— Eu juro... que se uma aranha gigante pular em mim de novo, eu volto pro castelo e deixo o reino explodir!
A voz ecoava entre as árvores, acompanhada do som de passos tropeçados e galhos quebrados. Um garoto ruivo, magro e de expressão entre o pânico e a teimosia, emergia da mata como uma confusão ambulante. Capa enroscada em galhos, um cantil pendurado balançando em seu cinto e uma espada pequena — claramente mais decorativa do que prática — arrastando atrás de si.
— Por que, dos deuses, eu deixei vocês me convencerem disso? — ele resmungava. — 'Vai ser divertido, disseram'. 'É só uma floresta, disseram'. Bah!
Ele parou de repente, ofegante, e puxou um pedaço de pão seco do bolso. Deu uma mordida, fez careta, e jogou fora.
— Isso já nem é pão... isso é uma arma do mal.
E então ele ouviu passos. Não seus próprios, dessa vez.
Congelou.
— Erian? Erit? Por favor, me diz que é vocês... e não um urso. Ou um espírito da floresta. Ou uma daquelas vacas demoníacas do Norte...
— Vocês ouviram isso? — a voz de Erit veio entre as sombras.
— Infelizmente — respondeu Erian, aparecendo ao lado dela com um sorriso contido.
O ruivo arregalou os olhos.
— Graças aos céus! — e desabou no chão como se tivesse acabado de cruzar um deserto. — Achei que tinha virado comida de fada.
Erit arqueou a sobrancelha.
— Você deixou um rastro de pão até aqui?
— Eu precisava me localizar! E... talvez fazer amizade com alguma criatura que gostasse de glúten?
Erian estendeu a mão, rindo.
— Que bom te ver, Alaric.
Alaric — esse era o nome dele — levantou-se num pulo, agora com dignidade recuperada (ou algo parecido).
— Claro que tá bom me ver. Eu sou a alma da equipe! — disse, abrindo os braços com orgulho, antes de tropeçar em uma raiz.
Erit cruzou os braços.
— A alma desastrada, talvez.
— Ei! Eu tenho talentos! — retrucou ele. — Sei cozinhar, faço piadas sob pressão, e sou excelente em fugir de situações mortais.
Erian sorriu.
— Vai precisar de tudo isso, então. A pedra chamou... e a jornada já começou.
Alaric engoliu em seco.
— ...Vocês têm certeza de que a pedra não chamou outra pessoa, não?
Erit e Erian começaram a andar, deixando o ruivo correndo atrás, ainda reclamando.
— Ninguém respeita meu pânico saudável...
E assim, com risos e passos tortos, mais um elo do grupo se formava. E ainda faltava o mais estranho de todos.
Mas essa, leitor... é a próxima sombra.
Enquanto caminhavam pela trilha meio aberta, Erian não conseguia evitar um sorriso. Era impossível estar ao lado de Alaric por muito tempo e manter o semblante sério. Mesmo exausto, mesmo depois da transformação que quase o consumira por completo, havia algo reconfortante em ouvir a voz esganiçada do amigo reclamando da vida como se fosse o maior dos heróis.
— Você ao menos trouxe o mapa? — perguntou Erit, olhando por cima do ombro.
— Trouxe, claro! — Alaric respondeu, inflando o peito — Quer dizer... mais ou menos. Ele ficou um pouquinho molhado quando eu tentei atravessar um riacho. Mas ainda dá pra ver uns traços. Eu acho. Talvez.
Erian bufou.
— Por que você atravessou um riacho com o mapa na mão?
— Porque eu achei que era um atalho! — defendeu-se o ruivo. — E eu estava sendo perseguido!
— Por quem?
— Um esquilo. Mas tinha cara de quem planejava algo sombrio, ok?
Erit revirou os olhos e continuou andando.
O grupo parou brevemente em uma pedra coberta de musgo. Erian se sentou, observando os últimos raios do sol atravessarem as folhas. Por um instante, o silêncio caiu entre eles, mais confortável do que tenso.
— Vocês perceberam que... isso é real? — Alaric disse de repente, num tom mais baixo. — Tipo, de verdade real. Fuga, magia, pedra mágica, transformação de dragão. Isso não é mais um jogo.
