva diminuiu, ele segurou a mão dela.

— Quer vir comigo amanhã? Tem um festival de lanternas no lago. Queria muito ir com você.

Ela assentiu, sentindo o coração aquecer.

— Eu adoraria.

Adrian sorriu daquele jeito doce e protetor que só os personagens de dorama conseguem ter.

— Então amanhã… a gente escreve nossa cena mais bonita.

E naquele instante, Elise soube: o amor que nascia entre eles era daquele tipo raro, que não precisava de promessas ou finais grandiosos. Só de pequenas cenas, mãos entrelaçadas, e olhares que diziam tudo.

O som suave da chuva batendo no telhado do coreto criou uma melodia calma, quase feita sob medida para aquele instante. Elise sentia as mãos ainda quentes pelo toque de Adrian, e o silêncio entre os dois parecia dizer tudo o que as palavras hesitavam em pronunciar.

— Sabe — ela começou, com um leve sorriso, — às vezes eu penso que a gente se encontrou no momento errado… mas aí você aparece de novo e faz tudo parecer certo.

Adrian olhou para ela, o olhar gentil, cheio de um carinho silencioso.

— Eu também pensei isso. Mas quer saber? Talvez a gente precise aprender a viver esses momentos sem pensar no “quando” ou no “e se”. Só… aqui, agora.

Elise respirou fundo, sentindo a brisa úmida tocar seu rosto.

— Você fala bonito.

Ele riu, meio sem graça.

— É você que me faz falar assim. Nem sei de onde vem.

Os dois riram, como se o mundo todo tivesse sumido, e só restasse aquele coreto, aquele cheiro de chuva e os corações descompassados.

Por um instante, Adrian hesitou, olhando para os olhos dela.

— Posso…? — ele perguntou, num tom quase sussurrado.

Elise sabia o que ele queria dizer. E antes que a coragem dele vacilasse, ela assentiu, fechando os olhos devagar.

Adrian se aproximou e depositou um beijo leve na testa dela. Um toque simples, mas carregado de cuidado, respeito e uma ternura quase antiga, dessas que não se encontram fácil por aí.

Elise abriu os olhos, sorrindo.

— Obrigada por existir, Adrian.

Ele tocou a ponta do nariz dela, brincando.

— Não tem de quê. Eu vim só pra bagunçar seu mundo um pouquinho.

Os dois riram mais uma vez, e então ficaram só olhando a cidade adormecer sob a chuva.

Quando finalmente se despediram, Elise sentiu que, mesmo em silêncio, havia mil promessas ali. Pequenas juras de estar por perto, de cuidar um do outro e de construir alguma coisa bonita, mesmo sem saber direito o nome disso ainda.

Naquela noite, antes de dormir, ela ficou olhando o celular, lembrando do convite para o festival de lanternas.

“Amanhã… vai ser só a gente.”

O coração dela se apertou — mas dessa vez, de um jeito bom.