Capítulo 33 - O Convite de Íris.

A luz tênue da manhã filtrava-se pelas janelas envidraçadas da Casa Lutharen, banhando o salão com tons dourados suaves. O aroma de pães recém-assados, frutas doces e chás florais pairava no ar. Dário já estava à mesa quando Íris entrou, os cabelos soltos caindo em ondas naturais, vestida de maneira simples, mas elegante.

Ela hesitou por um instante ao vê-lo, mas logo assumiu seu lugar à mesa, diante dele. A lembrança da noite anterior ainda dançava em sua mente, as palavras, os silêncios, os olhares.

— Dormiu bem? Perguntou Dário, com um meio sorriso, observando-a com uma tranquilidade estudada.

— Melhor do que esperava. respondeu Íris, tentando soar casualmente. Pegou uma taça com suco e desviou os olhos. — E você?

— Entre sonhos e desejos que busco entender, eu diria que foi… produtivo. — Ele manteve o tom leve, mas seus olhos diziam mais. Como se algo estivesse se movendo por trás daquela calma, algo antigo e inquieto.

Antes que Íris pudesse responder, Caelus entrou pela porta da sala de refeições com a habitual elegância entediada, os passos silenciosos demais para um convidado comum. Seus olhos pousaram sobre a mesa onde Dário e Íris dividiam o café da manhã com uma naturalidade desconcertante.

— Ora, ora... disse ele ao se aproximar da mesa. Pegou uma maçã do cesto com dois dedos, como se fosse algo valioso demais para ser tocado. Mordeu-a com um estalo preciso e olhou diretamente para Dário. — Que visão cativante. O prodígio falido partilhando o pão matinal como um camponês apaixonado.

Dário soltou uma risada baixa, sem levantar os olhos.

— Nota quatro, Caelus. Melhorou nos insultos, mas ainda tem um longo caminho até me impressionar.

Íris conteve uma risada, levando a mão aos lábios, tentando disfarçar a diversão. O maxilar de Caelus se contraiu por um instante antes de ele retomar a compostura, ainda saboreando a maçã.

— Que bom te ver, Caelus. Ainda com o ego intacto depois de ontem? Ou já está calculando quanto tempo vai precisar pra recuperar o que sobrou dele? provocou Dário, agora olhando diretamente para ele.

Caelus mordeu a maçã lentamente, sem desviar o olhar.

— Você é mais barulhento do que deveria para alguém que só ganhou uma luta. Mas continue se iludindo... Às vezes, até o palhaço rouba a cena por um ato ou dois.

Dário fingiu pesar.

— Verdade. Mas e quando o palhaço for o único a entender o roteiro?

A resposta de Dário veio com a precisão de uma flecha, e Caelus demorou um segundo a mais do que o normal para reagir, mordendo a maçã como se quisesse esmagá-la com os dentes. Íris pigarreou, cortando a tensão antes que transbordasse. Havia uma leve cor em suas bochechas, embora fosse difícil dizer se era irritação ou outra coisa.

— Dário... Eu quase esqueci. Recebi uma pedra de gravação da minha mãe. Ela me pediu para adiar sua partida.

— Minha partida? Dário arqueou uma sobrancelha. — Por acaso ela previu que eu tentaria fugir daqui?

— Não. Ela disse que seria importante você ir ao Festival Lunar comigo. E talvez... explorar juntos a Região Sagrada Vel’Ryn. Vai ser aberta em breve e, bem... as famílias nobres costumam mandar jovens promissores para buscar sorte ou glória lá. explicou Íris, tentando parecer neutra, embora a tensão em seus olhos traísse a importância do pedido.

Dário inclinou levemente a cabeça, os olhos semicerrados de falsa surpresa.

— Lady Selene, preocupada comigo? Que gesto nobre. Mas diga, Íris... por que uma mulher tão sábia enviaria um jovem tão lindo, charmoso e... completamente incapaz de cultivar para um lugar tão perigoso? disse ele, com um sorriso debochado e a voz pingando sarcasmo.

Íris suspirou, já acostumada com o humor corrosivo de Dário, mas ainda assim desviou o olhar, como se não soubesse se deveria rir ou revirar os olhos.

Dário recostou-se, genuinamente, curioso. Já tinha ouvido sobre isso no mercado e também perguntado a Caelenna. Era um lugar cercado de mistério, repleto de relíquias, testes e oportunidades únicas, ideal para cultivar monstros... ou enterrá-los antes que florescessem. Um terreno fértil para gênios e uma trilha aberta para o Filho do Céu.

— É onde testam os mais fortes. A próxima geração de gênios. Quem vai, sempre volta mais poderoso, comentou Caelus com um sorriso de desdém. — Mas, se acha que vai ser mais uma arena para impressionar garotas, recomendo pensar melhor. Aquele lugar não perdoa tolos.

— Acha mesmo que estou indo por você, Caelus? Dário ergueu uma sobrancelha. — Que estranho... e eu jurava que era por ela.

Seu olhar foi direto para Íris, que desviou os olhos, surpresa por sentir uma pontada no peito que não soube nomear. Ela tentou parecer indiferente, mas os ecos da conversa da noite anterior ainda estavam vivos. Dário havia mudado. Ainda era imprevisível, perigoso, mas havia algo novo nele como se tivesse deixado de correr atrás de respostas para se tornar a própria pergunta.

Talvez fosse isso que a inquietava.

— De qualquer forma, vou pensar sobre isso. Disse Dário, pegando um pedaço de pão e levando-o à boca com calma e tranquilidade de quem já se decidiu. — Mas se eu for... prometo causar problemas.

— Essa é a única promessa sua que eu realmente acredito. Murmurou Caelus antes de se levantar, os olhos frios como o aço. Saiu sem se despedir, com um sorriso tênue de satisfação, como se tivesse alcançado algo sem dizer.

Um breve silêncio se instalou, e Íris então falou, evitando olhar diretamente para ele:

— Não pense que isso muda alguma coisa. Só... considere a proposta. É só isso.

— “Considerar” é meu segundo nome — respondeu ele, quase rindo. — O primeiro é “Impossível”.

Ela balançou a cabeça, mas não pôde evitar um pequeno sorriso.

O sistema então piscou silenciosamente diante dos olhos de Dário:

Ding.

[Missão Secundária Ativada] – "Ascensão do Vilão em Solo Inesperado"

[Objetivos:]

→ Explore a Região Sagrada Vel’Ryn.

→ Roube as oportunidades do Filho do Céu.

→ Destrua os planos ocultos do Filho do Céu.

› Recompensas: Variam conforme o nível de conclusão da missão.

› Punição: O Filho do Céu ganhará mais poder, influência e fama.

Dário não reagiu. Continuou comendo como se nada tivesse acontecido. Mas, por um instante, seus olhos brilharam com uma intensidade silenciosa. Íris podia não saber exatamente o que sentia. Mas, para ele, uma nova peça havia surgido no tabuleiro.

E ele nunca deixava uma partida pela metade.

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