Chegada de um Estranho

Natalie~

O filhote de lobo era tão leve em meus braços, quase como se o medo e o desespero agarrados ao seu pequeno corpo pesassem mais que seu corpo físico. Eu o aconcheguei enquanto abria a porta do abrigo, meu coração batendo forte tanto de alívio quanto de medo. O calor do lugar era reconfortante, mas os olhares céticos da equipe fizeram meu estômago apertar.

"Oi", comecei suavemente, aproximando-me da recepção onde uma mulher de meia-idade com olhos afiados e um sorriso cansado estava sentada. Ela olhou para o filhote e imediatamente franziu a testa.

"Você não pode trazer animais aqui", disse ela secamente, sem nem me dar chance de explicar.

"Não é apenas um animal", protestei, minha voz tremendo. "Ele está machucado e assustado. Precisa de ajuda."

Ela balançou a cabeça, cruzando os braços sobre o peito. "Este é um abrigo para pessoas, não para animais de rua. Sinto muito, mas não podemos aceitá-lo."

"Mas eu posso cuidar dele!" Meu desespero transpareceu em minha voz. "Por favor, deixe-me ficar com ele até que melhore."

Sua expressão suavizou por um momento antes de endurecer novamente. "Temos regras, Natalie. Se fizermos uma exceção para você, todos começarão a trazer animais. Simplesmente não podemos fazer isso."

A pequena esperança que eu tinha sentido quando corri até aqui desapareceu completamente com suas palavras. O filhotinho choramingou suavemente em meus braços, como se entendesse. Dei meia-volta e saí do abrigo, minha garganta apertando enquanto as lágrimas ardiam em meus olhos.

De volta às ruas, segurei o filhote mais perto. "Não se preocupe", sussurrei para ele. "Vou dar um jeito. Prometo que não vou deixar que te machuquem."

Encontrei um galpão abandonado perto do abrigo onde eu poderia esconder o filhote sem que ninguém percebesse. Não era muito - apenas um espaço escuro e mofado com um teto que vazava - mas era melhor do que deixá-lo ao ar livre.

Naquela noite, o estado de Garrick piorou. Quando entrei no pequeno canto compartilhado do abrigo, ele estava sentado na beira de sua cama, seu rosto pálido e suor brotando em sua testa. Sua respiração estava difícil, e seus olhos normalmente afiados pareciam sem vida.

"Garrick?" sussurrei, ajoelhando-me ao lado dele.

Ele forçou um sorriso fraco. "Ei, Nat. Você parece ter tido um dia difícil."

"Estou bem", menti, com o pânico apertando meu peito. "Mas você não está. O que está acontecendo? Você tem piorado, e eu-"

Ele estendeu a mão, tremendo enquanto tocava meu braço. "Não se preocupe tanto comigo", disse ele suavemente. "Isso é a vida, sabe? Pessoas morrem aqui todos os dias. Se eu for uma delas, já fiz as pazes com isso."

"Não!" gritei, mais alto do que pretendia. O filhote se mexeu em minha bolsa, soltando um gemido suave. "Não fale assim. Você não é qualquer um, Garrick. Você é... você é como família para mim. Não posso te perder."

Ele riu fracamente, mas logo se transformou em tosse. "Você é muito gentil, Natalie. Mas precisa se preocupar mais consigo mesma do que comigo. Este lugar não é gentil com pessoas como você. Você tem tanto para viver."

Balancei a cabeça, com lágrimas ardendo nos olhos. Garrick tinha feito mais por mim no curto tempo que o conhecia do que minha alcateia tinha feito em anos. Ele me ensinou como sobreviver, como encontrar alegria nas pequenas coisas e como acreditar em mim mesma. Eu não ia desistir dele.

"Vou encontrar uma maneira de te ajudar", sussurrei, com determinação endurecendo minha voz.

Na manhã seguinte, lembrei-me dos antigos remédios que aprendi com minha alcateia. Ervas. Elas tinham salvado inúmeras vidas naquela época, então talvez pudessem salvar Garrick agora. Colhi folhas e raízes do bosque, tomando cuidado para não ser vista pela equipe do abrigo. Usei a mesma mistura para tratar o filhote - que eu começara a chamar de Jake - e para fazer uma cataplasma para Garrick.

Mas conforme os dias passavam, Garrick só ficava mais fraco. Sua pele estava pálida, seus lábios rachados, e cada respiração que ele dava parecia que poderia ser a última.

Uma semana depois, decidi que não podia apenas ficar sentada. Jake e eu saímos cedo pela manhã para procurar comida e remédios. Fiz bicos onde pude - limpando janelas, lavando pratos em uma lanchonete e até ajudando um senhor idoso a carregar compras. Cada moeda que eu ganhava parecia uma pequena vitória.

No final da tarde, eu tinha juntado o suficiente para visitar uma farmácia. A farmacêutica, uma mulher gentil com cabelos grisalhos, ouviu atentamente enquanto eu descrevia os sintomas de Garrick.

"Ele precisa destes", disse ela, colocando alguns pacotes de comprimidos no balcão. "Mas ele realmente deveria estar em um hospital. Este remédio só vai ajudar até certo ponto."

Assenti, agarrando firmemente o remédio. "Obrigada."

No fundo, eu sabia que não podíamos pagar um hospital. Mas não podia deixá-la ver o desespero em meu rosto.

Às 19h, parei no restaurante do Sr. Martin. Como sempre, ele me entregou uma pequena sacola de sobras com um rude mas gentil "Se cuida, garota."

Com Jake trotando ao meu lado, comecei a voltar para o abrigo. Mas antes que pudesse ir muito longe, um grupo de homens sem-teto passou correndo, arrancando a sacola de comida e os remédios das minhas mãos.

