Capítulo 28 - A Arte de Ofender com Elegância.

Íris trajava um vestido cerimonial simples, porém de uma elegância incomum. O tecido cinzento prateado ondulava suavemente sob a luz, refletindo o dualismo inscrito em seu destino incerto entre sombra e brilho, escolha e fardo. Os seus cabelos, negros como o breu, formavam um contraste marcante com o tecido claro, enquanto os olhos azuis aveludados pousavam sobre Dário em silêncio. Não havia submissão em seu olhar, apenas curiosidade e algo mais, uma centelha de consciência recém-desperta. Havia nela agora uma inquietude sutil, como se tivesse amadurecido dias em questão de horas, como se o tempo houvesse deixado nela uma marca invisível e profunda.

— Bem-vindo à Casa Lutharen, Lorde Dário. Disse ela com um leve aceno, educado demais para uma criança, cortês demais para ser espontâneo.

Dário inclinou levemente a cabeça.

— Você está radiante.

Após dizer isso, caminhou para mais perto.

Mas algo dentro dele se mecheu, era como um um represa tivesse rompido, Ele se perguntou o quanto o Dário antigo a amava para no final mesmo depois de sua morte ainda deixar emoções e sentimentos tão profundos, é até um pouco assustador. Dário e Zai se tornaram um só em corpo e alma, sejam sentimentos, emoções, personalidades e memórias se fundissem para criar uma terceira pessoa.

Do interior da mansão, Lorde Lutharen surgiu, imponente e com o sorriso treinado de quem já sobreviveu a dezenas de intrigas nobres. Ele se aproximou com passos longos e braços abertos.

— Jovem mestre Dário! É uma honra imensurável recebê-lo em minha casa. Sinto que estamos prestes a iniciar uma nova era de… harmonia.

— Harmonia exige equilíbrio. E equilíbrio requer força, Lorde Lutharen. respondeu Dário, estendendo a mão. — Mas vejo que o senhor entende muito bem de política.

Após a visita de Renard na família Vauren a relação de Renard e Dário havia mudado, Dário já não era o mesmo de antes, antes Dário se deixava levar por causa de seus sentimentos, mas agora é diferente. Claro que a tensão entre os dois está sob camadas de boas maneiras. O aperto de mãos foi firme, mas breve. Nada ali era gratuito.

.....

O salão da ala leste do palácio irradiava elegância. Cortinas bordadas em fios de prata reluziam sob a luz âmbar dos cristais solares flutuantes. Ao centro, uma mesa longa e ornamentada exibia dezenas de pratos primorosamente preparados. O aroma exalado mesclava especiarias exóticas, carnes nobres e vinhos envelhecidos. Mas era a tensão no ar que temperava aquele banquete.

Dário mantinha-se ereto, cada gesto calculado. Sabia que não podia se dar ao luxo de hesitar. Sentado frente a frente com Iris e Caelus, Dário disfarçava sua antipatia com um sorriso seco, como vinho envelhecido demais.

"Vamos começar a brincadeira, sistema? Inicie a análise de Caelus para ver se ele é o filho do céu"

> [Iniciando análise...]

Então Dário começou.

— Que noite encantadora, não é? — comentou Dário, erguendo a taça de vinho. — Boa comida, boa companhia... embora alguns tragam mais brilho à armadura do que à conversa.

Caelus franziu o cenho. Iris soltou uma risadinha nervosa.

— Sempre com suas provocações sutis, Dário. Não muda nunca, não é?

— Alguns de nós mudam, Iris. Outros apenas fingem mudar. Respondeu Dário, sem tirar os olhos de Caelus.

A tensão entre os dois era palpável. Um embate silencioso estava acontecendo entre suas palavras afiadas e sorrisos calculados.

Caelus sustentou o olhar. Seus punhos se fecharam sob a mesa.

Antes que Caelus falasse algo, Dário continuou:

— Diga-me, Caelus... Disse Dário, girando a taça lentamente entre os dedos. — Ouvi que estava no campo de treinamento. Diga-me, o que um ser medíocre domina além de violência e sorrisos falsos?

— Eu domino a luz. E com ela, protejo o que importa. Não uso minha força para subjugar... ao contrário de certos nobres que se escondem atrás de palavras bonitas, disse Caelus.

Iris, entre os dois, franziu levemente a testa.

— Curioso... Dário respondeu, com um brilho cortante no olhar. — Um protetor que chega atrasado, que quase deixa uma nobre dama sem escolta. A luz que chega tarde, meu caro, é tão inútil quanto uma espada quebrada. Mas não precisava vir, afinal, sua presença me dá ânsia. Tsk. Como esperado de um caipira. No fim, até suas intenções chegam atrasadas.

Lorde Lutharen tossiu educadamente, interrompendo a tensão crescente. Dário, porém, manteve o tom refinado, voltando-se brevemente para Íris com um novo sorriso.

Naquele momento, o sistema já havia concluído a análise e entregado o resultado:

> [Ding. Análise completa, o Filho do Céu foi encontrado.]

→ Ajustando informações…

› Iniciando missão de eliminação…

[Missão Estratégica: Localizar e eliminar o Filho do Céu.]

Dificuldade: Mediana

› Alvo: Caelus Aurelion

› Recompensa: Olho do Mercador Vilanesco, +1 Baú de Prata

› Punição: Interferência Celestial (Morte)

> [O anfitrião deseja receber parte do enredo da história do Filho do Céu Caelus?]

Dário pensou: "Não. Aguarde para mais tarde."

Enquanto falava, olhou discretamente para Caelus e Íris, ativando os Olhos do Vilão Supremo.

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⟨Perfil do Alvo⟩

» Nome: Íris Lutharen

» Afiliação: Jovem dama da família Lutharen; Heroína.

