O som da explosão ecoou pelo salão, fazendo tudo tremer. O vidro das janelas foi tomado por um lampejo avermelhado que cruzou o céu de Umbralis.
— O que foi isso?! — Lizbeth levantou-se com pressa, os olhos já indo para a entrada.
Ferme se moveu até a porta, abrindo-a para ver a rua de cima. Fumaça. Gritos. Correria.
— Mabel — murmurou Lizbeth, após ver que esta havia desaparecido no mesmo instante que eles notaram a explosão.
— Ela sabe se virar — respondeu Ferme, sério. — E nós temos outra prioridade.
Lizbeth assentiu com a cabeça, ajustando a capa sobre os ombros.
— Precisamos encontrar Clemearl. Se for um ataque coordenado, ela vai saber o que fazer com a proteção da cidade.
— Eu vou com você. Vamos lidar com a situação primeiro.
Eles deixaram o salão juntos em passos firmes, cruzando os corredores da Casa Netherheart em direção à torre de vigilância.
Na praça central, uma desordem absurda reinava. Carroças viradas, estátuas quebradas, civis sendo evacuados pelos guardas da cidade. No meio do tumulto, dois magos observavam o cenário como se estivessem admirando um quadro.
True com os pés apoiados numa estrutura metálica flutuante, mantinha dezenas de fragmentos de ferro rodando ao redor dele como pequenos planetas.
Sekai, estava com seu chapéu inclinado, mãos nos bolsos, ria baixo enquanto via o desespero nas ruas.
— Sabe, eu gosto de lugares assim. Silenciosos antes, barulhentos depois — comentou, como se estivesse numa conversa casual.
Mabel chegou andando em meio à fumaça e aos destroços.
True a viu primeiro.
True girou um disco metálico entre os dedos, sorrindo de forma debochada.
— Ih, olha isso, Sekai... uma mascote fugiu do circo?
Mabel parou alguns metros à frente, sua expressão impassível. Seus olhos não se desviaram dos dois.
— Será que ela veio nos dar uma bronca por bagunçar a pracinha? — continuou ele, forçando uma voz fina e afetada. — "Ai, senhores bandidos, vocês vão ver quando meu pai souber disso!" — imitou, rindo.
Sekai riu alto, como se fosse a piada mais engraçada do mundo.
— Tá me convencendo, cara! Essa deve ser a chefe da patrulha mirim.
True girou os dedos e o metal ao seu redor começou a brilhar, criando uma nuvem de fragmentos cortantes.
— Cuidado, Sekai. Se a gente machucar a bebê, a babá aparece. Vai que ela morde.
Os fragmentos dispararam rapidamente na direção de Mabel, mas ela não estava mais lá.
Em um piscar de olhos, ela desapareceu da frente deles.
True parou. Sekai também.
— O que...? — Sekai se mexeu, confuso. — Onde ela foi?
True cerrou os olhos, olhando ao redor.
Então, Mabel apareceu à esquerda dele, a poucos centímetros de distância. Sua velocidade era tamanha que os dois magos ainda estavam tentando processar sua movimentação.
Antes que pudessem reagir, ela já havia desaparecido novamente.
Dessa vez, ela surgiu atrás de Sekai, com um sorriso sutil no rosto.
— Que interessante... — disse ela em um sussurro.
Os dois magos olhavam, incrédulos, enquanto Mabel parecia se mover com a calma de quem estava apenas passeando.
True, ainda um pouco atônito, fez uma piada nervosa:
— Cuidado, Sekai, acho que ela tem um truque de mágica... deve estar usando algum truque barato pra parecer mais forte.
Sekai riu, mas seu sorriso estava em um tom mais serio. A mana de Mabel fez o ambiente se tornar mais pesado e aparentemente ela descontaria sua raiva nestes.
Mabel desaparesceu e surgiu de repente novamente, mirando um soco direto no queixo de Sekai, mas ele se abaixou e respondeu com um chute baixo. Ela saltou, desviando por pouco, e reapareceu ao lado dele com um soco no flanco. Ele girou o corpo e aparou com o antebraço, o impacto o fez recuar, mas seu sorriso não desapareceu.
Ela não deu pausa: atacou com uma sequência de socos e chutes, alternando os ângulos com movimentos rápidos e desaparecimentos curtos. Sekai se defendia como podia, mas não ficava parado. Um gancho dele raspou o queixo dela, e um chute certeiro pegou na lateral de suas costelas, a fazendo ranger os dentes e dar dois passos para trás.
— Esperava mais de alguém mais velho— provocou. — Vai dizer que está cansado?
Sekai riu, dessa vez com um leve incômodo. Limpou o canto da boca com o polegar e firmou os pés.
— Metida.
— Realista — rebateu, erguendo uma sobrancelha com um sorriso irônico.
Eles voltaram ao combate. Sekai reforçou o corpo com mana, e seus golpes ficaram mais duros. Mabel também amplificou sua velocidade, aparecendo e desaparecendo em diferentes posições. O som dos impactos preenchia o ar. Um soco dele pegou direto na barriga dela. Ela tossiu, mas respondeu com uma cotovelada no queixo. Ele cambaleou, mas devolveu um chute alto que acertou o ombro dela.
Mabel girou para o lado, desapareceu e surgiu atrás dele, tentando um chute giratório. Sekai girou junto e defendeu com os dois braços, mas foi empurrado para trás. Ela avançou de novo — desta vez ele esperava — e encaixou um gancho no estômago dela, seguido de um soco cruzado que abriu um pequeno corte em sua bochecha.
Ela respirava forte, mas sorria.
— Tá começando a me irritar — disse ele.
— Então tô no caminho certo.
Dessa vez, os dois investiram ao mesmo tempo. Troca direta. Punhos, joelhos, cotoveladas. Mabel era mais rápida, mas Sekai compensava com força bruta e precisão. Um chute na perna dela quase a derrubou, e um soco em cheio no ombro esquerdo a fez recuar com um tranco.
— Chega — disse Sekai, limpando o sangue da própria boca com as costas da mão. — Palhaçada acaba aqui.
Ele ergueu a mão. Uma espada longa surgiu no ar e desceu direto para sua mão. A aura ao redor dele engrossou. O chão tremeu levemente sob os pés.
— O que me diverte em você é que você não pergunta meus motivos ou o que viemos fazer aqui. Foi por isso que eu e True escolhemos esse lado, afinal pessoas verdadeiramente boas só ligam para regras ou necessidade, e sabe eu gosto de desafios. E é por isso que irei com tudo agora
O sorriso voltou ao rosto dele, agora mais largo, quase animado.
— Juyona Kawa...