"Ei! Parem!" gritei, mas eles desapareceram nas sombras tão rápido quanto vieram.

Jake latiu furiosamente, seu pequeno corpo tremendo com o esforço. "Tudo bem, garoto", sussurrei, afundando no chão em derrota.

Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu sentava no pavimento frio, Jake se enrolando em meu colo. Transeuntes olhavam para mim mas não diziam nada, seus rostos vazios de simpatia.

"O que vou fazer agora?" sussurrei, minha voz quebrando. "Falhei com Garrick. Falhei comigo mesma."

Jake choramingou, encostando seu focinho em minha mão como se quisesse me confortar.

Não sei por quanto tempo fiquei sentada ali, mas o som de um carro parando ao meu lado me fez pular. Levantei-me rapidamente, segurando Jake protetoramente.

Um carro preto elegante brilhava sob as luzes da rua, suas janelas escuras impossíveis de ver através. Meu coração disparou quando a porta se abriu e um homem saiu.

Ele era alto e imponente, seus ombros largos chamando atenção com uma confiança natural. Seu cabelo loiro estava perfeitamente penteado para trás, capturando o brilho suave das luzes da rua. Um único brinco cintilava em sua orelha esquerda, sutil mas marcante, enquanto a ponta de uma tatuagem se curvava sob o colarinho aberto de sua camisa branca impecável, provocando a história que poderia contar. Ele parecia ter saído direto de um daqueles filmes de crime que Garrick e eu costumávamos nos esgueirar para assistir no cinema à noite - um chefe da máfia saído de um thriller.

"Você está bem?" Sua voz era suave mas autoritária, seus olhos azuis penetrantes fixos nos meus.

Recuei instintivamente, segurando Jake mais perto. "Estou bem", menti.

Ele ergueu uma sobrancelha, seu olhar afiado passando para o filhote que se contorcia em meus braços, seu maxilar se contraindo. "Não parece."

"O que você quer?" perguntei, minha voz tremendo apesar dos meus esforços para parecer forte.

"O filhote", disse ele, seu tom calmo mas firme, enquanto se aproximava.

Olhei ao redor, notando a rua estranhamente silenciosa. Meu pulso acelerou, o pânico agitando-se em meu peito. Mas havia algo nele - uma estranha mistura de curiosidade e uma suavidade não dita em sua expressão - que me impedia de correr.

"O que você quer com ele? Olhe para ele, é pequeno e inofensivo. Por que vocês não podem deixá-lo em paz?" exigi, minha voz mais forte do que me sentia. Meu coração batia contra minhas costelas como se tentasse escapar de sua jaula.

Ele sorriu com malícia, seus olhos brilhando com diversão. "Você é terrível nessa pose de durona. Tente abrir mais sua postura, talvez endireitar os ombros. Pode fazer você parecer intimidante - embora, honestamente, duvido que vá funcionar."

Jake choramingou, seu pequeno corpo se contorcendo em meus braços, desesperado para se libertar. Apertei meu abraço, confusa com sua reação mas relutante em soltá-lo.

"Qual é seu nome?" o homem perguntou de repente, sua voz suavizando, me pegando desprevenida.

Hesitei. "Natalie."

"Bem, Natalie", disse ele, colocando as mãos nos bolsos. "Seu pequeno amigo aqui por acaso é meu. E julgando pelo estado de vocês dois, eu diria que tiveram um dia difícil. Deixe-me ajudar."

Enrijeci, balançando a cabeça. "Não preciso da sua ajuda!" retruquei, dando um passo para trás. "Você tem alguma prova de que ele é seu? Como sei que você não é um daqueles homens que o machucaram?" Meus olhos corriam ao redor, procurando freneticamente uma saída, mas os movimentos inquietos de Jake tornavam impossível pensar direito.

O homem riu - um som baixo e rico que fez meu medo queimar com vergonha. Ele não respondeu imediatamente. Em vez disso, alcançou seu bolso, pegando seu telefone. Com alguns toques, ele o estendeu para mim.

A tela acendeu, mostrando uma foto dele abraçando Jake, beijando a cabeça do filhote. Minhas bochechas coraram de vergonha enquanto Jake finalmente se libertava dos meus braços, correndo para o homem. Ele pegou Jake sem esforço, segurando-o perto.

"Traidor", murmurei baixinho, olhando feio para Jake.

A expressão do homem suavizou, embora seu tom tenha se tornado mais autoritário. "Estas ruas não são seguras a esta hora, Natalie. Você não deveria estar aqui, especialmente com ele. Venha comigo. Vou levá-la de volta para casa." Casa, a palavra soou estranha aos meus ouvidos.

"Eu nem te conheço", retruquei, cruzando os braços defensivamente.

"Justo", disse ele, sua voz firme mas gentil. "Mas Jake me conhece, e ele parece confiar mais em mim do que em você agora." Ele deu um rápido cafuné atrás das orelhas do filhote. "Além disso, você realmente acha que ficar aqui fora é uma opção melhor?"

Hesitei, minha mente correndo. Jake não estava rosnando ou tentando escapar - na verdade, parecia contente. "Qual é seu nome?" perguntei, estreitando os olhos.

"Zane", ele respondeu, sua voz firme. "Agora, você vai entrar no carro, ou tenho que carregar vocês dois?"

Lancei-lhe um olhar furioso, mas o canto de sua boca tremeu como se ele estivesse segurando um sorriso. Contra meu bom senso, me vi assentindo. "Mas se você tentar alguma coisa, vou gritar tão alto que vou acordar os mortos. E vou sentar perto da porta."

Ele sorriu maliciosamente, abrindo a porta do carro. "Anotado."