A luz tênue da manhã filtrava-se pelas frestas da janela, anunciando o início de mais um dia no domínio da Casa Lutharen. Mas o que realmente despertou Dário não foi o sol nascente, e sim o som agudo de um alerta familiar.
> [Ding. Atualização concluída. O perfil do anfitrião foi atualizado.]
Dário franziu o cenho e soltou um leve suspiro, ainda entre o sono e a irritação. Com um gesto preguiçoso, abriu a interface do sistema, e logo diversas janelas translúcidas começaram a pipocar diante de seus olhos como uma tempestade de luzes.
> [Adição do recurso “Pontos de Vilania” (PV) ao status do anfitrião.]
› O anfitrião agora pode acumular PVs ao interferir no destino dos Filhos do Céu seja humilhando, frustrando ou eliminando-os.
> [Ding. Parabéns ao anfitrião por humilhar o Filho do Céu. Recompensa: +400 PV.]
> [Ding. Parabéns ao anfitrião por provocar frustração profunda no Filho do Céu. Recompensa: +200 PV.]
As notificações deslizavam incessantemente. Dário piscou algumas vezes, tentando acompanhar o bombardeio de informações. Ainda sentindo os efeitos do despertar abrupto, passou a mão pelos cabelos e murmurou:
— Ao menos poderia esperar eu escovar os dentes...
Mas conforme lia as atualizações, seus olhos se estreitaram. Um sorriso se formou, lento e afiado. A noite anterior havia sido mais frutífera do que ele esperava. Aqueles olhares furiosos, o orgulho ferido, o silêncio de Caelus... haviam sido como música para o sistema e agora, lucro direto para ele.
Com um leve toque na interface flutuante, ele acessou o Painel de Status.
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⟨Perfil do Anfitrião⟩
» Nome: Dário Vauren
» Afiliação: Jovem Mestre da Família Vauren | Vilão Supremo | Herdeiro do Eclipse Primordial.
» Reino: Guerreiro Marcial – 5° Nível
» Corpo Especial: Físico Primordial Luz-Trevas (Despertado)
» Sorte: –1000
» PV: 600
» Armazenamento Espacial: Ativo [2/10] – Expansível (25.000 PV)
» Habilidades: Artes Marciais da Casa Vauren › Punhos Solares Vauren › Ritmo de Respiração Escarlate › Equilíbrio Absoluto › Crepúsculo Eterno › Passos do Eclipse › Coração da Aurora Sombria › Fusão da Luz e Trevas
Nota: Os Pontos de Vilania podem ser usados na Loja do Sistema para aprimorar habilidades, desbloquear técnicas ocultas e adquirir recursos únicos do Caminho Vilanesco.
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— Loja do sistema... hein? — murmurou Dário, seus olhos se fixando no novo ícone que brilhava na interface. — Parece que humilhar heróis é mais lucrativo do que eu pensava...
Seus pensamentos foram interrompidos por batidas suaves na porta.
Toc toc.
— Jovem mestre, está acordado? a voz gentil de Minna soou do lado de fora.
Dário fechou o painel do sistema com um gesto e respondeu com naturalidade:
— Estou, Minna. Pode entrar.
A porta se abriu, revelando a jovem criada, trajando seu habitual uniforme simples, mas bem cuidado. Ela carregava uma tigela com toalhas úmidas e começou a arrumar o quarto com movimentos graciosos.
— Dormiu bem, jovem mestre? — perguntou com um leve sorriso, seus olhos curiosos observando-o de soslaio.
— Dormi sim. Respondeu Dário, retribuindo o sorriso com um brilho enigmático no olhar. — Melhor do que nos últimos tempos, aliás.
Ela assentiu, limpando a mesa e ajeitando a cortina para permitir mais luz natural. O clima era agradável, e pela primeira vez em dias, o humor de Dário estava impecável.
— Hoje o dia promete disse ele, enquanto vestia sua túnica de treino. — E com sorte... será ainda mais divertido que ontem.
