Capítulo 07 - A biblioteca dos Vauren.

Depois de se acalmar, organizar seus pensamentos e se arrumar, Zai ou melhor, Dário levantou-se decidido a explorar o novo mundo em que reencarnara.

Suas ações haviam sido interrompidas anteriormente pelo homem que dizia ser seu pai. Mas agora que o "chefão" estava fora, ele finalmente se sentia à vontade para visitar os cômodos da mansão e conhecer as pessoas próximas à sua nova identidade.

Mais do que isso, precisava refletir sobre quem poderia tê-lo envenenado.

Dário não era tolo.

Tinha plena consciência de que um crime como aquele não vinha de alguém comum.

Afinal, quem ousaria envenenar um nobre, alguém da poderosa Casa Vauren, precisava ter coragem ou respaldo suficiente para não temer represálias.

Ou essa pessoa era parte de uma força de poder equivalente... ou era um daqueles "filhos favoritos do céu", os prodígios abençoados com talentos monstruosos e proteção divina.

Com os pensamentos em ordem, ele caminhou até a porta e a abriu. Do lado de fora, estavam Minna e Caelenna. Antes que ele dissesse qualquer coisa, Minna adiantou-se com certa hesitação:

— Jo-jovem mestre Dário, bom dia. Deseja jantar?

Dário assentiu, respondendo com um leve sorriso:

— Sim. Ficar trancado tanto tempo nesse quarto me deu fome.

— Como desejar, jovem mestre. Irei preparar o jantar imediatamente.

Minna saiu apressada, mas foi interrompida pela voz calma de Dário:

— Estarei na biblioteca. Chame-me quando estiver pronto.

As palavras dele caíram como uma bomba. Ambas ficaram atordoadas.

Minna, surpresa, parou no meio do caminho e lançou a Dário um olhar como se estivesse diante de um fantasma.

Após um breve momento, se recompôs e seguiu para a cozinha.

Caelenna, embora mais contida, também demonstrou surpresa antes de voltar à sua expressão habitual e silenciosa.

Desde que Dário saíra do quarto, ela o observava com atenção. E ele notou.

Mas aquilo fazia parte de seu plano. Pelas memórias fragmentadas da alma anterior, ele sabia que Caelenna não era uma simples criada.

Minna era sua empregada pessoal e, mesmo assim, era uma guerreira treinada. Então o que dizer de Caelenna, enviada por seu próprio pai para protegê-lo? Era evidente que ela era alguém extremamente perigosa e leal à Casa Vauren.

Ignorando as reações, Dário prosseguiu até a biblioteca.

Não esperava menos do que choque: o antigo Dário era um playboy preguiçoso que evitava qualquer atividade produtiva, e jamais tocara em um livro sem ser obrigado.

Naturalmente, Caelenna o seguiu.

As memórias herdadas estavam repletas de frivolidades: festas, brigas, bebedeiras e escândalos.

Era espantoso como alguém podia desperdiçar tanto tempo com coisas tão banais.

Dário, por outro lado, sempre fora um amante do conhecimento. Na vida anterior, tinha dois hobbies principais: ler e acompanhar notícias.

Usava livros para se educar e se entreter, e as notícias para se manter atualizado e não cometer erros.

Agora, em um mundo completamente novo, ele precisava de conhecimento mais do que nunca.

Civilizações, sistemas, religiões, estruturas políticas e, especialmente, os tais "reinos" e a "energia" que permeava tudo... entender esses conceitos era essencial. Como diziam os antigos sábios: conhecimento é poder.

Ansioso, ele apressou o passo. Talvez por curiosidade, talvez por desejo de adaptação, seus pés o levaram com velocidade.

A mansão era vasta, embora surpreendentemente com poucos empregados. Ainda assim, ele não subestimaria ninguém ali se até as criadas eram guerreiras, os outros deviam ser igualmente perigosos.

Após atravessar um jardim interno, deparou-se com um edifício imponente, como uma casa de três ou quatro andares.

Era a biblioteca da família Vauren. Ao entrar, foi tomado pela grandiosidade do lugar: prateleiras que pareciam infinitas, escadarias, mesas robustas de carvalho e o cheiro acolhedor de livros antigos.

Dário sorriu. Um sorriso largo, quase maníaco. Para ele, aquele lugar era um paraíso. Em sua vida anterior, livros de qualidade eram caros, quase inacessíveis.

Bibliotecas públicas só ofereciam materiais escolares ou autoajuda. Aqui, porém, ele estava cercado de conhecimento verdadeiro, raro, talvez até proibido. Sentia-se como um peixe de volta ao oceano.

Rapidamente, lançou-se pelas prateleiras, buscando volumes que respondessem suas dúvidas.

Foi quando ouviu uma voz suave, porém ligeiramente fria:

— Qual livro deseja ler?

Seu corpo enrijeceu por um instante. Ao virar-se, viu uma mulher de meia-idade com uma beleza singular. Seus longos cabelos prateados desciam como cascata, e seus olhos vermelhos vibrantes o encaravam com intensidade. Seu corpo era bem preenchido, de curvas acentuadas, com quadris largos e postura elegante. Por um momento, Dário ficou atordoado mas logo recobrou a compostura.

— Hm. Sim... Estou procurando alguns livros.

— Quais são os temas? ...ela perguntou, já o analisando com um olhar aguçado.

— Sobre o sistema econômico, civilizações e sociedade... a história do nosso império, da família Vauren... e o funcionamento desses chamados " Reinos Marciais". Se houver algo adicional que recomende, também agradeço.

Enquanto ele falava, a bibliotecária desviou o olhar para Caelenna, visivelmente surpresa. Como se perguntasse silenciosamente: "O que aconteceu com ele?" Caelenna respondeu apenas com um leve movimento negativo da cabeça. Ela também não entendia.

De fato, desde que Dário saíra do quarto, vinha se comportando de forma completamente diferente. E o mais impactante: Caelenna havia detectado que ele estava agora no quarto nível do Reino Aprendiz Marcial.

Todos sabiam que o jovem mestre da Casa Vauren nascera com veias espirituais danificadas, incapaz de cultivar energia.

Nem mesmo o Lorde Vauren, com todos os recursos da família, conseguiu curá-lo. Por isso, o consideravam o elo fraco da linhagem até aquele dia.

Contudo, Caelenna não demonstrou suas suspeitas. Ainda não informaria ao lorde. Ela precisava observar mais.

A bibliotecária, retomando a naturalidade, ergueu uma das mãos e usou uma habilidade mágica. Em segundos, centenas de livros flutuaram até eles, formando uma pequena montanha organizada.

Dário agradeceu com um leve aceno e logo mergulhou entre os livros. Ignorou a bibliotecária. Ignorou Caelenna. No momento, o mundo inteiro desapareceu.

Tudo o que existia para ele agora... era o conhecimento.

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