Natalie~
Eu sempre ouvi histórias de lobos que perderam suas alcateias. Algumas eram trágicas, outras merecidas, mas nunca imaginei que me tornaria uma delas. Ao me afastar da Matilha Presa de Prata naquela noite, com o ar frio mordendo minha pele, não percebi o quão cruel o mundo fora da minha alcateia poderia ser.
Viajei até o território da alcateia mais próxima, exausta e faminta depois de dias vagando. Meus pés estavam cheios de bolhas, e as roupas com as quais fui banida não passavam de trapos esfarrapados. Quando cheguei à fronteira da Matilha Crista da Lua, estava esperançosa. Sua reputação de justiça era bem conhecida, e pensei: Talvez aqui, eu encontre refúgio.
Os guardas posicionados na fronteira me pararam imediatamente. "Diga qual é seu propósito", um deles latiu, seus olhos se estreitando ao observar minha aparência desleixada.
"Estou buscando santuário", disse, tentando manter minha voz firme. "Fui expulsa da minha alcateia, mas não pretendo fazer mal. Só preciso de um lugar para ficar."
Ele se aproximou, seu nariz dilatando enquanto sentia meu cheiro. No momento em que seu rosto se contorceu em uma careta, eu soube.
"Você carrega o cheiro do Alfa Darius", ele disse, sua voz baixa e perigosa. "Por quê?"
"Eu não escolhi isso!", retruquei, incapaz de conter a amargura em minha voz. "Ele me marcou contra minha vontade—"
"Não me importa como aconteceu", ele interrompeu, balançando a cabeça. "Não queremos problemas com a Matilha Presa de Prata. Siga seu caminho."
"Espere", implorei. "Por favor, não estou aqui para causar problemas. Só preciso de um lugar para descansar—"
"Vá!", ele latiu, seu rosnado me cortando.
Dei um passo para trás, meu coração afundando. "Pelo menos me deixe explicar—"
O outro guarda zombou. "Explicar o quê? O que você fez para ser banida? Traiu seu Alfa? Traiu sua alcateia? Poupe-nos da história triste. Não estamos interessados."
Suas palavras me atingiram mais forte do que qualquer golpe poderia. Olhei fixamente para eles, tentando reunir algum tipo de resposta, mas não havia sentido. Seus rostos já estavam marcados com nojo e medo.
Virei-me e me afastei, minhas pernas tremendo sob mim.
O padrão se repetiu várias e várias vezes. Cada alcateia que eu abordava me rejeitava no momento em que sentiam o cheiro do Alfa Darius em mim. Alguns tentavam mascarar seu desdém com educação; outros nem se importavam.
Na Matilha Pinho Negro, um lobo mais velho chamado Garret me ouviu por alguns momentos antes de balançar a cabeça. "Não é que não simpatizemos", ele disse, embora seus olhos estivessem duros. "Mas o Alfa Darius não é alguém que queremos contrariar. Mesmo permitir que você fique por uma única noite poderia trazer sua ira sobre nós."
"Você sabe o que ele fez comigo?" perguntei, minha voz tremendo de frustração. "Você tem alguma ideia de como ele destruiu minha vida?"
"Não sei", ele disse secamente. "E não quero saber."
Na Matilha Crista das Sombras, o tratamento foi ainda pior. Uma jovem chamada Callie zombou enquanto me acompanhava até a fronteira. "Você está sem lobo, não está?" ela perguntou, seu tom pingando escárnio.
Não respondi, mas o silêncio foi resposta suficiente.
"Como imaginei", ela disse. "De que serve uma loba sem seu lobo? Você não passa de um peso morto. Nenhuma alcateia vai aceitar você, então por que não poupa a si mesma da humilhação e para de tentar?"
Suas palavras ecoaram em minha mente muito depois de eu deixar seu território. Eu odiava que ela tivesse visto através da minha fraqueza tão facilmente, mas pior, eu odiava que ela estivesse certa.
Uma alcateia após a outra fechou suas portas para mim. Algumas foram cruéis, como Callie, enquanto outras simplesmente me olhavam com pena antes de me mandarem embora. Ninguém se importava com minha história, sobre como Darius tinha tirado tudo de mim e depois me expulsado como se eu não fosse nada.
