Capítulo 35 - Véspera de Ruínas.

Quando o sol começou a se pôr, os sinos sagrados ecoaram por toda Ylvarin, anunciando a abertura simbólica da passagem para Vel’Ryn. Um antigo portão, selado por séculos, estava prestes a se revelar entre os campos místicos ao redor da cidade.

Dário observou o horizonte tingido por tons dourados e violetas, onde a lua começava a despontar com uma serenidade quase solene.

Lanternas de papel se erguiam aos poucos, carregando desejos e votos murmurados por milhares de vozes esperançosas. A brisa suave trazia o aroma de mirra e âmbar, espalhado por sacerdotes solares em mantos translúcidos que flutuavam como se fossem feitos de luz.

No centro do campo sagrado, um círculo de pedras ancestrais formava uma espiral que convergia para um pedestal de cristal opaco. As runas entalhadas ali pulsavam suavemente, como se despertassem de um sono de eras.

— Esse é o selo de Vel’Ryn... Murmurou Íris, olhos fixos nas inscrições arcanas.

Minna, sempre atenta, apertou levemente o cabo da adaga presa aos cabelos.

— Há uma ressonância. Como se... algo lá dentro nos chamasse.

Dário permaneceu em silêncio, o olhar fixo no pedestal. O sistema estava inquieto dentro de sua mente, mas nenhuma notificação surgia.

Desviou o olhar para a multidão ao redor. Nobres, cultivadores, estudiosos, aventureiros, homens e mulheres de todos os cantos do império reunidos pela mesma expectativa. A entrada em Vel’Ryn era permitida apenas àqueles abaixo do Reino de Grande Mestre Marcial. Aquilo não era um privilégio. Era um teste.

E então, Dário focou no que realmente importava.

Cinco Casas Nobres estavam em destaque, cercadas por guardas e seguidores. Seus emblemas flutuavam como estandartes de autoridade e poder.

O pátio central estava tomado. Cultivadores de toda Lysandria reuniram-se sob o céu dourado do Festival Solar, e cada grupo parecia brilhar com um tipo distinto de autoridade. Dário se afastou discretamente da multidão, subindo parte de uma arquibancada de pedra reluzente. Dali, podia observar melhor e julgar sem ser notado.

Um a um, os reconheceu. Não por estandartes ou aclamações, mas pela forma como a luz reagia à presença deles.

“Família Solarum Thalyrian...”

Seus olhos pousaram sobre um conjunto de jovens vestidos com túnicas de branco-prateado, adornadas com fios de ouro que pareciam pulsar com o próprio ritmo do ambiente. Ao redor deles, o chão florescia com ervas luminosas, como se respondesse naturalmente à sua presença.

> “Arquitetos da Luz”, murmurou. “Mestres do Caminho da Criação". Alquimistas de paisagens espirituais. Dizem que seus melhores cultivadores podem estabilizar um campo de cultivo inteiro apenas respirando.”

Um deles alto, com olhos âmbar e cabelo trançado, parecia canalizar Fluxo Áureo diretamente da terra.

“Família Elvannar Solari.”

Adiante, fileiras perfeitas de guerreiros reluziam sob a luz do sol como espelhos vivos. Suas armaduras eram antigas, quase artefatos, repletas de cristais solares que cintilavam com cada passo.

> “Espadas Consagradas". Caminho da Lâmina. Paladinos forjados no Código Solar. Dizem que treinam sob o sol do meio-dia até suas almas se tornarem espelhos da justiça.”

Havia disciplina ali. Fervor. E uma aura de julgamento que incomodava.

“ Família Nymeris Lúnaris...”

Do outro lado da praça, há uma presença mais etérea pairava. Jovens com véus azul-escuros, símbolos lunares desenhados na pele e olhos enevoados caminhavam em silêncio. A multidão evitava contato direto.

> “Oráculos das Estrelas". Caminho do Vórtice. Clarividentes e leitores do futuro — ou dos futuros possíveis. Dizem que os Nymeris enxergam o instante antes da morte... e às vezes, o instante após ela.”

