O dia tinha sido longo, mas Harin estava leve. Seus pensamentos ainda giravam em torno dos momentos com Daehyn, a felicidade transbordando em cada sorriso que escapava de seus lábios. Ela estava a caminho de casa, após sair da escola Mirae. As aulas extras estavam ajudando-a a ir bem nas provas. Ela e Daehyn iriam combinar alguma coisa logo mais. Passar o dia juntas não parecia mais o suficiente.
Seu motorista estacionou em frente à sua casa, ela o agradeceu e desceu do veículo. Assim que abriu a porta da mansão, todo o brilho do dia se apagou.
Ali, sentada elegantemente no sofá da sala, estava sua mãe.
Harin congelou na entrada, os olhos arregalados, sem acreditar no que via. Como ela tinha entrado? O condomínio tinha segurança, e sua mãe não tinha as chaves.
— Como você entrou aqui? — sua voz saiu ríspida, carregada de incredulidade e fúria.
A mulher à sua frente sorriu com frieza e descruzou as pernas lentamente, como se estivesse perfeitamente confortável em um lugar que não lhe pertencia.
— Eu sempre tive acesso a tudo que diz respeito a você, minha filha — respondeu, calma, mas com um brilho cortante nos olhos. — Achei que já soubesse disso.
Harin sentiu um arrepio subir por sua espinha. O tom da mãe era sério, ameaçador, mas ela não estava disposta a se deixar intimidar.
— Você não pode invadir minha casa assim. Isso é um abuso! O que você quer? — perguntou, cruzando os braços.
A mulher suspirou, pegou o celular e deslizou o dedo pela tela, até que um vídeo começou a rodar. O coração de Harin disparou ao ver as imagens. Era ela e Daehyn. Juntas. Íntimas no dia em que deram seu primeiro beijo. O tipo de cena que, se vazasse, poderia destruir tudo o que ela construiu na Coreia.
— Você está me espionando? — Harin cuspiu as palavras, sentindo o sangue ferver de raiva. — Como você teve a coragem de invadir a minha privacidade dessa forma?
— Eu te protejo — a mãe corrigiu, sorrindo cruelmente. — Instalei câmeras em sua casa para garantir que você não tomasse decisões ruins. Mas, pelo visto, minha filha anda se desviando do caminho certo.
Harin cerrou os punhos, sentindo o ar faltar em seus pulmões.
— Isso é um absurdo! Você não tem o direito!
— Tenho, sim. E você vai me ouvir. — O olhar da mulher se tornou mais duro. — Se você não se afastar dessa garota, eu torno esse vídeo público. E você sabe o que isso significa. Sua carreira? Arruinada. Sua imagem na Coreia? Um escândalo. Vai ter que voltar para Paris, onde ao menos isso não será um problema. Mas para sua querida "ficante"... bem, ela não terá tanta sorte, terá?
Harin sentiu um nó se formar na garganta. O peito subia e descia rapidamente, sua mente girava. A raiva misturada ao desespero a deixava atordoada.
Sua mãe sabia exatamente como atingi-la. Ela não se importava com os sentimentos de Harin. Só queria controle. E estava disposta a usar Daehyn para isso. Harin a conhecia bem demais para saber que ela não estava blefando.
Engolindo em seco, Harin olhou nos olhos da mulher que lhe deu a vida, sentindo muita raiva. Mais uma vez, sua mãe estava com as rédeas da sua vida. E não havia outra saída a não ser ceder, senão, Daehyn teria a vida arruinada por sua culpa.
— Você venceu. Eu me afasto dela. Agora saia da minha casa. — Sua voz era fria, mas seu coração queimava.
A mãe sorriu, satisfeita.
— Inteligente, como sempre. — Ela se levantou, ajeitou o casaco e se dirigiu à porta. — Espero que mantenha sua palavra. Caso contrário, sabe o que acontece.
Assim que a porta se fechou, Harin sentiu as pernas fraquejarem. Seu peito doía. Cada célula do seu corpo gritava em revolta, mas ela não podia permitir que Daehyn sofresse as consequências da relação das duas.
Com as mãos trêmulas, pegou o celular e discou para Woobin.
— Preciso que venha aqui agora — sua voz saiu seca, dura. — Preciso que contrate uma equipe para fazer uma varredura nessa casa. Retire qualquer câmera, qualquer escuta. Quero isso feito hoje.
— O que aconteceu? — Woobin perguntou, preocupado.
— Minha mãe está me espionando. Ela entrou aqui, sabe de tudo, e me chantageou. Eu quero essa casa segura. Quero que ela não consiga nem entrar no condomínio sem minha autorização.