Erit encarou o horizonte por um momento.
— Nunca foi.
Erian não respondeu. Apenas tirou a pedra do bolso, sentindo-a pulsar entre os dedos. Ainda quente. Ainda viva. Um lembrete constante do que estava por vir.
Alaric a encarou também.
— Sabe... eu reclamei muito. Mas... acho que prefiro estar aqui com vocês do que ficar no castelo esperando o mundo acabar.
Erian sorriu de lado.
— A gente também prefere que você esteja aqui. Mesmo com suas piadas ruins.
— São excelentes piadas — respondeu Alaric com fingida ofensa, colocando a mão no peito. — Vocês só não têm gosto refinado.
Eles riram juntos, o som ecoando entre as árvores.
E enquanto o riso deles se dissipava no ar da floresta, algo mais profundo se firmava: aquela jornada não seria enfrentada sozinha.
A chama havia despertado.
Mas era a união que manteria o fogo aceso.
O grupo seguiu entre árvores retorcidas e raízes traiçoeiras, iluminados apenas pela luz prateada da lua. Erit ia à frente, ágil e silenciosa como a própria floresta. Erian vinha logo atrás, atento a cada som, enquanto Alaric... bem, Alaric tentava não tropeçar em tudo.
— Erit — sussurrou ele, tentando não ser muito alto —, você tem certeza de que sabe pra onde está indo?
— Absoluta — ela respondeu, sem parar. — Se estivesse prestando atenção, teria notado que estamos seguindo as marcas nas árvores.
Alaric olhou ao redor.
— Que marcas?
— As que eu fiz. — Erit parou, apontou discretamente para uma casca riscada com símbolos élficos e revirou os olhos. — Você realmente não vê nada?
— Eu estava ocupado lidando com o esquilo demoníaco, lembra?
Erian riu, apoiando a mão no ombro do amigo.
— Pelo menos sua coragem não atrapalha sua visão. Só o contrário.
Alaric fez uma expressão dramática.
— Vou fingir que isso foi um elogio, porque estou cansado demais pra argumentar.
Eles se aproximaram de uma clareira menor, onde a relva era baixa e o ar mais fresco. Erit se agachou, analisando o solo.
— Podemos acampar aqui — disse. — A área é segura. Nenhum rastro recente de predadores. E há um pequeno riacho logo adiante.
— Riacho? — Alaric ergueu as sobrancelhas. — Porque toda vez que um riacho aparece na história, algo tenta me matar?
— Isso é paranoia — disse Erian, já abrindo a mochila. — Mas compreensível, vindo de você.
— Eu chamo de instinto de sobrevivência! — Alaric se sentou numa pedra e começou a tirar os sapatos. — Vocês sabiam que um cogumelo tentou me seguir ontem à noite?
Erit soltou um risinho contido.
— Você tropeçou nele, Alaric.
— E ele ficou me olhando estranho!
Enquanto montavam um pequeno acampamento, com uma fogueira discreta e mantas sobre o chão, Erian observou os dois por um momento. Erit, tão precisa e calma, organizava tudo com a naturalidade de quem já estivera em florestas assim centenas de vezes. Alaric, mesmo atrapalhado, fazia o possível para ajudar — e rir. Sempre rir.
O príncipe suspirou. Mesmo com todos os perigos, havia algo certo ali. Uma parte dele — a que sempre se sentira só no castelo — começava a se aquietar.
— Obrigado — ele disse de repente, baixo, quase sem perceber.
Erit o olhou de lado. Alaric parou de assoprar a fogueira, surpreso.
— Pelo quê? — perguntou ele.
— Por estarem aqui.
Houve um instante de silêncio.
Então Alaric deu um sorriso torto.
— Ah, claro. Nós te seguimos por floresta sombria, enfrentamos monstros e passamos fome... porque somos burros apaixonados pela aventura.
Erit, sem olhar, respondeu:
— Fala por você.
Erian soltou uma risada curta e verdadeira.
A fogueira acendeu, lançando sombras dançantes ao redor. E enquanto o calor do fogo os envolvia, mesmo sem dizer nada... sabiam que estavam juntos nisso. Até o fim.
Agora a aparição de nyra.