Zane~
A luz suave do abajur da minha mesa banhava meu escritório com calor enquanto eu me recostava na cadeira, meus dedos distraidamente batendo contra o apoio de braço de madeira. Os eventos do dia haviam deixado minha mente inquieta. As mentiras de Natalie e o cheiro que ela carregava me incomodavam como uma coceira persistente. Havia muitas perguntas sem resposta e eu odiava toda essa incerteza.
Uma batida suave na porta interrompeu meus pensamentos.
"Entre," chamei, já sabendo quem era.
Nora entrou, sua presença era tão tranquilizadora como sempre. Ela fechou a porta atrás de si, e o som suave de seus chinelos ecoou contra o chão enquanto se aproximava da minha mesa com um sorriso gentil no rosto.
Nora não era minha mãe de sangue, mas bem que poderia ser. Ela esteve ao meu lado desde que eu era criança, me criando como seu próprio filho com cuidado e firmeza em medidas iguais.
"Você está aqui há horas," ela disse, sua voz carregada de preocupação gentil enquanto colocava uma xícara de café quente na minha frente. "Você não desceu para jantar."
"Obrigado. Mas não estou com fome," respondi bruscamente, meus olhos focados nos papéis à minha frente.
Nora não aceitava indiferença, especialmente não de mim. Ela puxou uma cadeira e sentou-se à minha frente, dobrando as mãos elegantemente sobre a mesa. Seu olhar penetrante me forçou a olhar para cima.
"Isso é sobre a garota, não é?" ela perguntou.
Exalei bruscamente, inclinando-me para frente e apoiando os cotovelos na mesa. "Eu não confio nela, Nora. Ela fede a cheiro de Alfa, mas nega conhecê-lo. E então tem o Alexander..."
Suas sobrancelhas se franziram. "O que tem o Alexander?"
Meu maxilar se contraiu quando pensei no meu menino. "Ele se transformou em sua forma humana quando fui buscá-lo; só para implorar em nome dela. Você entende o que isso significa, Nora? Ele nunca fez isso antes. Ele nunca se transforma mesmo quando tentamos forçá-lo. Mas por ela? Ele nem hesitou."
Os olhos de Nora se arregalaram de choque. "Ele... se transformou? Por ela?"
Assenti. "Ele está muito apegado a ela, Nora, e eu não gosto disso. Ela está escondendo algo. Uma estranha carregando o cheiro de um Alfa, negando sua existência, mas lutando desesperadamente por outro homem que nem é parente dela. Isso não faz sentido."
"Zane," Nora disse suavemente, seu tom assumindo um calor maternal. "Talvez ela esteja escondendo a verdade por motivos pessoais. Isso não faz dela uma má pessoa. Talvez haja mais em sua história do que você está disposto a ver."
Balancei a cabeça. "Eu odeio mentirosos, Nora. Você sabe disso. Até eu ter certeza de que ela não representa perigo, não posso deixá-la ir. Não posso arriscar a segurança de Alexander — ou a minha."
Nora suspirou, seus ombros caindo levemente. "E se você estiver errado, Zane? E se você estiver sendo paranóico e acabar machucando uma criança inocente?"
Suas palavras tocaram fundo, mas afastei a dúvida. "Não posso me dar ao luxo de estar errado. Não quando se trata do Alexander. Vá verificar como ele está para mim, sim? Me avise se ele se acalmou."
Ela hesitou, claramente querendo dizer mais, mas acabou assentindo e saiu do quarto.
O silêncio voltou, mas não durou muito. Uma batida na porta chamou minha atenção.
"Entre," chamei.
Abel entrou, sua expressão estóica como sempre. Não perdi tempo.
"O que você descobriu sobre o cheiro?" perguntei.
Abel fechou a porta atrás dele e ficou em posição de sentido. "Fui ao registro de cheiros da biblioteca. Está confirmado — o cheiro pertence ao Alfa Darius Blackthorn da Matilha Presa de Prata."
Minha cabeça inclinou ao ouvir o nome. "Darius Blackthorn... O que sabemos sobre ele?"
O maxilar de Abel se contraiu. "Ele é conhecido por ser implacável. Após a última visita real à sua alcateia, o rei ordenou uma investigação secreta sobre ele e as atividades de sua alcateia. Há muita especulação, mas nada concreto foi revelado ao público."
Franzi a testa, recostando-me na cadeira. "Natalie é a companheira dele?"
Abel balançou a cabeça. "Não. De acordo com os registros, Darius já tem uma companheira — Luna Gabriella Blackthorn. Eles são companheiros predestinados."
Aquilo não fazia sentido. "Então como Natalie entra nessa história?"
Abel hesitou antes de continuar. "Essa é a parte confusa. Não há registro de uma Natalie conectada a Darius — exceto um. A única Natalie no registro é a filha do antigo Beta de Darius, Evan Cross."
Estreitei os olhos. "Antigo Beta?"
"Sim," Abel disse sombriamente. "O Beta foi executado há cinco anos por Darius por traição. Toda sua família e outra família foram executadas naquele dia também. A Natalie no registro está listada como falecida."
O quarto pareceu ficar mais frio enquanto eu processava suas palavras. Se a única Natalie ligada a Darius estava morta, então quem era a garota trancada no meu quarto de hóspedes? E como ela veio a carregar seu cheiro?
"Isso não faz sentido," murmurei, mais para mim mesmo do que para Abel. "Tem algo que estamos perdendo."
