Harin sentiu o coração disparar ao perceber que não tinha saída. Os corredores da escola Mirae eram lotados de pessoas que descobriam seu grau de aulas por meio dos outdoors espalhados pela cidade. O burburinho só aumentava e, a cada segundo, mais alunos e curiosos se aproximavam, impedindo qualquer tentativa de fuga. Ela manteve o boné para baixo e os óculos escuros para cima, mas era inútil – sua presença já havia sido notada.
Daehyn observava tudo de longe, os braços cruzados enquanto analisava a situação. Bufou ao ver o quão desajeitada Harin parecia diante do assédio. Algo dentro dela a fez agir antes mesmo de refletir sobre o motivo. Aproximou-se de Harin com passos decididos e, sem dar espaço para objeções, murmurou:
— Me segue. Agora.
Harin não questionou. Talvez pela confiança no tom de Daehyn ou simplesmente pelo desespero de sair daquela confusão. Com passos rápidos, ela segue a garota pelos corredores da escola, entrando por uma porta lateral quase invisível aos olhos de quem não a conhece.
— Por aqui – disse Daehyn, apontando para uma saída discreta nos fundos.
Enquanto isso, o motorista de Harin atende pela porta principal, atraindo a atenção da multidão ao se mover sozinho. Uma distração trabalhada. Harin e Daehyn escaparam sem serem notadas, caminhando pelos passos largos para longe da escola.
O silêncio entre elas durou um pouco. Quando sentiram que estavam longe o suficiente, Daehyn lançou um olhar de lado para Harin.
— Agora estamos tranquilos. Você me ajudou na boate, eu te ajudei a escapar. Considere isso um favor retribuído.
Harin riu baixo, ajustando o boné e mantendo a cabeça baixa.
— Achei que você não era do tipo que faz favores, Daehyn.
— E não sou – retrucou, dando de ombros. – Mas não ia aguentar ver você se debatendo como um peixe fora d'água por mais tempo.
— Não vamos esquecer que você também me ajudou a estudar.
— Isso foi meramente em prol da academia.
As duas melhorias andando lado a lado. O sol brilhava forte, e Harin sentia que podia respirar sem ser visto. Daehyn olhou para ela, sua expressão se tornou um pouco curiosa.
— Isso não te incomoda? – Disse, quebrando o silêncio. – Viver assim. Sem poder andar nos lugares como uma pessoa normal.
Harin suspirou, ajeitando os óculos escuros antes de responder:
— Às vezes, sim. Mas essa sempre foi a minha vida. Eu não conheço outra realidade. E sinceramente? Isso aqui... – ela gesticulou ao redor – ...essa liberdade, é a coisa mais normal que eu já experimentei depois da fama.
Daehyn franziu o cenho, intrigada. Não foi a primeira vez que percebia que havia muito mais em Harin do que o brilho das passarelas. Algo nela parecia escapar de um mundo que os outros enxergavam como perfeito.
— E seus pais? Eles pelo menos respeitam essa sua tentativa de normalidade? – Daehyn disse, sem muita pretensão.
O sorriso de Harin vacilou por um segundo. Ela desviou o olhar, observando o chão como se procurasse algo ali.
— Digamos que... a convivência com minha mãe nunca foi exatamente fácil. – Sua voz é mais baixa, relatou alguma coisa que Daehyn não conseguiu identificar imediatamente. – Mas eu aprendi a lidar com isso. Ou pelo menos, tento. E meu pai, eu nunca conheci, então...
— Entendo.
Harin mudou de assunto.
— Você não tem fim do jantar? É uma cortesia por ter me ajudado esses dias.
— Pode ser.
Daehyn ficou em silêncio, apenas processando as palavras de Harin. Ela tinha uma noção do que Harin queria dizer, pois fazia sentido com o que sua mãe havia lhe dito. Sentiu que talvez começasse a entender um pouco mais sobre aquela garota que parecia ter tudo, mas, ao mesmo tempo, escondia tanto. Não insisti no assunto, apenas continuei andando ao lado dela, percebendo que, de alguma forma, a dinâmica entre elas estava mudando — mesmo que nenhuma das duas estivesse pronta para admitir isso. O motorista de Harin chegou, e eles entraram no carro.
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A mansão de Harin foi silenciosa quando Daehyn entrou. A noite caiu suavemente sobre Seul, e o cheiro convidativo da comida japonesa recém-entregue preenchia o ambiente. Harin tirou o boné e os óculos que foram usados para despistar os fãs mais cedo e indicou a mesa de jantar para Daehyn.
