a prova continuação

O primeiro a sair da provação foi Théo. Suas pernas ainda tremiam, o rosto pálido e os olhos marejados. Mas havia algo diferente nele — uma firmeza recém-descoberta, como quem enfrentou a própria morte e saiu vivo. Carregava em uma das mãos o pequeno amuleto em forma de estrela que a ilusão lhe dera. O segurava apertado, como se fosse o coração de uma promessa.

Logo depois, Erit surgiu das chamas. A armadura suja de fuligem, os cabelos mais bagunçados do que o normal, e uma cicatriz nova no ombro. Mas seus olhos ardiam. Não de dor — de decisão. O fogo em si parecia mais calmo, menos selvagem. Mais parte dela do que jamais fora.

Erian chegou pouco depois, calado, ofegante. Caminhava como alguém que havia deixado algo para trás. Seus olhos se encontraram com os de Erit, e não foi preciso dizer nada — ela sabia. Ele havia aceitado o que era.

Por fim, Nyra. Silenciosa, como sempre. Mas com uma presença tão marcante que por um instante o grupo parou. Sua sombra não mais tremia ao redor do corpo. Estava firme. Equilibrada. Ela caminhou até eles e, pela primeira vez, falou antes de ser perguntada.

— Eu sou livre.

O silêncio que se seguiu não era vazio. Era reverência.

Erian foi o primeiro a quebrá-lo com um sorriso tímido.

— Parece que todos nós voltamos... diferentes.

Théo deu uma risada nervosa.

— Vocês dizem "diferentes". Eu digo "traumatizados".

Erit deu-lhe um leve tapa no ombro, mas riu também. Nyra apenas cruzou os braços, mas um pequeno sorriso se desenhou em seus lábios.

Eles se sentaram juntos, sob uma árvore que não estava ali antes. Um presente do templo, talvez — ou um símbolo de renascimento. Os pássaros cantavam ao longe, e pela primeira vez em dias, havia calma.

— Eu vi meu pai — disse Théo, após um tempo. — Ou... o que eu achava que ele queria de mim. Nunca ser fraco. Nunca hesitar. Mas acho que agora eu entendi. Ele não queria que eu fosse sem medo. Queria que eu fosse capaz de agir mesmo com ele.

Erit apoiou a espada sobre os joelhos.

— Eu vi as chamas me engolirem. E pela primeira vez, eu não lutei contra elas. Eu abracei o que sou. A guerreira e a garota que um dia teve medo de queimar tudo ao redor. Agora... eu controlo o fogo. Ele não me controla.

Erian olhou para o céu, onde uma nuvem lembrava as asas de um dragão.

— Eu vi... eu mesmo. Minha forma verdadeira. E conversei com ela. Com ele. Sei lá. Foi estranho. Mas no fim... aceitei. Eu sou o herdeiro. Meio humano, meio dragão. Todo coração. E isso basta.

Nyra apenas fechou os olhos.

— Eu não fui forjada pelo medo. Fui moldada pela dor. Mas agora, eu escolho o que me define.

Eles se entreolharam. E pela primeira vez desde que partiram, sentiram-se verdadeiramente um grupo. Um elo entre almas quebradas que se escolheram mesmo assim.

De repente, uma luz brilhou no céu. Um feixe dourado que caiu sobre a pedra do centro do templo — a Pedra de Sareth. Mas algo havia mudado. Ela não apenas brilhava — pulsava. Como um coração chamando.

— A pedra nos aceitou — murmurou Erian.

— Não só você? — perguntou Théo, arregalando os olhos.

— Não — respondeu Erit. — Todos nós. Ela não escolhe só sangue real. Ela escolhe corações verdadeiros.

O templo começou a tremer, mas não de destruição. Era como se estivesse... despertando. Colunas antes ocultas surgiam do chão, runas brilhavam nas paredes. O caminho à frente se revelava.

— Acho que essa é a parte onde a aventura de verdade começa — disse Théo, tentando sorrir.

Nyra o encarou.

— Isso foi só o prólogo.

Erian se ergueu. Colocou a mão sobre a pedra, que brilhou uma última vez. Depois, a luz desapareceu — e no centro dela, surgiu um mapa. Não em papel, mas flutuando em magia. Ele mostrava terras distantes, selos antigos, perigos não nomeados.

— O mapa da Profecia — murmurou Erian. — Agora sabemos onde devemos ir.

