Uma Dívida Pesada Demais

Natalie~

O ronco do motor preenchia o carro enquanto dirigíamos pelas ruas silenciosas da cidade. Meus dedos apertavam as bordas do banco enquanto a inquietação revirava meu estômago. Jake, sentindo minha tensão, choramingou suavemente no meu colo. O silêncio entre Zane e eu era aterrorizante.

Limpei a garganta, minha voz tremendo enquanto perguntava novamente, "Para onde estamos indo?"

Zane não respondeu mais uma vez. Seu foco permanecia na estrada, sua expressão ilegível.

"Senhor," eu disse com mais firmeza desta vez, meu medo dando um tom cortante às minhas palavras. "Para onde está me levando?"

Ele suspirou, o som carregando uma nota de exaustão. "Acalme-se, Natalie. Estou levando você para um hotel para passar a noite."

Minha respiração falhou ao ouvir a palavra hotel, e meu aperto em Jake ficou mais forte. Um milhão de pensamentos corriam pela minha mente, cada um mais sombrio que o outro.

Sentindo meu desconforto, Zane olhou brevemente para mim antes de voltar os olhos para a estrada. "Não tenha ideias estranhas. Ficaremos em quartos separados."

Pisquei, pega de surpresa por sua franqueza. Jake deu um latido suave como se ecoasse minha inquietação.

"Não vou levar você de volta para aquele abrigo," Zane continuou. "Não é lugar para uma jovem dormir, especialmente a esta hora."

"Estou bem no abrigo," eu disse baixinho, embora minha voz vacilasse. "Você já fez o suficiente por mim. Não quero dever mais do que já devo."

Suas mãos apertaram o volante. "Não estou fazendo isso para colocá-la em dívida, Natalie. O abrigo não é seguro. Já passa da 1 da manhã, e não vou deixá-la lá esta noite. Você pode dormir no hotel. Se ainda quiser voltar pela manhã, tudo bem. Mas por enquanto, apenas confie em mim."

Confiança. Essa palavra queimava em meu peito. Pessoas que ofereciam ajuda sempre queriam algo em troca. Eu havia aprendido isso da maneira mais difícil. No entanto, Zane não parecia estar tentando me manipular. Seu tom era objetivo, como se isso fosse apenas... lógico para ele. Ainda assim, não conseguia me livrar da minha desconfiança.

Antes que eu pudesse responder, o carro diminuiu a velocidade e entrou em uma grandiosa entrada circular, parando em frente a um edifício tão imenso que me fez perder o fôlego. O hotel se erguia diante de nós, suas portas de vidro polido refletindo a luz dourada que emanava do interior. Este não era apenas um hotel. Era um lugar para pessoas que viviam em um mundo que eu nem podia imaginar.

"Você só pode estar brincando," eu sussurrei.

Zane estacionou o carro e saiu, acenando para que eu o seguisse. Hesitei, apertando Jake contra meu peito enquanto examinava a área. O ambiente impecável me fazia sentir como uma intrusa. Fiquei parada ao lado do carro, meu olhar nervosamente percorrendo o local, meio que esperando que alguém aparecesse e dissesse que eu não pertencia ali.

"Relaxe," Zane disse, acenando para que eu viesse.

Relutantemente, saí do carro, segurando Jake firmemente em meus braços. Fiquei próxima ao carro, meus pés mal se movendo enquanto eu tentava processar a opulência ao meu redor.

Por dentro, o hotel era ainda mais impressionante. Candelabros de cristal lançavam uma luz suave sobre pisos de mármore, e o ar tinha um leve aroma de rosas e riqueza. Enquanto caminhávamos em direção à recepção, notei como todos os funcionários cumprimentavam Zane com deferência, seus tons cheios de respeito.

Mas quando seus olhos pousavam em mim, suas expressões mudavam. O desdém era claro, como se eu fosse lixo que tinha vagado da rua. Minhas bochechas queimavam, mas mantive a cabeça erguida, focando em Jake.

"Com licença," um dos funcionários disse, parando na minha frente. "Você não pode entrar aqui, especialmente não com um cachorro."

Antes que eu pudesse responder, a voz de Zane soou. "Ela está comigo. Deixe-os passar."

A atitude do funcionário mudou imediatamente, saindo do caminho com um sorriso forçado. Engoli em seco e segui Zane, sentindo todos os olhares críticos em minhas costas.

