O Chamado de Damian
O interior do Templo do Núcleo era um quebra-cabeça de sombras e luzes distorcidas. As paredes de cristal negro refletiam o brilho fraco da esfera que Jon carregava, criando ilusões de movimento que o faziam girar a cabeça a cada poucos passos. O ar estava pesado, carregado com um zumbido que parecia vibrar dentro de seus ossos. Zynara liderava o caminho, sua lança em mãos, os olhos atentos a qualquer sinal de perigo. Jon a seguia, tentando ignorar a sensação de que o próprio templo os observava.
"Esse lugar dá arrepios," Jon murmurou, ajustando a bolsa improvisada onde guardava a esfera. "É como se ele soubesse que estamos aqui."
"Porque sabe," Zynara respondeu, sem olhar para trás. "Xorath não é só uma prisão. É uma extensão da vontade de Voryx, mesmo que ele esteja selado. Cada corredor, cada armadilha, é projetado para nos quebrar."
Jon abriu a boca para responder, mas um som agudo cortou o ar — não o zumbido da esfera, mas algo mais familiar. Ele parou, inclinando a cabeça. "Espera. Isso é... o meu comunicador?"
Zynara franziu o cenho. "Comunicador? Aqui? Impossível. Xorath bloqueia qualquer sinal externo."
"Não pra mim," Jon disse, vasculhando a bolsa. Ele puxou um pequeno dispositivo, um presente de Damian Wayne, projetado para funcionar mesmo em condições extremas. A tela piscava com uma mensagem de texto: “Seu idiota, onde você tá? Responde ou eu te encontro e te bato.” Jon riu, apesar da situação. Era tão típico de Damian.
"Quem é?" Zynara perguntou, desconfiada, olhando por cima do ombro dele.
"Meu melhor amigo," Jon disse, digitando rapidamente. "Damian Wayne. Ele é... complicado, mas genial. Se alguém pode nos ajudar, é ele." Ele enviou uma mensagem curta: “Preso em outra dimensão. Artefato kryptoniano. Perigo chamado Voryx. Alguma ideia?”
Zynara cruzou os braços. "Você confia nesse Damian? Porque, se ele não for discreto, pode atrair a atenção errada."
"Discreto não é exatamente o forte dele," Jon admitiu, com um sorriso torto. "Mas ele sempre aparece quando eu preciso."
Enquanto esperavam uma resposta, eles continuaram pelo corredor, que agora se estreitava, forçando Jon a descer e caminhar. As runas nas paredes brilhavam com mais intensidade, e Jon reconheceu algumas delas dos arquivos de seu pai — símbolos kryptonianos de contenção e energia. Mas havia outros, mais antigos, que pareciam pulsar com uma energia que o fazia estremecer. "Zyn, essas runas... elas são todas kryptonianas?"
Ela hesitou antes de responder. "A maioria. Mas algumas são mais velhas, de um tempo antes de Krypton. O selo que prende Voryx não foi criado apenas pelos kryptonianos. Outras civilizações ajudaram, civilizações que já não existem."
Jon sentiu um peso no estômago. "E Voryx destruiu todas elas?"
Zynara assentiu, o rosto sombrio. "Ele não deixa nada para trás. Só cinzas e vazio."
Antes que Jon pudesse processar isso, o comunicador vibrou novamente. Ele leu a mensagem em voz alta: “Voryx? Nome ridículo. Estou hackeando os arquivos da Liga agora. Artefato kryptoniano pode ser um Nó Dimensional. Perigoso. Não faça nada estúpido até eu te encontrar. E, sim, sei que você já fez algo estúpido.”
Jon riu, mas Zynara não achou graça. "Nó Dimensional?" ela repetiu, seus olhos se arregalando. "Seu amigo está certo. É assim que chamamos a esfera. Mas como ele sabe disso?"
"Damian tem acesso a coisas que nem a Liga da Justiça sabe que existem," Jon disse, com um toque de orgulho. "Ele provavelmente está na Batcaverna agora, mexendo em bancos de dados que Batman acha que são seguros."
