Dívidas Crescentes

Natalie~

O ronco do motor do carro preenchia o silêncio pesado entre nós. Zane estava rígido no banco do motorista, seus olhos fixos na estrada à frente, cada movimento deliberado e controlado. Jake se mexeu levemente no meu colo, se aconchegando mais em mim, seu pequeno corpo irradiando calor contra o frio que se infiltrava na noite. Eu olhava pela janela, as luzes da cidade passando embaçadas enquanto meus pensamentos giravam em espiral. Os eventos da noite se repetiam várias vezes em minha mente, um rolo caótico de desespero, aflição e um inexplicável vislumbre de esperança.

Garrick estava deitado no banco de trás, imóvel exceto pelo leve subir e descer de seu peito. A visão dele, tão frágil e sem vida, corroía meu coração. Eu não podia suportar a ideia de perdê-lo.

Chegamos ao hospital exatamente quando o relógio marcou nove horas, os números vermelhos brilhantes no painel eram um lembrete cruel de quão tarde era. Zane saiu do carro com a mesma eficiência calma que havia demonstrado durante toda a noite, seus movimentos quase compostos demais para a situação. Ele abriu a porta traseira e gentilmente levantou Garrick em seus braços, sua força contrastando com a fragilidade de Garrick.

Eu o segui, ainda com Jake nos meus braços, minhas pernas tremendo enquanto me apressava atrás do Zane para dentro do hospital bem iluminado. O cheiro estéril me atingiu imediatamente, um contraste agudo com o odor de mofo do abrigo. Uma enfermeira nos avistou e imediatamente entrou em ação, sua voz aguda enquanto chamava por ajuda.

"Este homem precisa de atendimento imediato!" A voz profunda do Zane era autoritária, cortando através do caos enquanto a equipe médica se aglomerava ao seu redor.

Uma maca foi trazida, e Zane cuidadosamente colocou Garrick nela. As enfermeiras o levaram rapidamente, suas vozes sumindo conforme desapareciam na sala de emergência. Eu fiquei paralisada no lugar, agarrando Jake com força como se ele fosse a única coisa me mantendo ancorada à realidade.

Minutos se arrastaram no que pareceu horas antes que um doutor emergisse, sua expressão grave mas tingida com tranquilidade.

"Pneumonia," ele disse. "É grave, mas vocês o trouxeram bem a tempo. Ele está na UTI agora, e estamos fazendo tudo que podemos. Se vocês tivessem demorado um pouco mais, ele não teria sobrevivido."

O alívio me inundou como uma onda, me deixando fraca. Soltei um suspiro trêmulo, lágrimas ardendo em meus olhos enquanto sussurrava, "Obrigada."

A voz do Zane estava firme, inabalável. "Faça o que for preciso para salvá-lo. Não economize com despesas."

O doutor assentiu, seu tom profissional. "Manteremos vocês informados."

Quando o doutor se afastou, me virei para Zane, gratidão crescendo em meu peito. Mas sob ela, um pavor muito familiar começou a se infiltrar. Como eu jamais poderia retribuir isso a ele? As contas do hospital, a bondade que ele havia demonstrado, os incontáveis favores que ele tinha feito por mim hoje—era demais.

Nos sentamos na sala de espera, as luzes fluorescentes acima lançando um brilho estéril. Zane se recostou em sua cadeira, sua expressão indecifrável. Tentei me concentrar em qualquer outra coisa, mas meus pensamentos continuavam voltando para ele. O que ele queria de mim em troca?

"Por que você está morando em um abrigo para sem-teto?" Sua voz cortou meus pensamentos como um chicote, me assustando. Seu tom não era cruel, mas era direto, franco. "Onde estão seus pais, seu namorado, seu marido?"

A pergunta me atingiu muito forte enquanto tristes memórias voltavam à minha mente. Engoli em seco, me mexendo desconfortavelmente na cadeira. "Eu... eu não tenho ninguém assim na minha vida," respondi baixinho, minha voz mal passando de um sussurro.

Suas sobrancelhas se franziram enquanto me estudava, ceticismo evidente em seus olhos azuis gelados. "Como assim você não tem ninguém? Seus pais? Um namorado? Um marido?"

Encontrei seu olhar, me sentindo exposta sob seu escrutínio. "Meus pais morreram há muito tempo," disse, minha voz tremendo. "E eu não tenho namorado ou marido."

A expressão do Zane mudou, descrença gravada em seu rosto. "Você espera que eu acredite nisso?" ele disse, seu tom tingido com irritação. "Você não precisa me contar sobre seu cônjuge se não quiser, mas se ele existe, não deveria deixar você morar em um abrigo para sem-teto."

Suas palavras doeram, mas eu não tinha energia para me defender. Estava acostumada com pessoas duvidando de mim, questionando minhas palavras, minha vida. Que diferença fazia se ele não acreditava em mim? Ele havia salvado Garrick—isso era o que importava.

O silêncio se estendeu entre nós, denso e desconfortável. Finalmente, Zane falou novamente, seu tom objetivo. "Você não precisa ficar aqui. Garrick está na UTI, e não deixarão ninguém vê-lo até que ele esteja estável."

Assenti, entendendo sua lógica mas hesitante em partir. O hospital parecia um refúgio seguro comparado ao abrigo. Ainda assim, não argumentei. O segui para o ar frio da noite, a escuridão nos pressionando.

O estacionamento estava praticamente vazio, o zumbido distante da cidade o único som. Zane caminhava à frente, sua postura tão composta como sempre. Eu ficava para trás, dividida entre gratidão e uma sensação incômoda de inadequação.

"Adeus," disse suavemente, minha voz quase perdida na noite. Eu não tinha plano, mas não podia pedir outro favor a ele. Meu orgulho não permitiria. Encontraria um lugar para me esconder até de manhã, depois descobriria um jeito de voltar ao abrigo.

Quando me virei para ir embora, sua voz me deteve. "Entre no carro," ele disse simplesmente.

Hesitei, meu orgulho lutando contra meu cansaço. "Não quero incomodá-lo novamente," disse, minhas palavras saindo apressadas. "Já devo tanto a você—a conta do hospital, tudo que você fez—"

Zane me interrompeu com um olhar, seu olhar penetrante me silenciando. "Entre," ele repetiu, seu tom firme mas não indelicado.

Sem mais palavras, entrei no carro pela terceira vez naquele dia, Jake se acomodando em meu colo como se pertencesse ali. Zane fechou a porta atrás de mim antes de caminhar até o banco do motorista.

O carro ligou com um ronco suave, e saímos do estacionamento do hospital. A cidade se estendia diante de nós, suas luzes lançando um brilho tênue contra o céu noturno.

Por um tempo, observei as ruas passarem, perdida em pensamentos. Mas conforme os minutos passavam, uma sensação de aflição começou a se instalar em meu peito.

Zane não estava me levando de volta ao abrigo.

Me virei para ele, meu coração acelerado. O azul frio de seus olhos era indecifrável no brilho tênue das luzes do painel. O medo se infiltrou em minha voz quando perguntei, "Para onde estamos indo?"

Mas ele não respondeu.