cafeteria

O dia estava frio, e Daehyn enfiou as mãos nos bolsos do casaco enquanto caminhava pela calçada. Tinha acabado de sair do escritório da mãe e, como de costume, precisava de uma pausa antes de ir para casa.

Ela avistou um pequeno café na esquina e decidiu entrar. O aroma de café fresco e pão recém-assado a envolveu assim que abriu a porta, trazendo um calor reconfortante em contraste com o frio lá fora.

Se trocou de balcão, pediu um café preto e um croissant, pagou e olhou ao redor à procura de um lugar para sentar. O café estava mais cheio do que esperava, todas as mesas ocupadas — exceto uma. Mas ao se aproximar, verifique se não estava vazio.

Harin estava ali. Sozinha, confusamente no celular, uma xícara de cappuccino entocada à sua frente.

Daehyn hesitou. Depois de tudo o que aconteceu entre eles, evitou qualquer situação que as colocasse no mesmo espaço por muito tempo. Mas não havia outro lugar disponível.

Respirando fundo, decidiu agir como se nada fosse demais.

— Esse lugar está ocupado? — Disse, sua voz firme, mas sem hostilidade.

Harin declarou os olhos, surpresa ao vê-la ali. Por um momento, pareceu considerar negar, mas, no fim, apenas balançou a cabeça.

— Não.

Daehyn pegou e deixou a cadeira, sentando-se de frente para ela. O silêncio entre as duas era palpável. Nenhum assunto foi abordado, cada uma focada em sua própria bebida. Harin não estava em um bom dia. Naquele sábado em especial, fora apenas para resolver problemas contratuais, por isso, ela estava perto do escritório dos pais de Daehyn. Sua mãe estava dificultando o encerramento de certos contratos de Paris. Dando falsas promessas de que ela voltaria a morar lá, para segurar tais contratos.

Mas não demorou muito para que Daehyn percebesse que Harin a observava discretamente entre um gole e outro.

— Está com algum problema? — ela disse, erguendo uma sobrancelha.

Harin desviou o olhar, bebendo mais um gole do cappuccino.

— Só não esperava te ver aqui — respondeu, dando de ombros.

— Bom, acho que a cidade ainda não é só sua — Daehyn retrucou, irônica.

Harin soltou um riso curto, sem humor.

— Você sempre tem que ser assim, não é?

— Assim como?

— Como se estivesse sempre armada.

Daehyn abriu os lábios, sem saber como responder. Era verdade. Com Harin, principalmente, ela sempre esteve na defensiva.

— Não vejo motivo para agir de outro jeito — respondi depois de um tempo.

Harin suspirou e apoiou o queixo na mão, encarando a xícara.

— Eu queria que as coisas entre as pessoas fossem diferentes. Eu trato você com tanta simpatia.

As palavras pegaram Daehyn de surpresa, e ela ficou sem saber o que dizer.

— Não vejo motivo para sermos amigas.

Harin olhou nos olhos, e por um segundo, Daehyn viu algo ali — seria tristeza? Mas a expressão logo remota, substitua por uma máscara neutra. Harin soube muito bem como camuflar as emoções.

O silêncio foi instalado de novo.

Elas terminaram suas bebidas sem dizer mais nada. Quando Harin se declarou para ir embora, ela apenas disse:

— Nem todas as pessoas do mundo vão magoar você, Daehyn. Você deveria dar o benefício da dúvida, antes de criar um escudo.

Daehyn não respondeu. Apenas ouvi enquanto Harin saía do café, reunindo-se lá fora.

Ela soltou um longo suspiro, olhando para a xícara vazia.

Por que Harin conseguiu bagunçar seus pensamentos tão facilmente?

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A porta da mansão se fechou com um clique suave, abafando o frio da noite do lado de fora. Harin largou a bolsa no sofá e suspirou, sentindo o peso do dia nos ombros. Seus pés doíam, sua cabeça latejava, e tudo que ela queria era um banho quente e sua cama.

Mas antes, tinha um problema para resolver.

Caminhou até a mesa do centro e pegou o celular. As notificações de mensagens e e-mails não paravam de se acumular. Os contratos que deveriam ter sido encerrados ainda estavam pendentes. Houve conversado com Woobin mais cedo e confirmaram suas suspeitas: sua mãe estava por trás disso.

Ela queria forçá-la a voltar.

Harin respirou fundo e pressionou o número que ele conhecia bem.

O telefone chamou algumas vezes antes de ser atendido.

— Harin. — A voz de sua mãe era suave, mas carregava aquele tom calculado que Harin conhecia.

— Por que você está fazendo isso? — Harin foi direto ao ponto.

— Fazendo o quê, querida?

— Não se faça de desentendida. Você está interferindo no encerramento dos contratos. Eu já disse que não vou voltar para Paris.

Houve uma pausa do outro lado da linha. Depois, um suspiro.

— Você está sendo impulsivo. Não percebe que está jogando sua carreira fora?

— Minha carreira continua aqui. O mundo da moda não volta a Paris.

— Não seja ingênuo, Harin. Você tem um nome para zelar. Trabalhou tanto para chegar onde está, e agora quer jogar tudo fora para bancar um adolescente comum? Isso é ridículo.

Harin abriu o telefone com força.

— Eu não estou jogando nada fora! Eu só quero viver a minha vida do meu jeito.

