O salão estava agitado. Guardas entravam e saíam, passando instruções. Criados fechavam janelas e reforçavam portas. Lizbeth estava de pé, observando tudo com atenção. Mantinha a calma, mas falava de forma firme.
Ferme, ao lado dela, olhava na direção de onde Mabel havia sumido.
— Ela sabe se virar — disse, sem tirar os olhos da entrada. — Não vale a pena tentar seguir. Ela escolheu lutar.
Lizbeth assentiu...
— Certo. Precisamos encontrar Clemearl e retomar o controle da cidade. Se esses dois não são os únicos atacando, ainda pode piorar.
Do lado de fora, em uma viela perto da praça central, True caminhava sozinho. Seus passos eram calmos, e ele parecia desinteressado em ajudar Sekai.
— Que preguiça... sempre deixam o mais legal pra mim — falou, enquanto girava um parafuso entre os dedos.
Ele se afastava da luta principal, indo em direção ao setor norte da cidade. Saltou por cima de uma carroça tombada e chutou uma porta entreaberta, entrando em uma rua deserta.
— Tomara que tenha alguma coisa importante por aqui... documentos, registros, velharias que esses nobres adoram guardar.
Parou por um instante e estalou os dedos. Alguns pregos e pedaços metálicos começaram a flutuar do chão e girar ao seu redor.
— Hora de brincar sozinho um pouco.
Parou por um instante e estalou os dedos. Alguns pregos e pedaços metálicos começaram a flutuar do chão e girar ao seu redor.
— Hora de brincar sozinho um pouco.
Dentro da mansão, Lizbeth e Ferme atravessavam o corredor principal em direção ao setor administrativo.
— Ele saiu da luta — disse Lizbeth utilizando um item mágico para rastrear a mana dos inimigos e de Mabel.
— Está indo atrás de algo. Provavelmente quer causar mais dano — completou Ferme. — Se chegar primeiro, vai conseguir.
— Então a gente não vai deixar.
Eles aceleraram o passo.
True empurrou a porta de madeira com o ombro. O ranger das dobradiças ecoou pela sala escura. Havia cadeiras tombadas, papéis espalhados e algumas estantes quebradas. O lugar parecia ter sido revirado às pressas.
Ele entrou devagar, com os olhos atentos e os dedos ainda girando um pequeno parafuso. O som metálico era o único ruído além de seus passos.
No fundo da sala, em frente a uma estante intacta, uma mulher estava de costas. Ela fumava calmamente, como se nada estivesse acontecendo do lado de fora. Seus cabelos estavam presos em um coque simples, e a fumaça do cigarro subia em espiral lenta.
True arqueou uma sobrancelha.
— Tava achando esse lugar entediante... mas parece que sobrou algo interessante aqui.
A mulher não respondeu. Só soltou mais fumaça e continuou ali, parada. Ele deu mais dois passos e estreitou os olhos. A estante atrás dela carregava selos e documentos nobres, o tipo de coisa que os diplomatas tentariam proteger a qualquer custo
Na sala de controle do setor sul, o som de botas apressadas ecoou pelo piso de pedra. Lizbeth entrou com o maxilar travado, os olhos varrendo o ambiente à procura de um rosto familiar. Um assistente se virou para saudá-la, mas ela passou direto, indo até o painel central de monitoramento.
Mapas mágicos tremulavam com pontos de energia instáveis, rastreando movimentações dentro e fora da cidade. A mesa estava cheia de relatórios amontoados, papéis caindo no chão e comunicadores desligados ou chiando. Tudo um caos. Um caos que ela não sabia como administrar sozinha.
— Onde está a Clemearl? — perguntou, sem rodeios, com a voz cortante.
Um dos magos do suporte olhou para ela, hesitante.
— Senhora... ela não aparece desde o início da confusão. Achamos que ela estaria com a senhorita.
Lizbeth cerrou os punhos. Deu um passo para trás, respirando fundo, mas o tremor no canto de sua boca denunciava sua frustração.
— Claro que não está. — A voz saiu mais baixa, seca.
Ela virou de costas e passou a mão pela testa. Não havia tempo para aquilo. Clemearl deveria estar ali. Era ela quem lidava com a papelada, os fluxos de mana da cidade, os dispositivos de proteção… tudo que Lizbeth odiava. Tudo que ela não tinha paciência ou cabeça pra resolver.
— Ela sempre faz isso — murmurou para si mesma. — Sempre desaparece quando o negócio aperta.
Ferme se aproximou em silêncio, atento.
Lizbeth voltou-se para ele com expressão dura.
— Eu preciso ver como estão os refugiados, garantir que ninguém se perdeu no transporte e, com sorte, encontrar essa irresponsável no meio do caminho.