Um deles parou repentinamente e olhou na direção de Dário. Mesmo à distância, ele sentiu um arrepio. Como se tivesse sido lido por dentro.

“Família Caelvaren Auris.”

Lado oposto, um grupo se deslocava como um único corpo. Jovens de lanças douradas em mãos, olhos eretos, respiração sincronizada. Suas armaduras não brilhavam, mas emanavam autoridade.

> “Templários do Fulgor. Caminho do Templo Bélico. Crescem em campos de treino consagrados. São forjadores de armas sagradas e líderes natos. Forçam seus corpos até o limite da combustão espiritual... e ultrapassam.”

E então...

A multidão se abriu.

Não por escolha, por instinto.

Eles estavam ali.

"A Família Vauren Noctis."

— Parece que algum ancião enviou alguns de seus descendentes da geração atual.

Três figuras atravessaram o espaço entre os grupos com uma presença silenciosa e imponente. Nenhum estandarte os precedia. Nenhuma apresentação formal. Apenas vestes negras, marcadas por bordados dourados tão discretos que pareciam se esconder na sombra.

À frente, caminhava uma jovem de olhos fechados, os passos suaves como seda sobre a pedra. Atrás dela, um homem de olhar austero e um rapaz imóvel, como se pertencesse à própria sombra.

— “A Lança nas Sombras.”

— “Caminho da Sombra Solar.”

— “Caçadores de traidores. Assassinos sagrados. Dizem que respondem apenas ao trono... e que surgem quando o destino já foi selado.”

Dário sentiu uma vibração no fundo de seu núcleo quando o rapaz virou o rosto em sua direção. Não havia brilho nos olhos. Nenhuma hostilidade explícita. Mas ele havia notado Dário.

Mesmo sem intenção assassina, a percepção cortante estava ali.

Ninguém sabia muito sobre os Vauren.

Mas Dário sabia.

E eles não sabiam quem ele era. Ainda.

Afinal, o Lorde Theon sempre o protegeu. Nunca o apresentou formalmente à família. Por causa de sua condição especial, apenas alguns anciãos sabiam de sua existência além de certas famílias nobres poderosas que tinham conhecimento velado sobre ele.

Sempre que Dário se envolvia em alguma confusão, o Lorde Theon intervinha nas sombras, protegendo-o enquanto buscava uma forma de restaurar seus meridianos.

E isso não era especulação. Dário havia investigado em segredo e juntado as peças. Ele sabia. Sabia que por ser filho do patriarca da família Vauren e da Portadora do Corpo Dual, Seraphina.

Se seu nascimento tivesse ocorrido sem os meridianos danificados, outras famílias nobres teriam certamente sentido ciúmes. Algumas poderiam até se aliar para suprimir a família Vauren afinal, o Corpo Dual era poderoso demais para ser ignorado.

A família Lutharen era uma dessas forças aliadas. O próprio lorde da casa percebeu que, se revelasse Dário ao mundo como um fracasso dos Vauren, poderia ganhar influência com algumas casas rivais... mas também atrairia a ira silenciosa da própria Vauren Noctis.

Seria uma piada momentânea. E uma sentença eterna.

Por isso, escolheu outro caminho. Tentou cultivar laços, sentimentos. Foi assim que nasceu o noivado entre Íris e Dário uma tentativa política e pessoal de amarrar destinos.

Dário então olhou para o chão.

O mármore sob seus pés começou a pulsar, como se tivesse um coração. Um batimento profundo, antigo. Não era um convite para avaliação.

Era... um reconhecimento.

Vel’Ryn estava despertando.

E ele estava pronto para ser julgado.

“Vel’Ryn. É uma das Regiões Sagrada do império. Onde os escolhidos caminham... e os indignos desaparecem.”

Dário se aproximou do pedestal. A multidão recuava instintivamente, abrindo espaço. Era como se soubessem, inconscientemente, que aquele jovem de roupas escuras e sorriso torto carregava algo... perigoso.

Nyra agarrou a túnica de Minna.

— Vai doer?

