rejeição

Joo Harin sentia o peso do mundo sobre seus ombros enquanto encarava a tela do celular. No fim da reunião com Woobin, ele viu uma notícia que mencionava o nome dela — alguém tinha uma notícia bombástica para soltar sobre a modelo mais requisitada do momento. Harin soube na hora que sua mãe estava levando a sério a ameaça.

As notificações se acumulavam freneticamente: mensagens de jornalistas, colegas preocupados, e até desconhecidos curiosos sobre a suposta grande revelação que estava prestes a vir à tona. Seu coração martelava no peito.

Ela pensava que tinha se livrado daquela ameaça quando retirou as câmeras da casa, mas sabia que sua mãe ainda guardava uma cópia do vídeo. E, pior, tinha arrumado um jeito de vazar essa informação para a mídia.

Sentada na beira da cama, os dedos tremiam ao digitar uma mensagem para Daehyn, mas ela não sabia o que dizer. Poderia contar tudo? Explicar que, se esse vídeo fosse divulgado, não apenas sua privacidade estaria em jogo, mas também a vida acadêmica impecável que Daehyn tanto almejava? O sonho da garota de ingressar na universidade dos sonhos, de construir uma carreira promissora... Tudo poderia ser arruinado em um piscar de olhos.

Harin fechou os olhos, sentindo o gosto amargo da decisão que precisava tomar. Deveria proteger Daehyn, mesmo que isso significasse abrir mão dela. Mesmo que isso significasse dilacerar seu próprio coração.

Respirou fundo e discou o número. Daehyn atendeu na segunda chamada, a voz doce e preocupada.

— Harin? Está tudo bem? O que está acontecendo?

A dor apertou ainda mais seu peito. Harin queria dizer que sim, que estava tudo bem. Queria se jogar nos braços dela e esquecer o mundo. Mas não podia.

— Venha até minha casa. Estou esperando você.

Harin desligou sem esperar resposta. As lágrimas caíam como cachoeira dos seus olhos. Ela precisava se recompor antes de Daehyn chegar.

A noite de sábado ainda estava vívida na mente de Daehyn. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentia seu coração feliz, como se finalmente tivesse encontrado algo que fazia sentido. O toque de Harin, os sorrisos trocados, a forma como tudo aconteceu... Era real. E Daehyn queria mais daquela sensação.

Quando ela chegou à mansão, encontrou Harin estranha.

A garota que lhe dera carinho e atenção nos últimos dias, agora estava com um olhar frio, distante. Tinha alguma coisa errada.

— Você não está com uma cara muito boa — disse Daehyn, tentando soar descontraída, mas sentindo algo pesado no ar.

Harin a encarou sem expressão, cruzando os braços.

— Precisamos conversar.

Daehyn arqueou a sobrancelha. A seriedade na voz de Harin a fez engolir em seco.

— O que foi? — perguntou, sentindo um calafrio.

— Sobre o que estamos tendo... Não significa nada. É só um fica sem compromisso. Você não deveria levar tão a sério.

O impacto das palavras fez Daehyn sentir o chão desaparecer sob seus pés.

— Como assim? — sua voz saiu fraca, quase suplicante.

— Eu só... estava carente — Harin desviou o olhar. — Você não precisa pensar demais nisso. Foi um erro.

Daehyn sentiu algo dentro de si se partir. Ela riu sem humor, tentando mascarar a dor que subia por sua garganta.

— Um erro? — repetiu. — Então é isso? Você só queria passar o tempo e eu fui a pessoa disponível no momento?

— Você está exagerando.

— Estou? — Daehyn deu um passo para trás, sentindo as lágrimas queimarem seus olhos. — Como alguém pode gostar de mim? Sou apenas eu, uma garota descartável na vida das pessoas.

Harin fechou os olhos, segurando o próprio pulso com força. Ela queria gritar que não era verdade, que estava apenas tentando protegê-la. Mas não podia. Sua mãe era cruel, ela faria de tudo para destruir Daehyn se percebesse que tinha um sentimento forte entre elas.

— É melhor você ir embora — Harin disse por fim, a voz falhando um pouco.

Daehyn riu de novo, mas dessa vez havia um tom amargo na sua risada.

— Certo. Já entendi. Não se preocupe, eu vou esquecer que tivemos alguma coisa — Daehyn põe a mão no bolso da jaqueta que usava, e retira a lista de desejos que escreveu. — Você pode ficar com isso — Ela entrega, sem nenhuma emoção. — Não vou mais precisar.

Sem esperar mais nada, Daehyn virou as costas e saiu, o peito apertado, sentindo a dor familiar de mais uma rejeição. Ela não se permitiu olhar para trás, mas se o fizesse, veria Harin desabando em lágrimas, segurando o próprio coração como se ele tivesse sido arrancado do peito.

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Os dois dias sem Daehyn na escola Mirae foram estranhos. Não apenas para Harin, que sentia sua ausência de uma forma que não queria admitir, mas para toda a turma. Daehyn nunca faltava, nem mesmo quando estava doente, então era inevitável que comentários surgissem. Até os professores pareceram surpresos com sua ausência.

Harin tentou ignorar o incômodo no peito, dizendo a si mesma que não se importava. Mas sempre que olhava para o lugar vazio ao seu lado, sentia um peso no coração. Riyeon e Anya também notaram um clima estranho no ar. Ambas perceberam que Harin parecia distante, sem seu brilho habitual. Elas trocaram olhares cúmplices. Algo havia acontecido.