Abel assentiu. Este era um quebra-cabeça que eu não conseguia resolver. Como uma simples humana tinha se entrelaçado com a essência do Alfa? Red rosnou inquieto, sentindo que havia mais em jogo aqui do que aparentava. A confusão me atormentava, recusando-se a diminuir, até que tomei uma decisão.
"Abel," disse, minha voz firme mas tingida com a frustração fervendo dentro de mim, "vá dizer ao Roland para trazer Natalie ao meu escritório imediatamente. Preciso de respostas."
Abel assentiu e virou-se para sair, mas a porta se abriu antes que ele pudesse sair. Nora entrou, seu rosto caído de preocupação. Seus olhos encontraram os meus, e eu podia sentir a urgência nela.
"Zane," ela começou, hesitando brevemente antes de continuar, "Alexander está se recusando a comer. Ele tem chorado através do elo mental, pedindo por..." ela pausou, seus lábios se apertando como se não pudesse acreditar em suas próprias palavras. "Ele está pedindo pela mamãe Natalie."
As palavras me fizeram engasgar. "O quê?" rosnei, inclinando-me para frente em descrença.
"Sim," Nora confirmou, sua voz mais suave agora, "ele continua chamando ela de mamãe. Ele está inconsolável. Devo deixá-lo vê-la? Talvez isso o acalme?"
Apertei a ponte do nariz, sentindo uma dor de cabeça já se formando. Meus pensamentos eram uma bagunça. Alexander está chamando ela de mamãe? Quando isso aconteceu? Não fazia sentido. Nada disso fazia.
"Zane, esse apego não é normal. Qualquer que seja o vínculo que ele formou com ela, é profundo." Nora disse, sua voz tensa.
Passei a mão pelo cabelo, a situação me deixando mais confuso. "Isso só piora as coisas, Nora. Se ela está manipulando ele—"
"Ou talvez não esteja," Nora interrompeu firmemente. "Talvez haja um motivo para Alexander sentir algo tão forte por ela. Não descarte os instintos dele, Zane. Ele é uma criança, mas ainda é um lobo."
Suspirei pesadamente, minha determinação vacilando pela primeira vez. "Tudo bem. Vou falar com ela. Mas até eu saber a verdade, não posso baixar minha guarda."
Nora assentiu, embora sua preocupação não tenha diminuído. "Tenha cuidado, Zane. Não deixe sua paranoia e necessidade de controle te cegarem para a verdade."
Quando ela saiu do quarto, me afundei na cadeira, exalando pesadamente. Meus pensamentos fervilhavam.
E se Darius tivesse marcado aquela garota contra sua vontade? Alguém que não era sua companheira — nem predestinada nem escolhida? Tal coisa era possível? Eu nunca tinha ouvido falar disso, mas nada nessa situação se encaixava nas regras do que eu sabia sobre companheiros e ligações.
Esfreguei minhas têmporas, Natalie. Que segredos você está escondendo?
Antes que eu pudesse mergulhar mais fundo em meus pensamentos, Abel irrompeu de volta no escritório, Roland logo atrás dele. Suas expressões eram sombrias, pânico irradiando deles em ondas.
"Ela sumiu," Abel soltou, sua voz tensa.
Congelei, meu olhar se voltando para ele. "Como assim ela sumiu?"
Roland deu um passo à frente, seu rosto pálido. "Ela não está mais no quarto. Nós... achamos que ela escapou."
As palavras não fizeram sentido no início. Então, como uma tempestade quebrando sobre águas calmas, a realização me atingiu. Levantei-me de um salto, minha cadeira raspando ruidosamente contra o chão.
"Como?!" rugi, minha voz sacudindo o quarto. "Como uma pequena garota humana escapa de uma mansão guardada por lobos treinados?" Red rosnou, sua fúria e descrença correndo através de mim, demais para conter.
Roland se encolheu sob meu olhar. "Eu—eu não sei, Alfa. Ela estava lá em um momento, e no outro... tinha sumido."
Bati meus punhos na mesa, a madeira gemendo sob a pressão. Minha mente corria. Natalie tinha parecido ingênua, quase infantil em seus maneirismos, especialmente quando ela ficou boquiaberta com os arranha-céus da cidade pela janela do helicóptero. Na época, eu tinha presumido que ela estava fingindo.
Mas agora... e se ela não estivesse fingindo?
Se Natalie realmente fosse inocente, então ela não tinha ideia de como sobreviver em um lugar como este. A cidade era vasta, repleta de perigos que ela não reconheceria. O pensamento dela vagando sozinha, vulnerável e confusa, me perturbava de uma maneira que eu não conseguia explicar.
Respirei fundo, me forçando a pensar claramente. "Abel, Roland," disse, minha voz baixa mas comandante, "reúnam os homens. Procurem em todos os abrigos para sem-teto, cada esquina, cada beco escuro. Mandem alguns para o hospital onde Garrick está — ela pode tentar encontrá-lo."
Eles assentiram rapidamente, seus movimentos apressados enquanto se viravam para sair.
"Não voltem até encontrá-la," acrescentei, meu tom final.
Quando a porta bateu atrás deles, afundei de volta na cadeira, meus pensamentos em espiral. Natalie, onde você está? E por que você parece um mistério que estou desesperado para resolver?
Olhei fixamente para o quarto vazio, o silêncio insuportável demais. Em algum lugar lá fora, Natalie estava sozinha, e a sensação incômoda em meu estômago me dizia que eu não podia me dar ao luxo de deixá-la desaparecer para sempre.