Natalie~
Fazia cinco anos desde que eu vi meu mundo inteiro se despedaçar diante dos meus olhos. Cinco longos e cruéis anos desde que meus pais, meu melhor amigo e sua família foram massacrados na minha frente. As risadas de seus assassinos ainda ecoam em meus ouvidos, uma melodia cruel que nunca esquecerei. Fui deixada viva, embora muitas vezes desejasse não ter sido.
Cinco anos desde que o Alfa me condenou como filha do traidor, me despojou de tudo que eu conhecia e me reduziu a essa sombra de garota, trabalhando na cozinha da casa da alcateia até meus dedos sangrarem e minhas costas implorarem por misericórdia. Essa era minha vida agora—dia e noite, trabalho sem fim, sem perspectiva de término. Embora eu tivesse 18 anos agora, eu era uma criança de 13—mal estava na oitava série—quando minha vida virou cinzas.
Esta noite não era diferente. Eu estava ajoelhada no piso frio, esfregando uma panela gordurosa que se recusava a ficar limpa. Meu cabelo vermelho escapava do coque improvisado que eu tinha feito pela manhã. As mechas grudavam no meu rosto suado enquanto eu tentava afastá-las, espalhando gordura pela minha bochecha.
"Você está com gordura no rosto, Natalie," murmurei para mim mesma com uma risada amarga. Como se alguém aqui se importasse com minha aparência.
O som de risadinhas quebrou minha concentração. Olhei para cima bem quando a porta da cozinha se abriu, revelando as filhas gêmeas do Alfa—Mira e Lila. Seus cabelos pretos brilhantes e olhos cor de avelã idênticos brilhavam com vida, do jeito que só os privilegiados podem brilhar e suas risadas eram como sinos tilintando. Elas eram dois anos mais novas que eu, mas diferente de mim, suas vidas foram preenchidas com alegria, educação e oportunidades infinitas.
"Você viu como ele sorriu para mim hoje?" Mira suspirou, pegando uma maçã do balcão.
"Ah, por favor," Lila zombou, encostada na porta. "Ele estava olhando para mim, não para você. Carter gosta de confiança, Mira, e eu tenho de sobra."
"Você está delirando!" Mira riu, jogando uma uva na irmã.
Sua conversa me atingiu como um lembrete cruel do que eu havia perdido. Eu não ia à escola desde que era um pouco mais nova que elas. Minha chance de educação terminou no dia em que meus pais foram massacrados, e o Alfa decretou que eu deveria servir a alcateia como punição pelos supostos crimes deles. Ainda assim, não pude evitar sorrir levemente com suas brincadeiras, lembrando como era ter uma vida despreocupada.
Enquanto eu esfregava com mais força, fingindo não ouvir, recebi um tapa forte na parte de trás da cabeça. A dor irradiou pelo meu crânio, e me virei, meu rosto queimando de vergonha.
"Sua garota imunda!" latiu a chef principal, Patricia, uma mulher robusta de meia-idade com uma carranca permanente gravada em seu rosto. "Amarre esse cabelo nojento! Quer contaminar a comida?"
"Me desculpe," murmurei, mantendo a cabeça baixa enquanto me apressava para lavar as mãos. As gêmeas riram atrás de mim, sussurrando comentários maldosos que queimavam em meus ouvidos enquanto eu prendia meu cabelo novamente.
"Ela parece um rato afogado," Mira sussurrou, alto o suficiente para eu ouvir.
"Talvez se ela esfregar com força suficiente, finalmente vai lavar o fedor dos pais traidores dela," Lila acrescentou com um sorriso malicioso.
Elas saíram da cozinha, ainda rindo, enquanto Patricia gritava para eu me apressar. "O jantar não vai se servir sozinho! Mexa-se, garota!"
Quando chegou a hora do jantar, a cozinha era um frenesi de atividade. Eu trabalhava ao lado de alguns Omegas, carregando comida nas bandejas. Eu os invejava. Eles tinham turnos e pausas; podiam ir para casa quando seus deveres terminavam. Eu nunca tive esse luxo. Enquanto eu carregava uma bandeja para o salão de jantar lotado, o barulho de risos e conversas girava ao meu redor, mas eu tentava manter a cabeça baixa. Ser notada aqui nunca acabava bem para mim.