» Reino Marcial: Guerreiro Marcial – 9° Nível

» Corpo Especial: Corpo da Fênix Celestial (Semi-Despertado)

» Sorte: 5700

» Habilidades: › Passo das Plumas Sombrias › Lâmina Cortês da Serpente Branca › Silêncio da Cortina Carmesim › Chamas do Alvorecer da Fênix › Canto Ígneo da Fênix.

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⟨Perfil do Alvo⟩

» Nome: Caelus Aurelion

» Afiliação: Altar da Luz Eterna; Filho do Céu

» Reino Marcial: Mestre Marcial – 2° Nível

» Corpo Especial: Corpo Sagrado (Despertado)

» Sorte: 8900

» Habilidades: › Purificação Divina › Luz do Julgamento › Armadura da Virtude › Espada da Luz Sagrada › Resplendor da Alma › Imunidade a Venenos

"Oh? Altar da Luz Eterna?" Dário deu um sorriso. Agora ele têm um alvo para investigar.

O salão silenciou por um breve instante. Então, Lorde Lutharen riu alto, dispersando a tensão como palmas ecoando entre colunas.

— Os jovens estão cheios de fogo! Isso é ótimo! Precisamos de espírito para enfrentar os tempos vindouros.

Dário ergueu a taça, ainda com os olhos fixos em Caelus.

— Brindemos, então. Ao espírito da juventude... e àqueles que ainda sabem ouvir em silêncio.

— Espero que esteja sendo bem protegida, senhorita Íris. Afinal, poucos aqui conhecem os perigos reais de se confiar em salvadores.

Íris hesitou. O que ele quis dizer com “salvadores”? Apenas assentiu, mas algo dentro de si começava a arder em inquietação.

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Horas depois, no silêncio do quarto iluminado apenas pela luz da lua, Dário permanecia sentado, com olhos fixos no anel recém-adquirido. O artefato pulsava com energia negra e prateada, como se reagisse à sua presença.

> [Ding. Reação detectada: o anel está em sincronia com o Corpo Primordial da Luz e das Trevas.]

— Então ele não é comum... murmurou.

> [Correto. Esse Anel é um fragmento de Relíquia. Têm Potencial de Evolução. Pode amplificar selos e manipulação de luz/trevas. Recomendado: aprofundar vínculo.]

Dário fechou os olhos e ativou novamente os Olhos do Vilão Supremo.

> [Nível atual: 2/5. Capacidade: Visualização de Perfis e Habilidades Atuais.]

[Para descrição de objetos e outros elementos: Requisitos – Nível 3 ou superior. Pode evoluir com Pontos de Vilania ou por meio de missões do sistema.]

Ele suspirou, mas antes que pudesse encerrar, o sistema voltou a falar:

> [O anfitrião deseja receber 20% do enredo do Filho do Céu? Aviso: conteúdo limitado, cenas selecionadas incluídas.]

— Mostre-me. Quero saber com quem estou lidando.

> [Transmitindo…]

As imagens invadiram sua mente:

A infância de Caelus, órfão adotado por um sacerdote do Altar da Luz…

A bênção divina durante uma invasão demoníaca…

Sua ascensão meteórica…

Três relíquias adquiridas em ruínas antigas…

O futuro: guerras, multidões clamando por seu nome…

Dário morto. A Casa Vauren destruída.

> [Fim da transmissão.]

Dário se levantou e foi até a janela. A lua azul brilhava imponente.

— Ele pode ser amado pelos céus... mas eu serei temido pelas sombras.

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Íris estava sentada em seu quarto, com pés cruzados sobre uma almofada de meditação. Um velho manual da Casa Lutharen repousava aberto à sua frente.

Folheava as páginas distraidamente, mas sua mente ainda vagava pelo jantar.

Dário… estava diferente.

Não era só a maneira de falar. Havia um tom, uma postura... quase cruel, mas jamais vulgar. Refinado. Como alguém que dançou com a morte e retornou para ditar as regras.

— Por que você está se tornando assim…? murmurou, segurando uma pena contra o queixo.

Não que Íris o amasse. Era um noivado arranjado, sem voz. E Caelus… Caelus era seu protetor, alguém que entendia suas dores. Mas ela também não o amava.

Ela apenas queria ser livre.

Treinava com afinco, estudava mais que qualquer um de sua geração. Porque liberdade, em sua posição, era uma ilusão que precisava ser construída com suor, sangue e inteligência.

— Um jogo de reis... e eu sou só uma peça que se recusa a ficar parada.

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A noite avançava, mas no campo de treinamento da mansão, o som de carne contra madeira rompia o silêncio.

BAM! BAM! BAM!

Caelus socava o boneco até os braços formigarem.

— Aquele bastardo... acha que pode me humilhar?

As palavras de Dário ainda ecoavam como veneno.

— “Sua presença me dá ânsia.” Repetiu, socando mais forte. — “Tsk. Mas suponho que é isso que se espera de um caipira. No fim, até suas intenções chegam atrasadas."

O boneco explodiu numa rajada de luz. Caelus arfava, olhos cheios de fúria.

— Eu sou o escolhido! O Filho do Céu! Ninguém... NINGUÉM me trata assim! Nem mesmo você, Dário!

A aura dourada ao seu redor oscilava, instável. Chamas de luz se erguiam, descontroladas.

— Quando eu subir mais um reino… Sussurrou — eu mesmo vou quebrar o pescoço dele.

Ofegava, sentindo a raiva corroer a razão.

Mas a poucos metros dali, escondida na escuridão do bosque, uma figura envolta em sombras observava cada movimento.

Sem emitir um som.

Sem respirar alto.

Apenas… esperando.

....

A lua seguia sua rota no céu.

As peças estavam sendo movidas.