Daehyn estava acostumada a evitar qualquer tipo de atenção desnecessária. Depois do término abrupto com Harin, ela se fechou ainda mais, enterrando-se nos estudos e ignorando as conversas sobre a nova fase da ex ao lado de Kyler. No entanto, ignorar não significava esquecer. Ela ainda sentia a presença de Harin em cada corredor, cada olhar que era lançado em sua direção quando estavam no mesmo ambiente.
Foi por isso que estranhou quando Kyler, do nada, se aproximou dela na biblioteca da escola Mirae. Ele sempre parecia um figurante na história de Harin — uma presença conveniente, um acessório de imagem. Mas agora, ele se mostrava algo diferente: um homem calculista, com intenções ocultas. Ele estava em todo lugar.
— Você é Daehyn, certo? — ele perguntou, com um sorriso simpático que não alcançava os olhos.
— O que você quer? — respondeu sem rodeios, fechando o livro que lia.
— Apenas conversar. Sei que minha presença pode ser... irritante para você. Mas acho que temos algo em comum. Harin.
Daehyn estreitou os olhos, desconfiada. Kyler puxou uma cadeira e se sentou ao seu lado, cruzando os braços como se quisesse parecer relaxado. Ela teve um déjà vu, já que ela fez a mesma coisa com Anya, quando quis jogar a semente para separá-la de Riyeon. Daehyn não era boba.
— Não tenho nada para falar sobre ela — Daehyn disse secamente, pegando seu livro para se levantar. Mas Kyler segurou seu pulso de leve, sem força, apenas o suficiente para que ela não fosse embora imediatamente.
— Sei que ela ainda se importa com você. Isso é um problema para nós dois. — Ele soltou um suspiro, como se estivesse se abrindo. — Eu realmente quero que esse namoro funcione, e você é um obstáculo.
— Se ela ainda se importa comigo, por que está com você? — Daehyn rebateu, o coração acelerando, mas mantendo o rosto impassível. Kyler parecia saber sobre o relacionamento que elas tiveram.
— Porque ela não tem escolha. Assim como eu. — Kyler se inclinou, baixando a voz. — Há coisas acontecendo nos bastidores que você nem imagina. Mas o que importa é que, se você continuar na vida dela, só vai piorar as coisas. Para ambas.
Daehyn sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Ele estava tentando manipulá-la, mas ao mesmo tempo, havia uma verdade oculta em suas palavras. Do que diabos ele estava falando?
— O que você está tentando dizer? — ela perguntou, semicerrando os olhos.
Kyler sorriu, satisfeito por vê-la interessada.
— Só estou dizendo que às vezes, desistir de algo que amamos é o melhor a se fazer para protegê-lo. Você quer que Harin seja feliz, certo? Então, talvez seja melhor não insistir em uma história que já acabou.
— Ou talvez seja melhor eu descobrir o que realmente está acontecendo — Daehyn rebateu. — E se você está realmente por dentro desses "bastidores", foi ela quem se afastou de mim primeiro. Eu apenas estou respeitando a decisão dela. Não estou rodeando ninguém.
Kyler a observou antes de dar um pequeno sorriso torto.
— Eu sabia que você era esperta. Mas cuidado, Daehyn. Tem gente que não gosta de ser contrariada. E essas pessoas podem acabar tornando sua vida muito difícil.
Ele se levantou, lançando um último olhar para ela antes de sair. Daehyn permaneceu ali, o coração acelerado. Algo estava errado. Muito errado. E agora, mais do que nunca, ela precisava descobrir o que estava acontecendo com Harin.
E que papo era aquele. Ela nunca falou com Kyler na vida, mas ele parecia saber muito sobre ela. E no fundo, ela sabia que Harin não teria contado nada a ele. O que deixava tudo mais misterioso.
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Kyler entrou na sala privada do restaurante caro que a mãe de Harin havia reservado para o encontro. Ele se sentia como um peão em um jogo de xadrez, e odiava isso. Mas não tinha opção. Ela estava sentada, impecável como sempre, segurando uma taça de vinho, com um olhar calculista que sempre o incomodava.
— Espero que tenha boas notícias para mim — ela disse, sem rodeios, pousando a taça na mesa. — Não gosto de perder tempo.
Kyler suspirou e sentou-se de frente para ela.
— Estou fazendo o que posso. Harin não confia mais em mim como antes. E Daehyn... ela também não é fácil de manipular.
Ela arqueou uma sobrancelha, impaciente.
