Após o treino com Garron, Dário sentia o corpo e a mente fervilhando. Ideias cruzavam sua cabeça em velocidade vertiginosa. Pensou:
"Se eu aplicar algumas artes marciais da minha antiga vida às técnicas da família Vauren... talvez eu possa desenvolver uma nova habilidade."
Mesmo após tanto esforço físico, ele ainda estava cheio de energia. Sentia-se inquieto, impelido a pôr em prática o que havia aprendido.
Precisava de um parceiro. Garron estava ocupado treinando os demais jovens cavaleiros conforme o próprio Dário havia solicitado, não queria privilégios.
Ao olhar ao redor, seus olhos pousaram sobre Minna. Ela estava imóvel, vestida com seu traje de combate, observando-o em silêncio.
Quando notou seu olhar, pareceu hesitar, mas antes que pudesse dizer algo, Dário tomou a iniciativa:
— Minna, pode vir me ajudar com uma sessão de treinamento agora?
Ela arregalou os olhos por um breve instante, mas respondeu com prontidão:
— Sim, jovem mestre.
Minna se aproximou, um pouco tensa, mas decidida. Dário a observou com um sorriso discreto.
— Não precisa pegar leve comigo disse ele.
— Pode levar a sério.
Ela assentiu silenciosamente e assumiu posição de combate.
— Bem... aqui vou eu. murmurou Dário.
Canalizou a Energia Áurea para os pés, ainda com certo desequilíbrio no controle. Seu corpo explodiu em velocidade e ele avançou. Ao se aproximar, lançou um soco direto.
Minna esquivou-se com leveza e respondeu com um chute lateral. Para Dário, foi como encarar a própria morte, ela estava em um reino acima do dele, e a diferença de força era gritante.
Ele conseguiu se esquivar por pouco, mas mal teve tempo de recuar. Minna iniciou uma sequência de ataques: chutes, socos, cotoveladas. Os golpes vinham rápidos, precisos e ritmados. Dário se esforçava ao máximo para desviar, mas ainda assim era atingido.
Se não fosse por ela estar se contendo, e claramente gostar dele, ele acreditaria que ela nutria algum rancor antigo.
Ofegante, Dário pensava enquanto bloqueava como podia:
"Preciso testar... aquela ideia."
Começou a canalizar a Energia Áurea para a mão direita. Planejava mesclar estilos de combate da Terra com as artes marciais deste novo mundo.
Minna continuava pressionando. Dário notou algo curioso: em combate, ela mudava completamente. A jovem tímida e doce tornava-se uma guerreira fria e objetiva. Aquilo o surpreendeu e o motivou.
"É isso que eu quero... uma luta real, alguém que me force aos limites."
Analisando os movimentos dela, percebeu um padrão: toda vez que Minna recuava para ajustar o posicionamento dos pés, havia uma pequena brecha antes de ela atacar novamente.
Aguardou pacientemente, respirando fundo, focalizando sua energia. No momento certo, quando ela recuou mais uma vez, pensou:
"Agora é a hora!"
Avançou em velocidade e executou um jab um golpe de boxe rápido e direto, ideal para manter distância e criar aberturas. Canalizou Energia Áurea na execução, tornando-o mais potente.
Minna foi pega de surpresa. Tentou recuar, mas já era tarde. O punho de Dário se aproximava do seu rosto. Instintivamente por medo, reflexo ou preocupação, ela contra-atacou com força.
PFT!
O som seco do impacto ecoou pelo campo de treino, atraindo todos os olhares. Minna recuou com a mão ferida e levemente ensanguentada. Dário foi arremessado a quase cinco metros de distância, caindo com força no chão.
Ele ficou deitado por alguns instantes, ofegante e com o corpo dolorido, mas não ferido gravemente. Seus olhos se abriram e, mesmo com a visão turva, um sorriso brotou em seu rosto. Estava satisfeito.
Quando recuperou a consciência por completo, sentou-se devagar. Ouviu vozes correndo em sua direção.
— Jo-jovem mestre! gritou Minna, com o rosto pálido e lágrimas nos olhos.
— Jovem mestre Dário! disse Caelenna, praticamente surgindo ao seu lado em um piscar de olhos.
— Dário... Você ainda está vivo? brincou Garron, tentando disfarçar a preocupação com um sorriso.
Minna caiu de joelhos ao seu lado, checando seus ferimentos com desespero.
— Jovem mestre, está mesmo bem? repetiu, os olhos marejados.
Dário a observou em silêncio por um momento… e então soltou uma gargalhada.
— Hahahaha... Estou bem. Ou talvez não tão bem assim, haha...
Todos ao redor franziram as sobrancelhas. Ver Dário rindo depois de uma surra não era algo comum ao menos não para o antigo Dário. Mas este novo... parecia extrair prazer do aprendizado, mesmo na dor.
Caelenna analisava sua condição. Ele realmente estava bem, apesar dos hematomas. Mas sua atitude... aquilo a intrigava.
"Esse não é o mesmo jovem mestre de antes... definitivamente devo reportar isso ao Lorde Theon."
Antes que ela terminasse o pensamento, Dário interrompeu:
— Caelenna, quando meu pai retorna?
Ela se virou para ele e respondeu:
— Mestre Theon volta depois de amanhã. Houve alguns contratempos, então chegará um pouco mais tarde.
Dário assentiu, depois virou-se para Garron:
— Mestre Garron, como me saí hoje?
Garron cruzou os braços, analisando o jovem por um momento, antes de dizer:
— Hoje você se saiu bem, jovem mestre. Conseguiu sentir, absorver e até manipular a Energia Áurea, absorveu fundamentos da escrima e demonstrou criatividade ao incorporar novas técnicas. Foi um treino produtivo.
As palavras foram diretas e sinceras e isso deixou Dário satisfeito.
Após algumas trocas de palavras, ele encerrou o treino e pediu a Minna e Caelenna que o levassem de volta à mansão.
Não passaria na biblioteca desta vez. Estava exausto. O treino foi intenso, e a luta com Minna o havia drenado.
Queria apenas comer algo simples e descansar. Seus pensamentos fluíam com ordem e clareza, os planos se encaixavam.
Amanhã seria um novo dia. Depois de uma refeição rápida, Dário se recolheu e caiu em sono profundo, dormindo da tarde até a madrugada seguinte.
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