"Ei, traidora!" Timóteo, o novo Beta, gritou quando me aproximei da mesa do Alfa. Meu estômago se contorceu. Eu sabia o que estava por vir.
Coloquei a bandeja na mesa e, antes que pudesse me afastar, sua mão agarrou minha bunda através do vestido fino. Eu pulei, um grito agudo escapando dos meus lábios enquanto o salão explodia em risadas.
"Pare com isso!" implorei, lágrimas se formando em meus olhos. "Por favor, não—"
"Por quê?" ele zombou. "Você é sem lobo, Natalie. Nenhum companheiro virá te reivindicar. Amanhã é sua última chance de se transformar, e quando você falhar em se transformar novamente, você será um alvo fácil. É melhor se acostumar, Senhorita Sem Lobo."
Suas palavras enviaram gelo pelas minhas veias. Cambaleei de volta para a cozinha, minhas lágrimas me cegando. Patricia deve ter visto o desespero no meu rosto porque me dispensou com um ríspido, "Vá para casa e se recomponha."
O luar iluminava minha pequena cabana deteriorada enquanto eu me arrastava para casa. Era um lugar lamentável na borda do território da alcateia, longe do brilho acolhedor das casas da alcateia. O telhado vazava, as janelas estavam rachadas, e a porta mal ficava fechada com sua fechadura frágil. Cinco anos atrás, o Alfa tinha tomado a casa da minha família, me deixando com este barraco.
Desabei na cama rangente, enterrando meu rosto nas mãos enquanto soluços sacudiam meu corpo. "Por favor, Deusa da Lua," sussurrei entre soluços. "Eu já tive duas tentativas fracassadas. Por favor, deixe-me me transformar amanhã. Não me deixe virar o brinquedo deles. Por favor..."
Na noite seguinte, a alcateia se reuniu sob a lua cheia para a cerimônia anual de transformação. O ar estava elétrico com antecipação enquanto os lobos jovens—principalmente de 13 anos, alguns de 16, e eu—ficamos em círculo. Eu era a mais velha. Esta era minha última chance, um lembrete humilhante de quanto eu não pertencia ali.
Um por um, os lobos jovens começaram a se transformar, seus corpos se contorcendo em formas elegantes sob a luz da lua. Vivas e uivos enchiam o ar enquanto pais orgulhosos celebravam as transformações de seus filhos.
E então havia eu—ainda de pé, ainda em forma humana.
Quando o último lobo se transformou e eu ainda estava lá, tremendo e sozinha, risadas explodiram ao meu redor.
"Ela está sendo punida," alguém sussurrou.
"Pelos pecados dos pais dela," outro concordou.
"Ela é uma vergonha," outro acrescentou.
A voz trovejante do Alfa silenciou a multidão. "Dispensados!" ele latiu, então virou seus olhos negros e frios para mim. "Natalie, meu escritório. Agora."
Meu coração disparou enquanto o seguia até sua casa, através da grandiosa sala de estar, e subindo a escada até seu escritório. O ambiente estava fracamente iluminado, o ar pesado com meus medos. Quando a porta se fechou atrás de nós, o pavor se enrolou em meu estômago.
"Você é linda," ele disse, sua voz baixa e perturbadora enquanto se aproximava de mim. "Esses seus olhos azuis... como diamantes."
Recuei até minhas costas baterem na porta. "Alfa Darius, por favor..."
"Agora que você está oficialmente sem lobo, todos os machos da alcateia vão querer te reivindicar. Mas eu posso te proteger—se você concordar em ser minha."
"Não!" gritei, balançando a cabeça. "Você tem a idade do meu pai! Por favor, me deixe ir!"
Sua expressão escureceu. "Se você não vier por vontade própria, vou tomar o que é meu."
Antes que eu pudesse compreender suas palavras, ele avançou, rasgando meu vestido pelo decote. Eu gritei quando seus dentes afundaram em meu pescoço, me marcando contra minha vontade. "Não! Pare!" implorei, minha voz rouca de terror.
Justo quando ele se movia para continuar seu ataque, uma batida na porta o fez congelar no lugar.