O laboratório estava silencioso, exceto pelo som suave das teclas sendo pressionadas. Elysian, ou melhor, Seo Min-kyu, estava absorto em seus cálculos, seus olhos fixos nas telas holográficas que exibiam dados complexos. A luz fria do ambiente refletia em seu rosto impassível, mas havia uma tensão sutil em seus ombros, como se ele estivesse carregando um peso invisível.
Seraphina entrou sem bater, seus passos firmes ecoando no chão de concreto. Ela cruzou os braços e parou à sua frente, seu olhar determinado. "Elysian, precisamos conversar."
Ele nem sequer ergueu os olhos. "Se for sobre a missão, já estou analisando os dados. A Ordem de Érebo está se movimentando, e precisamos—"
"Não é sobre a missão," ela interrompeu, sua voz firme. "É sobre você. E sobre nós."
Finalmente, ele a olhou, seus olhos vermelhos encarando com uma curiosidade fria. "O que você quer dizer?"
"Eu quero que você passe um dia comigo. Um dia longe da missão, longe dos cálculos, longe de tudo isso." Ela deu um passo à frente, sua postura desafiadora. "Um dia de vida normal."
Elysian franziu a testa, como se ela tivesse falado em outro idioma. "Isso não faz sentido. Não temos tempo para distrações. A Ordem de Érebo—"
"Pode esperar um dia," Seraphina cortou novamente, sua voz agora mais suave, mas ainda firme. "Elysian, você está se consumindo. Você vive apenas para a missão, para a vingança. Mas e você? O que resta de você quando tudo isso acabar?"
Ele ficou em silêncio por um momento, seus dedos parando de tamborilar na mesa. "Eu não preciso de nada além da missão."
"É mentira, e você sabe disso." Ela se aproximou, colocando uma mão em seu ombro. "Você já foi mais do que isso. Eu vi. E eu quero que você se lembre."
Elysian olhou para ela, sua expressão inalterada, mas havia algo em seus olhos que parecia hesitar. "E se eu recusar?"
"Então eu não vou seguir adiante com o plano envolvendo a Ordem de Érebo." Ela cruzou os braços, seu olhar desafiador. "Você precisa de mim, Elysian. E eu preciso que você pare de se esconder atrás dessa fachada de frieza."
Ele suspirou, um som quase imperceptível. "Um dia. Apenas um dia."
A cidade estava viva, cheia de cores, sons e cheiros que Elysian raramente notava. Ele caminhava ao lado de Seraphina, suas mãos nos bolsos do casaco, seus olhos observando tudo com uma curiosidade discreta. As pessoas ao seu redor riam, conversavam, viviam. Era um mundo que ele nunca permitiu que tocasse nele.
"Onde estamos indo?" ele perguntou, sua voz neutra.
"Para uma cafeteria," Seraphina respondeu, um sorriso brincalhão em seus lábios. "Você já tomou um café que não fosse apenas para ficar acordado?"
Ele não respondeu, mas seguiu-a até uma pequena cafeteria aconchegante. O cheiro de café fresco e pão quente encheu o ar, e Elysian sentiu algo estranho em seu peito, algo que ele não conseguia nomear.
Seraphina pediu para ele um cappuccino e um pedaço de bolo de chocolate. Ele olhou para o prato com desconfiança, mas, sob o olhar insistente dela, ele experimentou um pedaço. O sabor doce explodiu em sua boca, e ele franziu a testa, como se não soubesse como reagir.
"Isso é... interessante," ele admitiu, sua voz quase um sussurro.
Seraphina riu, um som leve e musical. "Você nunca comeu um bolo antes?"
"Não com essa intenção," ele respondeu, seus olhos fixos no prato. "É... diferente."
Ela sorriu, satisfeita. "Bom, então vamos continuar."