Quando cheguei à última alcateia que conseguia pensar em tentar, eu estava por um fio. O Alfa da Matilha Garra de Ferro realmente tirou um tempo para me encontrar, mas no momento em que entrei em seu escritório, ele franziu o nariz e se recostou em sua cadeira.
"Você fede ao Alfa Darius", ele disse bruscamente.
Cerrei os punhos, engolindo a onda de raiva que surgiu dentro de mim. "Não posso evitar isso. Ele—"
"Não me importa", ele interrompeu. "Você tem alguma ideia do tipo de homem que ele é? Da destruição que ele é capaz? Você realmente acha que eu arriscaria a segurança da minha alcateia para acolher alguém como você?"
"Não estou pedindo muito", disse, minha voz mal passando de um sussurro. "Apenas um lugar para dormir. Vou trabalhar por isso. Eu—"
"Não", ele disse firmemente. "Sinto muito pelo que quer que tenha acontecido com você, mas precisa ir embora. Agora."
Quando saí de seu escritório, eu sabia que estava acabado. Nenhuma alcateia jamais me aceitaria, não enquanto eu carregasse o cheiro de Darius.
Passei aquela noite na floresta, encolhida contra a base de uma árvore, meu corpo sacudido por soluços silenciosos. A dor da rejeição era avassaladora, mas pior era a percepção de que não tinha mais para onde ir.
O pensamento de viver entre humanos me aterrorizava. Eles eram uma espécie diferente, com seus próprios costumes e maneiras estranhas. Eu não tinha ideia de como navegar em seu mundo, e a ideia de estar cercada por eles, sempre tendo que esconder quem eu era, me enchia de pavor.
Mas que escolha eu tinha?
Pela manhã, eu tinha tomado minha decisão. Reuni o pouco de força que me restava e comecei a caminhar em direção à cidade humana mais próxima.
A primeira coisa que notei ao me aproximar foi o barulho. Carros buzinavam, pessoas gritavam, e música desconhecida ecoava das janelas abertas. Era avassalador, e hesitei na beira da cidade, meu coração acelerado.
"Você parece perdida", uma voz disse, me assustando.
Virei-me para ver um homem parado próximo, suas mãos enfiadas nos bolsos de uma jaqueta de couro gasta. Seus olhos eram gentis, mas havia uma ponta de cautela em sua expressão.
"Eu... sou nova aqui", disse, minha voz trêmula.
Ele assentiu lentamente, seu olhar me examinando. "Você não parece ser daqui. De onde você está vindo?"
"De longe", disse vagamente. "Só estou de passagem."
Suas sobrancelhas se ergueram, mas ele não insistiu. "Bem, se você está procurando um lugar para ficar, há um abrigo a alguns quarteirões naquela direção." Ele apontou rua abaixo. "Não é muito, mas é melhor que dormir na rua."
"Obrigada", disse, minha garganta apertando.
Enquanto caminhava em direção ao abrigo, senti o peso de tudo que havia perdido desabar sobre mim. Eu não pertencia aqui entre os humanos, mas também não pertencia a nenhum outro lugar.
Pela primeira vez desde meu banimento, permiti-me chorar.
As lágrimas vieram em uma enchente, e não tentei contê-las. Chorei por meus pais, pelo lobo que nunca tive a oportunidade de conhecer, pela alcateia que me traiu e pela vida que nunca teria.
Mas conforme as lágrimas diminuíam, um estranho senso de determinação começou a criar raízes em meu peito.
Eu tinha sobrevivido até aqui, não tinha? Tinha suportado a crueldade da minha alcateia, a rejeição do meu companheiro e de todos os lobos que encontrei desde então, e agora, a estranheza avassaladora do mundo humano.
Se esta era minha nova realidade, então eu encontraria uma maneira de viver nela.
Eu não sabia o que o futuro reservava, mas sabia de uma coisa com certeza: eu não deixaria o Alfa Darius nem ninguém mais me quebrar.
Eu sobreviveria.