Traído pelo Sangue 3~
A dor foi a primeira coisa que notei - aguda e envolvendo todo o meu corpo. Pisquei lentamente, o quarto entrando em foco, mas tudo parecia estranho e errado. Me mexi levemente, e a dor atravessou meu corpo como uma represa.
Onde estou?
Meu coração começou a acelerar, as últimas coisas que lembrava passando pela minha mente: o penhasco, a queda, aquela palavra... companheiro. Será que imaginei? Ou realmente ouvi?
Me forcei a sentar, a cama embaixo de mim muito mais macia do que qualquer coisa que já conheci, o que só me fez sentir mais deslocada. O ar tinha um leve cheiro de cedro e limão, nada parecido com a floresta onde acordei antes. Olhei ao redor; o quarto era pintado em cor creme, tinha duas janelas cobertas com cortinas. O quarto tinha poucos móveis, mas era muito diferente do que eu estava acostumada em casa.
A porta rangeu, e olhei para cima quando alguém entrou. Minha garganta apertou, e engoli o pânico crescendo no meu peito.
"Você acordou," disse o homem, sua voz sem emoção. Ele me examinou, e pude ver a irritação em seus olhos. Me encolhi, me perguntando quem ele era. Observei enquanto ele andava ao redor, fazendo seu trabalho, então ele de repente parou e olhou para mim. "Você não deveria estar sentada. Tivemos que dar pontos em você," ele disse com irritação.
"Me desculpe," soltei rapidamente e voltei a deitar.
O homem abriu a boca como se fosse dizer algo e então parou, "Você deve ficar bem em algumas horas," ele disse rispidamente.
"O-obrigada. umm... O-onde estou?" consegui perguntar, minha voz mal passando de um sussurro.
Ele ergueu uma sobrancelha. "Você está na Alcateia Vehiron."
Meus olhos se arregalaram com suas palavras enquanto as palavras ecoavam na minha cabeça novamente. Companheiro. Companheiro. Companheiro.
Um arrepio percorreu meu corpo. Isso não podia ser real. Este homem... ele era meu companheiro?
Cain. Alfa Cain.
Meu companheiro.
Apertei meus olhos, desejando que o pensamento desaparecesse. Não havia chance dele me aceitar. Ele era implacável, um monstro em todas as histórias que ouvi. Sua reputação era suficiente para fazer qualquer um tremer de medo. Diziam que ele rejeitou todas as mulheres que se aproximaram dele, jogando-as de lado como brinquedos descartados.
Ele nunca me aceitaria. Alfa Cain nem sequer me olharia duas vezes, muito menos me aceitaria como sua companheira. Eu estava verdadeiramente ferrada em todos os sentidos.
O que a deusa da lua estava pensando? Eu era seu próximo projeto de comédia porque isso é verdadeiramente risível.
Uma hora depois, ouvi a porta ranger novamente, o mesmo homem que vi antes entrou. "Alfa Cain quer ver você," ele disse simplesmente, seu tom não me dando nenhum conforto.
Congelei ao ouvir seu nome - Alfa Cain. As palavras pairavam no ar como um peso pesado, tornando difícil respirar.
"Alfa Cain quer ver você," o homem repetiu, seus olhos passando por mim com a mesma irritação de antes.
Assenti fracamente, sem saber se conseguiria me mover ou falar, mas consegui levantar. Isso não podia ser real. Isso não podia estar acontecendo comigo. Sei que ele vai me rejeitar, mas estava esperando ainda ter tempo. Isso não podia ser real. Isso não podia estar acontecendo comigo.
O homem não esperou por uma resposta. Ele virou nos calcanhares e começou a andar em direção à porta, claramente desinteressado na minha reação.
Finalmente paramos em frente a uma porta grossa; eu podia ouvir o murmúrio baixo de vozes do outro lado. O homem não bateu, simplesmente abriu a porta e gesticulou para que eu entrasse.
Dentro do quarto, o cheiro de couro e cedro era forte no ar. No fundo, sentado em uma mesa enorme feita de madeira escura, estava ele. Meu companheiro.
Sua presença era tão poderosa e intensa que quase parecia que o ar ao seu redor estava carregado. Ele levantou o olhar quando entrei, e minha respiração ficou presa na garganta. Ele era o homem mais bonito que já vi.
Ele não falou, apenas me observou com aqueles olhos frios e ilegíveis. O homem que me guiou até aqui recuou, me deixando sozinha diante de Cain. Me senti como uma presa diante de um predador. Me encolhi, meu coração batendo mais forte do que nunca.
"Sente-se," Cain disse, sua voz áspera e autoritária.
Não me movi, congelada no lugar. Ele se recostou em sua cadeira, seus olhos nunca deixando os meus. "Você é surda?" Sua voz estava baixa.
Estremeci e lentamente me movi para a cadeira à sua frente, sentando rigidamente, minhas mãos apertadas sobre minhas coxas.
Os olhos do Alfa Cain escureceram, e pude ver a raiva cintilando por trás deles. Ele me encarou por um longo momento, seus lábios apertados. Então, de repente, sua voz baixou perigosamente.
"Quantos anos você tem?" Ele perguntou, suas palavras mais frias que antes.
Engoli em seco, mal conseguindo manter seu olhar. "Dezenove," respondi.
Seus olhos brilharam, e por um momento, jurei que os vi brilhar em um tom sombrio.
Ele se levantou abruptamente. "Ele rosnou baixo, uma risada amarga escapando de sua garganta. "Você nem tem idade suficiente para ser rejeitada apropriadamente."
Senti meu estômago se contorcer. Suas palavras me atingiram como um golpe, e meu coração afundou mais do que eu achava possível. Em dois meses, farei vinte anos. A idade perfeita para ser rejeitada.
Ele passou os dedos pelo cabelo freneticamente. "Você não é minha companheira," ele disparou, "Eu não quero uma. Nem agora, nem nunca."
Seus punhos se cerraram ao lado do corpo, e seus olhos nunca deixaram os meus. "Até você ter idade suficiente para ser rejeitada, fique longe da minha vista."