Sempre que Harin saía de casa, ela precisava se camuflar. Óculos escuros, bonés, roupas discretas. Caso contrário, uma aglomeração de fãs a rodeava, impedindo-a de usufruir do dia como qualquer pessoa normal. Naquela tarde, seu destino era a escola Mirae, um curso preparatório altamente conceituado, recomendado por Riyeon.
Ela precisava desesperadamente de reforço para acompanhar o ritmo da Academia Seonhwa.
Conforme caminhava pelos corredores do prédio moderno, uma divertida descrição explicava detalhadamente o funcionamento das aulas e os benefícios do curso. Harin prestava atenção, tentando absorver as informações, mas ao mesmo tempo, se sentia ansiosamente. Foi sua primeira experiência estudantil até depois de tanto tempo e, mais do que nunca, ela queria ser levada a sério.
No final da turnê, ela fez sua inscrição e agradeceu a funcionária. Sua primeira aula seria no dia seguinte. Ao descer para o térreo em busca do elevador, distraído em seus próprios pensamentos, Harin esbarrou bruscamente em alguém. O impacto fez recuar um passo e, antes que pudesse se desculpar, ouviu uma voz inconfundível.
— Será que você pode olhar por onde você está? — o tom seco e impaciente denunciava Daehyn.
Harin respirou fundo, recolocando o boné que quase caiu com o choque. Ela discreta o olhar, encontrando os olhos frios e juízes da garota. Já estava farta daquela hostilidade gratuita.
— Nem aqui você consegue ser uma pessoa civilizada? Qual é o seu problema? — Harin cruzou os braços, encarando-a com um misto de exasperação e incredulidade.
— Eu sou hospitaleira apenas com quem merece. — Daehyn retrucou, seu olhar cortante como lâmina.
Harin soltou uma risada sarcástica. — Ah, entendi. Então você tem um sorteio próprio para decidir quem merece ou não educação básica?
— Eu tenho privilégios para consideração bajuladores e pessoas mimadas que acham que o mundo gira ao seu redor. — Daehyn se inclinou levemente para frente, estreitando os olhos. — Pessoas como você, celebridades intocáveis, acham que podem aparecer do nada e são tratadas como realeza. Mas aqui não é um tapete vermelho.
Harin não recuou. Pelo contrário, mudou-se um pouco mais, questionou.
— E pessoas como você acha que podem despejar sua frustração nos outros só porque perdeu uma disputa ridícula por alguém que nunca te quis?
O olhar de Daehyn se incendiou. Seu maxilar travou e, por um breve momento, Harin achou que ela seria terrível. Mas ao invés disso, um sorriso cínico se formou em seus lábios.
— Você acha que sabe alguma coisa sobre mim, Joo Harin? — Daehyn arqueou a sobrancelha. — Mas você só vê o que quer ver. Sabe de uma coisa? Continue vivendo nesse mundinho perfeito onde todo mundo te adora. Só tome cuidado para não se perder nele.
Harin contínuo encarando-a sem desviar. — E você, continue vivendo nesse ciclo de raiva e ressentimento. Só tome cuidado para não acabar sozinho nele também.
As duas ficaram ali, trocando olhares refinados, uma batalha silenciosa entre orgulho e desafio. Ninguém estava interessado em ceder. O elevador chegou, e Daehyn foi a primeira a entrar, sem olhar para trás. Harin, não aguentando mais ficar perto dela, optou pela escada. Não divida o mesmo espaço com alguém que insista em tratá-la como um incômodo.
Quando chegou à saída do prédio, Harin soltou um suspiro pesado. Algo daquela garota a irritava profundamente, mas ao mesmo tempo, a instigava. Daehyn não era apenas rude sem motivo — havia algo por trás daquela hostilidade. Algo quebrado, algo amargo. Mas Harin não tinha tempo para desvendar mistérios. Ela estava ali para estudar, para construir algo novo para si mesma.
Ou, pelo menos, era o que tentava se convencer.
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Ao sair da escola Mirae, Harin sentiu-se exausta. O peso da adaptação ainda era um fardo em seus ombros, mas ela estava determinada a acompanhar o ritmo da academia. Com os olhos presos no céu acinzentado de Seul, ela vê que ainda não conhecia ninguém na cidade além de Riyeon e Anya. E, por mais que fosse independente, o desejo de socializar começou a surgir.