Zane reservou dois quartos como prometido, e seguimos para os elevadores. Quando chegamos ao meu quarto, ele olhou para Jake. "Posso levá-lo para meu quarto se você quiser. Ele pode ficar mais confortável lá."

Jake enterrou o rosto em meu peito, recusando-se a se mover. Balancei a cabeça. "Ele está bem comigo."

Zane sorriu levemente, seu primeiro sorriso verdadeiro desde que o conheci. Percebi então que ele só parecia suavizar quando Jake estava envolvido. Ele estendeu a mão, coçando atrás das orelhas de Jake e acariciando sua cabeça.

"Boa noite, garoto. Boa noite, Natalie," ele disse antes de ir para seu quarto.

Entrei e congelei. O quarto era lindo, com uma cama enorme adornada com lençóis brancos imaculados, uma poltrona luxuosa e iluminação suave que fazia tudo parecer um sonho. Eu não pertencia aqui. Cada item no quarto gritava luxo, intocável.

Coloquei Jake no chão e recuei para um canto, meus joelhos subindo até meu peito. Jake inclinou a cabeça, me observando.

"Este lugar... é demais," sussurrei para ele. "Estou com medo de tocar em qualquer coisa."

Ele choramingou, e eu dei um pequeno sorriso. "É bobagem, eu sei. Mas uma vez, na minha alcateia, quebrei um vaso na casa do Alfa. Não foi de propósito—simplesmente escorregou. Eles me chicotearam por isso. Dez chibatadas." Minha voz falhou, e passei os dedos sobre meu braço, onde as cicatrizes há muito haviam desaparecido. "Não posso me dar ao luxo de errar novamente."

Jake subiu no meu colo como se entendesse minhas palavras, pressionando seu pequeno corpo contra o meu. Seu calor me ancorava, e o abracei apertado. "Estou bem agora," sussurrei. "Eu prometo. Mas não vou tocar em nada aqui."

Meu estômago roncou alto, quebrando o momento. Eu não comia desde que a comida que o Sr. Martin tinha me dado foi roubada por aqueles sem-teto. Jake olhou para mim, seus olhos cheios de preocupação.

Antes que eu pudesse pensar nisso, a campainha tocou. Levantei-me rapidamente, meu coração acelerado enquanto me aproximava da porta.

"Sou eu," a voz de Zane chamou do outro lado.

Abri a porta e encontrei Zane ao lado de um funcionário do hotel que empurrava um carrinho de comida para dentro do quarto.

"Você deve comer," Zane disse simplesmente. "Eu podia ouvir seu estômago roncando no carro."

O calor subiu às minhas bochechas, mas consegui dizer um baixo "Obrigada."

Zane assentiu e saiu sem dizer mais nada. Sentei-me no chão com Jake, compartilhando a refeição com ele. Era mais comida do que eu tinha visto em semanas, e seu calor preencheu o vazio dolorido em meu peito.

Quando terminamos, fiz uma cama improvisada no chão para Jake e para mim. A cama no canto do quarto permaneceu intocada, perfeita demais para alguém como eu.

Na manhã seguinte, Zane nos levou de volta ao hospital. Assim que chegamos, o doutor correu em nossa direção, sua expressão sombria.

"Sr. Anders, há mais problemas com Garrick além da pneumonia," ele disse. "Tentamos tudo, mas sua condição não está melhorando."

Suas palavras fizeram meu estômago afundar até o chão. Cambaleei para trás, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. "Por favor," implorei. "Tente mais. Faça alguma coisa!"

Zane colocou uma mão firme em meu ombro, sua calma perturbadora. "Ele pode ser transferido para outra instalação?" perguntou ao doutor.

O doutor hesitou antes de assentir. "Sim, essa seria a melhor opção neste momento."

Zane não perdeu um segundo. "Prepare-o para a transferência," ordenou antes de pegar seu telefone.

Tudo ao meu redor ficou embaçado enquanto ele fazia uma ligação. "Preciso de um helicóptero. O mais rápido possível."

Afundei no banco, minha mente girando. A vida de Garrick dependia disso, mas o custo... Eu nem podia imaginar. A generosidade de Zane me aterrorizava. Minha dívida com Zane acabara de triplicar, e eu não tinha como pagá-lo.

Nada na vida vem de graça, lembrei-me amargamente. Nem mesmo a bondade.

Como diabos eu iria pagar.

Minha deusa, eu estava acabada.