Minna o olhou de relance, como se quisesse perguntar mais, mas optou pelo silêncio respeitoso. Dário ajustou a gola da roupa diante do espelho e inspirou fundo.
O jogo havia começado. E ele estava pronto para ser o jogador mais temido de todos.
....
Minna terminou de arrumar as vestes de Dário, ajustando com cuidado o colar escuro que repousava sobre seu peitoral. Seus dedos se moviam com uma precisão quase cerimonial, como se estivesse preparando um sacerdote para um ritual sagrado. O brilho das joias contrastava com o tom sombrio da roupa, destacando ainda mais o ar imponente e misterioso do jovem mestre.
Dário observava em silêncio. Havia algo curioso naquele cuidado todo não apenas zelo, mas uma reverência silenciosa nos gestos da criada. Seus olhos, embora discretos, pareciam sempre atentos aos detalhes, como se desejasse deixar cada dobra perfeita, cada botão no lugar certo, cada centímetro do tecido ajustado ao seu gosto.
Ele arqueou uma sobrancelha, divertido. Minna sempre fora dedicada, mas ultimamente... seus gestos pareciam mais ousados, mais lentos, como se quisesse prolongar aquele momento íntimo antes que o mundo voltasse a girar.
Com um sorriso travesso, Dário comentou:
— Obrigado, Minna. Estou impecável. — Seus olhos brilharam com provocação. — Você está cada vez mais ousada...
A reação foi imediata. Minna corou profundamente, suas mãos recuando com rapidez como se tivessem tocado fogo. A postura, antes firme, tornou-se retraída, quase envergonhada.
— P-perdão, jovem mestre... Eu só... queria ter certeza de que tudo estava perfeito — disse ela, desviando o olhar, lutando contra o rubor que tingia suas bochechas.
Dário soltou uma leve risada, não cruel, mas carregada daquela habitual confiança felina. Ele deu um passo adiante, passando por ela com ares de quem carrega o mundo sob os próprios pés.
— Está sim. Disse por fim, sem olhar para trás. — Perfeitamente impecável.
E com isso, abriu a porta do quarto e saiu, deixando para trás uma Minna de coração acelerado... e um novo dia cheio de possibilidades para o vilão supremo.
....
No corredor da mansão, enquanto Dário e Minna andavam, Minna se adiantou e perguntou.
— Jo-Jovem mestre, o que deseja comer esta manhã? perguntou com seu típico tom respeitoso, mas com um leve brilho nos olhos.
Dário então depois de ver a reação contida de Minna e se divertiu olhando-se no espelho que acabara de encontrar no corredor enquanto andava, ajeitou uma mecha rebelde de cabelo antes de responder:
— Algo leve. Frutas silvestres, chá de folhas azuis e uma fatia de pão solar. Nada muito carregado... ainda preciso lidar com o teatro matinal.
Minna sorriu de leve, mesmo sem entender totalmente a última frase.
— Prepararei tudo pessoalmente.
Pouco depois, Dário desceu para o salão onde o café da manhã estava servido. A mesa era mais modesta que a do jantar anterior, mas ainda assim impecável: bandejas de prata, jarras com suco de néctar, e frutas alinhadas como joias vivas.
— Dormiu bem? Perguntou Íris, com um tom sereno, embora os olhos demonstrassem certo interesse em estudá-lo.
Dário puxou a cadeira à sua frente e sentou-se com naturalidade, recostando-se levemente como se aquele salão fosse uma extensão de sua vontade.
— Melhor do que esperava. Os lençóis de Ylvarin têm mesmo fama... mas devo admitir que a ausência de certas presenças barulhentas tornou o sono ainda mais agradável.
Íris arqueou uma sobrancelha, percebendo de imediato a provocação velada. Antes que pudesse comentar.
Caelus entrou logo depois, ainda com olheiras sutis, talvez pela noite mal dormida ou pelos próprios demônios internos. Sentou-se do outro lado da mesa, em silêncio.