— Não sei, mas não se preocupe, estamos todos aqui, eu, o jovem mestre e Caelenna. Minna a confortou tocando em sua cabeça com uma das mãos.

A Alta Sacerdotisa surgiu então, descendo em uma nuvem de energia solar. Envolta por mantos translúcidos, sua presença era calorosa e implacável ao mesmo tempo. Sua voz preencheu o campo como um hino de fogo.

— Chegou a hora. A cada cem anos, Vel’Ryn desperta para receber os herdeiros do Sol e da Sombra. Aqueles que ousam atravessar seus portões devem provar sua verdade. Suas máscaras cairão. Suas intenções serão vistas. Suas almas... julgadas.

Ela ergueu as mãos, e o pedestal brilhou com intensidade.

Runas ancestrais se acenderam em sequência, até o cristal se partir em um som agudo, como uma estrela se quebrando.

O círculo de pedras tremeu.

Lentamente, o centro da espiral se abriu como uma flor pétrea, revelando uma escadaria que descia em direção às profundezas uma luz prateada envolvia os degraus, como se chamasse.

— O Portão de Vel’Ryn foi aberto. Declarou a sacerdotisa.

A multidão reagiu com aplausos, murmúrios, orações e lágrimas. Para alguns, era um momento de fé. Para outros, de medo.

Íris se aproximou e tocou o braço de Dário.

— Você sente isso? Como se... algo nos observasse lá dentro?

— Sinto. Ele respondeu, sério pela primeira vez em horas. — Mas não está só observando. Está esperando.

— Esperando o quê?

— Uma decisão. Disse ele, com um meio sorriso. — Ou um erro.

Ele não sabia o que era, o sistema ainda estava calado, mas ele Sintia algo dentro dele emergir como se o chamasse.

Do lado de Dário.

Minna avançou primeiro, posicionando-se ao lado de Íris. Caelenna veio logo atrás, a expressão impenetrável. Nyra hesitou por um instante, mas andou até Dário e segurou firme sua mão.

— Não me deixe.

Ele se abaixou até a altura dela, encarando-a nos olhos.

— Eu vou deixar muitas coisas para trás, Nyra. Mas você não será uma delas.

— Você vai ficar com a Caelenna, né? Ela... não pode entrar, por ser forte demais.

Ela assentiu, e seguiu com Caelenna até um ponto seguro nos arredores.

Antes de se afastar, Caelenna se dirigiu a Minna.

— Cuide dele. E ajude-o o máximo que puder.

Ela entregou o que parecia uma bússola antiga, envolta em runas prateadas.

— Sim. Darei meu máximo. Respondeu Minna, séria.

E assim, os primeiros passos rumo ao julgamento de Vel’Ryn foram dados.

A escuridão abaixo não era ausência de luz.

Era o sussurro do desconhecido.

E o mundo, a partir daquele momento, começaria a mudar.

Dário manteve os olhos fixos em Caelus por um instante. Os homens e a mulher ao seu redor não usavam insígnias óbvias, mas suas túnicas tinham discretos bordados em espiral solar, indicando afiliação de alguma ordem ou culto religioso. Se for o Tal Altar da Luz Eterna então é possível que seja uma seita devota que buscava a purificação do mundo por meio da luz absoluta. Um bando de fanáticos.

Ele ativou silenciosamente sua habilidade.

⟨Olhos do Vilão Supremo: Perfil do Alvo⟩

» Nome: Sareth Halor

» Afiliação: Altar da Luz Eterna | Ordem dos Incandescentes

» Nível: Mestre Marcial – Nível 4

» Corpo Especial: Corpo Solar da Verdade Absoluta (Despertado).

» Sorte: 1200

» Habilidades:Técnica de cultivo Sopro da Aurora Imaculada › Os Sete Passos da Iluminação Sagrada › Manipulação Solar Avançada › Olhar do Julgador › Prisão de Luz Imaculada › Runa do Fim Impuro › Véu Invertido do Sol.