Zynara parecia dividida entre desconfiança e curiosidade, mas não teve tempo de responder. O corredor terminou em uma câmara ampla, com um teto tão alto que desaparecia na escuridão. No centro, suspenso por correntes de energia, estava o núcleo de energia — uma esfera maior, do tamanho de um carro, pulsando com uma luz azul tão intensa que Jon precisou semicerrar os olhos. Mas o que chamou sua atenção foram as figuras ao redor do núcleo: cinco guardas de energia, maiores e mais sólidos que os anteriores, com armaduras que pareciam feitas de cristal vermelho.
"Mais amigos de Voryx," Jon murmurou, preparando-se para lutar.
"Não lute," Zynara sussurrou, segurando o braço dele. "Não ainda. O núcleo é instável. Um golpe errado, e esta câmara inteira vira uma supernova."
"Ótimo," Jon disse, sarcástico. "Algum plano que não envolva explodir tudo?"
Zynara apontou para um painel de controle na parede, coberto de runas. "Se conseguirmos acessar aquele painel, posso redirecionar a energia do núcleo para a esfera. Mas precisamos distrair os guardas."
Jon olhou para os guardas, que ainda não os tinham notado, e depois para Zynara. "Eu sou a distração, né?"
Ela deu um meio-sorriso, o primeiro que ele viu nela. "Você é o Superboy. Não é isso que vocês fazem? Brilhar e chamar atenção?"
"Touché," Jon disse, devolvendo o sorriso. Ele entregou a esfera a Zynara. "Faz o que precisa. Eu cuido deles."
Jon voou para o centro da câmara, deixando um rastro de ar quente. "Ei, seus pedaços de vela ambulantes!" ele gritou, atraindo os olhares dos guardas. "Que tal uma dança com o Superboy?"
Os guardas reagiram imediatamente, disparando rajadas de energia que iluminaram a câmara como fogos de artifício. Jon desviou, usando sua velocidade para confundi-los, enquanto Zynara corria para o painel. Ele acertou um guarda com um soco preciso, destruindo seu núcleo, mas os outros quatro eram mais rápidos, suas garras cortando o ar perigosamente perto. Uma rajada acertou seu peito, jogando-o contra a parede. A dor era como fogo, mas ele se levantou, os olhos brilhando com visão de calor. "Vocês vão precisar de mais que isso," ele rosnou.
Enquanto Jon lutava, Zynara trabalhava no painel, seus dedos dançando sobre as runas. "Quase lá!" ela gritou, mas um dos guardas a notou e disparou em sua direção. Jon voou na frente, bloqueando o ataque com seu corpo. O impacto o fez gemer, mas ele segurou firme.
"Jon!" Zynara gritou, sua voz carregada de preocupação.
"Termina isso!" ele respondeu, lançando o guarda contra outro com um empurrão supersônico.
Zynara ativou o painel, e uma onda de energia azul fluiu do núcleo para a esfera, que brilhou intensamente. Mas o chão tremeu, e uma voz ecoou pela câmara — profunda, fria, como se viesse do próprio vazio. "Você não pode me conter, híbrido. Sua força é sua fraqueza."
Jon congelou. Era a voz dos seus pesadelos. Voryx.
Antes que ele pudesse reagir, o núcleo pulsou, e uma explosão de luz engoliu a câmara. Quando a visão de Jon clareou, ele estava de joelhos, Zynara ao seu lado, a esfera brilhando em suas mãos. Os guardas haviam sumido, mas o templo tremia, como se estivesse prestes a desmoronar.
"Conseguimos," Zynara disse, ofegante. "Mas Voryx está mais perto do que eu pensava."
Jon se levantou, ignorando a dor no peito. "Então vamos ser mais rápidos. Pra onde agora?"
Zynara olhou para a esfera, agora estável, e depois para Jon. "Pra fora de Xorath. Mas primeiro, precisamos de um lugar seguro. E espero que seu amigo Damian tenha algo útil pra nos dizer."
Jon sorriu, apesar de tudo. "Conhecendo ele, provavelmente já tá planejando invadir essa dimensão com um exército de Bat-drones."
Enquanto saíam da câmara, o templo ainda tremendo atrás deles, Jon sentiu um misto de alívio e medo. Eles tinham a energia, mas Voryx estava acordado. E ele sabia o nome de Jon.