O dia continuou com Seraphina arrastando Elysian para várias atividades. Eles caminharam por um parque, onde artistas de rua tocavam música e crianças brincavam. Elysian observava tudo com uma curiosidade silenciosa, como se estivesse vendo o mundo pela primeira vez.
Em um fliperama, Seraphina o desafiou para um jogo de air hockey. Ele aceitou, mas sua falta de experiência foi evidente. Ele perdeu, mas pela primeira vez, Seraphina viu um brilho de frustração em seus olhos, algo que parecia quase humano.
"Você está tentando," ela disse, rindo. "Isso já é um progresso."
Ele não respondeu, mas seus lábios se curvaram levemente, quase um sorriso. E depois de se acostumar com o jogo Elysian começou a ganhar de Seraphina de forma perfeita todas as vezes.
O ponto alto do dia foi no parque, onde um grupo de crianças brincava com bolhas de sabão. Elysian parou, observando as bolhas flutuarem no ar, refletindo a luz do sol. Ele estendeu a mão, tocando uma bolha delicadamente, e ela estourou em seus dedos.
Seraphina observou-o, seu coração apertando ao ver a expressão em seu rosto. Era algo entre curiosidade e nostalgia, como se ele estivesse se lembrando de algo que havia perdido há muito tempo.
"É bonito, não é?" ela perguntou, sua voz suave.
Ele não respondeu, mas continuou a observar as bolhas, seus olhos brilhando com uma luz que ela raramente via.
No segundo dia, Elysian já estava de volta ao seu modo habitual, seus olhos fixos em um tablet enquanto analisava dados. "Precisamos voltar à missão," ele disse, sua voz firme. "A Ordem de Érebo não vai esperar."
Seraphina cruzou os braços, seu olhar desafiador. "Ainda não. Você prometeu um dia, Elysian. E eu não vou deixar você fugir disso, afinal ainda faltam 3 horas"
Ele suspirou, mas não discutiu. Ele sabia que ela não iria ceder.
Ela o levou para um parque de diversões, onde a roda-gigante se destacava contra o céu. Elysian olhou para a atração com desconfiança, mas Seraphina o puxou pela mão, levando-o até a cabine.
Quando a roda começou a subir, Elysian olhou pela janela, sua expressão inalterada, mas seus olhos refletiam a cidade abaixo. Seraphina observou-o por um momento antes de falar.
"O que você faria se não estivéssemos lutando essa guerra?" ela perguntou, sua voz suave.
Ele ficou em silêncio por um momento, seus dedos tamborilando levemente no banco. "Eu nunca pensei nisso," ele admitiu, sua voz quase um sussurro. "Minha vida sempre foi sobre a missão. Não há espaço para mais nada."
Seraphina sentiu um nó se formar em sua garganta. "E se houvesse? E se você pudesse escolher algo diferente?"
Ele olhou para ela, seus olhos vermelhos brilhando com uma luz que ela não conseguia decifrar. "Eu não sei," ele respondeu, sua voz vazia. "Eu nunca tive essa escolha."
Ela estendeu a mão, segurando a dele. "Talvez seja hora de começar a pensar nisso."
Ele não respondeu, mas sua mão apertou a dela levemente, como se agarrasse a algo que ele não queria perder.
Quando saíram do parque de diversões, Elysian parecia mais relaxado, mas ainda alerta. Ele olhou para Seraphina, seus olhos brilhando com uma luz que ela raramente via. "Obrigado," ele disse, sua voz suave. "Isso foi... diferente."
Ela sorriu, satisfeita. "Você merece mais do que apenas a missão, Elysian. Eu só quero que você se lembre disso."
Mas o momento de paz foi interrompido quando Elysian percebeu algo. Seus olhos se estreitaram, e ele puxou Seraphina para o lado, sua postura agora rígida e alerta.
"O que foi?" ela perguntou, sua voz tensa.
"Estamos sendo observados," ele respondeu, seus olhos escaneando a multidão. "Um agente da Ordem de Érebo. Eles sabem que estamos aqui."