 

» Nome: Tyrian Volsk

» Afiliação: Altar da Luz Eterna | Escolta Cerimonial

» Nível: Mestre Marcial – Nível 1

» Corpo Especial: Corpo do Guerreiro Solar Cruzado (Semi-Despertado)

» Sorte: 410

» Habilidades: Técnica de cultivo Sopro da Aurora Imaculada › Os Sete Passos da Iluminação Sagrada › Estilo Marcial Solar Cruzado › Cruz Solar Purificadora › Dança da Luz Gêmea.

 

» Nome: Elenys Kaor

» Afiliação: Altar da Luz Eterna | Irmandade da Lótus Radiante

» Nível: Guerreira Marcial – Nível 9

» Corpo Especial: Corpo da Lótus Solar Ilusória (Despertado)

» Sorte: 1700

» Habilidades: Técnica de cultivo Sopro da Aurora Imaculada › Os Sete Passos da Iluminação Sagrada › Névoa da Lótus Radiante › Aroma da Confissão Brilhante › Encanto Solar da Fé Cega › Flor Solar da Prisão Mental › Aroma da Confissão Brilhante.

 

» Nome: Jareth Morn

» Afiliação: Altar da Luz Eterna | Guardião do Julgamento

» Nível: Mestre Marcial – Nível 1

» Corpo Especial: Corpo do Julgamento Solar Silencioso (Semi-Despertado).

» Sorte: 750

» Habilidades: Técnica de cultivo Sopro da Aurora Imaculada › Os Sete Passos da Iluminação Sagrada › Punho do Crepúsculo Julgador › Aura da Sentença Silenciosa › Passos da Morte Branca.

Dário piscou, desfazendo a leitura. A conexão com Caelus não era apenas casual. Aqueles quatro eram guarda-costas... ou algo mais. Um tipo de escolta julgadora? Um grupo preparado para silenciar potenciais ameaças?

“Se Caelus realmente é um Filho do Céu... eles vieram garantir que o mundo seja moldado à imagem dele.”

A visão cortou no momento exato em que a sacerdotisa elevou a voz mais uma vez. Agora, sua entonação carregava uma força quase profética, como se as palavras fossem selos lançados no ar.

— Aqueles que cruzarem este limiar terão seus nomes marcados nas teias do destino.

— Não há retorno antes da provação.

— Que o Sol ilumine, e as Sombras revelem.

Um silêncio reverente dominou o campo.

Dário deu o primeiro passo. Minna, Íris e outros o seguiram logo atrás.

E, como se um pacto tivesse sido aceito, o pedestal emitiu um último clarão. Uma luz envolveu os corpos dos desafiantes, consumindo-os em um brilho prateado que crescia até cegar os olhos da multidão.

Em segundos... tudo desapareceu.

Não havia chão. Nem céu. Nem vento. Nem cheiro. Nem som.

Só um vácuo absoluto. Uma ausência tão profunda que parecia arrancar as cores da alma.

Então, um som preencheu o vazio.

TUM-TUM.

TUM-TUM.

Como o coração de um colosso ancestral, enterrado nas entranhas do mundo.

Um a um, os corpos dos desafiantes reapareceram mas não juntos. Cada um caiu em pé, como se tivesse sido cuidadosamente depositado em seu próprio espaço.

O mundo à volta era distorcido, abstrato, com estruturas meio formadas, trechos de memórias alheias, ecos de pensamentos partidos. Cores surgiam e desapareciam como fumaça.

Vel’Ryn os dividiria.

Não haveria alianças. Nem ajuda. Nem promessas.

[Sistema]: Provação Iniciada.

> Reino Probatório da Ilusão Fragmentada

"A verdade se desfaz primeiro na mente, depois no corpo."

Dário respirou fundo. A atmosfera não tinha cheiro, mas ele sentia na essência que estava cercado por algo antigo, silencioso e faminto.

"Se quer minha verdade..."

Ele fechou os olhos por um instante, evocando dentro de si a presença da mãe, da luz e das trevas em equilíbrio, do sistema que o acompanhava em silêncio expectante.

"...então venha e tente devorar-lá."

E assim, a verdadeira jornada em Vel’Ryn começava.

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