A floresta estava diferente naquela noite.
O vento parou de soprar. As folhas, suspensas no ar, pareciam hesitar em cair. E por um instante, até o som dos próprios passos foi engolido por um silêncio profundo — não o silêncio da ausência, mas o silêncio de algo que espera.
Erian sentiu primeiro. Um arrepio na espinha. Erit parou logo atrás, os olhos em alerta. E Alaric... bem, ele caiu de cara num tronco caído antes de conseguir dizer qualquer coisa.
— O que... foi isso? — murmurou Erit.
— Não sei. Mas tá chamando — respondeu Erian, a voz baixa como o sussurro de um rio escondido.
Chamas suaves acenderam nos dedos de Erit, iluminando o caminho com tons alaranjados. E então viram: um círculo de pedras antigas, cobertas por musgos e símbolos esquecidos. Ao centro, uma árvore morta. E presa a ela... uma figura.
Não dormia. Não chorava. Apenas flutuava, como se presa entre o tempo e o espaço. Os cabelos, longos e escuros como a própria noite, dançavam em uma brisa que não vinha de lugar algum. Seus olhos estavam fechados, mas parecia ouvir tudo.
— Uma feérica... — sussurrou Erit.
— Não... é mais do que isso — disse Erian, dando um passo à frente. — Ela está... acorrentada à própria sombra.
Alaric ficou boquiaberto.
— Tá, mas ninguém vai comentar o fato de que ela parece uma pintura viva? Tipo... do tipo que te encara quando você vira as costas?
A árvore pulsou. Uma voz antiga ressoou entre as folhas, sem som, sem forma.
"Ela espera..."
Erian estendeu a mão. A pedra de Sareth pulsou em resposta.
Um clarão.
Um grito — ou seria um canto?
As correntes negras se quebraram em estalos secos, como se a própria floresta soltasse um suspiro aliviado. A garota caiu... mas antes de tocar o chão, pairou por um instante, como uma pena. Erit a segurou.
Os olhos da feérica se abriram, devagar. Um brilho púrpura, profundo. Misterioso. Triste. E bondoso.
— Vocês me ouviram — ela disse, com a voz que parecia feita de vento e melodia. — Mesmo quando ninguém mais escutava.
Erian se aproximou.
— Quem é você?
Ela olhou para o céu, depois para os três. Um sorriso tênue dançou em seus lábios.
— Me chamam de Nyra. Mas há muito tempo não sou nada... apenas sombra.
— Agora não mais — disse Erit, firme. — Agora você tem uma chance. E nós também.
Alaric cutucou Erian.
— Isso quer dizer que temos uma elfa do fogo, um dragão disfarçado, um futuro herói atrapalhado e uma sombra que fala com os pensamentos?
— Sim — respondeu Erian, sem tirar os olhos de Nyra. — E juntos... talvez tenhamos uma chance de mudar o mundo.
As sombras recuaram. E quatro figuras caminharam pela floresta adormecida, como um fio de esperança costurando o destino do reino.
A floresta parecia respirar novamente, embora de forma contida, cautelosa. Como se temesse quebrar a quietude que se instalara após a libertação. A árvore antiga permanecia ali, vazia agora, mas ainda imponente — um altar de um tempo esquecido.
Erit ajudou Nyra a se sentar sobre uma raiz coberta de musgo. A feérica parecia leve demais, como se parte dela ainda não tivesse voltado inteiramente ao corpo.
— Há quanto tempo você estava presa? — Erit perguntou, sua voz baixa, mas firme.
Nyra fechou os olhos, sentindo a terra sob si, como se tentasse lembrar o que era estar viva.
— O tempo... não corre da mesma forma quando se é sombra — respondeu. — Sonhei com o mundo desabando e renascendo. Sonhei com fogo e pedra... e com vocês.
Erian se ajoelhou diante dela, ainda segurando a pedra de Sareth em punho. A luz azulada que antes pulsava intensamente agora era calma. Quase... respeitosa.
— Foi ela que me chamou, não foi? — ele perguntou. — A pedra me trouxe até aqui... para libertar você.
Nyra assentiu lentamente.
— Ela reconhece o que arde no escuro... e o que tenta escapar dele.
Alaric se aproximou com hesitação, coçando a nuca.
— Eu não quero parecer insensível, mas... ela vai, tipo, desmaiar? Explodir? Ou começar a recitar profecias com voz assustadora?
Nyra virou-se para ele, e algo suave — quase um riso — passou por seus lábios.
— Não hoje, humano de coração apressado.
Alaric piscou.
— Humano de coração apressado? Tá aí um elogio estranho. Mas vou aceitar.
Erit olhou para Erian, e ele entendeu sem que palavras fossem ditas. Havia algo mais em Nyra. Algo antigo e poderoso. E quebrado. Mas não perdido.
— Vamos levá-la com a gente — disse o príncipe.
— E se ela for perigosa? — questionou Alaric, embora sua voz não soasse tão convencida disso.
— Então ela será perigosa com a gente, e não sozinha — Erit respondeu, firme.
Nyra os observava. Como se já conhecesse cada um. Como se estivesse, enfim, onde deveria estar.
— Eu não lembro como é confiar — ela murmurou. — Mas quero tentar.
Erian ofereceu a mão. Erit fez o mesmo. Depois de um segundo de dúvida, até Alaric estendeu a dele.
Nyra olhou para as três mãos estendidas. Depois pousou a própria sobre as de Erian e Erit. Por fim, com um sorriso pequeno — mas real —, segurou também a de Alaric.
Por um instante, nada aconteceu.
Depois, as sombras da floresta se moveram para longe, como se abrissem caminho.
E os quatro caminharam, juntos.
A noite continuava, mas algo havia mudado.
Agora havia um grupo.
Agora havia esperança.
Depois da gota de esperança eles continuam a se conhecer e afirmam os laços de amizade
Três espécies um sonho,e uma chance de mudar tudo