Caros leitores ja os apresentei ele separadamente mas os juntei kk
Agora vcs vão saber como as amizades cresceram
O trono o esperava. Mas Erian queria correr.
O salão do castelo, com suas tapeçarias douradas e brasões antigos, sufocava mais que qualquer cela. Ele sentia o peso de séculos de tradição sobre os ombros — coroas, alianças, guerras e promessas feitas com sangue. Tudo isso... para alguém como ele. Alguém que jamais deveria ter nascido.
Ajeitou a capa azul-escura sobre os ombros, cobrindo o colarinho alto que arranhava seu pescoço. Os criados se curvavam conforme ele passava, como se não percebessem a tensão em seus passos, ou o tremor contido em suas mãos. "O príncipe está nervoso com a cerimônia", murmuravam. Mas não era a cerimônia.
Era ele mesmo.
Um espelho alto no fim do corredor refletia a imagem de um jovem aparentemente comum. Cabelos escuros, olhos firmes, postura real. Mas o que o espelho não mostrava era a verdade: a pele que esquentava demais quando ficava com raiva. As escamas que, às vezes, surgiam como queimaduras nos braços. Ou a sensação de que dentro de seu peito, algo velho e indomável batia as asas.
Erian era um híbrido. Filho de uma humana e de um dragão. Algo que, para o reino, era uma lenda proibida. E, se descobrissem, ele não seria coroado. Seria caçado.
---
Naquela noite, enquanto os nobres se reuniam para mais um banquete, ele escorregou para fora pelas passagens secretas do castelo. Os túneis cheiravam a pedra molhada e lembranças antigas. Seu coração batia alto demais. Quase tão alto quanto o som que agora ouvia no fundo da mente.
Vem.
Desperta.
É hora.
A voz parecia feita de vento e fogo ao mesmo tempo. Não era humana. E também não era hostil. Erian conhecia aquele sussurro desde criança. Era a pedra. Ou algo nela.
---
Ele chegou à clareira escondida no meio da floresta, onde a relva se curvava em círculos perfeitos e as árvores silvavam como se respirassem. O luar tocava o centro do campo e ali, no meio, repousava um altar de pedra negra.
A joia estava ali.
Pequena, irregular, de um vermelho profundo. Pulsava como um coração.
Erian se aproximou. Esticou a mão. E quando os dedos tocaram a superfície fria, sentiu a vida correr por dentro dele como lava viva. Imagens explodiram na mente — fogo, guerra, um trono de ossos, o rugido de uma criatura ancestral. Ele caiu de joelhos, ofegando. A pedra havia o escolhido. O sangue não podia mais ser negado.
"Não", sussurrou. "Eu não quero isso."
Mas a escolha já estava feita. E se ficasse... colocaria todos em risco. Seus poderes cresceriam, e o disfarce não aguentaria por muito mais tempo.
---
De madrugada, ele empacotou uma mochila com o essencial — mantimentos, mapas, o colar de sua mãe. E a pedra. A cada passo pelo corredor escuro, olhava para trás uma última vez. Para o castelo, para o lar, para tudo que jamais teria.
No pátio silencioso, um velho amigo apareceu.
— Vai fugir mesmo? — era o Capitão Dorel, um homem de barba cinza e olhos cansados.
— Não estou fugindo — Erian respondeu. — Estou evitando uma guerra.
Dorel assentiu devagar, como quem entendia mais do que dizia.
— Vá, então. Mas lembre-se... o fogo pode queimar, mas também pode guiar no escuro.
Erian não respondeu. Apenas apertou a capa sobre os ombros, passou pelos portões e desapareceu na noite.
---
A pedra pulsava no bolso, quente como um segredo que precisava ser guardado. Mas o mundo não dormia. E na escuridão da floresta, olhos antigos o observavam.
O herdeiro havia saído.
E o destino já estava acordado.
A elfa continuava parada à beira da clareira, os olhos prateados fixos nele.
— "Você não sabe o que carrega, Erian. A pedra te acordou... mas o que está dentro de você... sempre esteve ali. Dormindo. Escondido."
O príncipe respirava com dificuldade. O ar parecia mais denso, mais quente. A pedra queimava no bolso como se tentasse atravessar o tecido. Sua pele formigava. O coração batia forte demais.
— "Eu não quero me transformar", disse, quase implorando.
— "Não é uma escolha."
A dor veio como um trovão por dentro. O mundo girou. Erian caiu de joelhos, as mãos cravadas na terra úmida. Sentiu os ossos estalarem. A pele tremer. As veias brilharem em vermelho profundo.
A mulher deu um passo atrás, solene.
O grito que saiu da garganta dele não era humano.
---
As costas de Erian se curvaram como se o próprio corpo estivesse tentando se libertar de algo — e estava. A primeira coisa a surgir foram as asas. Longas, negras com nuances douradas, rasgando a capa e as roupas como se fossem papel. Seguiram-se os braços, que se alongaram, cobertos por escamas brilhantes como obsidiana. As unhas se tornaram garras. Os olhos, chamas líquidas.
Em menos de um minuto, onde antes havia um jovem príncipe, agora estava uma criatura magnífica — e aterradora.
Seis metros de altura, corpo alongado, escamas negras que refletiam a luz da lua com um brilho quase metálico. As asas pareciam feitas de sombra e fogo, e o pescoço, arqueado com elegância feroz, terminava em uma cabeça de traços quase felinos, com chifres que se curvavam para trás como lâminas.
Os olhos... eram os mesmos. Olhos humanos presos em um rosto ancestral.
Ele rugiu, e as árvores ao redor se curvaram como se reverenciassem uma força antiga.
Mas mesmo naquele estado... havia medo. Erian lutava contra si mesmo por dentro, tentando não perder a consciência, tentando não machucar a mulher à sua frente.
Ela não se moveu.
— "Magnífico", sussurrou.
O dragão respirava fundo, soltando pequenas labaredas pelas narinas. A floresta parecia prender o fôlego. Pássaros noturnos silenciaram. O próprio vento hesitava.
Então... ele deu um passo para trás. Outro. E caiu de joelhos outra vez — mas agora, joelhos de um humano.
A transformação regrediu com violência. O corpo tremeu, as asas desapareceram num redemoinho de brasas. As escamas cederam lugar à pele. A respiração de Erian era entrecortada, e suor cobria sua testa.
— "Isso... isso é o que eu sou?"
— "Não", respondeu a elfa. "Isso é parte de quem você é. A pergunta é... o que vai fazer com isso?"
Erian encarou o chão.
Ele ainda tremia.
Mas, pela primeira vez, sentia que o medo não era maior que o fogo.
Vou lhes mostrar o fogo dos dois