Daehyn largou a mochila no sofá e soltou um suspiro cansado. O dia havia sido longo, mas, pelo menos, estava em casa. Sua mãe, Soo-jin, estava na cozinha, cantando alguma música antiga enquanto mexia em uma panela.
— Achei que nunca mais fosse te ver — brincou a mulher, sem tirar os olhos da comida.
— Engraçadinha — Daehyn revirou os olhos, jogando-se na cadeira da bancada.
— Você não acha que está levando essa fase estudiosa a sério demais? — Soo-jin apoiou os cotovelos no balcão e encarou com um olhar divertido.
— Mãe... — Daehyn resmungou, já sabia onde aquilo ia dar.
— O que foi? Eu só estou preocupado. Você mal sai, não se diverte, não faz nada além de estudar e... sei lá, existe.
— E desde quando existir não é suficiente?
Soo-jin arqueou a sobrancelha.
— Desde sempre! Eu te amo, filha, mas você precisa viver. E não siga o meu exemplo, pelo amor de Deus.
— Como assim? Você tem uma carreira de sucesso, viaja para vários lugares, conhece pessoas importantes. Isso não é viver?
— Ah, Daehyn... — Ela soltou um suspiro teatral. — Eu sou uma fraude!
Daehyn arqueou uma sobrancelha, surpresa com a declaração.
— O quê?
— Você acha que minha vida é incrível, mas olha só... Eu sou casada com um homem que eu mal vejo. Seu pai e eu estamos separados há anos, mas ninguém sabe porque mantemos essa ilusão para o público e para os negócios. O casamento é só uma fachada.
Daehyn apenas ouvia.
— Eu sei disso. Por isso, quis vir morar com você.
— Eu faço o que quero, sem dar satisfação a ninguém. Mas eu me arrependo de não ter mais vívido, me divertindo mais. Trabalhei tanto que, quando percebi, já era tarde para certas coisas.
— Você ainda pode fazer essas coisas.
— Posso, e às vezes faço, mas você ainda tem tempo de verdade. Então, vai aproveitar. Sai com seus amigos, faz besteira, fica até tarde fora. Vai para um barco ou algo assim.
Daehyn bufou, cruzando os braços.
— Eu nem sei se tenho vontade de ir para um barco.
Soo-jin arregalou os olhos, chocada.
— COMO ASSIM? Você tem dez anos, é jovem! Como assim não tem vontade?
— Não sei, mãe, nunca pensei muito sobre isso.
Soo-jin balançou a cabeça, fingindo desespero.
— Isso não pode continuar assim. Você tem que sair hoje.
—Hoje? — Daehyn riu, incrédula.
— Sim, hoje! Vai para um barco, dança, conhece gente nova.
Daehyn olhou para a mãe, percebendo sua animação absurda com aquela ideia. Ela abriu a boca para recusa, mas hesitou. Talvez fosse uma boa ideia.
— Eu vou pensar.
— Nada de pensar! Vai! E coloca uma roupa bonita!
Soo-jin pegou o celular e começou a digitar freneticamente. Daehyn estreitou os olhos.
— O que você está fazendo?
— Procurando o melhor barco da cidade.
Daehyn riu, balançando a cabeça.
— Você é impossível.
— E você precisa viver mais.
Daehyn não respondeu, apenas pegou o celular e foi para seu quarto. Sua mãe poderia ter razão, em última análise, sua vida era muito monótona. Ela precisa disso.
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A noite estava apenas começando quando Harin chegou ao barco acompanhado de seu empresário. O local vibrava com luzes neon e uma batida eletrônica pulsante. Foi uma noite de compromisso profissional—marcar presença para agradar o dono de uma das marcas para as quais trabalharam em Paris. Seu filho, um jovem insistente que nutria um interesse amoroso por ela, também estava presente, sempre tentando chamar sua atenção. Mas Harin já estava habituado a lidar com esse tipo de investigação e o dispensava com classe.
Do camarote, ela observava o movimento na pista de dança quando algo inesperado chamava sua atenção. Sentada sozinha no bar, com uma expressão perdida, estava Daehyn. Harin arqueou a sobrancelha, surpresa. A jovem parecia deslocada, como se tivesse sido atacada ali contra sua vontade.