Ela respirou fundo, tentando manter a postura. Depois apontou para o lado norte do mapa.
— Um dos criminosos se separou do grupo. Foi na direção da Central de Arquivos. Vá atrás dele. Se Clemearl não está aqui, então eu tenho que assumir a parte burocrática infelizmente.
Ferme assentiu, a expressão tranquila como sempre, e ajustou a espada nas costas.
— Vamos acabar com isso rápido então.
Lizbeth não respondeu. Apenas seguiu pelos corredores com passos rápidos, engolindo o gosto amargo da raiva. Ela odiava sentir que não estava no controle. E mais do que isso: odiava quando tinha que encarar sozinha o que era responsabilidade de outra pessoa.
Perfeito. Aqui está a versão reformulada com ênfase clara nas expressões e movimentos, sem poetização nem contradições ambíguas:
O cheiro de poeira e madeira quebrada tomava conta da sala de arquivos. Cadeiras tombadas, estantes derrubadas, livros abertos no chão. A luz entrava fraca por uma janela estilhaçada.
True entrou com passos firmes, olhos varrendo o ambiente. Parou ao ver uma mulher sentada no fundo da sala, pernas cruzadas, cotovelo apoiado no braço da cadeira caída. Ela tragava um cigarro como se estivesse numa pausa comum no expediente.
— Isso aqui é o que sobrou da sua organização? — perguntou ele, com um sorriso debochado.
Clemearl soltou a fumaça devagar e ergueu os olhos, entediada.
— Isso aqui é meu local de trabalho. Ou era, até virem estragar tudo.
True caminhou até o meio da sala, desviando de destroços.
— Tá muito calma. Achei que civis gritavam quando invasores aparecem.
— E eu achei que invasores sabiam com quem estavam lidando.
Ele parou, olhos semicerrados.
— E quem seria você?
Ela apagou o cigarro no canto da cadeira quebrada, se levantando com movimentos práticos.
— Clemearl Netherheart. Diplomata de Umbralis.
— Foi você que mandou prender o Cirpras, né? — disparou ele, com um tom carregado de rancor.
Clemearl se manteve em silêncio por um momento, mas o olhar nos olhos dela não vacilou.
— Quem é mesmo?
True sorriu torto, mas os olhos tinham mudado. Menos diversão, mais irritação.
— Tá se achando só porque sabe usar palavras bonitas né?
— Não precisa de palavras bonitas pra te entender. Você é só mais um valentão achando que o mundo gira quando você bate o pé.
Ele jogou o prego para cima e o pegou de volta.
— Já matou alguém, Clemearl?
— Não. E espero não começar hoje. Mas... se tiver que ser, que seja alguém como você.
True ficou em silêncio por um instante. O sorriso voltou, mas agora havia tensão no maxilar. Ele lançou três pregos de uma vez.
Clemearl chutou a cadeira na frente, se jogando para o lado. Os pregos bateram no encosto de madeira e caíram no chão. Ela rolou atrás de uma mesa tombada e se levantou com um braço apoiado, respirando firme.
— Sabe, você podia ter só fugido — disse ele, andando devagar na direção dela, dedos tocando os pregos na cintura.
— E você podia ter aprendido a conversar sem babar raiva.
True rosnou um riso curto e frio.
— Última chance. Sai daí e me entrega os documentos. Ou vira alvo.
— E eu achando que você tinha vindo aqui pensando — ela rebateu, ajeitando o cabelo preso que caíra no rosto.
Ele parou.
— Já deu.
Clemearl respirava com força, mantendo os olhos fixos em True. A batalha se inicia então, True não estava mais apenas disparando pregos. Ele havia se tornado mais agressivo, utilizando de sua magia de maneira cada vez mais caótica. Os pregos, lâminas e até tesouras voavam pelo ar, criando um verdadeiro emaranhado de aço. Ele não se importava em destruir o ambiente, sua única preocupação era acertar Clemearl.
A mulher se movia rapidamente entre os escombros, estaga pensando em cada passo que daria. Ela sabia que o que True estava fazendo não era apenas um ataque físico — era uma forma de cercá-la, de restringir suas opções e forçá-la a cometer um erro. Seus olhos vasculhavam cada canto da sala, estudando os pontos mais suscetíveis a sua proteção, onde ela poderia se mover e usar o ambiente a seu favor. Com sua magia de água ela a usava para bloquear os ataques mais rápidos com escudos densos, mas nada que conseguiria suportar por muito tempo.
True estalou os dedos, e então o chão parecia se mover sob os pés de Clemearl. De repente, braços de pregos começaram a se esticar do chão, do teto e das paredes, como se quisessem segurá-la em seu lugar. As lâminas e tesouras avançavam, indo na direção dela com precisão fatal. Clemearl desviou-se com destreza, ao criar um machado de água condensada para romper as tábuas e saltar no sentido oposto as laminas, lançando o machado para prendê-las.
