A redação do Planeta Diário estava silenciosa, o único som sendo o clique esporádico da máquina de escrever de Lois Lane. Era tarde, e a maioria dos repórteres já havia ido embora, deixando a sala mergulhada na penumbra das luzes de neon que vazavam pelas janelas.
Lois encarava sua matéria inacabada, as palavras “Superman: Herói ou Fantasma?” destacadas no topo. Mas sua mente não estava no texto
— estava na imagem que não saía de sua cabeça: o uniforme rasgado de Superman, revelando o terno cinza de Clark Kent na câmara de kryptonita da LexCorp. Ela sabia.
E agora, cada batida de seu coração parecia gritar uma pergunta: Por que ele não me contou?
Clark Kent, sentado em sua mesa do outro lado da redação, fingia revisar anotações, mas seus sentidos estavam fixos em Lois.
Ele ouvia o ritmo acelerado de sua respiração, via a tensão em seus ombros. O cristal kryptoniano, escondido em sua gaveta, pulsava suavemente, como se sentisse a tempestade que se formava. Ele queria falar, explicar, mas as palavras de Jor-El
— perigo
— e a ameaça de Luthor o mantinham preso.
A verdade era uma ponte que ele temia atravessar, mas Lois já estava do outro lado, esperando.
Ela se levantou abruptamente, caminhando até a mesa de Clark com passos decididos. Sem cerimônia, jogou a foto de Jimmy Olsen
— uma imagem de Clark rindo em uma festa da redação
— ao lado de uma captura granulada de Superman salvando-a na câmara. “Chega de jogos, Clark,” ela disse, a voz baixa, mas firme como aço. “Eu sei quem você é.”
Clark ajustou os óculos por reflexo, o coração disparando. “Lois, eu... não sei do que você tá falando.” A mentira soou fraca, até para ele.
Lois cruzou os braços, os olhos brilhando com uma mistura de raiva e mágoa. “Não me insulte, Kent. Eu vi o terno. Vi você na câmara, voando, me salvando. Você é Superman. Kal-El. O que mais você tá escondendo?”
Clark olhou ao redor, garantindo que estavam sozinhos, então se levantou, tirando os óculos lentamente. Pela primeira vez, ele a encarou sem a fachada, os olhos azuis carregando o peso de um planeta perdido. “Você tá certa, Lois. Eu sou ele. Sou Kal-El, de Krypton. E eu... nunca quis mentir pra você.”
Lois recuou um passo, como se a confirmação a tivesse atingido fisicamente. “Então por que mentiu? Todo esse tempo, fingindo ser esse... repórter atrapalhado, sumindo quando as coisas ficam feias. Eu confiei em você, Clark. Em Superman. E você me fez parecer uma idiota.”
Ele deu um passo à frente, a voz suave, mas cheia de emoção. “Eu queria proteger você. Se Luthor soubesse quem eu sou, ele usaria você contra mim. Como fez na câmara. Lois, eu... eu me importo com você. Mais do que posso explicar.”
Ela bufou, mas seus olhos suavizaram, traídos por um brilho de vulnerabilidade. “Você é péssimo em se explicar, sabia? Mas tá bem, me conte tudo. Agora. Quem é Kal-El? O que é esse Krypton? E por que Luthor tá tão obcecado por te destruir?”
Clark respirou fundo, sentando-se na beira da mesa. Ele começou a falar, a voz carregada de memória e saudade.
Contou sobre Krypton, um planeta de ciência e beleza, destruído por sua própria arrogância. Sobre Jor-El e Lara, que o enviaram à Terra para sobreviver. Sobre o cristal, o Farol, e a possibilidade de uma colônia em Zorath, ameaçada por uma arma chamada Devorador. E sobre Luthor, que de alguma forma acessara tecnologia kryptoniana, usando-a para pintar Superman como uma ameaça.
Lois ouviu em silêncio, anotando mentalmente cada detalhe. Quando ele terminou, ela se aproximou, a raiva dando lugar a algo mais profundo. “Então você tá carregando o peso de um planeta morto e tentando salvar este aqui. E ainda achou tempo pra me salvar de uma armadilha de kryptonita.” Ela sorriu, triste. “Você é um idiota, Clark. Mas um idiota que eu respeito.”
Ele riu, aliviado, mas o momento foi interrompido por um pulsar forte do cristal em sua gaveta. Ele o pegou, a luz agora intensa, projetando símbolos kryptonianos no ar. “Lois, isso... é novo.”
Ela se inclinou, fascinada. “Parece uma mensagem. Você consegue ler?”
Clark franziu a testa, decifrando os símbolos. “É uma coordenada.
Em Metrópolis. Luthor deve ter ativado algo — talvez outra peça do Farol.” Ele olhou para Lois, a determinação voltando. “Precisamos ir. Juntos.”
Lois assentiu, pegando sua bolsa. “Juntos, então. Mas, Clark, nada de segredos a partir de agora. Promete?”
Ele segurou o olhar dela, o cristal brilhando entre eles. “Prometo.”
Horas depois, eles chegaram a um galpão abandonado no porto de Metrópolis, o local indicado pelas coordenadas. Clark, como Superman, usou sua visão de raio-X para confirmar que o galpão estava vazio — exceto por uma máquina pulsante, conectada a um fragmento do Farol. Lois segurava uma lanterna, sua câmera pronta. “Luthor tá brincando com fogo,” ela murmurou. “Isso parece... vivo.”
Antes que Superman pudesse responder, luzes verdes acenderam, e drones Guardiões surgiram das sombras, seus canhões de kryptonita disparando. Ele protegeu Lois, destruindo os drones, mas a kryptonita o enfraqueceu, e ele caiu de joelhos. Lois, sem hesitar, correu até a máquina, procurando um jeito de desativá-la. “Clark, aguente firme!” ela gritou, puxando cabos.
A máquina parou, mas um holograma de Luthor apareceu. “Parabéns, Kal-El. Você trouxe a Srta. Lane direto para minha armadilha. O Farol está quase completo, e você não pode detê-lo.” O holograma apagou, e o galpão começou a tremer, como se algo maior estivesse despertando.
Superman se levantou, puxando Lois para seus braços. “Temos que sair daqui.
Ele voou, levando-a para segurança, mas ambos sabiam que o jogo de Luthor estava longe de acabar. Lois apertou a mão dele, a confiança entre eles mais forte, mas a sombra do Devorador
— e do Farol
— pairava como uma ameaça iminente.