Seraphina sentiu um frio na espinha. "O que vamos fazer?"
Elysian olhou para ela, sua expressão agora fria e calculista. "A trégua acabou. É hora de voltar à missão."
A base dos Remanescentes Das Ruínas estava silenciosa, exceto pelo som distante de máquinas funcionando e o eco de passos nos corredores de concreto. Elysian e Seraphina entraram na sala de reuniões, onde Avelar e Nyx já os esperavam. A atmosfera era tensa, mas familiar. Avelar estava sentado à cabeceira da mesa, seus olhos sombrios fixos em um holograma que exibia dados sobre a Ordem de Érebo. Nyx, ao seu lado, estava de pé, seus braços cruzados e seu olhar penetrante.
"Então," Avelar começou, sua voz grave e autoritária, "o que descobriram?"
Elysian deu um passo à frente, sua postura impecável e sua voz calma, mas firme. "A Ordem de Érebo está se movimentando. Eles sabem que estamos atrás deles, e estão tentando nos antecipar. Durante nossa investigação, Seraphina foi abordada por um antigo aliado, Ethan, que agora trabalhava para a Ordem."
Nyx ergueu uma sobrancelha, seu interesse imediatamente capturado. "Ethan? Aquele ex-militar que lutou ao lado de Seraphina na guerra?"
"O mesmo," Seraphina confirmou, sua voz carregada de uma mistura de frustração e cautela. "Ele me ofereceu uma proposta: juntar-me à Ordem de Érebo. Ele disse que eles estão recrutando pessoas com habilidades como as nossas."
Avelar inclinou-se para frente, seus olhos brilhando com uma luz sombria. "E o que você respondeu?"
"Eu não dei uma resposta definitiva," Seraphina respondeu, olhando para Elysian. "Mas Elysian sugeriu que eu aceitasse."
Nyx soltou uma risada baixa, seu sorriso carregado de sarcasmo. "Claro que ele sugeriu. Elysian sempre tem um plano dentro do plano."
Elysian ignorou o comentário, seus olhos fixos em Avelar. "Se Seraphina se infiltrar na Ordem de Érebo, ela poderá coletar informações de dentro. Enquanto isso, nós continuamos nossas operações externamente, usando os dados que ela nos fornecer. É uma jogada arriscada, mas estratégica."
Avelar ficou em silêncio por um momento, ponderando as palavras de Elysian. Ele sabia que o plano era perigoso, mas também sabia que Elysian não sugeriria algo assim sem considerar todos os ângulos. "E quanto ao risco para Seraphina?" ele perguntou, sua voz carregada de preocupação.
"Eu posso me cuidar," Seraphina respondeu antes que Elysian pudesse falar. "Eu conheço Ethan. Sei como ele pensa. E eu não vou deixar que a Ordem de Érebo me use."
Elysian concordou com um aceno. "Seraphina é mais do que capaz de lidar com isso. Além disso, eu estarei monitorando tudo de fora. Se algo der errado, nós interviremos."
Nyx cruzou os braços, seu olhar desafiador. "E se eles descobrirem que ela é uma agente dupla? A Ordem de Érebo não é conhecida por sua misericórdia."
"Eles não vão descobrir," Elysian respondeu, sua voz firme. "Eu vou garantir que todas as informações que Seraphina fornecer sejam verificadas e que nós tenhamos um plano de contingência para qualquer situação."
Avelar olhou para Seraphina, seus olhos carregados de uma mistura de preocupação e confiança. "Você está disposta a fazer isso? Entrar na boca do lobo sozinha?"
Seraphina respirou fundo, seus olhos brilhando com determinação. "Eu já lutei em guerras que pareciam impossíveis. Isso não é diferente. E eu confio em Elysian para me apoiar."
Avelar assentiu, sua decisão tomada. "Então é isso. Seraphina se infiltrará na Ordem de Érebo, e nós continuaremos nossas operações aqui. Mas," ele olhou para Elysian, sua voz carregada de uma advertência, "se algo acontecer com ela, a responsabilidade é sua."