Ela então se moveu rapidamente para o lado, saltando sobre um pedaço de mobília quebrada, e então usou a água para criar uma barreira no ar. Os pregos ricochetearam contra a água, mas ela não teve tempo para pensar. O magnetismo estava se tornando mais denso e as lâminas estavam agora se agrupando, criando uma linha mortal que avançava em sua direção.
"Não posso deixar que ele me cerque", pensou Clemearl. Ela havia percebido que True estava começando a fechar os pontos de fuga, movendo os pregos para bloquear os espaços e forçá-la a se mover apenas onde ele queria.
Ela se lançou para a esquerda, deslizando sob uma mesa que caía. Um prego passou a centímetros de seu rosto, mas ela não parou. Clemearl já tinha decidido o próximo movimento.
O salão estava marcado por sulcos de lâminas e poças de água que refletiam a luz fraca. True avançava com passos pesados, seu poder metálico cortando o ar em todas as direções. Clemearl recuava.
Quando True ergueu uma barreira de pregos para bloquear sua retirada, Clemearl parou por um instante. Seus olhos percorreram o terreno enquanto a água que espalhara pelo chão começava a se mover de forma quase imperceptível, escorrendo pelas paredes e formando um perímetro ao redor de ambos.
— Acha que um pouco de água vai me parar? — True riu, confiante demais.
Ele investiu novamente, mas suas lâminas encontraram apenas névoa — Clemearl já não estava na posição prevista. Ela se reposicionava com agilidade, usando a cortina de água como distração. Cada avanço de True o fazia pisar em áreas mais alagadas, seu movimento ficando progressivamente mais lento.
— Você está cavando sua própria armadilha — comentou Clemearl com voz controlada, enquanto finos fios de água subiam como paredes invisíveis, eliminando rotas de fuga.
True ignorou os sinais, concentrado apenas no ataque. Quando finalmente percebeu o padrão, já estava completamente encurralado — não por suas próprias armas, mas pela rede líquida que Clemearl tecera silenciosamente.
Ela ergueu as mãos em um gesto final.
— Magia de Veneno: Cortina de Sapo.
Uma esfera verde-escura materializou-se no espaço entre eles. True, por reflexo, a cortou com suas lâminas — e o veneno explodiu em névoa densa. Seus pulmões queimaram instantaneamente.
— Toda sua força bruta — explicou Clemearl enquanto ele desabava — só serviu para me ajudar a fechar seu caminho de escape.
True furioso ficaria sem saber o que fazer, então apenas pensou o mais rápido que conseguiria e abriu um rombo no teto com um braços gigante de pregos e utilizou das laminas para criar uma prancha que o lançaria para fora dali. Clemearl iria rapidamente atrás dele, entretanto...
Clemearl puxou a corda do arco formado por água com precisão. A flecha apontava direto para o peito de True, que respirava com dificuldade, ajoelhado entre restos de estantes e pedaços de metal. Ela ia disparar.
No instante seguinte, uma sombra cruzou sua visão. Um brilho prateado. Uma lâmina.
O golpe veio de cima, mirando seu rosto. Ela mal teve tempo de reagir, mas não precisou.
Ferme apareceu entre os dois em um piscar de olhos. Com um corte de baixo para cima, sua katana interceptou a lâmina da atacante, lançando faíscas e afastando o golpe antes que acertasse Clemearl.
A jovem atacante — uma garota, não mais velha que quatorze anos — ficou brevemente exposta. Ferme aproveitou, girou os quadris e acertou um chute direto no estômago dela. O impacto a fez recuar cambaleando, colidindo com destroços na cidade.
Clemearl deu dois passos para trás, ainda com o arco em mãos, mas não voltou a conjurar nada.
— Me alcançou sem que eu notasse... — murmurou, visivelmente surpresa.
Ferme manteve a katana em punho, os olhos fixos na garota.
— Não precisa lutar mais. Deixa comigo — falou para Clemearl sem tirar os olhos da inimiga.
A menina se levantou, esfregando o estômago com os olhos semicerrados. Suas tranças violeta balançavam levemente enquanto retomava a postura com a espada em mãos.
— Você não estava no plano... — murmurou ela, ajustando a guarda. — Que incompetência True. Enfim, não há mais necessidade de estarmos aqui ja consegui o que queríamos.
Ferme manteve a expressão neutra, a katana levemente inclinada para frente.
— Afinal... quem são vocês?
A garota respirou fundo. Seus olhos voltaram para True, ainda ofegante mais atrás. Ela não respondeu, e então ela fugiu jogando uma bomba de fumaça no chão.