Ao sair do campo de treinamento, Dário seguiu para seus aposentos. Sabia que precisava aproveitar ao máximo o tempo antes do retorno de Lorde Theon Vauren, seu suposto pai.
Primeiro, porém, um banho era essencial o treino o deixara suado e com os músculos levemente cansados. Refrescar o corpo era o primeiro passo antes de alimentar a mente.
Já limpo e vestido com roupas leves, Dário dirigiu-se à biblioteca.
Ao adentrar o vasto salão de prateleiras e conhecimento, seus olhos recaíram sobre a figura familiar: Sylveria Nocturne. A bibliotecária, com seus olhos avermelhados e semblante sereno, parecia parte do próprio cenário. Havia algo nela que Dário apreciava talvez fosse sua postura estoica, ou o modo como tratava os livros com respeito quase reverente.
Após um breve cumprimento, Dário dirigiu-se à mesa onde o aguardavam os volumes requisitados.
Livros sobre fluxo de energia, anatomia marcial, registros de cultivadores notórios e fundamentos da Energia Áurea. Ele mergulhou neles com avidez, devorando cada página com atenção meticulosa.
Horas depois, Minna se aproximou com uma bandeja. Seus passos eram suaves, quase inaudíveis.
— Jo-jovem mestre... disse ela, com a voz hesitante.
— Trouxe alguns lanches para complementar sua leitura.
Dário ergueu os olhos e sorriu de leve. Minna era sempre atenciosa, mesmo com sua timidez evidente.
Havia nela um tipo de encanto singelo não o tipo de beleza gritante, mas aquela que inspirava proteção.
— Obrigado, Minna disse ele.
— Em que Reino você está agora?
A pergunta a pegou de surpresa. Após um breve silêncio, ela respondeu, corando um pouco:
— Estou no Reino do Guerreiro Marcial, nível 7.
Dário assentiu, pensativo, e então fez a proposta:
— O que acha de ser minha parceira de treino amanhã?
Minna arregalou levemente os olhos, surpresa com o convite.
— C-co-como desejar, jovem mestre...
Dário sorriu, satisfeito.
— Ótimo. Começamos amanhã.
Com isso dito, ele voltou sua atenção aos lanches e devorou tudo com entusiasmo. O treino intenso e horas de leitura o deixaram faminto.
Já passava das 14h, e ele sequer havia almoçado. Sylveria o observava de longe, silenciosa. Não sabia exatamente o que motivava tamanha mudança, mas admitia: gostava mais desse Dário.
"Se é mudança genuína ou apenas um capricho, pouco importa por enquanto," pensou. "Contanto que continue estudando com seriedade, terá meu respeito."
Com o cair da tarde, por volta das 17h40, Dário deixou a biblioteca e voltou aos seus aposentos. Precisava organizar os próximos dias antes da chegada de Theon. Cada passo adiante era precioso.
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Na manhã seguinte, antes mesmo do sol atingir seu ponto mais alto, Dário partiu rumo ao campo de treinamento.
Minna o acompanhava vestida para o combate, ainda que discretamente nervosa e Caelenna seguia logo atrás, silenciosa como uma sombra, assumindo o papel de espectadora atenta.
Ao chegarem, Garron já treinava com os jovens cavaleiros do esquadrão Vauren. Ao notar a presença de Dário, seus olhos se estreitaram, surpresos.
"Então não foi apenas impulso..." pensou. "Ele realmente voltou."
— Hahaha! exclamou, em tom bem-humorado.
— Parece que não era só papo furado, hein, Dário?
O comentário tinha um tom provocativo, mas Garron estava genuinamente animado.
Apesar de sempre considerar Dário um irmão mais novo, havia anos em que só via decepção em suas atitudes.
Como herdeiro da Casa Vauren, uma das mais poderosas e tradicionais do Império de Lysandria, ele deveria ser exemplo de conduta e nobreza. No entanto, até pouco tempo atrás, Dário era tudo... menos isso.
O retorno do jovem ao campo, e tão cedo, reacendeu algo em Garron. Talvez, finalmente, houvesse algo digno de ser moldado ali.
Dário curvou levemente os lábios em resposta e falou com respeito:
— Mestre Garron, peço que me instrua com seriedade. Darei o meu melhor.
Garron sorriu. Ainda desconfiava, mas decidiu aceitar a promessa.
— Muito bem. Começaremos como ontem.
O treinamento recomeçou. Dário repetiu os exercícios de postura, controle de respiração e manuseio da espada de madeira. Mas algo havia mudado. Garron percebeu rapidamente.
— Você… murmurou, estreitando os olhos.
— Você alcançou o quarto nível do Reino Aprendiz Marcial?
Dário apenas assentiu. Não explicou, não se vangloriou. Sabia que perguntas viriam com o tempo.
Garron, empolgado, passou então ao próximo estágio: a condução da Energia Áurea.
Guiado por instruções firmes, Dário aprendeu a sentir o fluxo dentro de seu corpo. Não apenas isso, aprendeu a absorvê-la do ambiente, direcioná-la para os membros e usá-la nos movimentos. Punhos, pernas, olhos… aos poucos, seu corpo respondia com mais vigor e precisão.
O progresso era surpreendente. Para alguém que até pouco tempo era considerado um inútil, Dário demonstrava uma compreensão assustadora.
Ele, por sua vez, estava fascinado. A energia era viva, pulsante como se tocasse algo sagrado e perigoso ao mesmo tempo. Seu coração batia mais forte a cada nova descoberta.
"Nunca me senti tão vivo."
O suor escorria, o corpo doía, mas a mente fervilhava de ideias e possibilidades.
E ele sabia: aquilo era apenas o começo.
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