Capítulo 30 - Dário vs Caelus.

Antes do confronto, Caelus se posicionou diante de todos e declarou com firmeza:

— Como o jovem mestre Dário tem os meridianos danificados e não consegue utilizar Energia Áurea, lutarei apenas com habilidades físicas, usando punhos e espada.

A frase soou mais como um insulto do que um ato de honra. Não era uma concessão nobre, mas sim desprezo disfarçado de cortesia. Para ele, Dário era apenas um fardo mimado de berço de ouro, alguém que nem sequer podia usufruir do próprio legado.

Dário, porém, apenas deu de ombros, sorrindo com ironia:

— Como quiser... só não venha chorar depois de levar uma surra.

O salão se encheu de murmúrios, mas antes que a tensão pudesse se desfazer, o combate teve início.

Dário avançou sem ativar sua Energia Áurea nem recorrer ao seu corpo especial. Usava apenas força física pura e, mesmo assim, seus movimentos eram sólidos. Ele se lançou contra Caelus com um golpe vertical. Caelus zombou e se esquivou com facilidade.

— É só isso? Murmurou, entediado.

Mas à medida que Dário desferia novos golpes, algo começou a mudar. Os movimentos ficavam mais rápidos, mais precisos. Caelus, ainda confiante, começou a responder com ataques próprios, tentando encerrar a luta rapidamente. No entanto, Dário desviava com maestria e contra-atacava com precisão surpreendente.

O duelo durou minutos intensos, com vantagem inicial para Caelus. Mas sua frustração crescia a cada instante. Mesmo sem usar Energia Áurea, Dário conseguia igualar o ritmo. O que deveria ser uma demonstração de superioridade virava um duelo acirrado e embaraçoso.

Dário, por sua vez, ria interiormente. O sistema havia acabado de notificá-lo:

[+400 PV de Vilania obtidos – Humilhação pública de um Filho do Céu.]

Isso era suficiente para mantê-lo motivado. Ele não precisava vencer... apenas desestabilizar.

A plateia de cavaleiros observava, perplexa.

— Incrível... o embate está equilibrado murmurou um deles.

— Hmph. Mesmo assim, ele nunca vencerá o senhor Caelus. Disse outro em tom baixo. — E mesmo que vença, seu futuro é limitado. Seus meridianos ainda estão comprometidos...

Mas as palavras não escondiam o desconforto geral diante do que presenciavam.

Minna e Caelenna, ao contrário dos demais, mantinham expressões serenas. Já sabiam da recuperação de Dário e de seu treinamento intenso nos últimos dias.

Maeron, o mordomo, observava com olhos atentos. Murmurou para si mesmo:

— Interessante... Durante o treino anterior, percebi leves flutuações de Energia Áurea. Achei que estava ficando louco. Mas se for verdade...

Ele pensou em alertar o lorde Lutharen. Afinal, se Dário realmente havia recuperado os meridianos, isso alterava completamente os planos relacionados ao envenenamento. Contudo, sentia algo à espreita uma presença oculta no Vazio. Provavelmente alguma força oculta da família Vauren. Seria melhor esperar.

Enquanto isso, os sons do combate ecoavam:

Dim.

Dim.

Dim.

Dim.

A luta se estendeu por mais de trinta minutos. Ambos estavam visivelmente cansados. Após uma troca intensa, recuaram alguns passos e se encararam. As expressões, no entanto, contrastavam. Caelus mostrava frustração; Dário, apenas deboche.

Caelus cerrou os punhos. Em sua mente, o orgulho gritava:

"Tenho que usar Energia Áurea... Não posso permitir essa humilhação. Melhor ser acusado de exagerar do que virar motivo de chacota por esse inútil."

Decidido, canalizou levemente sua Energia Áurea. Seus movimentos ficaram mais rápidos e fluidos. Os golpes que lançou contra Dário agora tinham reforço sutil, quase imperceptível.

Caelenna e Maeron notaram de imediato, mas não interferiram. Ambos sabiam: Dário também podia usar Energia Áurea e estava apenas se contendo.

Mesmo sob pressão, Dário manteve o sorriso zombeteiro. "Não ativarei minha energia ainda. Caelus queria brincar? Ele também sabia brincar", Pensou Dário.

Num dos ataques mais ferozes, Dário fingiu perder o equilíbrio. Caelus percebeu a falha e avançou com tudo. Quando seu golpe estava prestes a acertar, Dário se esquivou por um triz, recuando com elegância.

