A Entrega

Natalie~

Minhas pernas pareciam gelatina enquanto eu cambaleava atrás do homem mascarado, minha respiração entrecortada a cada passo. A imagem da forma massiva de lobo do Timóteo desabando no chão se repetia em minha mente, cada detalhe vívido e aterrorizante. Este homem—este estranho—tinha derrubado Timóteo com um único golpe. O que ele poderia fazer comigo? O pensamento fez meu estômago revirar. Meus instintos gritavam para eu correr, mas eu sabia que era melhor não. Um movimento errado e ele poderia me esmagar com a mesma facilidade.

O beco deu lugar às ruas movimentadas da cidade, mas a vida ao meu redor parecia uma ilusão. Pessoas se moviam, carros buzinavam e semáforos piscavam, mas ninguém prestava atenção ao homem mascarado conduzindo uma garota trêmula pela multidão. Examinei os rostos desesperadamente, esperando que alguém notasse meu pedido silencioso de ajuda. Nada. Ninguém sequer olhou em minha direção.

Quando paramos ao lado de um carro preto elegante, meu pulso acelerou. Ele abriu a porta do passageiro e gesticulou para eu entrar. "Entre," ele disse, sua voz tão autoritária como sempre.

Hesitei, meu coração martelando no peito. "P-Para onde estamos indo?" gaguejei, minha voz soando tímida.

"Entre," ele repetiu, desta vez mais firmemente.

Um nó se formou em minha garganta. Imaginei sua mão se movendo rapidamente, me arrastando à força, assim como ele tinha lidado com Timóteo. Engolindo em seco, entrei no assento, o couro macio frio contra minha pele.

O homem contornou o carro e deslizou para o banco do motorista. Quando o motor rugiu para a vida, instintivamente alcancei a maçaneta da porta, considerando escapar. Mas o pensamento de sua força inumana me manteve paralisada enquanto ele partia.

O relógio do painel marcava 22:35, mas a cidade inteira estava viva, zumbindo com luzes e sons. Letreiros de néon piscavam do lado de fora da janela, anunciando de tudo, desde bares até teatros. Música tocava baixinho de algum lugar próximo, misturando-se com o zunido do tráfego e a conversa dos pedestres.

Era tão diferente da cidade tranquila de onde Zane me trouxe ou da vida controlada da minha antiga alcateia. Aqui, as pessoas pareciam se mover livremente, sem o peso das regras rígidas com as quais cresci. Por um momento, quase me esqueci do homem ao meu lado. Quase.

Dei uma olhada furtiva para ele, sua máscara não revelando nada. Sua postura estava relaxada, uma mão no volante, a outra descansando em seu colo. Ele não falava, nem sequer olhava em minha direção, e ainda assim sua presença preenchia o pequeno espaço entre nós, tornando o ar pesado. Eu queria perguntar quem ele era, por que estava fazendo isso, mas o medo mantinha meus lábios fechados.

Minutos se passaram em pesado silêncio antes que eu finalmente juntasse coragem suficiente para falar. "P-Para onde está me levando?"

Ele não olhou para mim. "Para comer," ele disse simplesmente.

Pisquei. "O quê?"

"Você precisa de comida," ele respondeu, sua voz objetiva. "Depois vamos pegar roupas quentes e ir ao mercado noturno."

Olhei para ele, perplexa. Será que eu tinha ouvido direito? Minha confusão aumentou enquanto ele continuava dirigindo, sem oferecer mais explicações.

"Qual é o seu nome?" perguntei, minha voz trêmula.

Ele não respondeu.

"Você não pode ao menos me dizer quem é?" insisti, minha frustração transparecendo.

Ainda assim, silêncio.

Fiel à sua palavra, ele entrou no estacionamento de um McDonald's bem iluminado. Os arcos dourados pareciam estranhamente fora de lugar contra o cenário da noite, mas a visão fez meu estômago roncar. Eu não comia desde ontem de manhã no hotel. E comer no McDonald's? Era um sonho se tornando realidade, mesmo acontecendo dessa maneira.

Ele estacionou o carro e saiu, andando ao redor para abrir minha porta. "Venha," ele disse, sua voz não deixando espaço para argumentação.

Relutantemente o segui para dentro, onde o cheiro quente de batatas fritas e hambúrgueres grelhados me recebeu. Meu estômago roncou vergonhosamente alto.

"Peça," ele disse, gesticulando para o balcão.

Hesitei, olhando para o menu. "Eu não tenho dinheiro."

"Não perguntei se você tinha dinheiro," ele respondeu secamente. "Peça."

Faminta demais para argumentar, pedi um lanche de cheeseburger. Ele não pediu nada para si mesmo, o que só tornou a situação mais estranha.