— Sente-se. Woobin recomendou sushi para nós, mas teve uma emergência e precisou sair. Achei que seria um chato comer sozinho — Harin disse com um pequeno sorriso.
— Hm, e eu fui a escolhida para te fazer companhia? — Daehyn arqueou uma sobrancelha, ambas foram lavar as mãos e depois sentaram-se.
— Você deveria se sentir honrado — Harin provocou, chamei chá para as duas. — Afinal, eu sou uma estrela internacional aqui.
— Ah, claro. Como poderia esquecer? Você está em todos os outdoors de Seul agora — Daehyn revirou os olhos, mas pegou um dos hashis e começou a comer.
A refeição transcorreu tranquila, mas Harin queria mais do que apenas um jantar casual. Ela queria entender Daehyn. A garota era um enigma para ela, e a conversa daquele dia ainda ecoava em sua mente.
— Posso te perguntar uma coisa? — Harin apoiou os cotovelos na mesa, observando Daehyn atentamente.
— Lá vem — Daehyn suspirou, mas assentiu.
— Por que você se fechou completamente para as pessoas?
Daehyn parou de mastigar. Ela não esperava essa pergunta, mas, talvez por estar de bom humor ou por estar cansada de guardar tudo para si, decidiu ser sincera.
— No começo do ano, tive um desentendimento com Riyeon e Anya — começou, pegando um pedaço de sushi. — Para ser mais específico, gostei da Riyeon e me declaro para ela. Mas a resposta dela... bem, me fez enxergar algumas verdades que eu ignorava.
Harin apenas investiu, incentivando-a a continuar.
— Riyeon me disse que eu não era uma boa pessoa. E, para ser honesto, depois que parei para pensar, verifique que ela estava certa. Comecei a notar como as pessoas ao meu redor realmente me viam. Eles andavam comigo, mas falavam mal pelas costas. Eu vi cercada de amigos falsos e de pessoas que não se importavam de verdade comigo.
Harin franziu o cenho.
— E isso fez você decidir sair de todo o mundo?
— Exato. Passei as férias refletindo sobre isso e resolvo começar o semestre do zero. Foquei nos estudos, me afastei de quem não valia a pena e mantive as pessoas longe com minha grosseria. Foi o melhor que pude fazer para evitar outro inferno como o do início do ano. Foi uma decisão pensando apenas em mim. Eu estava farta de sofrer por tudo aquilo, pelas coisas que fiz e falei.
Harin pegou um pedaço de sushi e mastigou lentamente, absorvendo tudo. Por fim, quis:
— Você ainda gosta da Riyeon?
Daehyn negou com a cabeça.
— Não. No fim, percebi que não era amor. Eu idealizei aqueles sentimentos porque Riyeon era tudo o que eu queria ser. Popular, respeitada, determinada. Eu me espelhava nela e confundia isso com algo romântico. Mas quando vi o quanto ela e Anya se amam, entendi que não fazia sentido guardar rancor. Só quero seguir minha vida sem precisar reviver aquilo.
Harin transmitiu de leve.
— E quanto a Anya? Você ainda tem algo contra ela?
Daehyn hesitou, mas suspirou.
— Não. Eu me arrependo de tudo o que fiz a ela. O bullying, as palavras cruéis... Eu só não sei como mudar isso agora. Eu a desprezava sem um motivo concreto. Ela nunca me fez nada. Eu preciso aceitar que ela é, de fato, mais inteligente que eu. Naquela época, eu estava morando com meu pai, e ele, de certa forma, me influenciava em termos de ser uma pessoa ruim. Ele sempre teve essa rivalidade de poder com os pais de Riyeon, e isso se reflete em nós duas. Não foi à toa que minha mãe se separou dele e decidiu morar sozinha, ela pegou essa fama de arrogante, sendo que ela é o completo oposto, como você bem sabe. Eles vivem um casamento de fachada.
Harin apoiou o queixo nas mãos, pensativa.
— Se você se arrependeu de verdade, peça desculpas.
Daehyn piscou, surpresa.
— Você acha que isso adiantaria?
— Pelo que conheço da Anya, ela tem um coração enorme. Acho que, se você for sincero, ela vai te perdoar.
Daehyn encarou Harin, depois desviou o olhar.
— Vou pensar nisso. Não sei se ainda quero remexer o passado.
Harin revelou. Pela primeira vez, senti que realmente entendia Daehyn. E talvez, só talvez, aquela convivência inesperada fosse algo bom para as duas. Daehyn tinha aberto um pouco do coração para ela, e isso, era um grande avanço.