Houve um silêncio do outro lado da linha. Então, Woobin respondeu com seriedade:
— Estou indo. Vamos resolver isso.
Harin desligou e respirou fundo, tentando controlar as lágrimas que ameaçavam cair. Ela nunca se sentiu tão impotente, tão furiosa. Mas uma coisa era certa: sua mãe podia tê-la atingido hoje, mas não venceria essa guerra.
Assim que Woobin pôs os pés na casa, Harin o questionou sem paciência.
— Eu quero saber como foi o processo de compra dessa casa, Woobin! E qual foi o método que ela usou para instalar câmeras nela sem que eu soubesse. Isso viola tantas coisas! Minha privacidade e sensação de segurança. Eu estava sendo monitorada todos os dias! Isso é tão revoltante e doentio!
— Fica calma. Nós vamos resolver — Woobin tentava acalmá-la.
— Como que eu vou ficar calma? Ela entrou na minha casa e me ameaçou. Agora vou ser obrigada a ceder aos caprichos dela. Eu mudei toda a minha vida para me mudar para cá, pra me livrar dela! E agora me vejo no mesmo ciclo! Isso não é vida.
A equipe contratada por Woobin chegou exatamente meia hora depois. Harin não conseguia se acalmar, andando de um lado para o outro pela sala, enquanto tentava absorver tudo o que estava acontecendo. Ela se sentia exposta, traída e, acima de tudo, furiosa.
Os técnicos começaram a varredura da casa imediatamente. Um a um, pequenos dispositivos foram encontrados nos locais mais improváveis: dentro das luminárias, atrás de espelhos, embutidos em móveis. Cada nova descoberta só aumentava a revolta de Harin.
— Isso é um pesadelo — murmurou, apertando os braços contra o corpo.
Woobin observava tudo atentamente, certificando-se de que nada fosse deixado para trás. Ele se aproximou e tocou no ombro de Harin de maneira reconfortante.
— Eles estão retirando tudo. Você vai ter controle total da sua casa de agora em diante — garantiu ele.
Depois de duas horas de trabalho intenso, a equipe não apenas removeu todas as câmeras ocultas, como também instalou um novo sistema de segurança. Agora, Harin teria acesso a tudo diretamente pelo celular: quem entrava, quem saía, tudo ficaria registrado. Ninguém mais poderia invadir sua privacidade sem que ela soubesse.
Assim que a equipe saiu, Woobin puxou Harin para a mesa de jantar, onde já havia preparado seu tablet e alguns documentos.
— Precisamos conversar — disse ele com firmeza.
Harin respirou fundo antes de se sentar. Ela sabia que não poderia mais esconder nada dele. Estava na hora de contar tudo.
— Minha mãe descobriu que eu estou ficando com Daehyn — revelou, sem rodeios.
Woobin ergueu uma sobrancelha, mas não pareceu surpreso. Ele apenas aguardou que ela continuasse.
— Ela me ameaçou, Woobin. Disse que, se eu não terminasse com Daehyn, iria expor aquele vídeo... e me obrigaria a voltar para Paris. Disse que minha carreira na Coreia acabaria. Eu sei que ela é capaz disso.
A expressão de Woobin endureceu. Ele conhecia bem a mãe de Harin e sabia que cada palavra dita por ela deveria ser levada a sério.
— O que eu faço? — Harin perguntou, sua voz carregada de desespero. — Eu não quero me afastar da Daehyn... mas eu também não quero que ela sofra as consequências disso.
Woobin passou as mãos pelo rosto, pensativo. A verdade era que não tinha um desfecho feliz para aquela situação.
— Harin... se você quer a minha opinião sincera, precisa se afastar da Daehyn.
— O quê? — Ela arregalou os olhos.
— Ouça, eu sei que isso é difícil. Mas sua mãe é uma mulher perigosa. Você sabe disso melhor do que ninguém. Não é justo colocar a Daehyn no meio desse fogo cruzado. Você pode tentar resistir, mas ela pode acabar sendo prejudicada de um jeito que você não consegue controlar.
Harin sentiu um aperto no peito. Era exatamente o que ela temia.
— Então... a única opção é fingir que não gosto mais dela? — Sua voz saiu falha, embargada.
Woobin assentiu, com um olhar pesaroso.
— Se quiser protegê-la, sim.
Harin fechou os olhos e respirou fundo. Nunca imaginou que teria que tomar uma decisão tão cruel. Mas agora, tudo indicava que, para salvar Daehyn, ela precisaria machucá-la primeiro.