— Ora, Caelus... justo a tempo. Achei que fosse preferir dormir até mais tarde, depois de... bem, digerir as palavras de incentivo que lhe dei ontem. comentou Dário, com um sorriso contido e tom casual, como quem comenta o tempo
Caelus apenas lançou um olhar frio.
— Dormi o suficiente para continuar protegendo quem importa.
— Admirável. replicou Dário, com um falso entusiasmo. — Sempre tão dedicado. Imagino o quanto deve ser cansativo carregar o fardo da perfeição... e ainda assim não evitar pequenos erros.
Ela pensou que talvez não tivesse brigas verbais ainda cedo pela manhã.
Íris suspirou baixinho, pousando a tabuleta.
— Por favor, vocês dois... é cedo demais para duelos verbais.
— Tem razão... disse Dário, levando a taça de suco aos lábios. — Perdoe-me, Lady Íris. Prometo me comportar... por enquanto.
Antes que a tensão se estendesse, Minna entrou com uma bandeja nas mãos. Serviu Dário com delicadeza: frutas frescas, pão levemente tostado e o chá fumegante, exalando um perfume suave.
— Aqui está, jovem mestre. Ela fez uma breve reverência antes de se afastar discretamente.
Após a refeição, Dário limpou os dedos com um pano de linho e levantou-se. Olhou para Íris e Caelus com um ar despreocupado.
— Vou aproveitar a manhã para treinar. Virou-se para um dos guardas próximos. — Avise ao lorde Renard que desejo usar o campo de treinamento. Solicito apenas sua permissão formal.
— Imediatamente, jovem mestre. Respondeu o guarda, saindo com rapidez.
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Minutos depois, já vestido com trajes de combate leves, Dário cruzava os jardins da Casa Lutharen em direção ao campo de treinamento. A brisa matinal era fresca, acariciando sua pele enquanto o som metálico de espadas se entrelaçava com o cantar dos pássaros ao longe. Jovens cavaleiros, escudeiros e alguns instrutores treinavam em silêncio disciplinado, sob o olhar atento de uma figura que se destacava como uma lâmina em meio à névoa: o instrutor da Casa.
Maeron Lyskar, ereto como uma lança, girou levemente o rosto ao notar a aproximação do recém-chegado. Seus olhos âmbar o fitaram com frieza calculada. Uma sobrancelha se ergueu, apenas o suficiente para demonstrar interesse.
— Você é...?
Dário não esperou. Interrompeu com tranquilidade firme, os olhos varreram o campo em busca de Caelus.
— Sou Dário, jovem mestre da família Vauren. Respondeu, com uma entonação suave, quase distraída, como se o próprio título fosse uma lembrança distante.
Maeron o observou por um breve instante, seus olhos como lâminas douradas afiadas.
— Você deve ser Maeron Lyskar. Ouvi falar de você... um caçador de hereges. disse Dário, agora fitando o instrutor diretamente, com uma leve inclinação de cabeça, entre o respeito e o desafio implícito.
— Sim, sou eu mesmo. respondeu Maeron, sem alterar o tom. Sua voz era firme, fria, sem ornamentos. — O que devo à honra da presença do jovem mestre no campo de treinamento da Casa Lutharen?
Dário sorriu, mas não para Maeron. Seu olhar encontrou o de Caelus, mais adiante, e ali depositou uma provocação silenciosa.
— Aprender é um veneno que gosto de beber todos os dias. Declarou, com um meio sorriso que parecia desafiar as convenções. — E você é um instrutor razoável... então pensei: por que não aprender uma ou duas coisas com um ex-caçador de hereges?
O campo pareceu silenciar por um segundo. Caelus cerrou os olhos, atento. Maeron... apenas sorriu, pela primeira vez. Um sorriso fino, quase imperceptível, como o de quem acaba de aceitar um jogo perigoso.
Maeron deu um leve sorriso, sacando duas espadas de madeira e jogando uma para ele.