Pegou o celular e digitou uma mensagem para Riyeon:
"Oi, acabei de sair da escola Mirae. Quer tomar um café? Preciso conhecer mais da cidade, e você é a única pessoa que conhece por aqui."
A resposta veio quase de imediato: "Claro. Estou saindo da aula particular. Podemos encontrar no Seong Café? Fica perto da praça principal."
Harin revelou. Riyeon era prática e direta. Em poucos minutos, ela já estava no caminho do café indicado. Assim que chegou, avistou um colega sentado em uma mesa ao canto, folheando um livro. Riyeon parecia sempre ocupada com algo produtivo.
— Espero não estar atrapalhando — disse Harin ao se sentar.
— Não mesmo. Eu preciso de uma pausa. Como foi na Mirae? — Riyeon disse, fechando o livro.
— Foi bom. Parece um ótimo lugar para estudar. Mas, sinceramente, minha cabeça ainda está um caos tentando me adaptar — suspirou, pegando o cardápio.
— Você vai se acostumar. É questão de tempo — disse Riyeon, oferecendo um sorriso abrangente.
Eles fizeram os pedidos, e a conversa abalada para assuntos triviais até que Harin, lembrando-se do acontecimento mais recente e incômodo do dia, bufou.
— Eu preciso perguntar... o que tem de errado com o Daehyn, de verdade? — Disse, inclinando-se para frente.
Riyeon coloca uma sobrancelha.
— O que aconteceu agora?
— Nos esbarramos na Mirae. Mais uma vez, ela foi extremamente rude. Parece que ela tem um problema pessoal comigo. Eu só queria entender por quê. — Harin mexia na colher, pensativa.
Riyeon soltou um suspiro e apoiou os braços na mesa.
— Não é exatamente um problema com você. Daehyn não costumava ser assim. No começo do ano, ela era diferente. Mais aberto, de certo modo. Mas então... algumas coisas aconteceram.
Harin escutava com atenção enquanto Riyeon continuava. Ela já tinha ouvido alguns barcos. E era só o seu segundo dia de aula. Aparentemente, Daehyn não era tão querido pelos colegas de classe.
— Daehyn gosta de mim — revelou, sem rodeios.
Harin ouvia atentamente.
— Isso explica muita coisa.
– Sim. Mas eu nunca correspondi. Eu estava apaixonado por Anya desde o início. Só que Daehyn não aceitava isso. No fim, teve um debate entre nós duas, e Daehyn perdeu de todas as formas possíveis. Desde então, ela se fechou. Ficou ainda mais rígida consigo a mesma, e agora só foca nos estudos. Anya está ocupando a posição que antes era dela no ranking acadêmico, então Daehyn está lutando para recuperar o segundo lugar. Acho que essa frustração se reflete na forma como ela trata os outros.
Harin assimilou as informações, sentindo uma pontada de pena.
— Então, além de congelada, ela também perdeu seu espaço como segunda melhor aluna. Deve ser difícil lidar com tudo isso ao mesmo tempo.
— Sim. Mas isso não justifica a maneira como ela trata as pessoas — Riyeon pontulou. — Você não precisa forçar nenhuma amizade com ela, Harin. Daehyn não é mais pessoa, mas está machucado e não sabe lidar com isso de um jeito saudável. Então, ela era agressivamente com todo o mundo.
Harin suspirou, apoiando o queixo na mão.
— Eu não tinha intenção de forçar nada. Só achei estranho o nível de hostilidade dela comigo. Mas agora faz sentido. Ela está apenas canalizando sua frustração. O que é péssimo, já que eu sento ao lado dela.
— Exatamente. Melhor dar tempo ao tempo — aconselhou Riyeon.
Eles continuaram a conversa, deixando o assunto Daehyn de lado. Harin se sentiu um pouco mais confortável sabendo que agora entendia melhor o que acontecia. Talvez, no fundo, Daehyn apenas precise de um novo propósito. E, por alguma razão, Harin sentiu que não seria a última vez que os caminhos das duas se cruzariam de maneira turbulenta.