Capítulo 08 - O Primeiro Comando.

Imerso na leitura, Dário se esqueceu do mundo ao redor até mesmo de Caelenna, que permanecia vigilante a poucos metros de distância.

A bibliotecária o observava com incredulidade. Pela sua experiência, esperava que o jovem nobre saísse após folhear um ou dois livros, como já fizera antes.

Não era uma suposição: Dário já havia visitado a biblioteca apenas por capricho, pedindo uma pilha de livros, para depois largá-los desorganizados e ir embora sem sequer abrir metade deles.

Era um garoto mimado, um fardo para os estudiosos do local. Mas agora, aquele mesmo jovem estava completamente absorto, lendo com tanta concentração que parecia outra pessoa.

Dário devorava páginas com uma velocidade surpreendente.

Em menos de uma hora, já havia terminado a leitura de mais de quinze livros. Isso se devia à sua impressionante capacidade de leitura, um talento que trazia da vida passada.

Embora nunca tivesse muito dinheiro para comprar livros com frequência, lia tudo o que conseguia com velocidade espantosa.

Às vezes, bastava olhar por alguns segundos para as páginas e todo o conteúdo se fixava em sua mente com clareza. Sua memória visual era quase fotográfica.

Enquanto se perdia entre textos sobre reinos antigos, sistemas de cultivo, linhagens nobres e estruturas sociais, o tempo passou sem que percebesse.

Já se haviam passado quase duas horas quando Minna chegou discretamente, encontrando Caelenna ainda ao lado do jovem mestre. As duas trocaram olhares silenciosos, surpresas.

Minna chegou já fazia algum tempo e o jantar estava pronto, mas hesitava. Interromper Dário naquela imersão intelectual parecia um sacrilégio ou uma ousadia perigosa.

Finalmente, Dário afastou um dos livros, colocou a mão sobre os olhos por um instante, descansando a visão. Respirou fundo e então olhou em volta, assustado com a presença das duas mulheres ali paradas.

— Vocês estão aí o tempo todo? ...perguntou, surpreso.

Caelenna nada disse, mantendo seu costumeiro silêncio vigilante.

Minna, um pouco trêmula, respondeu:

— Jo-jovem mestre Dário, acabei de chegar... O jantar já está pronto.

— Oh... certo. Vamos então.

Dário se levantou, pegou um dos livros que mais lhe interessara e caminhou até a bibliotecária. Estendeu o volume e perguntou:

— Posso levar este comigo?

A mulher, que ainda encarava a montanha de livros lidos com espanto, hesitou por um segundo antes de assentir.

— Hm... sim, pode. Mas, por favor, tenha cuidado. Os livros são caros e difíceis de restaurar, jovem mestre.

— Sem problemas. Vou cuidar bem dele. Tenha uma boa noite, disse ele, saindo lentamente.

A bibliotecária, Caelenna e Minna acompanharam sua saída com olhares espantados. Era como se tivessem visto um fantasma.

Quando Dário deixou a biblioteca, o sol já havia desaparecido além do horizonte. A tarde morrera sem que ele percebesse.

Agora, com o céu tingido de um azul escuro e os primeiros pontos de luz acesos na propriedade, era provável que fossem quase 19h.

Seu estômago começava a roncar, e sua mente fervilhava com tudo o que havia lido. Precisaria de tempo para organizar aquele mar de informações.

Atravessando o jardim em direção à sala de jantar, Dário parou por um momento. Seus olhos percorreram as flores e plantas que enfeitavam o caminho, espécies desconhecidas para ele. Um jardineiro curvado cuidava delas com zelo. Dário observou em silêncio, refletindo.

"Há tantas coisas que ainda não sei..." pensou.

Seu semblante voltou à neutralidade habitual e ele prosseguiu. Minna e Caelenna, logo atrás, trocavam olhares.

Minna, encantada com o novo comportamento do mestre que sempre admirou, deixava-se levar por devaneios românticos.

Já Caelenna, embora séria, estava claramente intrigada. O jovem mestre estava diferente. Suas palavras, sua postura, até mesmo seu cultivo haviam mudado. Será que algo aconteceu durante os dias em que esteve doente?

Antes que pudesse ponderar mais, os três chegaram à sala de jantar. Minna, eficiente como sempre, moveu a cadeira com delicadeza para que Dário se sentasse. Ele o fez com elegância, como um verdadeiro nobre algo que, felizmente, o antigo Dário sabia fazer bem.

Ao se acomodar, Dário percebeu que havia comida demais. A mesa estava cheia de pratos, como se esperassem dez convidados, mas ele era o único ali para comer.

Todos os demais, os criados e ajudantes estavam de pé ao redor, em silêncio. Minna e Caelenna mantinham-se próximas, mas também em pé.

Aquilo o incomodou. Sentia-se como um rei solitário cercado de súditos famintos.

Após alguns instantes de reflexão, falou:

— Sentem-se e comam comigo.

As palavras causaram um choque visível. Todos ao redor se entreolharam, achando que tinham ouvido errado.

— Sentem e comam. repetiu ele, desta vez em tom firme, frio e elegante.

— É um desperdício de comida e recursos naturais preparar tanto apenas para mim.

Na sala havia oito empregados, além de Minna e Caelenna. Dos oito, cinco eram mulheres e três homens. Depois do comando ser repetido com ênfase, ninguém mais hesitou. Mesmo que fosse uma brincadeira, era uma ordem direta do jovem mestre.

Após todos se sentarem, Dário complementou:

— A partir de hoje, sempre que eu jantar, todos devem sentar-se e comer comigo. Sem exceções.

Em seguida, pegou um pedaço de carne, mastigando devagar, pensativo. Os empregados, embora desconfiados no início, não ousaram negligenciar a ordem. Começaram a comer com cautela e compostura.

Minna, que se sentara ao lado direito de Dário, pegou alguns pratos e, com um sorriso discreto, cortou porções de carne para facilitar a refeição dele.

Era um gesto delicado, cuidadoso. Quando Dário olhou para ela, percebeu algo que ainda não havia notado: a beleza das mulheres ao seu redor.

Até aquele momento, não prestara atenção nisso, imerso na adaptação à nova vida. Mas agora, com um olhar mais tranquilo, analisou as duas.

Minna era uma jovem de cerca de 20 anos. Tinha cabelos castanhos encaracolados e olhos castanhos claros. Seu corpo era volumoso nas medidas certas, com curvas generosas e uma aura tímida, porém alegre. Sua presença trazia conforto.

Caelenna, por outro lado, parecia ter entre 25 e 30 anos. Seus cabelos azuis escuros desciam em ondas discretas, e seus olhos verdes esmeralda guardavam um brilho afiado. Tinha o porte de uma guerreira: corpo esguio, músculos definidos e um ar misterioso que impunha respeito.

Observando ambas por um momento, Dário se lembrou de algo essencial.

"Ainda não testei a habilidade dos Olhos do Vilão Supremo em outras pessoas..."

Virou o rosto sutilmente e focou o olhar em Minna primeiro.

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