A Provação de Erian
A caverna era escura como as entranhas de uma fera adormecida. Erian caminhava sozinho, os passos ecoando em ecos abafados. O chão pulsava calor sob seus pés, como se o próprio coração da terra batesse ali.
Uma figura surgiu diante dele: não um inimigo, mas ele mesmo — ou melhor, uma versão dele com escamas reluzentes, olhos reptilianos e asas de fogo. Um reflexo do que ele poderia ser... ou do que ele temia se tornar.
— Você não pode esconder o que é — sussurrou a criatura, com a voz de Erian, mas distorcida como fumaça em brasa. — É por isso que tem medo. Não quer ser rei. Não quer ser monstro.
Erian hesitou. As chamas cresceram ao redor. A criatura o atacou. Não com garras, mas com memórias — lembranças de olhares de medo, do pai ocultando seu sangue, da própria mãe chorando em silêncio.
Mas Erian resistiu. Não com força, mas com aceitação. Ele estendeu a mão para o reflexo, e quando o tocou, ele se desfez em cinzas. O fogo cessou.
Uma voz sussurrou na pedra da caverna:
— Aqueles que enfrentam a verdade, se tornam dignos de liderar
A Provação de Erit
A sala da guerreira elfa era feita de pedra viva e fogo antigo. Quando as chamas se ergueram ao redor, como serpentes famintas, Erit não recuou. O calor não a assustava — ele a compreendia.
Uma voz ecoou nas paredes de brasas:
"Você carrega o fogo, mas será que ele carrega você?"
Então a cena mudou.
Ela estava de volta à clareira da infância, onde seu pai, o General Therion, treinava soldados élficos com punhos de aço e palavras duras. Erit, pequena e decidida, segurava a espada com mãos trêmulas. "Você não está pronta", ele dissera uma vez. "Você nunca será como eles."
E ali, no centro da provação, ele surgiu. Ou pelo menos, a ilusão dele. Frio, implacável. Um oponente criado pela magia para testar seu coração.
Erit avançou.
A luta não era corpo contra corpo — era espírito contra sombra. Cada golpe lembrava um julgamento. Cada bloqueio, um grito preso na garganta. Mas ela não lutava mais para provar algo a ele.
Lutava por quem havia se tornado.
No final, quando a figura caiu e se dissipou em fumaça, o fogo ao redor não queimou. Acolheu.
A voz retornou, mais suave agora:
"Você domina as chamas, Erit. Mas o que a torna forte... é saber quando usá-las."
Ela saiu da sala mais silenciosa do que nunca. Mas nos olhos, havia brasas vivas.
A Provação de Théo
Théo tentou sorrir quando a porta de pedra se fechou atrás dele, mas o som ecoante do mecanismo soou mais como uma sentença. A sala estava mergulhada em névoa espessa, e a única luz vinha de uma pequena tocha no centro. Ele se aproximou com passos hesitantes.
"Você teme a tudo... mas teme a si mesmo acima de tudo."
A voz era sussurrada, como o vento que arrasta segredos. Então a névoa se transformou.
Théo estava de volta à caverna onde quase se afogara na infância. A água subia lentamente, gélida como o medo que ele sempre carregou. Mas agora, ele não era uma criança. E não estava sozinho.
À sua frente, uma sombra — igual a ele em aparência, mas com olhos vazios e expressão cruel — segurava uma versão mais jovem de Théo, tremendo e desesperado.
"Você sempre correu, Théo. E se hoje você não conseguir salvar a si mesmo?"
As pernas dele fraquejaram. O impulso era fugir, como sempre. Mas então lembrou-se de Erian, de Erit, de Nyra. E do que significava estar com eles.
Théo correu.
Não do medo, mas através dele.
Mergulhou nas águas ilusórias, enfrentou a sombra com o coração disparado. Cada soco era um 'não' ao passado. Cada passo, um grito por coragem. Até que o reflexo escuro se partiu como vidro, e a criança assustada desapareceu.
A voz final murmurou:
"Coragem não é ausência de medo. É escolher avançar apesar dele."
Quando Théo saiu, estava encharcado de suor, tremendo — mas em pé. Pela primeira vez, inteiro.
A Provação de Nyra
Quando Nyra entrou, o mundo pareceu silenciar. A câmara era escura, sem paredes, sem chão, sem céu — apenas um vazio absoluto, onde nem suas sombras podiam existir. Um lugar onde nem mesmo os pensamentos pareciam seus.
"Você lê as mentes dos outros, mas foge da sua."