Elysian não hesitou. "Eu sei."
Após a reunião, Elysian e Seraphina se retiraram para uma sala privada para discutir os detalhes do plano. Elysian abriu um holograma, exibindo um mapa da cidade com vários pontos marcados.
"Esses são os locais onde a Ordem de Érebo tem operado," ele explicou, sua voz calma e metódica. "Você precisará se encontrar com Ethan em um desses pontos e aceitar sua proposta. Uma vez dentro, você terá acesso a informações cruciais sobre suas operações e hierarquia."
Seraphina observou o mapa, sua mente trabalhando rapidamente. "E como vou me comunicar com você sem levantar suspeitas?"
Elysian puxou um pequeno dispositivo do bolso, um comunicador minúsculo e quase invisível. "Isso vai permitir que você se comunique comigo de forma segura. Ele é indetectável pelos sistemas de segurança deles. Use-o apenas em emergências, e quando estiver sozinha."
Ela pegou o dispositivo, examinando-o com cuidado. "E se eles me pedirem para fazer algo que vá contra os Remanescentes?"
"Você terá que jogar o jogo deles," Elysian respondeu, sua voz firme. "Mas eu vou garantir que nenhuma ação sua cause danos irreparáveis à nossa missão. Confie em mim."
Seraphina olhou para ele, seus olhos brilhando com uma mistura de determinação e apreensão. "Eu confio em você, Elysian. Mas prometa uma coisa."
"O que?" Ele perguntou
"Prometa que, se algo der errado, você não vai se sacrificar para me salvar. Nós somos uma equipe, e eu não quero ser a razão pela qual você perca tudo."
Elysian ficou em silêncio por um momento, seus olhos fixos nela. "Eu prometo," ele finalmente disse, sua voz suave, mas carregada de significado.
No dia seguinte, Seraphina encontrou-se com Ethan em um café discreto na periferia da cidade. Ele estava sentado em um canto, seu olhar atento e calculista. Quando ela se aproximou, ele sorriu, mas havia algo sombrio em sua expressão.
"Eu sabia que você viria," ele disse, sua voz carregada de confiança.
"Eu não vim por você," Seraphina respondeu, sua voz firme. "Eu vim porque a Ordem de Érebo tem algo que eu quero."
Ethan riu baixinho. "Sempre direta, não é? Bom, eu gosto disso. Então, você está pronta para se juntar a nós?"
Seraphina olhou para ele, seus olhos brilhando com uma determinação que ele não esperava. "Eu estou pronta. Mas eu quero garantias de que não serei apenas mais uma peça no jogo de vocês."
Ethan inclinou-se para frente, seu sorriso agora mais sombrio. "Você terá o que deseja, Eun-kyung. Mas lembre-se: uma vez dentro, não há volta."
Ela não respondeu, mas seu olhar disse tudo. Ela estava pronta para jogar o jogo deles, mas no fundo, ela sabia que sua lealdade estava com os Cavaleiros do Apocalipse.
De volta à base, Elysian observava as telas, monitorando cada movimento de Seraphina. Ele sabia que o plano era arriscado, mas também sabia que era a única maneira de obter as informações que precisavam para derrotar a Ordem de Érebo.
Nyx se aproximou da sala, seu olhar carregado de preocupação. "Ela vai conseguir?"
Elysian não hesitou. "Ela é forte. E ela não está sozinha."
Nyx assentiu, mas seu olhar ainda estava carregado de dúvidas. "Espero que você esteja certo, Elysian. Porque se algo acontecer com ela, isso vai cair sobre você."
Elysian não respondeu, mas seus olhos brilharam com uma determinação silenciosa. Ele sabia que o jogo estava apenas começando, e ele faria o que fosse necessário para garantir que Seraphina saísse viva dessa.