Então, em um movimento rápido e inesperado, desferiu um soco direto no lado esquerdo do rosto de Caelus. Era o “Punho Solar Vauren” uma técnica adaptada do estilo assassino da família, fundida com a antiga experiência de boxe de Dário em sua vida passada.

O impacto foi seco.

Thud.

Caelus foi arremessado dois a quatro metros para trás, desacordado.

Silêncio.

O campo inteiro congelou. Os cavaleiros, antes zombeteiros, estavam agora boquiabertos.

Dário girou os ombros e estalou o pescoço como se tivesse acabado de se aquecer:

— Aaah... deu pra suar um pouco — disse com desdém, encarando a plateia.

Minna correu até ele, aflita.

— Jovem mestre, está bem? Como foi a luta? — perguntou, preocupada mas com um brilho curioso nos olhos.

Caelenna também se aproximou e assentiu:

— Bom trabalho, jovem mestre.

Havia um leve sorriso em seu rosto. Discreto, mas carregado de orgulho como o de uma mestra satisfeita com o progresso do discípulo.

Dário respondeu com naturalidade:

— Estou bem. Apenas cansado. E obrigado pelo treino, Caelenna. Sem ele, eu não teria rendido tanto hoje.

Ela balançou a cabeça, negando:

— Isso é fruto do seu esforço. Mas pense que eu não vi aquele último golpe... — disse com leve provocação. — Vou ter que examiná-lo novamente quando voltarmos à sede da família Vauren.

Dário sentiu um leve calafrio. Mas assentiu com um sorriso contido.

Minna riu, ousada:

— O jovem mestre precisa ser disciplinado. Não pode deixar a família preocupada.

Caelenna deu uma risadinha discreta, percebendo o tom ousado de Minna. Estavam mais íntimos do que aparentavam.

Dário trocou um olhar com Minna e retribuiu o sorriso misterioso, ambíguo.

Ao deixar o campo de treinamento, não se deu o trabalho de explicar nada aos cavaleiros. Não importava mais o que pensavam. Caelus havia sido derrotado. A mensagem estava dada.

Agora que ele sabia quem era o Filho do Céu, não precisava mais se conter. Contanto que não revelasse seu corpo especial e evitasse atrair a atenção de forças maiores, o resto do mundo podia saber: Dário Vauren estava de volta e com os meridianos restaurados

.....

Mais tarde, em um dos alojamentos da fortaleza, Caelus despertou. Sentado na cama, levou instintivamente a mão ao rosto, onde ainda sentia uma dor incômoda. Aos poucos, as lembranças do combate retornaram como um relâmpago. A imagem do punho de Dário se aproximando, o brilho sutil de energia Áurea naquele golpe… tudo se repetia em sua mente.

"Aquele desgraçado… Ele realmente usou energia Áurea… E escondeu isso de todos durante todo esse tempo?"

A ideia o incomodava profundamente. Se fosse verdade e ele não tinha motivos para duvidar, então Dário era muito mais perigoso do que aparentava. Frio, calculista… e agora, aparentemente, forte.

Enquanto Caelus ainda digeria a humilhação e o choque, a porta rangeu e se abriu devagar. Uma voz conhecida, carregada de sarcasmo, se fez ouvir:

— Caelus? Vejo que finalmente acordou… disse o visitante com um tom debochado.

Era Kaeron, o cavaleiro que antes estava cotado para ser o guardião de Íris, mas que acabou sendo substituído por Caelus. Ele se encostou na porta com um sorriso provocador.

— Parece que sua glória e ascensão estão perigosamente perto da ruína.

O rosto de Caelus se contorceu excesso de raiva. Ele rosnou, cerrando os punhos:

— Kaeron… não estou com paciência para suas provocações. Cai fora daqui! — Sua aura se elevou em um aviso claro.

Mas Kaeron apenas riu.

— Hahaha! Ui, ui… Parece que o jovem e glorioso lorde Caelus apanhou feio mesmo. Está todo nervosinho. E, sem esperar resposta, saiu rindo pelo corredor.

Caelus permaneceu em silêncio por alguns instantes, com a respiração pesada. Seu orgulho estava ferido, e a sensação de impotência corroía suas entranhas. Ele precisava entender quem ou o que Dário realmente era.

Com um suspiro pesado, pegou uma pedra de gravação ao lado da cama. Após canalizar um pouco de sua energia Áurea na pedra de gravação, sussurrou algumas palavras e enviou uma mensagem.

O destinatário? Alguém que talvez pudesse mudar os rumos desse jogo.