Vida com Humanos

Natalie~

Quando entrei pelas portas do abrigo pela primeira vez, me senti como uma alienígena pousando em um planeta desconhecido. O ambiente era mal iluminado, lotado e cheirava a suor e mofo fraco. Estranhos estavam sentados em cadeiras de metal, alguns conversando em voz baixa, outros olhando fixamente para o vazio. Meu coração batia forte no peito, todos os instintos gritando para eu ir embora, mas eu não tinha para onde ir.

Cruzei os braços firmemente contra o peito enquanto caminhava até a recepção, onde uma mulher de aparência cansada mal levantou o olhar. "Precisa de uma cama?" ela murmurou, com voz rouca.

"Sim, por favor," sussurrei.

Ela deslizou uma prancheta em minha direção, e eu a encarei confusa. Minhas mãos tremiam. Nomes, números de telefone, endereços—o que eu deveria escrever? Eu não usava uma caneta há anos, muito menos tinha preenchido algo assim.

"Você está bem?" uma voz veio da minha esquerda.

Virei-me bruscamente, meu corpo tenso, mas a voz pertencia a um garoto mais ou menos da minha idade. Ele era magro, com cabelos castanhos despenteados e olhos castanhos afiados e curiosos. Ele também parecia deslocado ali—sua presença era de alguma forma mais leve, como se ele não pertencesse àquele espaço escuro e sufocante.

"Eu—eu não sei o que escrever," admiti baixinho. Minha voz soava tão pequena.

Ele olhou para o formulário e sorriu, embora não fosse zombando. "Você não precisa preencher tudo isso, só seu primeiro nome. Eles não se importam muito com o resto."

Aliviada, rabisquei Natalie e devolvi a prancheta. A mulher grunhiu em aprovação e apontou para o lado mais distante da sala, onde fileiras de beliches rangentes estavam amontoadas.

"Vem," disse o garoto, fazendo sinal para eu segui-lo. "Vou te mostrar o lugar."

Hesitei, sem saber se podia confiar nele, mas algo em seu sorriso parecia seguro. "Obrigada," murmurei, caminhando ao seu lado.

"Sou Garrick, a propósito," ele disse. "Você parecia precisar de ajuda."

"É," admiti. "Preciso mesmo."

Naquela primeira noite, não dormi. Fiquei deitada encolhida no colchão fino, olhando para o teto rachado enquanto os sons de tosse, roncos, flatulências e ocasionais murmúrios me cercavam. Cruzei os braços sobre o peito, me encolhendo a cada rangido do assoalho, cada arrastar de pés.

Quando a manhã chegou, Garrick me encontrou sentada do lado de fora do abrigo, abraçando os joelhos. "Noite difícil?" ele perguntou, sentando-se ao meu lado.

Assenti, incapaz de encontrar palavras.

"Sim, é difícil no começo. O truque é manter a cabeça baixa, não incomodar ninguém e sair daqui durante o dia," ele disse, de maneira objetiva.

"Sair?"

Ele sorriu. "Vou te mostrar."

Nos dias seguintes, Garrick me ensinou como sobreviver neste estranho mundo humano. Ele me levou a lugares que eu nunca teria encontrado sozinha—becos atrás de padarias onde funcionários gentis jogavam fora pães perfeitamente bons, restaurantes que discretamente distribuíam sobras para aqueles que sabiam quando aparecer. "O timing é tudo," ele explicou, sorrindo enquanto me entregava metade de um pão ainda quente.

Ele me ensinou onde encontrar pequenos trabalhos—lavar pratos, varrer chão, carregar caixas. "Não é glamouroso, mas dá para pagar uma refeição ou duas," ele disse.

Eu o observava admirada enquanto ele navegava por este mundo cruel com tanta facilidade. "Como você sabe tudo isso?" finalmente perguntei um dia enquanto estávamos sentados atrás de uma lanchonete, dividindo um sanduíche que o cozinheiro tinha nos dado.

Ele deu de ombros. "Faço isso há anos. Você aprende rápido quando não tem escolha."

"Eu não sei nada," admiti baixinho.

"Você está aprendendo agora," Garrick respondeu. Seus olhos suavizaram ao me olhar. "De onde você é, afinal?"

Fiquei tensa. "Uma vila distante. Eu... saí de lá há muito tempo."

Ele assentiu como se entendesse. "Você não precisa me contar se não quiser. Todo mundo aqui tem uma história, mas ninguém está julgando."

Pela primeira vez em anos, me senti segura. Me senti sortuda por ter Garrick.