— Seu jeito? — A mãe riu, um som frio. — Você acha que tem escolha? Você só é relevante porque eu planejei cada passo de sua carreira. Você nunca teria chegado onde está sem mim.

A raiva de Harin cresceu como uma onda, esmagando qualquer resquício de paciência. O diálogo entre eles sempre foi o mesmo.

— E esse sempre foi o problema, não é? Você nunca me deixou escolher. Desde que eu era criança, tudo o que eu fazia era para realizar os seus sonhos fracassados! Mas eu não sou você, mãe. Eu nunca fui.

O silêncio do outro lado foi ensurdecedor.

Então, a voz de sua mãe veio, fria e cortante:

— Você vai se arrepender. Esse mundinho de estudante não vai te sustentar para sempre. E quando isso acontecer, não pense que eu estarei aqui para reclamar seus erros.

Harin sentiu um nó apertado em sua garganta, mas não demonstrou fraqueza.

— Prefiro cometer meus próprios erros para continuar vivendo os seus. Você não é dona da minha vida. Aceite que eu cresci! Eu posso tomar as decisões da minha própria carreira sem precisar da sua aprovação.

Ela desligou antes que sua mãe pudesse dizer mais alguma coisa.

Ficou ali parado, respirando fundo, o coração batendo rápido.

Depois de alguns segundos, largou o celular no sofá e passou as mãos pelo rosto.

Sabia que sua mãe não desistiria tão facilmente. Harin sentiu que não estava interessado em Ceder.

Não dessa vez.

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Daehyn caminhava lentamente pelas ruas bem iluminadas do bairro, as mãos enfiadas no bolso do casaco. O vento frio da noite soprava contra seu rosto, mas não era isso que o incomodava.

O que não saiu de sua cabeça era o semblante de Harin no café.

Ela não parecia apenas cansada. Havia algo mais ali—um peso nos ombros, um olhar perdido que Daehyn não conseguiu decifrar. Desde que foi formado, Harin sempre carregou um ar confiante e despreocupado, como se nada no mundo pudesse atingi-la. Mas aquela Harin, sentada sozinha no café, parecia distante disso.

Ao chegar em casa, encontrou sua mãe sentada no sofá da sala, os pés apoiados na mesa do centro, uma taça de vinho na mão enquanto assistia a um drama qualquer na TV.

— Até que enfim chegou. Pensei que eu tinha me perdido. — disse ela, sem desviar os olhos da tela.

Daehyn jogou a mochila em uma cadeira e foi até a cozinha pegar um copo d'água. Enquanto bebê, ponderou antes de perguntar:

— Ahn... aconteceu alguma coisa hoje?

A mãe naturalmente uma sobrancelha.

— Em que sentido?

— Com Harin.

Aquilo pegou sua mãe de surpresa. Ela pausou a TV e virou-se totalmente para encarar a filha.

— Por que a pergunta?

— Eu a vi num café. Ela estava sozinha e parecia... sei lá, diferente. Triste.

A mãe suspirou e apoiou o encosto no encosto do sofá.

— Na verdade, sim. O empresário esteve no escritório hoje para resolver alguns problemas de contratos que a mãe dela está tentando embargar.

Daehyn franziu o cenho.

— Embargar? Por quê?

— Para forçá-la a voltar para Paris.

Houve um momento de silêncio.

— Espera. Ela não quer voltar?

— Pelo que entendi, não. Mas a mãe dela não aceita um "não" como resposta. Você está tentando dificultar as coisas ao máximo.

Daehyn se recostou no balcão da cozinha, absorvendo a informação.

— Eu sinto pena dessa garota. — sua mãe contínua, girando uma taça de vinho na mão. — Por fora, todo mundo acha que ela tem uma vida perfeita, mas a verdade é que ela vive sozinha. A única família presente é essa mãe, que parece mais interessada na carreira dela do que não bem-estar da própria filha.

Daehyn mordeu os lábios, incomodada com aquilo.

Sempre julgou Harin como a "celebridade metida", alguém que tinha o mundo aos seus pés. Mas nunca parou para pensar no que acontecia por trás das câmeras, fora dos holofotes.

E agora se sente... culpada.

Por todo o tempo que foi rude sem necessidade. Por todas as vezes que ignorou Harin ou a tratou com frieza.

A mãe escuta seu silêncio e sombra de lado.

— Se vocês estudam juntas e dividem a mesma mesa, tente ficar de olho nela.

— Por que? — Daehyn olhou desconfiado.

— Não custa nada ser um pouco mais gentil, Daehyn. A garota já tem a própria mãe como inimiga, não precisa de outra pessoa a tratar mal sem motivo.

Daehyn desviou o olhar.

— Eu não trato ela mal...

A mãe riu.

—Aham. Como quiser. Mas estou falando sério. Ela pode parecer forte por fora, mas todo o mundo tem um limite.

Daehyn ficou em silêncio, apenas concordando.

Quando foi para o quarto, se jogou na cama e ficou permanecendo no teto.

"Será que o Harin de hoje no café era o verdadeiro Harin?"

Ela nunca se preocupou em saber. Mas agora, algo dentro dela dizia que talvez fosse hora de começar a enxergar Harin além do modelo perfeito das revistas.

Talvez fosse hora de ver Harin como Harin.