— Isso não é resposta. Eu lhe dei uma função e espero resultados. Quero os contratos que estão em posse de Harin, cópias de cada um. Se eu conseguir acesso a eles, posso barrar qualquer futuro que ela tenha na Coreia. Sem oportunidades, ela se afastará naturalmente dessa cidade, e finalmente entenderá que não tem outra escolha a não ser voltar para Paris comigo.
Kyler sentiu um aperto no estômago. O plano dela era cruel, mas não era surpresa. Ele se mexeu na cadeira, desconfortável.
— Harin não vai aceitar isso. Ela já está desconfiada, eu posso ver nos olhos dela. Se ela começar a perder tudo de repente, ela vai saber que você está por trás disso.
A mulher sorriu, mas não havia calor ali. Apenas frieza.
— E o que ela pode fazer? Nada. Sem conexões, sem futuro na mídia coreana, e com a reputação dela sendo arrastada para o fundo do poço, ela não terá outra saída. E você, Kyler, será a chave para tudo isso. O "namoro" de vocês está a todo vapor, e quanto mais falarem sobre ele, mais benéfico vai ser quando você terminar com outro escândalo. Da última vez, ela quase não conseguiu recuperar a imagem de boa moça.
Ele apertou os punhos sobre a mesa.
— Você já conseguiu tantas coisas dela. Por que simplesmente não a deixa ser feliz? Por que esse controle todo?
Os olhos da mulher se estreitaram, e sua voz saiu cortante.
— Porque eu sou a mãe dela. E sei o que é melhor. O amor é passageiro, Kyler. A fama, o sucesso, isso sim, é o que importa. Se eu deixar Harin tomar decisões baseadas em emoções idiotas, ela arruinará tudo. E eu não posso permitir isso.
— Mas, e eu? Você vai me devolver as fotos que tem? Eu estou fazendo tudo o que posso. Praticamente, deixei a minha carreira em stand by, tudo para ajudar você.
— Se fizer conforme eu mandar, eu te dou as fotos e você vai poder viver feliz ao lado do seu amado. Parece até piada. Você e a Harin, envolvidos com pessoas do mesmo sexo. É nojento.
— Talvez se você também tivesse um amor, deixaria sua filha em paz e seria menos amarga.
— Veja como fala comigo. Eu tenho você na palma da mão.
Kyler sentiu um gosto ruim na boca. Mas antes que pudesse responder, a porta do restaurante se abriu bruscamente.
Não era um garçom. Era Riyeon.
— Então é isso que está acontecendo... — sua voz estava carregada de fúria. Atrás dela, Anya e Jiwon pareciam igualmente chocadas.
A mãe de Harin inclinou a cabeça, fingindo curiosidade.
— Quem são vocês? — perguntou friamente.
Anya cruzou os braços.
— As pessoas que vão garantir que seu plano nojento falhe.
Kyler fechou os olhos. Aquilo não ia acabar bem.
Mas talvez, fosse o início da virada do jogo.
— Você as conhece? — Ela pergunta a ele, e ele fingiu que não, apesar de já tê-las visto conversando com Harin. Ele preferiu não se meter, já estava envolvido demais numa história que nem era dele.
— Seja lá quem forem, por gentileza, se retirem. Essa sala é privada.
Anya puxou Riyeon pela manga do casaco, seria melhor não confrontar aquela mulher arrogante. Se ela era capaz de sabotar a própria filha, então era capaz de tudo. Elas saíram do seu campo de visão, com a certeza que não deixariam ferrarem Harin.
Riyeon parecia fora de si.
— Nós temos que contar à Harin, que seu namorado está de complô com sua mãe — diz ela.
— Calma, amor. Nós precisamos de mais provas. Nós não sabemos até onde Harin sabe sobre isso. Precisamos ter cautela — argumenta, Anya. Ela estava com um olhar aflito, se sentindo em uma série de investigação.
— Anya tem razão. Não sabemos se Harin está envolvida com eles. E se estivermos fazendo tudo isso para ajudá-la, e no fim, ela faz parte de todo o plano? Nós vamos estar fazendo papel de trouxas — Jiwon tinha a mão no queixo, pensativa.
— Mas tem a Daehyn. Ela não sabe de nada disso. Nós só começamos a investigar para esclarecer as coisas para ela. Porém, parece que quanto mais a gente procura, mais a gente acha. E isso está ficando preocupante — Riyeon termina sua linha de raciocínio.
— Vocês ouviram sobre os contratos? Ela quer que Kyler os pegue. Não podemos deixar isso acontecer — Anya continua. — Tenho certeza, que disso, a Harin não sabe. (...)