Nos sentamos, e enquanto eu comia, podia sentir seus olhos em mim, sem piscar e intensos. Fazia minha pele arrepiar, mas a fome superava o desconforto. Forcei a comida garganta abaixo, cada mordida mecânica, o tempo todo desejando poder afundar na cadeira de plástico e desaparecer.

"Você não vai comer?" finalmente perguntei, minha voz pequena.

"Não."

A resposta monossilábica foi suficiente para me calar. Me concentrei na comida.

Quando terminei, ele se levantou sem dizer uma palavra e fez sinal para eu seguir.

Dirigimos novamente, as luzes da cidade se transformando em borrões através da janela do carro. Meu corpo estava tenso, cada músculo contraído e pronto para fugir, mas para onde eu iria? O pensamento dele me pegando fazia meu estômago revirar.

O carro eventualmente parou em frente a uma boutique, sua placa luminosa anunciando compras até tarde da noite. Hesitei na porta, mas ele me lançou um olhar que silenciou meus protestos antes mesmo que começassem.

"Roupas quentes," ele disse para a mulher no balcão. "Boa qualidade."

Balancei a cabeça, pânico crescendo em meu peito. "Eu não preciso—"

"Leve-a," ele interrompeu, sua voz afiada como aço.

A mulher assentiu e me guiou em direção aos provadores. Meus protestos caíram em ouvidos surdos, e antes que eu percebesse, estava experimentando suéteres grossos, jeans, botas e jaquetas.

O conjunto que escolhi era simples mas prático: um suéter macio cor creme, jeans azul escuro que serviu perfeitamente, e botas marrons no tornozelo. A jaqueta era verde floresta profundo, forrada com lã para aquecimento.

Quando voltamos ao balcão, o homem me examinou com um único aceno. "Quanto?"

A caixa somou o total, e meus joelhos quase cederam. "Seiscentos e cinquenta dólares," ela disse.

Gaguejei, balançando a cabeça. "Eu não posso— Eu não—"

Antes que eu pudesse correr de volta ao provador, ele agarrou meu braço, me puxando para seu lado. Com sua mão livre, tirou um cartão preto elegante e entregou à caixa. Os olhos dela se arregalaram, mas ela não disse nada enquanto processava o pagamento.

A viagem até o mercado noturno foi silenciosa, a tensão no ar lentamente se dissipando. Quando chegamos, eu estava curiosa demais para continuar com medo.

O mercado era uma explosão de cores, sons e cheiros. Cordões de luzes de fada iluminavam barracas vendendo de tudo, desde joias artesanais até tigelas fumegantes de macarrão. Música tocava em algum lugar à distância, e o burburinho dos vendedores enchia o ar.

Pela primeira vez em que parecia uma eternidade, esqueci de ter medo. Vaguei de barraca em barraca, maravilhada com as bugigangas e tesouros em exposição. O homem mascarado seguia silenciosamente, pagando por tudo que eu pegava—uma pulseira de prata, um cachecol tecido, uma pequena figura de vidro de um lobo.

Me senti como uma criança novamente, meu medo substituído por uma excitação tonta.

Quando saímos, era 1:42 da manhã. Eu estava exausta, minhas pálpebras pesadas. De volta ao carro, o banco de couro estava macio e confortável e me deixou mais sonolenta, mas não ousei dormir. Não aqui. Não com ele.

O carro eventualmente parou em frente a um abrigo para sem-teto. Confusão me invadiu enquanto ele saía e abria minha porta.

"Entre," ele disse, seu tom tão autoritário como sempre.

"Você está me deixando ficar aqui?" perguntei, minha voz tingida de esperança.

Ele assentiu.

Lágrimas brotaram em meus olhos enquanto eu saía. "Obrigada por tudo," disse sinceramente.

Enquanto caminhava em direção ao abrigo, uma comoção dentro chamou minha atenção. Vários homens, seus rostos duros e cruéis, estavam vasculhando o local. A equipe e os residentes pareciam aterrorizados.

Congelei, o medo me dominando novamente. Lentamente, me virei e corri de volta para o homem mascarado, me escondendo atrás dele como uma criança assustada.

"Por favor," sussurrei. "Não deixe eles—"

Mas antes que pudesse terminar, ele deu um passo à frente, chamando os homens.

"Aqui."

Eles se viraram, suas expressões se iluminando quando me viram.

O homem mascarado agarrou meu braço, seu aperto firme mas não doloroso, e me puxou para frente.

"Aqui," ele disse, me entregando como uma encomenda.

"Não!" gritei, me debatendo contra o aperto deles. "Você não pode fazer isso comigo!"

Mas ele não respondeu. Simplesmente observou enquanto me arrastavam, sua máscara escondendo qualquer emoção—se é que havia alguma—que ele sentia.

A traição queimou através de mim quando percebi a verdade. Ele não tinha me salvado. Ele tinha me entregado.

Para quem? Eu não fazia ideia.