O que Daehyn fez em um barco? Aquilo não combinava nada com ela.
A verdade era que, a discussão com sua mãe surtiu efeito. Daehyn odiava a razão à mãe, mas aquela provocação a afetou mais do que deveria. Então, num impulso inédito, decidi provar que poderia, sim, ser uma jovem normal.
Mas assim que colocou os pés na boate, lembre-se de que talvez sua mãe estivesse certa sobre ela. O ambiente era barulhento, lotado e cheio de pessoas se tocando e rindo de forma desinibida. Daehyn não sabia como se encaixar ali. Sentou-se no bar e pegou uma garrafa de cerveja, tentando abrir, mas sem sucesso.
Harin riu sozinha ao ver a cena. O que aquela garota estava tentando fazer? Sem pensar duas vezes, desceu do camarote e se mudou. Com um gesto ágil, pegou uma garrafa das mãos de Daehyn e abriu sem dificuldade, devolvendo-a com um sorriso provocador.
— Parece que até para abrir uma cerveja você precisa de ajuda — Harin brincou.
Daehyn revirou os olhos e tomou um gole da bebida, declarando não dar o gosto da vitória para Harin.
— E você parece que está em todos os lugares. Já comecei a achar que está me perseguindo mesmo — retrucou Daehyn.
Harin sorriu, observando o jeito desajeitado de Daehyn. — Eu poderia dizer o mesmo. Primeira sua mãe se tornou minha advogada, agora te encontro aqui... Quem diria que Daehyn saberia se divertir?
— Isso aqui não é divertido, é um experimento social. — Daehyn olhou em volta, como se analisasse o ambiente. — E já cheguei à conclusão de que não tenho paciência para esse tipo de lugar.
Harin riu. — Que surpresa. Você se sentou mais no perfil "ficar em casa estudando".
— Melhor do que ficar rodeada de gente vazia que só quer saber de aparecer. — Daehyn devolveu.
— Touché. — Harin atraiu uma cerveja, como se brindasse à provocação.
O tempo passou e, entre alfinetadas e conversas inesperadamente fluidas, Daehyn acabou bebendo mais do que pretendia. A verdade era que, depois de algumas doses, conversar com Harin se tornou... divertido. Quando vi, já estava rindo mais do que deveria e se apoiando na modelo para não cair.
No fim da noite, Harin precisa carregá-la praticamente para fora do barco. Daehyn estava completamente bêbada e falava coisas sem sentido, o que fazia Harin rir sozinho.
— Eu sou muito melhor que você em tudo, Harin — murmurou Daehyn, a voz embolada.
— Aham, claro que é. Por isso mal consegue andar sozinho agora — Harin respondeu, segurando-a com firmeza.
Quando finalmente voltou de casa, Harin não conseguiu evitar um sorriso ao vê-la tropeçar ao entrar. Aquilo era raro. Daehyn sempre tão estranha, tão composta... era curioso vê-la daquele jeito.
Na manhã seguinte, ao chegar na escola, Daehyn parecia um zumbi. A ressaca ficou estampada em seu rosto, e Harin, ao vê-la, não perdeu a oportunidade de provocá-la.
— Bom dia, flor do dia. Dormiu bem? — Harin perguntou, sorridente.
Daehyn lançou-lhe um olhar mortal. — Cala a boca, João Harin.
— Uau, que mau humor. E eu que passei a noite garantindo que você chegasse em casa viva. Devia estar me agradecendo. — Harin fez uma expressão ofendida de brincadeira.
— Se alguém tem que agradecer, sou eu. Eu só agradeço a mim mesmo por conseguir sobreviver a um ambiente ridículo como aquele. Nunca mais. — Daehyn massageou as têmporas.
— Isso quer dizer que você realmente nunca tinha dito isso antes? — Harin estreitou os olhos, curioso.
— Isso quer dizer que nunca mais vou repetir essa experiência. — Daehyn pegou sua garrafa de água e bebeu um longo gole.
Harin revelou para si mesma. Quem diria que ver Daehyn bêbada seria um dos pontos altos da semana?