Garrick se tornou minha âncora. Ele era gentil, engenhoso e, mais importante, não me pressionava a compartilhar mais do que eu estava pronta. Sob sua orientação, comecei a ver o mundo humano não como aterrorizante, mas como uma oportunidade.

"Queria ter vindo para cá antes," disse a ele uma noite enquanto estávamos sentados à beira do rio, observando o pôr do sol refletir na água. "Não é tão ruim quanto eu pensava que seria."

"Viu só? Eu te disse," Garrick brincou. "Você se encaixou perfeitamente."

Eu sorri, e não foi forçado. Parecia real. Pela primeira vez em cinco anos, me senti feliz. Os humanos não tinham conceito de lobos. Não se importavam se eu era quebrada, sem lobo ou uma pária. Aqui, eu era apenas Natalie.

Comecei a sonhar novamente. Não em recuperar meu lobo—aqueles dias já tinham passado—mas em uma nova vida. Talvez eu pudesse conseguir uma educação, um emprego e, um dia, meu próprio apartamento. Imaginei acordar em um lugar pequeno e aconchegante só meu, sem ter que dar satisfação a ninguém. Apenas paz.

Uma noite, Garrick não estava se sentindo bem. Ele parecia pálido, apoiado no beliche quando me aproximei.

"Você está bem?" perguntei, preocupada.

"Sim, só uma dor de cabeça," ele murmurou, me dispensando com um gesto. "Amanhã já estarei bem."

"Fique aqui e descanse," disse firmemente. "Vou buscar comida para nós dois hoje."

Garrick hesitou. "Tem certeza? Você sabe o que fazer?"

"Já te vi fazer isso vezes suficientes," disse com um pequeno sorriso. "Posso lidar com isso."

Ele suspirou. "Está bem. Tome cuidado, Nat."

*********

Sr. Martin, o gentil chef de uma pequena lanchonete, tinha me dito para aparecer às 19h. "Vou ter algo para você," ele disse com uma piscadela.

Quando cheguei, ele estava esperando na porta dos fundos com uma sacola de comida quente. "Aqui está, criança," ele disse, entregando-a. "Deve ser suficiente para você e seu amigo."

"Muito obrigada, Sr. Martin," disse, minha voz cheia de gratidão.

"Cuide-se, está bem?"

"Vou me cuidar."

No caminho de volta ao abrigo, peguei um atalho por um beco silencioso, minha mente focada na comida que estava carregando. Foi quando vi—uma pequena forma mancando se escondendo nas sombras.

Congelei, meu coração disparado. Um filhote de lobo.

Um segundo depois, passos pesados ecoaram atrás de mim. Me agachei instintivamente atrás de uma lixeira enorme enquanto três homens entravam no beco. Eles pareciam brutos—rostos cicatrizados, roupas escuras e uma aura de ameaça que me fez arrepiar.

"Para onde foi?" um homem rosnou.

"Estava mancando; não pode ter ido longe," outro respondeu com raiva. "Você é o idiota que deixou escapar!"

"Eu não vi quando escapou!"

"Silêncio!" O terceiro homem ralhou. "Vamos encontrá-lo. Separem-se."

Prendi a respiração enquanto eles vasculhavam a área, suas botas esmagando o cascalho. Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, eles praguejaram baixinho e foram embora, suas vozes sumindo na distância.

Saí do meu esconderijo e me arrastei para o beco. O filhote estava encolhido em um canto, seu pequeno corpo tremendo.

"Ei," sussurrei suavemente, me agachando.

As orelhas do filhote se achataram, e ele soltou um rosnado fraco.

"Está tudo bem," disse baixinho. "Não vou te machucar. Prometo."

O filhote me observava cautelosamente, seus olhos dourados cheios de medo. Meu peito doía. "Aqueles homens não vão te encontrar. Não vou deixar."

Me aproximei devagar, falando em voz baixa e tranquilizadora. "Você está seguro comigo, pequeno."

Surpreendentemente, o filhote não rosnou de novo. Ele choramingou suavemente, como se pesando minhas palavras. Lentamente, estendi a mão e toquei seu pelo. Estava emaranhado e sujo, e eu podia sentir o tremor em seu pequeno corpo.

"Você está bem agora," murmurei, cuidadosamente pegando-o nos braços. O filhote não resistiu; estava fraco demais para lutar.

Apertando o filhote contra meu peito, corri. Meus pés batiam contra o pavimento enquanto eu corria de volta ao abrigo, meu coração acelerado.

Não vou deixar que te machuquem. Prometo.