Capítulo 36 - Ego da Indentidade.

A sensação era de queda não no espaço, mas na alma.

Dário emergiu em meio a uma neblina densa e dourada, onde o tempo parecia flutuar como poeira estelar. O chão sob seus pés era feito de espelhos rachados, refletindo não sua imagem atual, mas diversas versões de si mesmo: criança, adolescente, sem meridianos, com o olhar perdido... até seu eu presente, envolto em um manto de luz e trevas, com os olhos de um vilão.

⟨[Sistema]: Você entrou na Zona Probatória – “Eco da Identidade”⟩

⟨Objetivo: Resistir à fragmentação mental por tempo indeterminado. Alvo: Integração do Eu⟩

⟨Restrição: Técnicas bloqueadas. Cultivo selado. Somente a mente permanecerá como arma⟩

— Interessante... Murmurou ele.

Dário estava ansioso, mas não por medo. Sentia-se curioso. Era sua primeira vez em um reino secreto como tantos que havia visto em animações e novels em sua vida passada.

Ele caminhava lentamente, observando as versões distorcidas de si mesmo se aproximarem.

Logo, se viu dentro de uma sala. As memórias que surgiam à sua volta não eram de Dário... mas de Zai.

Uma delas mostrava uma criança desesperada e faminta, caída no chão, coberta de hematomas. Sua figura era pequena e magricela, ainda mais frágil que Nyra quando foi pega no mercado.

— Você é um lixo. Nunca deveria ter existido. Por que não morreu junto com seus pais?

Outra voz, doce, mas insidiosa, ecoou de uma versão de si mesmo com olhos cheios de desprezo e ódio.

— Deixem... ele aí. Hoje ficará de castigo por desobedecer às minhas ordens. Disse uma mulher, com frieza.

— Tem certeza...? Ele está muito machucado... e não comeu nada. Se morrer, teremos problemas. A polícia pode investigar...

A mulher hesitou, depois respondeu:

— Tudo bem. Dê alguma coisa para esse imundo comer e tranque-o no quarto.

O outro assentiu e levou Zai para longe. A imagem se dissolveu.

Antes que Dário recobrasse a consciência plena, outra memória tomou forma os pais de sua vida passada surgiram brevemente atrás da ilusão, fazendo-o estremecer.

Era o dia do acidente. O dia em que ele, ainda com três anos, perdera os pais. O ponto de virada. O início do sofrimento.

Vozes cortavam sua consciência como lâminas. Ele se viu ansioso, apertando os punhos com força.

As imagens eram vívidas, penetrantes. Dário acreditava ter superado aquelas memórias, mas agora percebia que apenas as escondera no fundo do coração.

Quando as emoções ameaçavam engoli-lo por completo, uma notificação familiar soou em sua mente:

Ding

⟨[Sistema do Vilão Supremo]: Iniciando Contramedida⟩

⟨> Fragmento Mental Criado: “Chama do Ego Soberano”⟩

⟨> Ativando Proteção Mental Temporária: 10% de Resistência à Ilusão⟩

Aos poucos, Dário recuperou o controle. Respirou fundo, recompondo-se.

Ele já não era mais Zai. Seu passado não tinha mais poder sobre ele.

A neblina ao redor tremia. Sussurros surgiam de todos os lados zombarias, acusações, verdades distorcidas. O espaço tentava rasgar sua mente, costurando dúvidas com lembranças.

Mesmo com a aura selada, Dário manteve o olhar firme.

Deu um passo à frente. A névoa estremeceu.

— Esse lugar quer me quebrar... Disse, com a voz firme. — Então descobrirá o quão difícil é destruir alguém que já morreu por dentro... e renasceu para devorar o mundo.

Com a palma aberta, tocou o reflexo que gritava mais alto, seu antigo eu, fraco e temeroso. O espelho tremeu, trincou... e se partiu.

⟨[Sistema]: Reflexo Rejeitado. Fragmento Integrado. Mente estabilizada em 12%.⟩

A primeira vitória mental. Mas ainda havia muitos reflexos. E agora... eles estavam rindo.

Entre as imagens, uma nova surgia. Não era ele. Era Caelus com um sorriso arrogante e os olhos banhados de luz solar.

— Você acha que pode nos enfrentar? Até seus aliados o temem, Dário. Até Minna.

— Você é só um vilão jogado pelo sistema como distração.

— Caelus é o herói. O escolhido. Você é o obstáculo... a sombra no caminho da salvação.

A visão de Caelus transformou-se em uma cruz flamejante que começou a pressionar sua mente, como se quisesse gravar esse símbolo em sua alma.

Mas então...

Algo dentro de Dário se ergueu para lutar, reivindicando seu direito à existência. Era sua essência especial. A energia estranha que havia entrado nele tentou tomar o controle, mas a Energia das Trevas reagiu com fúria, lutando para expulsá-la. Logo, a Energia da Luz se uniu à batalha. As três forças colidiram em um conflito brutal... até que, juntas, destruíram a energia invasora.

Ofegante, Dário se ajoelhou. A batalha interna o havia exaurido.

Uma chama negra e dourada brilhou dentro de sua mente. Aos poucos, o símbolo da cruz se partiu. E a imagem de Caelus foi consumida pela chama do orgulho absoluto.

Dário se lembrou de sua jornada.

Dos olhos assustados da criança ladra que ele protegeu.

Do sorriso firme de Íris ao desafiá-lo.

Da presença silenciosa de Caelenna, Minna... e até mesmo de Velkara.

Inspirou fundo.

— Vocês querem que eu duvide de quem sou? Pois saibam... vão precisar de mais do que isso. Eu estou acostumado à dor.

Mais um passo. Mais um reflexo despedaçado.

⟨[Sistema]: Fragmento Integrado. Mente estabilizada em 27%.⟩

⟨> Novo Traço Mental Desbloqueado: “Vontade do Inquebrável”⟩

⟨> Efeito Passivo: Resistência natural aumentada contra manipulação mental e ilusões até o nível Mestre Marcial⟩

A névoa começou a recuar. Mas o desafio estava longe do fim.

Uma risada feminina ecoou suave, antiga.

— Você se acha especial por ter renascido? Todos aqui renascem de algo. Mas nem todos têm coragem de se encarar no espelho... até o fim.

Dário virou o rosto.

E finalmente, a viu.

Uma mulher de cabelos brancos, olhos roxos escuros e um véu de sombras, sentada em um trono quebrado feito de luz cristalizada e trevas fluídas.

Ela era a personificação da provação. Nem viva, nem morta. Nem inimiga, nem guia.

E seus olhos... curiosamente... eram iguais aos dele.

— Você é... Sussurrou, encarando-a.

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