A voz ecoou dentro dela, suave e cortante como uma lâmina em seda. De repente, memórias — não, visões — começaram a surgir ao seu redor: imagens de quando foi capturada, os sussurros daqueles que a chamavam de aberração, os gritos em sua mente quando a maldição a fez esquecer quem era.
Nyra caiu de joelhos. O vazio parecia tentar arrancar dela até a última lembrança. Mas então uma luz tênue brilhou no peito dela. Uma lembrança — uma mão estendida. A de Erian, na noite em que a libertaram. Erit e Théo ao lado. Pela primeira vez em séculos, alguém a via... e não temia.
"Você não precisa ser definida pelo que tiraram de você. Escolha quem deseja ser."
Nyra se levantou. E pela primeira vez, usou seu poder não para ouvir — mas para silenciar.
Ela criou uma barreira mental ao seu redor, firme como muralhas antigas. As vozes cessaram. O vazio não era mais prisão, mas escolha. E ao aceitar suas dores, ela recuperou o controle.
Uma rosa feita de sombra e luz floriu em sua mão. E com ela, ela atravessou a escuridão.
Quando a porta se abriu, Nyra tinha lágrimas nos olhos — mas sorria. Um sorriso sereno, forte. Ela não era mais a maldição. Era a promessa.
O que será que pode acontecer com nossos personagens
Vermos
Depois das Provações
O céu estava pintado de um laranja profundo quando Erian emergiu da caverna. Seu manto estava enegrecido nas bordas, e as mãos ainda tremiam discretamente. Ashira se enrolou ao redor de seus ombros assim que o viu, como quem reconhece a alma que voltou transformada.
Ele respirou fundo. O ar dali parecia diferente — mais denso, mais carregado de significado. Como se o mundo soubesse o que acontecera lá dentro.
Logo em seguida, Erit surgiu. Sua armadura estava coberta de fuligem, os cabelos soltos e grudados na testa suada. Seus olhos, no entanto, queimavam mais vivos do que nunca.
Ela não disse nada a princípio, apenas parou diante de Erian e o encarou. Ambos se entenderam em silêncio. Tinham enfrentado seus próprios infernos — e sobrevivido.
Théo veio depois, cambaleando, com os joelhos arranhados e as roupas molhadas como se tivesse saído de uma tempestade. Mas havia firmeza em seus passos, uma postura que Erian nunca tinha visto nele antes.
— Eu achei que ia morrer, — Théo disse com um sorriso cansado, — e depois percebi que... bom, isso é meio normal quando se é amigo de vocês.
Erit bufou uma risada abafada.
— Bem-vindo ao clube.
Por fim, a porta da última câmara se abriu. Todos viraram ao mesmo tempo, e por um instante, o mundo pareceu prender a respiração.
Nyra caminhava lentamente. Os pés descalços não faziam som contra a pedra. Os olhos brilhavam como dois fragmentos de luar. Ela segurava em mãos uma flor escura feita de sombra e brilho — e no rosto, havia um sorriso calmo, quase etéreo.
— Nyra... — sussurrou Théo.
Ela parou diante deles e estendeu a flor para Erian.
— Isto nasceu do que enfrentei. É minha lembrança. Meu símbolo.
Erian a aceitou com ambas as mãos, como se fosse feita de vidro. Depois, olhou para cada um deles.
— Não somos os mesmos de antes. Cada um de nós enfrentou o que ninguém mais poderia ver. E vencemos.
Erit cruzou os braços.
— Isso foi só o começo. Mas... eu admito. Estou orgulhosa de nós.
Théo se sentou em uma pedra e soltou um suspiro dramático.
— Se alguém puder me lembrar por que estamos fazendo isso mesmo... Porque tô entre "salvar o mundo" e "voltar pra casa e abrir uma padaria".
— Estamos fazendo isso porque precisamos, — disse Nyra, sentando-se ao lado dele. — E porque ninguém mais pode.
O grupo se recolheu naquela noite aos pés das montanhas que abrigaram as provações. As estrelas estavam mais nítidas do que nunca. Um silêncio respeitoso pairava entre eles — não por falta de palavras, mas porque agora compreendiam algo profundo demais para ser dito.
Ashira se deitou ao lado de Erian, protegendo o grupo com sua presença vigilante.
Erian olhou para o céu.
— A pedra nos trouxe aqui para provar nosso valor. Mas acho que... o que conquistamos vai além disso.
Nyra assentiu.
— Agora, somos verdadeiramente um só.
E naquele momento, mesmo envoltos por sombras e incertezas, havia algo inquebrável entre eles. Um elo forjado no fogo, no medo, na dor — e na escolha de não desistir.