gesto inesperado

Daehyn entrou em casa e largou a mochila sobre a cadeira da cozinha, soltando um suspiro longo e pesado. O dia tinha sido exaustivo, mas algo dentro dela a incomodava muito mais do que os exercícios da aula preparatória. Harin.

Ela subiu as escadas devagar, sentindo os ombros pesados, e se jogou na cama, fitando o teto. A cena se repetia em sua mente: o olhar confuso de Harin após sua grosseria, os lábios da garota entreabertos como se tentasse encontrar uma resposta para aquela hostilidade inesperada.

— Por que estou sendo assim? — murmurou para si mesma, pressionando as palmas contra os olhos.

A verdade era que não sabia. Algo em Harin a fazia querer afastá-la a todo custo. Talvez fosse a maneira como a garota parecia se encaixar perfeitamente em qualquer lugar, como se o mundo tivesse sido feito para ela. Harin irradiava confiança, beleza e um magnetismo natural que atraía todos ao seu redor. Daehyn, por outro lado, sentia-se como uma peça sobrando em um jogo que não entendia.

Ela nunca foi boa em lidar com pessoas como Harin. Populares, talentosas, admiradas. Elas pareciam pertencer a um universo diferente, um onde Daehyn jamais fora convidada a entrar. E agora, essa mesma Harin estava ali, dividindo o mesmo espaço que ela, tornando-se uma presença constante e irritantemente intrigante.

Mas isso justificava a maneira como a tratava? Não. Ela sabia que não. O problema não era Harin. O problema era ela mesma.

— Eu só… não quero me envolver. — disse em voz baixa, tentando convencer a si mesma.

Mas no fundo, Daehyn sabia que não era só isso. Porque, por mais que quisesse negar, havia algo em Harin que a desestabilizava. E talvez fosse exatamente isso que mais a assustava.

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O telefone tocava insistentemente na mansão de Harin. Ela sabia quem era antes mesmo de olhar para a tela. Suspirou fundo, fechou os olhos e então atendeu.

M: Finalmente você atende! — a voz cortante de sua mãe preencheu o silêncio do quarto. — Onde você esteve todo esse tempo? Está fugindo de mim?

Harin revirou os olhos, tentando manter a calma. Sabia que qualquer resposta mal calculada apenas alimentaria a raiva da mulher do outro lado da linha.

Harin: Não estou fugindo de ninguém, mãe. Só estou vivendo a minha vida.

M: Vida? Sua vida está em Paris, nas passarelas, nos contratos milionários que consegui para você! Você não pode simplesmente jogar tudo para o alto e brincar de estudante! — a voz dela carregava desprezo.

Harin: Eu não estou brincando de nada. Eu tomei uma decisão e vou mantê-la. Quero estudar, quero viver coisas normais. Eu já disse que, se for para trabalhar, será aqui, em Seul. Woobin já está cuidando disso — Harin respondeu, mantendo o tom firme.

M: Woobin? Esse empresário de quinta categoria? Você está me dizendo que vai confiar sua carreira a ele em vez de seguir os planos que eu fiz para você? — a mãe exclamou, incrédula.

Harin: Sim. Porque, diferente de você, ele me ouve. Ele entende que eu sou uma pessoa, não um produto! — Harin sentiu o peito apertar, mas não recuou. — Se você quer continuar gastando meu dinheiro, fique à vontade. Mas pare de me tratar como uma marionete.

O silêncio do outro lado da linha foi denso e ameaçador.

M: Você vai se arrepender disso, Harin. Está desperdiçando sua carreira, sua vida. Quando perceber o erro que cometeu, eu não estarei aqui para consertá-lo — a mãe disse, com frieza.

Harin fechou os olhos mais uma vez, sentindo a raiva crescer dentro de si. Mas, ao invés de ceder, respirou fundo e respondeu calmamente:

Harin: Então é melhor eu aprender a lidar com isso sozinha. Boa noite, mãe.

Ela desligou antes que a mulher pudesse responder. O peso daquela conversa pairou sobre seus ombros, sugando sua energia. A noite passou lenta e insone, e Harin mal conseguiu dormir.

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No dia seguinte, ao chegar à escola, Harin sentia cada músculo de seu corpo protestar contra o cansaço. Seus olhos estavam pesados, a mente exausta. Nem se deu ao trabalho de desejar bom dia a Daehyn ao sentar-se. Apenas largou seus materiais sobre a mesa e suspirou.

Daehyn percebeu. E, mesmo sem entender o motivo do abatimento de Harin, captou os sinais. Sem dizer nada, discretamente, colocou uma garrafa de suco ao lado dos materiais de Harin e voltou a encarar seu próprio livro.

Harin notou o gesto. Estranhou. Olhou para Daehyn, que permanecia impassível, focada na leitura, como se nada tivesse acontecido. Pegou o suco e o abriu, bebendo um gole. Não disse nada, mas sentiu um pequeno calor no peito. Um gesto simples, mas inesperado.

O dia seguiu silencioso entre as duas. Nenhuma troca de palavras. Apenas um respeito mútuo que, talvez, fosse o começo de algo.

Daehyn percebeu de imediato que tinha algo diferente naquela manhã. Assim que Harin entrou na sala, não carregava o mesmo brilho de sempre. A energia vibrante que exalava diariamente parecia ter sido drenada, deixando apenas um olhar cansado e ombros levemente caídos. Ela sequer desejou "bom dia", o que se tornou um hábito irritante para Daehyn, mas que naquele momento fez falta.

Apesar de se recusar a admitir, alguma dentro dela se incomodou com aquilo. Era estranho ver Harin tão abatida. Por mais que tentasse ignorar, seu olhar voltava para a garota algumas vezes ao longo da manhã. Foi um impulso quase automático quando, sem pensar muito, pegou uma garrafa de suco e colocou discretamente sobre a mesa de Harin. Observou de canto de olho enquanto a garota encontrava o suco e franzia a testa, visivelmente surpresa. Mas, ao invés de questionar, simplesmente aceitou e bebeu, sem dirigir uma única palavra a Daehyn.

O silêncio entre elas durou o dia inteiro. Nenhuma provocação, nenhuma troca de farpas. Apenas um respeito tácito pelo espaço uma da outra.

No final da aula, Daehyn seguiu para a escola Mirae, onde teria sua aula particular. Ao se aproximar do prédio, avistou um carro preto de luxo estacionado do outro lado da rua. Os vidros escuros impediam que alguém visse o interior, mas, assim que a porta se abriu, Harin saiu do veículo, acompanhada por um motorista. Ela estava com uma touca e óculos escuros, claramente tentando se camuflar na multidão e evitar qualquer tipo de atenção indesejada.

Daehyn ficou observando à distância, notando como Harin andava com pressa e a cabeça baixa, evitando olhares curiosos. Era quase cômico ver alguém que vivia cercada de fãs tentando se esconder. Algo naquilo despertou sua curiosidade.

Ela sempre imaginou que a vida de Harin fosse perfeita — fama, dinheiro, tudo aos seus pés. Mas, pela primeira vez, se pegou pensando se aquilo realmente a fazia feliz. Porque, naquele momento, Harin parecia mais solitária do que a própria Daehyn.