— Então vamos ver se sua língua é tão afiada quanto seus punhos.
Enquanto os dois iniciavam os movimentos, alguns jovens cavaleiros observavam de longe, cochichando entre si.
— Ele nem está no nível de Mestre ainda...
— Ouvi que ele não tem raízes espirituais e seus meredianos estão danificados. Ele deve ser só pose.
— Parece mais um nobre mimado tentando brincar de guerreiro.
Dário ouvia cada palavra. Mesmo sem virar a cabeça, seus sentidos estavam alertas.
"Deixem falar... Um vilão que não é subestimado cedo demais, nunca brilha na hora certa."
Caelus, não muito distante, observava o treinamento. Um sorriso quase imperceptível surgiu em seus lábios quando Dário errou um passo e teve sua defesa quebrada.
— Isso é tudo? — murmurou Caelus para si, os braços cruzados enquanto observava de longe. — Que desperdício de fôlego e tempo...
Mas Dário, mesmo ocupado em repetir movimentos simples, notou o olhar de desprezo. E sorriu por dentro.
"Ora, Filho do Céu... continue me olhando de cima. Quando cair, a dor será mais doce."
O treinamento prosseguia. Dário fingia tropeçar, ajustar mal a postura, perder a sincronia como se fosse apenas mais um jovem esforçado tentando absorver os ensinamentos do rigoroso instrutor. Mas cada erro era calculado, parte de um teatro cuidadosamente encenado.
Maeron, no entanto, não era facilmente enganado. Seus olhos afiados percorriam Dário com precisão cirúrgica. Em silêncio, ele reconhecia os pequenos indícios de controle: o centro de gravidade sempre correto, os reflexos contidos, a respiração medida. Um falso aprendiz.
— Vamos testar seu tempo de reação, Vauren. Anunciou Maeron de repente, lançando-se com um movimento veloz demais para alguém que se dizia "iniciante".
Sem pensar, ou melhor, fingindo não pensar, Dário bloqueou o golpe com o antebraço envolto em Energia Áurea fraca. A lâmina de treino parou a centímetros de seu rosto.
— Hm. Nada mal. disse Maeron, recuando com leveza. — Você tem reflexos... e uma máscara bem construída.
— Um elogio vindo de você? Estou lisonjeado — retrucou Dário, ofegando levemente, como se estivesse no limite.
Caelus bufou ao longe.
— E pensar que esse é o herdeiro dos Vauren... Aquele que brilha na escuridão? Patético — zombou. — A única coisa que brilha nele é o suor.
Alguns escudeiros riram, discretamente. Maeron apenas lançou um olhar gelado na direção dos que riram, e o silêncio voltou a reinar.
Dário limpou a testa e se virou para Maeron.
— Agradeço o treino, instrutor. Suas lições foram... esclarecedoras.
Maeron assentiu, recuando um passo.
Mas Dário não se moveu. Virou-se em direção a Caelus, sua expressão agora mais neutra quase convidativa.
— Caelus Aurelion — chamou com voz clara. — Já que está tão interessado no meu suor... que tal uma luta treino?
O campo ficou silencioso. Caelus arqueou uma sobrancelha, surpreso com a ousadia. Mas seus olhos brilharam com aquele orgulho próprio de alguém que nunca recusaria um desafio, principalmente um em público.
— Uma luta? Com você? — riu de leve, andando na direção de Dário com passos calmos. — Espero que não chore depois.
— Não se preocupe. disse Dário, abrindo um leve sorriso, desta vez sincero. — Quando o Sol cair... eu estarei lá para acender as cinzas.
Maeron cruzou os braços, e pela primeira vez desde o início do dia, falou com um leve tom de interesse:
— Muito bem. Um duelo controlado. Sem técnicas letais. Até o primeiro golpe limpo ou desistência. Se preparem.
Os dois jovens se posicionaram. Luz e Sombra. Glória e silêncio. Herói e vilão ainda disfarçados sob máscaras de treino.