No terceiro dia, Daehyn finalmente voltou. Quando entrou na sala, seu olhar estava frio e indiferente. Ela seguiu até sua cadeira e sentou-se ao lado de Harin sem ao menos olhá-la. Ergueu suas muralhas mais uma vez, fechando-se completamente. Harin também não fez questão de falar com ela, mas era óbvio que elas duas estavam em crise.

Riyeon e Anya, que observavam tudo de longe, perceberam o silêncio estranho, a tensão no ar, e souberam naquele momento que precisavam agir.

— Ela está com o coração partido — murmurou Anya para Riyeon.

— As duas estão — completou Riyeon, observando Harin brincar distraidamente com a ponta do lápis.

Na hora da saída, Riyeon chamou Anya para um plano.

— Depois da nossa aula extra, vamos até a casa da Daehyn. Vamos descobrir o que está acontecendo.

Anya concordou. Elas já tinham criado um laço forte com as duas e torciam para que ficassem juntas. Não podiam simplesmente ignorar aquilo.

Mais tarde, quando chegaram à casa de Daehyn, sua mãe as recebeu surpresa e feliz.

— Uau, então minha filha realmente tem amigos! — disse ela, dando passagem para que entrassem.

As duas seguiram até o quarto e encontraram Daehyn deitada, encarando o teto, perdida em pensamentos. Ela apenas desviou o olhar quando percebeu as duas paradas à porta.

— O que vocês estão fazendo aqui? — sua voz saiu sem emoção.

— Viemos ver como você está — disse Anya, sentando-se na beira da cama.

— E para saber por que você ficou dois dias trancada em casa, ignorando o mundo — completou Riyeon.

Daehyn suspirou pesadamente. Sabia que elas não sairiam dali sem uma explicação. Após alguns instantes de silêncio, decidiu contar tudo.

Ela relatou, com um tom quase monótono, como tinha ido viajar com Harin no final de semana e como se sentiu feliz, apenas para depois ser tratada com frieza e desprezo. Contou as palavras duras que Harin usou para afastá-la e, por fim, revelou seu maior medo.

— Eu nunca fui digna do amor de ninguém. Nem da Riyeon e nem da Harin... Eu sou apenas eu, uma garota descartável.

Anya apertou os lábios, contendo a vontade de abraçá-la. Riyeon sentiu o peito apertar ao ver o olhar magoado dela. Elas sabiam que havia mais nessa história. A expressão de Harin na escola não era de alguém que queria descartar outra pessoa. Era de alguém que estava sofrendo tanto quanto Daehyn.

— Também não é assim. Você está sendo muito dura consigo mesma — Diz Riyeon.

— Por que vocês querem me ajudar? Eu fiz bullying com a Anya, expus e a humilhei sobre ter uma bolsa de estudos, segui vocês duas, eu te chantagiei, Riyeon. E mesmo depois de tudo isso, vocês ainda querem me ajudar? Eu não mereço.

Daehyn tinha lágrimas nos olhos, ela falava com culpa no coração.

— Você não precisa listar todas as coisas que fez. Nós sabemos de todas elas e deixamos tudo no passado. Você tem se mostrado ser uma pessoa diferente a cada dia e nós sabemos que Harin tem muita influência nisso — disse Riyeon, firme. — Não queremos que regrida nesse processo. Queremos ajudar vocês duas. Eu tenho certeza de que há algo muito errado nesse término de vocês. Harin nem parece ser a mesma pessoa, é como se ela estivesse no automático.

— Ela não gosta mais de mim. E deixou bem claro isso. Por que insistir nisso?

— Você sabe que isso não é verdade. Você acha que não é digna de amor, mas saiba que é. Você não deve levar ao pé da letra as coisas que eu te falei no passado. O fato de eu não gostar de você romanticamente, não impede que outra pessoa o faça. Apenas se ame mais. Você também merece encontrar um amor. E sinto que já fez isso. Mas se deixá-la escapar, o peso na sua consciência por não ter lutado vai te assombrar todos os dias.

Anya apenas ouvia a conversa, sem falar nada. Tudo o que Riyeon estava dizendo era verdade. Se a situação fosse entre elas duas, ela jamais deixaria Riyeon ir sem lutar até o fim.

— O que querem que eu faça? Eu não sei para onde ir. Ela não fala comigo, na verdade, ela nem me olha. É como se eu não existisse mais. E não sei se aguento mais rejeições.

— Deixe com a gente. Nós vamos investigar. Qualquer novidade, nós vamos te avisar. Apenas não desista ainda.

Daehyn olhou para Riyeon e Anya, sentindo uma mistura de esperança e medo. Ela queria acreditar que ainda havia algo a ser salvo entre ela e Harin, mas o receio da dor de mais uma decepção a paralisava. No entanto, vendo a determinação nos olhos das duas, ela decidiu se agarrar àquela última chance. Apenas uma. Apenas mais um passo antes de desistir de vez.

— Tudo bem — disse finalmente. — Eu confio em vocês.

Riyeon assentiu, trocando um olhar com Anya. Elas sabiam que não seria fácil, mas estavam dispostas a descobrir a verdade e fazer o possível para ajudar Daehyn e Harin. Porque, no fundo, sabiam que aquele amor ainda existia. Só precisava de uma chance para sobreviver.

Investigariam o que estava acontecendo. Harin não teria se afastado assim sem um motivo. E, pelo bem da amiga, elas descobririam a verdade.