Erit levantou com ele. Nyra ao seu lado. Théo, ainda hesitante, mas mais firme, os seguiu.

E assim, juntos, deixaram o templo — não mais como quatro jovens à procura de um artefato. Mas como a esperança silenciosa de um mundo à beira do caos.

A aventura, enfim, começava.

Agora ele vão estar entre coisa que nunca viram

Capítulo Seguinte – Entre Nuvens e Ecos

O caminho deixado pelo templo os levou por uma trilha antiga, oculta entre árvores douradas e rochas cobertas de musgo que pareciam sussurrar nomes esquecidos. Cada passo longe da câmara das provações era um passo em direção ao desconhecido — mas também àquilo que os unia.

Théo andava com o mapa flutuante à frente, olhando de tempos em tempos para a direção que a luz indicava. Ainda tropeçava em raízes invisíveis, ainda bufava de nervoso, mas havia em seus olhos uma nova centelha — de alguém que já não queria apenas fugir.

Nyra caminhava à retaguarda. Seus olhos vasculhavam a floresta com calma, mas por dentro, ela sentia tudo com intensidade ampliada. Agora que havia aprendido a ouvir a si mesma, as vozes dos outros pareciam menos invasivas, mais nítidas. Ela escutava até o silêncio — e encontrava paz nele.

Erit ia à frente com Erian, analisando cada curva do caminho com atenção. Seu ombro ainda doía levemente, lembrança da provação, mas ela se recusava a tratá-lo como fraqueza. O fogo nela continuava firme — não mais em erupção, mas constante como a brasa que aquece um lar.

— Estamos chegando perto — disse Erian, seus olhos fixos em um ponto do horizonte.

Ali, entre nuvens baixas e montanhas quase celestiais, uma vila surgiu suspensa no ar como um sonho. Casas feitas de madeira clara e telhados curvos flutuavam entre plataformas sustentadas por raízes vivas e correntes de vento. Pequenas pontes ligavam os lares, balançando suavemente com a brisa.

A Vila Entre Nuvens.

Ao se aproximarem, um cheiro de flores e poeira encantada os envolveu. Era um lugar que parecia existir entre o tempo e o espaço — onde os passos não soavam, e a luz filtrava-se em mil cores.

— Isso... é real? — Théo sussurrou, segurando o amuleto em forma de estrela com força.

Erian assentiu, os olhos arregalados com reverência.

— Segundo as histórias, este era o lar dos Ventírios — os guardiões dos ventos antigos. Ninguém os vê há séculos.

Mas havia gente ali.

Moradores de olhos brilhantes e vozes suaves. Crianças que flutuavam levemente ao correr, como se o chão não as prendesse. Mulheres com cabelos como brumas. Homens de passos silenciosos e olhares que pareciam ler almas.

Eles não falaram quando o grupo chegou. Apenas os observaram com uma calma profunda, como se já soubessem da chegada dos quatro.

Um ancião surgiu. Seu corpo era curvado como os galhos de uma árvore anciã, e seus olhos eram da cor do céu antes da tempestade.

— Quatro corações. Quatro caminhos fundidos. — Ele sorriu. — A Pedra de Sareth os aceitou... e a Vila também.

Erit deu um passo à frente, firme.

— Estamos buscando o próximo fragmento da Profecia. O mapa nos trouxe até aqui.

O ancião estendeu a mão enrugada e tocou o mapa mágico, que flutuava entre eles. Ao seu toque, ele se transformou por um instante — revelando uma estrela escondida nas nuvens ao norte.

— Há algo adormecido além das montanhas, guardado pelos ventos esquecidos. Mas o caminho não é feito apenas de pedras. — Ele olhou para Théo. — É feito de escolhas.

Théo engoliu em seco.

— Não tem como esse caminho ser... sei lá, mais plano?

O ancião apenas sorriu.

— Não quando se está subindo ao céu.

Eles passaram a noite na vila, recebidos com frutas encantadas, canções de vento e uma hospitalidade silenciosa. Mas mesmo ali, no lugar mais leve do mundo, sabiam: estavam no olho da calmaria antes da tempestade.

Na manhã seguinte, quando partiram com o mapa renovado e o coração pesado de pressentimento, um sopro atravessou os céus — como se o mundo os saudasse... ou os testasse.

E mais uma vez, juntos, eles avançaram.